Comentário sobre artigo do Cristovam Buarque e Jorge Werthein – Sangari e outros bichos

 

O artigo O Poder da Ciência foi publicado hoje no site do Estadão.

Apesar de político, dos quais ultimamente tenho nojo, gosto das opiniões do Cristovam – que assina o texto com outro autor – e, como falava de ciência, li.

Fui achando tudo bem, tudo direitinho, tudo coerente até que vi, no final, quem é jorge Werthein… entre outras coisas, vice-presidente da Sangari Brasil.

Grande decepção com a parceria do Cristovam. Oras, Cristovam, você defende a educação pública ou não?

Diga-me com quem andas que te direis quem és?

Pois, dependendo de quem esteja defendendo uma educação científica de qualidade, estaremos falando de coisas diferentes. Então, dependendo de com quem estamos defendendo algo, estamos defendendo algo diferente; ou, ao menos, uma forma diferente de se chegar lá.

Eu explico.

Vamos a algumas partes do texto do Cristovam e do vice-presidente da sangari:

País que há muito já se destaca internacionalmente nas artes – especialmente na música – e nos esportes – notadamente no futebol -, o Brasil precisa dar-se conta de que pode e deve avançar mais em ciência e tecnologia e converter-se também em referência nessas áreas, ingressando, assim, de forma definitiva na chamada sociedade do conhecimento. Deve perceber que alfabetizar não basta, assim como não basta universalizar o ensino fundamental. É preciso conferir-lhe qualidade e garantir que os estudantes efetivamente aprendam. Ao mesmo tempo, precisa desenvolver o potencial científico que há latente nos cérebros das nossas crianças desde os primeiros anos de escola.

Deverá, para isso, destinar mais recursos para a educação científica e para pesquisa e desenvolvimento, a chamada P&D.

[Sublinhados meus]

Oras, quem deverá dotar de qualidade o ensino? E destinar mais recursos para a educação científica nas mãos de quem?


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São questões que, como eu disse, dependendo de quem disse, disse coisa diferente do que o outro disse! Vira um disse-me-disse!

Bom, vamos ver quem é a Sangari Brasil:

uma empresa que cria, desenvolve, produz e implementa metodologias e materiais educacionais para o aprendizado de Ciências no Ensino Fundamental.

Ah, sim… claro… a sangari é a responsável pelas aulas de ciências das “Escolas do Amanhã” (que nunca serão “de hoje”) do município do Rio de Janeiro!

 

[Farei um artigo em breve (e ligarei a este) sobre o que acho do método da sangari para o ensino de ciências, mas agora quero falar de outra coisa.]

A sangari, com a sua “preocupação” de melhorar o ensino de ciências, vai fazendo seus projetinhos e suas “parcerias” com as prefeituras, entre elas, a do Rio.

O contrato pra fazer o passo-a-passo das aulas de ciências dos caros professores idiotas que não sabem dar aulas, é milionário: quase 68 milhões!

E, detalhe: sem licitação.

Pra mim, isso é desvio legal de dinheiro da educação, no sentido de que estão retirando um dinheiro que poderia ser investido em algo que ficaria para a escola, mas é investido em uma empresa.

Ora, investir NA ESCOLA, ao invés de em uma EMPRESA.

Simples: “Já que a prefeitura conta com este dinheiro (que é, claro, da educação), poder-se-ia gastá-lo com a coisa pública, com benefício direto e duradouro à coisa pública, e não ficar dependente da privada“.

Outro detalhe (tem muitos nesta história): a primeira coisa que fizeram na escola em que dou aulas foi desmontar a sala de ciências!

Oras, melhorar o ensino de ciências seria CONSTRUIR salas de ciências nas escolas, não destruí-las!

Melhorar o ensino de ciências seria melhorar as condições dos(as) professores(as) de ciências, dando-lhes material adequado em espaços adequados e formação continuada para desenvolverem um verdadeiro método investigativo.

Isso com respeito ao dinheiro público, sem desvios legais a empresas privadas.

De resto, inteligência, competência, vontade, criatividade, experiência… nós, professores, já temos, apesar de a sangari e a secretaria de educação acharem o contrário.

Cristovam, de que lado você está?

