Pois é, meus cares amigues… Ainda somos professores!
Só li hoje no jornal, apesar de ter acontecido anteontem, a notícia do menino que espancou – isto mesmo, espancou! – a professora dentro da sala de aula.
Segundo o jornal O Globo (22/02/08, p.14), “A professora chamou a atenção do estudante, que estava tumultuando a aula. Sem conseguir contê-lo, ela pediu a um inspetor (que bom que lá tem inspetor…) que chamasse um diretor. Foi quando o menor decidiu agredi-la.”
E mais: “(…) levantou-se da carteira e deu um soco na boca da professora, jogou-a no chão, chutou-a e deu-lhe uma cadeirada”.
E mais mais: “-Ele tem antecedentes criminais e ameaçou outros professores”.
Na Folha onlaine tem um outro artigo sobre o caso, onde a mãe diz “não sei mais o que fazer”.
Esta é uma frase muito comum ouvirmos nas escolas. Todas as mães dos alunos-pobremas dizem isso.
Agora fica a pergunta: E NÓS, QUE ESTAMOS LÁ DENTRO, SABEMOS O QUE FAZER? Temos que saber? Ah, sim, temos que saber?!?
Pois fui procurar esta reportagem na internet e sabe o que encontrei em dois ou três segundos? Outras tantas de agressões a professores! Olhaí:
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Continuamos tendo que saber o que fazer???
Na minha escola já tivemos casos e mais casos exdrúxulos, que vão desde xingamentos a agressão física, passando por casos de preconceitos (contra professoras negras ou professores gays) ou total falta de respeito.
Vou começar a contar uns casos destes e postar na categoria “histórias reais a educação brasileira”. Não se assustem…
Bem, finalizando, isso tudo vem confirmar o que eu disse antes:
“aqueles mesmos que a ‘sociedade’ chama de ‘pivetes’, ‘ladrões’, ‘traficantes’ etc., nós somos obrigados a tê-los e chamá-los de ‘alunos’.”
Pingback: Declev via Rec6
Pois, então, eu vou dizer: que bom! Não… Eu não estou ficando maluco, nem tenho recalques contra professores. Muito ao contrário!… É que, finalmente, estão começando a divulgar os fatos!
Se fosse a duas ou três décadas atrás, o assunto teria sido abafado – da mesma forma como o eram as agressões domésticas… Não foi por outro motivo que minha mulher desistiu da profissão de Pedagoga (após um estágio em uma escola no Morro de Dona Marta), ou que a tia dela (que, literalmente, pagava para trabalhar no 1° CIEP inaugurado, o Tancredo Neves, no bairro da Glória, Rio, RJ) pegou a primeira oportunidade de terminar sua carreira em um posto burocrático na Secretaria de Educação… Não há “amor à profissão” que resista…
Fica a sugestão: incluir no currículo dos docentes a disciplina “Defesa Pessoal” (de preferência algo “leve” com Jiu-Jitsu ou Krav-Magá…)
Oi João, vi também seu outro comentário no post sobre o sentido da escola. Acho que ninguém sabe maios pra que serve a escola… Convencionou-se de que todos deveriam ter “direito” à escola e pronto!, num passe de mágica estavam todos lá dentro!
Só esqueceram de convencionar que todos deveriam ter direito a “estudar”. Mas lembrando que é um direito, não um dever. Ou seja, se o adolescente não quer estudar, não deve ter “direito” à escola!
Ou então teremos cada vez mais o que temos por aí: escolas elitizadas e escolas-depósitos. Daqui a pouco não terá tanta diferença para as febens ou funabens da vida.
É difícil demais falar desse assunto. São tantos aspectos, é tão complexo, que qualquer simplificação pode acabar sendo injusta demais com alguma das partes.
Na escola onde trabalho, em Caxias (Baixada Fluminense), a realidade também é essa: violência de todos os lados – alunos metidos no tráfico (se acham muito poderosos e viram ídolos dos colegas) e que ameaçam e/ou agridem professores , professores que descontam o estresse e o “não saber mais o que fazer” nos alunos (com ameaças de tirar pontos, suspender ou expulsar, com humilhações verbais, etc.), preconceitos de todos os lados, direções muitas vezes omissas, equipes pedagógicas muitas vezes perdidas, todos com medo… Tem sido verdadeiramente difícil e sofrido tudo isso.
