Desabafos de uma jovem professora

Desabafos de uma jovem professora

O texto abaixo recebi de uma colega de profissão, Luana Jotha: bióloga e professora.

O início profissional de todo professor talvez seja muito difícil. O problema, depois, é que vemos que a carreira continua difícil…

Mas a falta de respeito que muitos professores sofrem nas escolas, públicas ou particulares – não todas, claro – é revoltante.

Assim como o Luiz Eduardo nos contou sobre sua experiência, talvez este tenha sido o Rito de Passagem da professora Luana.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor, ainda

Desabafos de uma jovem professora

Acho que o convite do professor Declev para escrever no “Diário do Professor” veio em um momento bastante oportuno na minha vida. Sou uma professora jovem, com sete anos no magistério. Diga-se de passagem, sete anos e nenhum carimbo em minha carteira profissional.

Mas o momento oportuno a que me refiro é que, dias atrás, recebi a notícia que meu processo trabalhista foi arquivado e, por ter prescrito, não posso reabri-lo. O meu processo teve origem em 2007-2008, quando me formei e, como tal, não tinha emprego. Dívidas se acumulando, desespero em nível máximo. Fui chamada, então, para ministrar aulas em um curso profissionalizante. Começou a minha surpresa quando minha atribuição profissional não era de professor e, sim, de instrutor.

Ministrava aulas, palestras, aplicava provas, etc. Todas as atribuições de um professor (ou instrutor?). Ao final do primeiro mês de trabalho, obviamente, ansiava por receber meu salário, pois as contas de acumulavam. Além disso, claro, passar o dia inteiro na rua trabalhando, é um custo a mais com passagens e alimentação, o que piorou minha situação econômica. Qual foi minha surpresa quando a secretária, responsável pelo pagamento dos professores, me informou que, por problemas burocráticos, minha documentação não entrara na folha de pagamento daquele mês. Logo, eu só receberia meu pagamento no mês seguinte.

No mês seguinte eu, como outros professores (instrutores), também não recebemos. Alguns deixaram a instituição. Com promessas de pagamento e aumento de carga horária (para substituição dos professores que saíram), continuei na empresa. E assim permaneceu por mais dois meses. Situações absurdas de, por exemplo, uma das sócias da empresa se encontrar na sede, prometer que naquele dia pagaria o que estava me devendo, e aproveitar que eu estava em sala de aula, e sair sem ninguém ver.

Foi assim por quatro meses, quando deixei de ir trabalhar, não para pressionar e exigir meus direitos, mas por não ter dinheiro para locomoção. A minha situação, que já era desesperadora quando me formei, naquele momento piorou, e muito. Estava afogada em dívidas. Não tinha dinheiro para alimento. Entrei em depressão. Em minha primeira experiência profissional pós-formada, fui humilhada e desrespeitada como profissional e como pessoa.

Demorei muito tempo para me recuperar. Somente depois (e esse foi o meu erro), quando tive forças, dinheiro e advogado, fui exigir meus direitos na justiça. A empresa faliu. Os sócios não possuem nenhum bem no nome deles. Mandavam funcionários e familiares não receberem nenhuma intimação. O processo acabou por não encontrar os réus. Prescreveu.

Mas por que estou compartilhando tudo isso? Porque igual a minha história triste, há milhares de professores. Uma vez vi um texto do Jô Soares que dizia que o material escolar mais barato do mercado é o professor. O que vemos hoje é uma desvalorização generalizada da profissão.

Isso me faz lembrar de outro colégio em que trabalhei. Em uma reunião com o dono e os professores, o primeiro solicitava (de forma não muito sugestiva mas, sim, opressora) que os educadores não sentassem em suas cadeiras em sala de aula. Segundo ele, até mesmo a chamada, deveria ser realizada com o professor de pé, pois o contrário favoreceria a dispersão da atenção dos alunos. Isso porque, na semana anterior, em outra reunião, foi exigido que os professores trocassem de salas no intervalo mais rapidamente, pois era obrigação dos mesmos zelar pela estrutura física do colégio e evitar depredações. Em outra reunião, foi solicitado que os professores ficassem atentos para alunos que sofressem bulling (a palavra da moda), pois se isso ocorre em sala de aula, é de total responsabilidade e negligência do professor.