Eu estou do lado do Nassif:

A Sangari é um bom exemplo do como fazer para se “dar bem” com o dinheiro público. Primeiro tem contratos milionários e sem licitações em todo o Brasil. Depois sabe bem como “convencer” nossos políticos a contratá-la para a “prestação de serviços”.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Aplicador de método

4 comentários em “Comentário sobre artigo do Cristovam Buarque e Jorge Werthein – Sangari e outros bichos”

  1. Olá Declev
    Você deveria conhecer de perto o material da Sangari antes de falar sobre ela. É um programa extremamente sério e competente, que fornece ao estado o que de longe ele tem organização para fazer no momento.
    Não se prenda a números absolutos como 6 quase 68Milhões no Rio. Você se perguntou para quantas crianças e por quantos anos são?
    Pois lhe digo, que são para 160 escolas, 100mil alunos por 2 anos. Isso da um total de R$ 28 reais por alunos/Mês, o que é extremamente baixo para o valor que o material agrega.
    Se informe mais antes de falar sobre o que vc não conhece, até para falar mal é necessário ter competência.
    at,
    Rodrigo Murta

    1. Oi Rodrigo,

      Não sei quem você é, já que não se apresentou. Considero então, que você deve fazer parte do projeto, certo? Então trabalha para a sangari e deve defendê-la.

      Mas, acho que você não leu direito meus artigos, pois sempre digo que minha escola é uma Escola do Sempre Amanhã e portanto, ela recebe o material da sangari e eu, como professor de ciências, sou obrigado a utilizar o material da sangari.

      Portanto, Rodrigo, eu conheço bem de perto o material da sangari, pois sou obrigado a utilizá-lo. Não sei de onde você tirou que eu não conheço.

      Bem, claro que se você fizer as contas deste jeito, as coisas parecem bem baratas.

      Se eu dividir meu salário, por exemplo, pela quantidade de alunos que dou aulas, garanto que vai dar muito menos do que isso por mês. E eu tenho que encontrá-lo várias vezes no mês. Se dividir, ainda, pela quantidade de vezes que encontro cada um, acho que ganho uns 10 centavos por aluno por aula.

      É muito pouco, não?

      De qualquer forma, fique atento, pois escreverei com mais detalhes minhas críticas ao método revolucionário da sangari, inclusive fazendo uma comparação com o trabalho de melhoria do ensino de ciências que vem sendo feito na rede de educação de Niterói, onde também dou aulas há 12 anos.

      Portanto, além de conhecer o material da sangari, tenho, inclusive, pontos de referência para fazer comparações.

      Se estou criticando o método sangari, pode ter certeza que tenho minhas razões.

      Além disso, como vê, acho que também tenho competência pra isso…

      Abraços,

  2. Pingback: Comentário sobre comentário... Sangari e mais outros bichos | Diário do Professor

  3. ALEX HUCHE

    Olá meu querido amigo,
    Na capacitação dos CTC da Sangari, questionei o que seria das aulas de ciências com a mudança do prefeito, pois, se não for da situação obviamente chegará mudando tudo e tomara que também o projeto de ciências.
    Cheguei ao ponto de não criticar o projeto da Sangari, mas sim quem o compra e como o aplica, se olharmos bem, para se ter um bom resultado desse projeto, como eu tanto digo, é preciso basicamente que o aluno saiba ler bem e tenha autonomia. O que claramente alunos da escola do amanhã se tivessem tal capacidade, certamente não nos seria destinado tal projeto, pois não seríamos escola do amanhã.
    Onde querem chegar? Não creio que queiram dar um “up” nas aulas de ciências, acho que quando conheceram o projeto eles pensaram que o material viria num “Kinder Ovo” e que até um macaco poderia aprender ciência dessa forma, pois sob o suposto pretexto de fazer o aluno pensar, limitam e tolhem os diversos meios de se ensinar ciência, uma vez que as práticas são cobradas em prova, na Prefeitura do Rio, com um vocabulário que faz com que o aluno não entenda o que se pede e com a burra pretensão de que ler o livro e fazer algumas anotações no dito Diário de Ciências durante as aulas, irá, por um passe de mágica, fazer com que o cérebro daqueles que já apresentavam dificuldades de ler, de se concentrar e de sonhar com um futuro promissor, pudessem ser testados um bimestre depois.
    Francamente, deveriam ter apresentado o projeto à professores de ciências, antes de empatar um enorme montante para um material que no fim de tudo, será descartável, seja consumível ou não.
    Grande abraço e Estamos Juntos.
    Alex Huche

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