Mas… isso vai afetar a Bolsa Famìlia dele?

Mas… isso vai afetar a Bolsa Família dele?

 

Professora está passando uma prova, como parte do processo de avaliação do aluno.

Um dos alunos é pego com um papel na mão.

Cola.

A professora pega a cola, grampeia na prova do aluno e a guarda.

Chama a mãe para conversar e explicar o que houve e orientar.

Depois de ouvir a professora, a primeira e única questão que a mãe quer saber é:

“Isso vai afetar a Bolsa Família dele?”

Não sou contra a Bolsa Família, muito pelo contrário. Sou, inclusive, a favor de um programa de Renda Mínima, nos moldes do Suplicy.

Mas talvez tenha algo de perverso nisso a longo prazo, enquanto ela for encarada como uma fonte de renda, um “emprego”, e não como uma ajuda temporária.

Mal comparando, é como o dinheiro das multas, que é visto pelos nossos gloriosos gestores como fonte de recursos e aumento da receita e não como uma punição temporária que deve deixar de existir.

Ou mesmo como os “bônus de desempenho” dado aos professores, para compensar o péssimo salário.

Desta forma nunca deixarão de existir.

O ideal é que as multas nem existam mais (mas como fazer isso, se elas são fonte de renda para governos e empresas?).

O ideal é que os professores trabalhem por amor à profissão, com respeito e trabalho profundo com os alunos, independente de qualquer coisa (mas como fazer isso, se achacam o salário e tem dão esmolas apenas por “notas”?).

O ideal é que os alunos ESTUDEM e APRENDAM, mas… pagamos para frequentar a escola, não para estudar.

Talvez possam dizer alguns que “é melhor estar na escola do que na rua”.

Ok, mas enquanto isso, a classe média ou alta continua estudando e aprendendo o que o pobre que “frequenta” a escola não faz.

São diversos os motivos – o Bolsa Família, obviamente, não é um motivo em si.

São motivos a estrutura familiar, a estrutura social, a falta de habitação decente, de alimentação, de lazer, de cultura, a pressão do tráfico e da violência.

Portanto, apenas frequentar a escola sem que tenha um amparo social, familiar, psicológico não os fará aprender.

A Bolsa Família não oferece isso, especialmente , como eu já disse, se for encarada como um emprego com estabilidade.

Percebo que o fosso pode estar se alargando entre as classes, pois apesar de estar havendo transferência de renda, está havendo crescimento intelectual ou profissional proporcional entre quem tem e quem não tem?

E, se não estiver, uma vez cessada a renda (Bolsa Família), conseguirão manter o rendimento, o crescimento, a sustentação familiar?

Se não conseguirem, poderemos diminuir ou acabar com a Bolsa Família um dia?

O plano é que sempre existam pessoas dependentes do Bolsa Família e outras que bancam o Bolsa Família?

O estudo não é importante, mas sim estar dentro da escola – não importando se não faz nada e ainda atrapalha os outros?

Não sou contra nem a favor de nada.

Não tenho respostas para nada, apenas perguntas, apenas questionamentos.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Com dúvidas

= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

No Diário do Professor você encontra artigos e links sobre o dia-a-dia da Educação:

Planos de aula, Atividades, Práticas, Projetos, Livros, Cursos, Maquetes, Meio Ambiente… e muito mais!

Compartilhe!

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

2 thoughts on “Mas… isso vai afetar a Bolsa Famìlia dele?

  • 22/08/2012 em 00:11
    Permalink

    Isso é uma questão cultural, que já está enraizada na nossa população, acho meio “utopico” exterminar com esse tipo de pensamento! Mas é obvio que pode-se melhorar! O problema do Brasileiro é o imediatismo, não querem fazer um curso superior porque o retorno é a longo prazo, ao contrario de um emprego como vendedor de loja aonde se vai ter o salario(concreto) no final do mês!

    Resposta
    • 22/08/2012 em 17:32
      Permalink

      E, enquanto isso, os filhos da classe média e alta vão fazendo os cursos superiores…

      Aprofunda-se o abismo, ao invés de diminui-lo.

      Como mudar?

      Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *