Excomunhão de médicos, mãe e outros. E daí?

Me desculpem os católicos, mas acho que já chega destes dogmas se meterem de forma tão acintosa em assuntos que dizem respeito a toda a sociedade.

Que quem siga a religião siga suas regras, ok. Mas querer que TODA a sociedade siga suas regras, chega!

Se meter em assuntos que dizem respeito a todos é uma intromissão à minha fé e a de outras pessoas – que não são católicos.

Não sou, a princípio, a favor do aborto. Não incentivaria, a princípio, ninguém a fazê-lo.

Mas uma menina de 9 anos grávida de gêmeos resultante de estupro por seu próprio padrasto, me desculpe, mas o aborto neste caso não é o assassinato de duas vidas, mas a salvação de uma! – literalmente falando, pois ela poderia, muito provavelmente, não resistir à gravidez.

Sei que a excomunhão é assunto de quem é católico, mas o aborto ser ou não aceito – assim como muitos outros assuntos (camisinha, maconha, etc.) -, é assunto de todos, não da igreja.

Mas vejamos a situação esdrúxula de outra forma, racionalizada e por partes:

 1. Primeiramente, o que é excomunhão?

Em poucas palavras, é o banimento do fulano da igreja católica e de seus benesses sagrados. Veja um pouco mais aqui.

Segundo este artigo, “os excomungados não podem cumprir tarefas litúrgicas ou pastorais e são proibidos de participar da vida sagrada da Igreja”.

E segundo uma resposta à dúvida de um fiel sobre excomunhão nesse site, “A excomunhão exclui o fiel da Igreja, impedindo-o de participar da comunhão dos santos, isto é, de auferir as graças provenientes dos méritos infinitos de Cristo e dos santos que a união com a Igreja faz usufruir”.

Oras oras… leia o trecho em negrito, que é meu. Se os méritos de Cristo são “infinitos”, não podem ser cessados por uma simples decisão de um arcebispo, certo?

2. Em segundo lugar, quem é excomungado?

Resumindo, segundo o Código de Direito Canônico, retirado deste site:

1. O apóstata da fé, o herege ou o cismático;
2. Quem joga fora as espécies consagradas ou as subtrai ou conserva para fim sacrílego;
3. Quem usar de violência física contra o Romano Pontífice;
4. Sacerdote que absolve o cúmplice em pecado contra o sexto mandamento do Decálogo;
5. Bispo que confere ou recebe consagração episcopal sem mandato de Roma;
6. Confessor que viola o sigilo sacramental;
7. Quem provoca aborto, seguindo-se o efeito.

Como vocês podem ver não faz sentido nenhum – como 99% dos dogmas -, pois dos 7 acima, praticamente todos são atentados contra a própria fé católica (o que pode fazer sentido), mas apenas 1 deles é contra a vida.

E como vocês podem perceber no n. 4, o sacerdote que absolve que é excomungado, não o pecador do sexto mandamento.

Oras, se aqueles que atentam contra a vida devem ser excomungados – razão de sê-lo pelo aborto – todos os assassinos também o deveriam ser, certo?

3. Por fim, conhecedores das importantes informações acima, nos resta traçar algumas considerações sobre o caso:

a. Pela (não) lógica da igreja católica, o arcebispo tá certo! Oras, dogmas são dogmas, já dizia meu colega do contraditorium;

b. Segundo este raciocínio, nem Hitler seria excomungado…

c. Mas, se levado à sério, grande parte das mulheres e médicos deveriam ser excomungados…

d. E, pior de tudo, os médicos e a mãe foram excomungados, mas o padrasto agressor reincidente, não.

Por quê? Porque pedofilia ou estupro não são pecados puníveis com excomunhão, certo?

Mas não é difícil saber a razão: se fosse (e se fosse levado a sério) grande parte dos padres deveria ser excomungada!!