Ou seja, eu (pobre de mim!), tinha que ficar em pé as 8 horas trabalhadas, impedir depredação do colégio, exigir que os alunos sentassem corretamente (outra exigência cobrada aos professores), impedir que os alunos xingassem, comessem em sala de aula, usassem drogas e não realizar outras atividades não ortodoxas, ficar de olho nos alunos quietos (pois poderiam ser vítimas de bulling e assassinos em potencial quando adultos), impedir que os alunos se espancassem em sala de aula, incluir alunos com necessidades especiais, fazer chamada, cumprir com o calendário escolar e, se sobrasse tempo, fazer o papel para que realmente eu me preparei por 5 anos na universidade: ensinar biologia.

Passei 5 anos estudando reinos, filos, classes, ordens, famílias, ecossistemas, relações entre seres vivos, rotas bioquímicas, um pouco de didática e fundamentos da educação. Na universidade, ninguém me preparou para ser artista, recreadora, psicóloga, psicanalista, assistente social, lidar com violência em sala de aula, drogas, gravidez de alunas de 11 anos de idade, pais ausentes, pais que espancam filhos, exploram sexualmente seus filhos, ou que enchem seus filhos de drogas para hiperatividade.

Fala-se muito que a universidade não prepara os professores para o mercado de trabalho. Mas essas são realmente as atribuições dos professores? Ou será que a falência do sistema educacional e sua estrutura é que sobrecarrega esse pobre profissional que, dentre as carreiras de ensino superior, é a de menor salário? Nós que temos que mudar nossa formação para nos adequarmos a um sistema falido? Não seria tapar o sol com a peneira?

Somente 2% dos jovens vestibulandos almejam licenciatura. Por que será? Aí, vem o governo, e faz um programa revolucionário: o FIES. O aluno de licenciatura pode financiar sua formação em uma universidade particular, pagando-a depois de formado. Ou seja, o pobre profissional, que ganha o menor salário das carreiras de nível superior, já se forma endividado. Tem lógica? Tem lógica o próprio governo, em um mesmo edital, oferecer um salário de R$8000,00 para técnico judiciário (carreira que exige ensino médio) e um salário de R$1400,00 para um professor? Esse mesmo governo diz querer incentivar a carreira docente?

O que queria aqui era, simplesmente, compartilhar das minhas questões profissionais com vocês leitores. Escolhemos essa profissão, mesmo sabendo de todos esses problemas. Eu escolhi, mesmo tendo outras possibilidades, ser professora. Professor é um sonhador. Sonhamos e investimos em um futuro melhor. Cabe a nós, também, exigir que algo mude. Apesar de tudo, me orgulho muito de ser professora. Sonho que um dia essa realidade mude. Contudo, mesmo não mudando, continuarei lecionando. Escolhi isso para mim. Mesmo assim, entendo perfeitamente quando vejo colegas de trabalho com mais tempo de magistério, que desistiram da profissão, ou que estão pedindo aposentadoria alegando estresse profissional.

Luana Jotha

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No Diário do Professor você encontra artigos e links sobre o dia-a-dia da Educação:

Planos de aula, Atividades, Práticas, Projetos, Livros, Cursos, Maquetes, Meio Ambiente… e muito mais!

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Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

6 thoughts on “Desabafos de uma jovem professora

  • 03/11/2012 em 02:23
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    Luana,
    Que barra vc passou!! Como foi desrespeitada!!!! Explorada! Terrível realmente!
    Foi um abuso, uma covardia, um tremendo mau-caratismo o que fizeram com vc! Ficar sem o seu salário???? Que loucura!!!!!!!
    Vc foi roubada de forma vil!!!

    Quanto às mil exigências da outra escola, com a falta total de estrutura dessa instituição hoje, falta de recursos, de pessoal habilitado, etc., realmente fica impossível dar conta de tudo que te cobraram e cobram do professor! Nem que ele fosse mágico!!!

    A história de ter que dar aula de pé o tempo todo também é pavorosa. Para impedir a dispersão??? Foi só nessa “solução” que a escola foi capaz de pensar? Absurdo!!!

    Vc colocou uma extensa lista de cobranças, as quais o professor só teria como cumprir se fosse um verdadeiro super-herói! Mas, uma coisa me chamou bastante a atenção e foi o que vc escreveu no final desse parágrafo: “(…) e, se sobrasse tempo, fazer o papel para que realmente eu me preparei por 5 anos na universidade: ensinar biologia.”.
    E vc segue dizendo: “Passei 5 anos estudando reinos, filos, classes, ordens, famílias, ecossistemas, relações entre seres vivos, rotas bioquímicas, um pouco de didática e fundamentos da educação. Na universidade, ninguém me preparou para ser artista, recreadora, psicóloga, psicanalista, assistente social, lidar com violência em sala de aula, drogas, gravidez de alunas de 11 anos de idade, pais ausentes, pais que espancam filhos, exploram sexualmente seus filhos, ou que enchem seus filhos de drogas para hiperatividade.”
    Depois questiona se essas atribuições deveriam realmente ser dos professores.
    Bem… Eu acho que sim. Mas não só dos professores e sim de todos os educadores que trabalham na escola, inclusive os tantos que vivem afogados em papeladas, burocracia, se mantendo distante de onde realmente apertam os calos.
    Além disso, a escola há muito tempo já deveria fazer parcerias com a psicologia, a assistência social, entre outros serviços sociais e de saúde, justamente porque um educador não pode ter todas essas formações que vc citou.

    Mas… Um futuro professor de Biologia não pode estudar só Biologia!!! De jeito nenhum!! E não adianta nada “um pouco de didática e fundamentos da educação” (isso é quase nada!!!). Isso não faz um professor. Faria, no máximo, um pesquisador da área.
    Ser professor, ser educador, inclui muito mais sim, outros saberes e responsabilidades, e, justamente por isso, os salários tinham que ser muito maiores, claro! Entre outras coisas.

    Acho os cursos de formação de professores muito fracos ainda, porque a parte pedagógica é mínima e fraca e, também, porque não os preparam para lidar com a realidade que vão encontrar, com o tipo de aluno e sua realidade social e psicológica, enfim, o profissional sai com ideias, técnicas sobre como dar boas aulas, mas não conhece pra quem vai dar essas aulas e assim fica dificílimo acertar!

    Ensino só está existindo de verdade se estiver havendo aprendizagem. Senão é monólogo. Samba de uma nota só.

    Os cursos de graduação, em geral, não preparam bem para a prática. Isso não acontece só com a formação de educadores, mas com tantos outros profissionais. E esse é um dos maiores erros de quase todos os cursos de graduação em nosso país! Assim fica mais difícil ainda acertar depois.

    E o que acontece, como comecei a expor acima, é que as disciplinas pedagógicas, que já são poucas, muitos fazem de qualquer maneira, só para ter nota para passar, porque tem paixão mesmo é pela matéria que escolheram estudar anos: biologia, matemática, química, geografia, etc. Como dá para se formar um verdadeiro educador, um professor realmente preparado, dessa forma???

    Educar é muito mais do que só passar conteúdos dessa ou daquela disciplina escolar e é responsabilidade da escola sim, em parte, assim como é TAMBÉM das famílias dos alunos.

    Fora esse ponto, que considero importantíssimo e que vejo que, quando é abordado por muitos professores, é só para criticar, no resto concordo totalmente com vc, Luana, e me solidarizo, de coração!!

    E mais: 7 anos de docência não é pouca coisa não, viu?! De jeito nenhum!!! Às vezes, quem está há 20 anos, por exemplo, já “cristalizou” há tanto tempo que não consegue mais ver as coisas com a clareza e a emoção que vc demonstrou no seu texto, pelo qual te parabenizo e aplaudo de pé!!!

    Grande beijo, força… Conte comigo!
    Regina Milone.

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    • 03/11/2012 em 10:58
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      Oi Regina,

      Os cursos de formação de professores são quase piada aqui no Brasil.

      E a profissão, também.

      Uma reestruturação geral é preciso, tanto na carreira (para atrair quem realmente quer e é competente) quanto nos cursos (para formar estes, inicialmente).

      Mas não só.

      Sobre essa sua questão:

      “E o que acontece, como comecei a expor acima, é que as disciplinas pedagógicas, que já são poucas, muitos fazem de qualquer maneira, só para ter nota para passar, porque tem paixão mesmo é pela matéria que escolheram estudar anos: biologia, matemática, química, geografia, etc. Como dá para se formar um verdadeiro educador, um professor realmente preparado, dessa forma???”

      Eu sou um desses: fiz de qualquer maneira, apenas para passar, porque não gostava e nunca quis dar aulas.

      Mas o que ensina mesmo é a prática (prática que deve-se ter lá na formação).

      E, durante a prática, continua-se aprendendo – para isso, tempo, espaço e remuneração para formação continuada.

