Minha escola, meu caos, meu inferno

Hoje foi difícil sair da cama.

Confesso que minha vontade de ir à escola do município do Rio de Janeiro, após as inúmeras agressões (NÃO FÍSICAS) que sofremos este ano, é um sobre dez.

Só não digo que é zero porque as três turmas às quais leciono são relativamente boas, interessadas.

Mas fui.

E posso confirmar: minha escola do Rio é um INFERNO!!!

Estou dentro de sala e ouço barulhos não condizentes com a atividade educacional vindos do lado de fora: coisas quebrando, pancadas, batidas, gritos, coisas caindo…

Saio à porta da sala: vejo umas duas dezenas de alunos se agarrando em brigas uns, se agarrando em beijos outros, chutando portas de armários, brincando de chutar lixeiras, derrubando mesas, em alvoroço pelas salas de aulas vazias.

Sim, vazias, pois algumas turmas estavam sem aulas e, pasmem, os alunos estavam pelos corredores – e na minha porta enchendo o saco atrapalhando a aula.

Então, alunos pelos corredores depredando a escola sem UM guarda, inspetor, ajudante para controlar.

Mesas e cadeiras pelo chão.

Alunos abrindo a caixa de energia (que NÃO TEM cadeado) brincando de desligar a energia toda hora – sim, eu tentando dar aulas e a luz e o ventilador parando toda hora!

Salas de aula cheias de algo que pensávamos talco e descobrimos sapólio.

Armários com portas arrombadas.

Mesas e cadeiras ao chão.

Lixo espalhado por todo lado.

Cartazes rasgados.

Alguém?

Eu.

E as fotos…

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O que acontecerá com os alunos? Nada.

Com os responsáveis pelo abandono da escola neste nível? Nada.

Espero que não aconteça comigo por escrever aqui…

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Sobrevivente

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

21 thoughts on “Minha escola, meu caos, meu inferno

  • 11/04/2011 em 22:21
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    E, o pior de tudo: esse estrago aí quem vai pagar é você, sou eu e todos os trabalhadores de bem desse país.

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  • 11/04/2011 em 23:02
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    É Declev, sua escola é mesmo “diferenciada”, posso dizer que isso é falta de pulso da direção em permitir que isso aconteça, se algo fosse feito ou alguma punição fosse aplicada para esses pequenos vândalos tenho certeza que isso não ocorreria, ou pelo menos uma coisa mais amena. É o que eu digo para alguns colegas e direi para você, não esquenta a sua cabeça, faça a sua parte, porque se não quem pagará o pato será a sua saúde. Abç…

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    • 12/04/2011 em 06:39
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      Minha saúde e minha mente já estão pagando o pato, e caro.

      Mas você tem razão e tenho certeza disso: é falta de direção. Escola com direção isso não acontece.

      Abraços,

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  • 12/04/2011 em 11:17
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    Oi Declev. Tenho acompanhado seu blog há algum tempo, parabéns pelo blog. Amigo, nos meus 20 anos como professora no município do Rio ví essas cenas inúmeras vezes…Pode ter certeza de que não acontece só na sua escola não!!! É exatamente como você narrou: alunos destruindo as portas, carteiras, ventiladores, jogando futebol no corredor, brigando…. É realmente um inferno. Cansei disso tudo. O assassinato dos alunos na escola de Realengo foi a gota d´água para mim. Ontem pedi exoneração! Resolvi investir na minha saúde física e mental. Um abraço e boa sorte.

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    • 12/04/2011 em 12:29
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      Oi Magui,

      Coragem. É isso o que temos que ter pra pedir exoneração.

      Confesso que à primeira oportunidade financeira compensatória, faço isso.

      E, enquanto isso, o brasil vai afundando, perdendo décadas à frente, porque só com investimento em educação que se anda.

      Abraços, e boa sorte.

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  • 12/04/2011 em 12:54
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    Declev, faça muitas denúncias por escrito ao Ministério Público! Que eu saiba no Rio de Janeiro existe Promotoria de Defesa dos Direitos a Educação.
    Reúna os professores dispostos a denunciar junto com você! Responsabilize a direção da escola pelo que acontece! Se for necessário acionar o Ministério Público mesmo que seja para trocar uma lâmpada na escola acione!