Vejam estas notícias:

Entre 4% e 8% dos padres cometeram abusos sexuais, mas um número muito menor está sendo processado. Ao menos 330 padres norte-americanos foram removidos de seu posto ou renunciaram neste ano. Em apenas um Estado, o Kentucky, que não é muito grande, há pelo menos 200 ações judiciais. (fonte)

Americanos vítimas de abusos cometidos por padres quando eram crianças, disseram ontem que a Igreja Católica estava “esfregando sal numa ferida aberta” ao permitir que o cardeal que eles consideram responsável por acobertar clérigos acusados desses crimes celebrasse uma missa em memória do papa João Paulo II. (fonte)

Crianças surdo-mudas e pobres eram vítimas de padres. Freqüentavam um instituto de ensino fundado pela Igreja católica. (fonte)

O sacerdote colombiano Germán Robledo Ángel denunciou nesta terça-feira, 22, que colegas seus em Cali cometeram atos de pedofilia e desrespeitaram o voto de castidade. São “aberrações” que se acontecem há 10 anos, avisou Robledo à imprensa de Bogotá e Cali. Os “serviços sexuais” são pagos com o dinheiro doado pelos fiéis, acrescentou o sacerdote. (fonte)

(…) escândalos de Boston (2002), que resultou na demissão do cardeal Bernard Law. E, também, dos escândalos na Áustria em 2004 e na da Califórnia em 2007. Na Áustria, verificou-se o fechamento de um seminário (Sankt Polten), em face de festa envolvendo gays e fotografias mostradas pela Web. Em Los Angeles (Califórnia), houve o célebre pagamento, pela Igreja, de indenização de cerca de US$600 milhões, a título de ressarcimento a 508 vítimas de padres pedófilos. (fonte)

Você acaba de ler o diário de um padre condenado a 15 anos de prisão por abusos sexuais: Tarcísio Tadeu Sprícigo. Em 2000, na cidadezinha de Agudos, São Paulo, ele ensinava música para um garoto de 9 anos. Essa era a fisgada. O pagamento? Favores sexuais, prestados durante um ano. Feitas as primeiras denúncias, em 2001, a Igreja o transferiu para Anápolis, Goiânia. Lá, a história se repetiria com mais duas crianças – uma de 13 anos, outra de 5. (fonte)

É muito bom ter em mente os diversos lados deste cubo mágico:

“Sabendo que católicos praticantes não morrem de amores pelos excomungados, o Vaticano usa a excomunhão como instrumento de pressão política nos países em que o seu rebanho é numeroso – a pena se destina em geral às figuras públicas. Entre os excomungados célebres estão Fidel Castro, por proibir a fé em Cuba, e a cantora irlandesa Sinéad O’Connor, que se ordenou sacerdotisa numa seita católica.” (fonte)

Sem mais para o momento. Amém.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira

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Na mesma linha:

Manifesto contra excomunhão

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Prticipe do Movimento:

SE EU FOSSE SECRETÁRIO(A) DE EDUCAÇÃO, O QUE EU FARIA?

 

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

11 thoughts on “Excomunhão de médicos, mãe e outros. E daí?

  • 09/03/2009 em 23:37
    Permalink

    Como dizia Florynce Kennedy: “Se os homens ficassem grávidos, o aborto seria um sacramento”.

    Pena que esse bispo não possa ser estuprado e engravidado… Outro bispo, lá para as bandas do Sul, grande defensor dos “direitos dos encarcerados”, mudou radicalmente de idéia quando foi usado como refém de bandidos (e — dizem as más línguas — para outras coisas, também…) que fugiram de um presídio (o qual o bispo estava visitando em seu trabalho pastoral).

    O pior é que esse “Torquemada Sub-Equatorial” conseguiu o que queria: o brilho dos refletores da mídia, às custas da desgraça alheia — não é à toa que Guerra Junqueiro chamava os padres de “funâmbulos da Cruz”… (e foi excomungado, também)

    Resposta
    • 10/03/2009 em 18:51
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      É Rogério… não deveria comer ovo nem criancinhas… ops!, desculpe!

      E João, quanto tempo!

      O Florynce tá certo: se homens ficassem grávidos, o aborto seria um sacramento, senão seria um sangramento…

      Resposta
  • 10/03/2009 em 21:21
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    Se eu fosse um desses médicos eu simplesmente iria agradecer! Já se esqueceram dos Séculos de Terror que tal instituição proporcionou durante a idade média? Eles é que devem ser excomungados da vida de nossa nação!