      Abraços,

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  • 03/11/2012 em 11:19
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    Luana,
    Gostei muito do seu desabafo! Trata-se de mais um depoimento que atesta a falência da educação no Brasil. Chegará o dia em que a situação chegará ao insuportável (para todos).
    O contraditório “desvalorização do professor + aumento das tarefas atribuídas ao magistério” é uma das fórmulas mágicas para o fracasso da educação.
    Tenho um pensamento diferente da Regina: não acho que educar deve ser atribuição do professor, mesmo que indubitavelmente nós o façamos em sala de aula. o professor não tem a atribuição legal, o tempo necessário, entre tantas outras ferramentas, para ser esse “educador” que a pedagogia quer nos impor. Eu sou educador da minha filha! Do meu aluno eu sou professor! Não há argumento nem pessoa que me convencerá do contrário.
    Parabéns, professora, pela iniciativa de escrever o texto e pela coragem de ser parte de uma minoria de profissionais que decide pelo tortuoso caminho da luta.

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  • 03/11/2012 em 18:38
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    É isso aí, Declev: prática e formação continuada. Mas teoria TAMBÉM!!!
    O professor deveria ser o primeiro profissional a valorizar o conhecimento teórico e saber que este também vem de práticas e pesquisas (as “teorias” não surgem em cima do nada!), mas, infelizmente, muitos professores acham que o que parece ser “teórico demais” é muito chato… É uma incoerência danada, porque escolheram ser professores por que então??? Se o conhecimento só se adquire na prática e, especialmente, nas experiências pessoais, a escola não precisaria nem existir! Seria impossível transmitir algo, debater sobre ideias e experiências variadas, compreender o que é cidadania, etc. Pra que escola então???

    E, Luiz Eduardo, sinceramente, quantos de nós lembram do que estudaram na escola, pós-alfabetização??? Talvez alguns lembrem de alguns pontos das matérias que gostavam mais e pronto. Então é óbvio que esse tipo de ensino está completamente errado!
    Por isso é urgente que o professor se veja e atue como EDUCADOR sim! Isso pra mim é completamente óbvio também, embora respeite quem pensa diferente, claro. Mas, sinceramente, a educação nunca vai melhorar em nosso país, na minha opinião, enquanto o professor não se vir nem se valorizar como educador. Isso é ponto FUNDAMENTAL. Ponto de honra. E posso falar isso porque estudei 4 anos sobre educação (curso de pedagogia), fora inúmeros estágios e outros cursos, antes e durante minha prática profissional.
    E repito: educar não é atribuição só de pai e mãe nem no dicionário! Se uma pessoa quer apenas transmitir conteúdos da matéria “x” ou “y”, deve questionar profundamente se realmente quer ser professor, porque parou no tempo.
    Agora, é claro que, em muitos casos, precisamos atuar com a assistência de outros profissionais, pois o professor não é profissional da Saúde e nem assistente social e não deve assumir esses papéis!

    Já acompanhei alunos que não conseguiam se alfabetizar simplesmente porque tinham problema de vista! E ninguém havia reparado nisso, já taxando as crianças de preguiçosas, com dificuldades de aprendizagem, etc. E não era nada disso!

    O professor de segundo segmento do Ensino Fundamental e de Ensino Médio teria muito a aprender com as professoras de primeiro segmento do Ensino Fundamental, nesse ponto, pois elas (as que são boas profissionais e estão sempre se atualizando, claro) cuidam do todo, educam realmente, bem ou mal, levando em conta todos os aspectos do que é educar: não só diferentes matérias, mas também valores, socialização, respeito às diferenças, desenvolvimento cognitivo, psicológico e mental, etc.

    Gente, não podemos andar pra trás! Ou, pelo menos, não devemos!
    É o que penso e pelo que sempre batalhei.
    E foi uma escola com essa mentalidade que busquei pro meu filho, tendo ficado muito satisfeita (são pouquíssimas escolas realmente funcionando assim, mas existem!).

    Abraços,
    Regina.