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  • 12/04/2011 em 14:12
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    Concordo com o Sr. Tomaz, Declev. Só esse ano já é a segunda ou terceira queixa consistente que o vejo fazer a direção de sua escola. Falta de respeito com a disponibilidade dos professores, falta de pulso para levar a ordem a Unidade Escolar…. tá demais! Trabalho em um CIEP que atende a alunos do 2º ciclo do Fundamental e Ensino Médio. Em menos de 3 anos a atual direção transformou a administração e consequentemente o modo dos alunos enxergarem a escola. Ainda temos problemas, principalmente com os novatos que vêm do Município, mas são logo corrigidos. Pais são acionadas constantemente, inspetores em todos os corredores, turmas não são deixadas sozinhas…. atitudes que garantem a ordem na escola. O que acontece na U.E. que você trabalha é digno de ser levado ao Ministério Público sim! Você deve saber, mas vale reforçar. A denúncia pode ser feita por e-mail. Já acionei e fui prontamente respondida. Tente. E, mais uma vez, parabéns pelo blog

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    • 12/04/2011 em 18:03
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      Oi Priscila e Tomaz,

      Obrigado pelos conselhos.

      De fato, a situação está chegando num limite.

      Há muito mais coisas que acontecem que não estão por aqui – ainda.

      Dentre elas, gritar com uma professora histericamente na frente dos alunos (professora que está há mais de 15 anos na escola e é muito boa professora) e a antiga sala de ciÊncias, que continua como um depósito desarrumado.

      Mas estamos, sim, querendo entrar com processos e reclamações.

      Antes do MP devemos procurar a CRE ou a própria Secretaria de Educação. Se não fizerem o trabalho deles, MP!

      Abraços,

      Resposta
  • 12/04/2011 em 18:34
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    Declev

    Esse é o resultado da economia de funcionários. É o mantra neoliberal do Estado Mínimo, principlamente na área de educação. Economizam com inspetores, psicólogos e abrem o cofre para a iniciativa privada.

    Essas cenas de vandalismo que nos chocam, devem estar colocando um belo sorriso na face dos fornecedores, que logo vão faturar vendendo novas carteiras.

    Pobre educação! Pobres crianças! Pobres professores!

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  • 16/05/2011 em 17:30
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    Pelo visto a situação no Rio é crítica. Mas em contraponto ao vandalismo, notei que as mesas e cadeiras são de ótima qualidade, a situação da estrutura aí está melhor que a da minha Universidade aqui no Paraná que é estadual.
    O vandalismo é fruto de uma desvalorização do ambiente, no caso escolar, talvez falte iniciativas para envolver os alunos em atividades dentro da escola.

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  • 21/05/2011 em 18:24
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    Professor Daclev
    Obrigado pela coragem de denunciar o abandono de sua escola. Com isso vc está denunciando o abandono da educação. Sabemos que isso vem ocorrendo em outras escolas também e o maior risco é a acomodação, a passividade diante dessa tragédia.
    anima saber que cresce a consciência de classe. Os professores do Rio de Janeiro vão vencer esse processo de alienação que vem sendo imposto à nossa prática de educador.
    muito obrigado, com sentimentos de solidariedade.
    Luiz Costa

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    • 22/05/2011 em 17:02
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      Oi Luiz,

      A coisa lá é pior do que eu posso mostrar.

      Muita coisa pelos “bastidores”…

      Mas aos poucos vou mostrando…

      Abraços,

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  • 22/05/2011 em 23:45
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    Olá, sou uma professora desistente. E não tenho vergonha de falar que não tive estrutura física e emocional para aguentar tanto descaso, agressividade, desrespeito e intolerância. Poderia estar “lutando”, persistindo, esgotando minhas forças ? Claro que sim. Mas optei pela qualidade de vida humana que posso ter, pois plagiando a professora “Amanda Gurgel”, o peso de ser uma salvadora da pátria é muito grande para um simples professor !
    Abraços…

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    • 23/05/2011 em 12:26
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      Oi Carla,

      Eu também, confesso, só estou dentro de escola ainda porque não tenho uma opção “segura” para me manter financeiramente…

      Apesar de gostar da educação, o que fazemos dentro dessas escolas não pode ser chamado de educação…

      Abraços,

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  • 31/05/2011 em 17:53
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    É DESSE MODELO INFELIZMENTE NÃO ADIANTA TAMPAR O SOL COM A PENEIRA DAQUI HÁ ALGUNS ANOS NINGUÉM VAI QUERER SER PROFESSOR! O PIOR É QUE OS ALUNOS SABEM Q NÃO TEM PUNIÇÃO E VAO PASSAR MESMO! SOU EDUCADORA TB AK EM MANAUS A ESC PUBLICA ESTÁ ASSIM TB

    Resposta

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