Mas vc pergunta, professor, se temos que saber o que fazer. Acho que temos que buscar. Temos que trocar idéias e experiências a respeito, temos que aprender sobre experiêncxias que deram certo (inclusive em outros países), no mínimo porque nossa profissão implica numa responsabilidade social muito grande, da qual não podemos escapar. Condições ideais nunca vão existir – somos humanos -, mas se desistirmos de buscar melhorias nesse quadro, ele só vai se agravar.
Não podemos retroceder achando que a escola não deve ser direito de todos, mas temos que procurar formas de lidar com a violência que está em toda a sociedade e que tem explodido com tanta freqüência nas escolas.
Na sua opinião, professor, o que podemos fazer, pra iniciar essas melhorias???
É, meu amigo ! Que início de ano “bacana”!!! Tem pai e mãe que chegam para mim e dizem: “Não sei o que fazer! A Senhora sabe, Fulano vai ser encontrado morto qualquer dia destes!” O que fazer ? Não sei ! Talvez continuar lutando e falando da verdade, nua e crua. Qual Dom Quixote , vamos lutar contra os moinhos de vento, para salvar o que nos resta de dignidade!!
Oi Regina, oi Andrea.
Só o debate que fazemos já é algo. Mas temos que partir pra prática.
Tenho escrito em vários posts sobre assuntos relacionados e em um deles falo, por exemplo, da importância do professor ser de uma só escola, pra poder se dedicar de verdade aos alunos, às famílias, às dificuldades e possibilidades deles:
http://diariodoprofessor.com/2008/02/13/esta-educacao-nunca-vai-dar-certo/
Acho que o aluno também deve ficar mais tempo na escola. Não digo mais dias, como fizeram passando de 180 pra 200 no ano letivo. Digo mais horas, fazendo pesquisas, assistindo filmes, fazendo oficinas de arte, fazendo esportes, etc etc etc.
Aí se poderia criar laços, amizades, companheirismo, dedicação ao estudo.
E minha experiência mostra muito ao contrário do que você vê: na minha escola todos os dias vejo alunos desrespeitando professor. Não vejo ao contrário (e NÃO SOU corporativista!).
São alunos xingando professores de preta vagabunda (racismo mesmo), de viados (preconceito mesmo), de velha coroca e muitos outras. Veja a primeira foto deste post: http://diariodoprofessor.com/2007/11/16/ser-professor-e-correr-riscos/
E sabe o que mais me frustra? Não acontece nada com eles… Reflete-se lá na escola – local de educação, de aprendizado – o que acontece no Brasil todo: uma generalizada impunidade.
O traficante pode fechar uma rua, o bicheiro contraventor desfila num carro de bombeiros, os políticos gastam tudo quanto querem em cartões corporativos e de outras formas, etc etc etc.
É isso o que ensinamos às nossas crianças? Que vale a pena fazer o que quer, porque aqui a impunidade impera?
Estes mesmos alunos que fazem isso dentro da escola, fazem fora. Só que lá fora eles são considerados, pela sociedade, “bandidinhos”. Dentro da escola “aluninhos”.
Acho muito perigoso…
Declev,
Também vejo o que vc vê e me preocupo bastante.
Vejo os xingamentos e as agressões dos alunos, vejo a impunidade vindo de cima e servindo de exemplo pra essa garotada, mas não acho que escola seja lugar pra punir ninguém. Nem recompensar. Essa visão de castigos e prêmios é muito comportamental, superficial e, como educadores, acho que o mais importante é estimularmos o pensar, o refletir, o questionar, estimular a leitura, os debates, a busca de conhecimento e de auto-conhecimento, a crítica e a auto-crítica. Para isso precisamos dar o exemplo, pensando, refletindo, questionando, etc. Mas não punindo. Não somos juízes nem polícia!