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  • 05/11/2012 em 09:36
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    Obrigada pelos comentários. Compartilhei com vocês momentos muito duros da minha profissão. Mas isso não me faz um martir. Todos nós passamos por situações como as que descrevi. Poucos são os colegas de trabalho com que converso que logo depois de formados foram absorvidos pelo mercado em colégios de boa estrutura. Mesmo os de boa estrutura há um grande desrespeito. Como disse, e citei Jo Soares, o material escolar mais barato do mercado é o professor.
    Quanto às atribuições dos professores, concordo com você, Regina. Infelizmente, vivemos uma realidade em que não temos uma estrutura familiar e os professores nao podem ficar alheios a isso. E isso nos torna muito mais que professores, nos torna educadores. E aí entra a discussão do Luiz. Acho que absorvemos a função de educadores, mesmo que instintivamente. Não tem como não o fazer no ensino básico. As crianças de hoje são muito carentes de exemplos, orientações, repreensão. Não tem como fechar os olhos para isso e querer entrar em sala, aplicar o conteúdo e ir embora.
    E esse é o maior prazer e o maior pagamento na vida de um professor: ver que, mesmo passando por todos os problemas que passamos, fazer a diferença na vida de um aluno. Ver um aluno de 10 anos atrás que ainda tem carinho por você, zoa que você desenha mal, e que queria que eu fosse a professora na faculdade deles… Isso é impagável. Impagável é uma menina de 12 anos pedir conselhos pra você sobre o menino que ela gosta.
    Realmente, nao fui preparada para isso. Na faculdade não tinha uma disciplina: “conselhos amorosos para alunas de 12 anos”. Mas é assim que acontece. É o caminho que forma o profissional.
    Quanto à critica da Regina e do Declev que as licenciaturas nao formam profissionais, sim, concordo. Tirando o meu comentário acima que pode parecer sarcástico com a crítica de vocês, não o é. Concordo plenamente que as licenciaturas não preparam os profissionais e as disciplinas pedagógicas são “para constar” e não preparam, nem em longe, o profissional para as situacoes que irá encontrar no mercado de trabalho.
    Com a obrigação de se aumentar o número de disciplinas pedagógicas nos cursos de graduação, ouvia-se rumores que era para corrigir exatamente isso. Nao o foi. Não adianta ficarmos presos a teorias pedagogicas de outros países ou mesmo, do Brasil, mas de 100 anos atrás. Nossa realidade é hoje e muito diferente de 100 anos atras. Temos conflitos urgentes que precisam ser debatidos e apresentados. Aqui, no diario do professor, que descobri que, na epoca mais estressante da minha vida, sofri da síndrome de burnout. Eu, com 5 anos de magistério, 20 poucos anos de idade, tinha infecções de garganta toda semana, não conseguia dormir no dia anterior que trabalharia naquele determinado colegio, vomitava no horário do recreio, tive úlcera gástrica, entre muitas apresentações clínicas.
    A questão que estou falando é que não somos preparados para situações reais em que vivemos. Eu não fui preparada para ter “domínio de turma”. Também não fui preparada para lidar com um aluno que me ameaçou de morte e que a direção negligenciou.
    Acho que precisamos de uma reformulação drástica das disciplinas pedagógicas nas licenciaturas. Elas perdem sua função, da maneira que estão. Muito necessário discutir o processo de aprendizagem, Piaget, Freud, Paulo Freire. Amei estudar isso. Mas faltou estudar os problemas atuais que lidaríamos.
    Assim como, achei lindo quando incluíram no currículo das licenciaturas, a disciplina de “educação especial”. Lindo estudar as limitações das varias patologias de alunos “especiais”. Mas cadê a aplicação? Cadê a parte prática? Cadê as orientações claras: alunos com deficiência tal precisam desses artifícios para melhor aproveitamento. Assim como, mesmo que tivesse isso, cadê a possibilidade de aplicar isso? Um aluno com déficit cognitivo na escola regular, com outros 50 alunos gritando e se matando e um professor desesperado só para tentar manter a ordem. A teoria é linda. A prática é falha. Porque a teoria não se aplica às nossas realidades. Essas são as disciplinas pedagógicas das licenciaturas.

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  • 05/11/2012 em 15:22
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    Luana,
    Concordo totalmente com esse seu comentário (não tenho nem o que acrescentar) e já tinha ficado feliz com o seu desabafo, pois trocarmos esse tipo de experiência é muito rico e ajuda quem está sofrendo na pele.
    Conte comigo pro que precisar! No que puder, estarei aqui!!
    Quantas vezes também adoeci por não conseguir um centésimo do que gostaria tanto para colaborar com os professores, como pedagoga, como com os alunos… Ser educador no Brasil, nos dias de hoje, é extremamente frustrante. A gente acaba adoecendo realmente. O sistema já está adoecido!
    Querida, repito: conte comigo!!
    Grande beijo,
    Regina.

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