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  • 11/03/2009 em 22:40
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    Prezado professor,
    sua indignacao é a mesma que de todas civilizadas.
    Desta vez nao conseguimos calar
    Parabéns pelo blog
    Carla Scandar

    Resposta
  • 13/03/2009 em 00:08
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    Por Philip Pullella

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    CIDADE DO VATICANO (Reuters) – O papa Bento 16 disse na quinta-feira sentir uma profunda dor por causa da “hostilidade e ódio” que alguns católicos lhe dirigiram depois de ele readmitir na Igreja quatro bispos tradicionalistas, inclusive um que nega o Holocausto.

    Em carta ao episcopado mundial, ele admite que o Vaticano se portou e se comunicou mal nesse caso, e que alguns problemas poderiam ter sido previstos se o Vaticano usasse mais a Internet para checar os antecedentes das pessoas.

    Numa raríssima demonstração de emoções pessoais, o papa também alerta na carta que a Igreja corre o risco de “se morder e devorar” por causa de polêmicas internas.

    É muito incomum que o papa tenha de explicar suas ações perante seus bispos “a posteriori”, e ainda mais para admitir um erro.

    Ele defendeu sua decisão de iniciar um procedimento para readmitir a tradicionalista Sociedade de São Pio 10o (SSPX) no seio da Igreja, e rejeitou as acusações de que estaria tentando fazer “o relógio andar para trás”.

    Bento 16 lamentou ainda que um “gesto de misericórdia” tenha levado à “discussão mais acalorada que vimos num longo tempo”.

    Em 24 de janeiro, o papa suspendeu a excomunhão de Richard Williamson e de três outros bispos, na esperança de curar um cisma de 20 anos — os quatro bispos haviam sido expulsos da Igreja após serem consagrados sem a permissão do papa João Paulo 2o.

    Numa entrevista transmitida dias antes, Williamson disse duvidar que houvesse câmaras de gás nos campos de concentração nazistas, e afirmou que o Holocausto matou apenas 300 mil judeus, e não 6 milhões, conforme diz a maioria dos historiadores.

    A readmissão de Williamson provocou críticas de grupos judaicos e de muitos católicos.

    “Fiquei entristecido pelo fato de que mesmo católicos que afinal de contas poderiam ter uma melhor compreensão da situação tenham achado que tinham de me atacar com aberta hostilidade”, disse o papa.

    Ele disse que a polêmica envolvendo Williamson e a negação do Holocausto foi “um tropeço imprevisto” que ofuscou sua intenção de cicatrizar feridas na Igreja.

    “Que o discreto gesto de estender a mão tenha dado lugar a um enorme ruído, e portanto se tornado exatamente o oposto de um gesto de conciliação, é um fato que devemos aceitar”, disse.

    Em sua defesa, o papa lamentou que a sociedade moderna aparentemente precise sempre de alguém para odiar.

    “Às vezes tem-se a impressão de que a nossa sociedade precisa ter pelo menos um grupo para o qual não se pode demonstrar tolerância; o qual se possa facilmente atacar e odiar. E caso alguém ouse abordá-lo — neste caso, o papa — ele também perde qualquer direito à tolerância; ele também pode ser tratado odiosamente, sem temor ou moderação.”

    Como podemos ver, Bentinho está magoado, bem que o Arghbispo de Olinda podia ir ao Vaticano fazer uma visita prapau, quero dizer pro Papa, pois ambos sabem muito bem o que o outro sente nesse momento.
    Mas quem manda querer aparecer, tomando decisões que vão contra os sentimentos até mesmo dos seus fiéis.

    Um gde Abço e lembre-se, fique flexível, sem estresses.

    Resposta
    • 13/03/2009 em 01:33
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      Obrigado Alex, pelo “toque”,

      Mas você sabe que eu não sou Flexível, sou rígido… sou espada! rs

      Abraços.

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    • 22/03/2009 em 11:26
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      Oi Débora, agora que vi seu comentário.

      Tinha ido, não sei porque, para a lista de spam.

      Obrigado pela indicação. A ideia é realmente boa e você deu ótimas dicas, que eu não conhecia.

      Farei o mesmo em breve.

      Abraços.

      Resposta

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