Tento não perder o foco numa coisa: somos servidores públicos, isto é, estamos prestando um serviço à sociedade. Nesse sentido, o aluno é o foco principal. E mesmo os adolescentes mais violentos são jovens ainda, isto é, podem mudar e, nesse sentido, mesmo que qualquer resultado positivo dos nossos esforços como educadores venha muito mais tarde (e a gente não vá nem ver…), só quando amadurecerem (se não morrerem no tráfico, antes disso…), não podemos deixar de pelo menos plantar e cultivar sementes. Para muitos, a escola pode ser a única chance de obterem outras referências na vida!
Acho que o ECA foi uma conquista da sociedade, acho importantíssimo lutarmos pelos direitos humanos sempre e pela liberdade de expressão, mas concordo que não podemos aceitar passivamente o desrespeito, de um lado nem de outro. Infelizmente, embora não aconteça onde vc trabalha, o desrespeito e o preconceito do professor em relação ao aluno e à família do aluno é muito mais comum do que deveria também. E isso é mais triste ainda, pois somos adultos, escolhemos essa profissão e não podemos descontar nossas frustrações nos alunos (gostaria demais que isso não acontecesse mas, infelizmente, acontece muito sim).
Concordo que o ideal seria o professor trabalhar em uma só escola e os alunos ficarem mais horas na escola, em diversas atividades. Isso faria uma diferença incrível, com certeza!
Mas, com baixos salários e verbas ridículas e mal utilizadas para a Educação, como fazer isso???
Pra mim, os garotos que estão nas ruas não são “bandidinhos”, a princípio, mas sim, em primeiro lugar, GAROTOS.
Rótulos não ajudam em nada.
Se esses garotos roubam ou cheiram cola, mais um motivo para estarem na escola e não nas ruas. Isso
cria um problemão pra nós, educadores? Sim. Mas o melhor seria sair “prendendo” essa garotada nas FEBEMs da vida (de onde saem piores), sair expulsando das escolas, depositá-los em algum lugar longe das nossas vistas??? Não gostamos do que vemos, mas eles são fruto da sociedade que nós, adultos, estamos criando, por ação ou omissão, e entregando pra eles.
Se pra nós já foi difícil, imagina como é, pras novas gerações, crescer nesse mundo louco, injusto e violento, cada dia mais sem ética, onde nós (sobre)vivemos!
Procuro lembrar de tudo isso quando me sinto muito desanimada e descrente da/na Educação e acabo recobrando minhas forças.
Mas acho ótimo vc abrir esses tópicos, para que todos possam desabafar e trocar idéias, assim como gosto de ler as opiniões dos pais (concordo com várias, discordo de outras…) no blog “Educafórum”, infelizmente tão mal falado por vários professores, injustamente, na minha opinião.
Parabéns pelos seus textos (tenho lido sempre)!
Desgraça alheia serve de consolo?… Veja este artigo do “Le Figaro”: “Soixante profs
agressés chaque jour”
olá sou filha de professora e aluna de jornalismo estou fazendo uma reportagem sobre o desrespeito dos alunos com os professores e achei muito interessante o seu texto, isso porque sei que a minha mãe já está doente. Mas bem gostaria de saber a sua formação e seu nome completo (se possível) para poder colocar em minha reportagem um de seus comentário. Espero que possa me ajudar!
Obrigada
Oi Natália,
Meu nome é Declev Reynier Dib-Ferreira, sou formado em Biologa, com especialização em educação ambiental, mestrado em ciência ambiental e estou fazendo doutorado em meio ambiente.
Sou professor de ciências.
Pode usar o que quiser. Espero que ajude.
Abraços.
sou professora. Observo no meu cotidiano escolar a falta de respeito com os professores. Mas o que mais choca mesmo é que os alunos não sabem ou não lhes foi ensinado a respeitar os mais velhos. Isso vale para todos os funcionários da escola. Inspetores, serventes, etc. Já presenciei um aluno fingir não ouvir a inspetora, xingar e ofender. Também é notável o tratamento com quem tem mais status econõmico. Por exemplo: se um professor chega na escola com um note book e um carro zero, ele passa a ser mais aceito, mais respeitado. ao contrário do outro que chega com a sua bicicleta.
O preconceito mesmo é contra a pobreza. Infelizmente somos valorizados pelo que temos e não pelo que somos.
Achei interessantes todas as opiniões e gostaria de deixar clara também a minha:O que está faltando para todas as crianças e adolescentes é limite. Os pais perderam totalmente o controle sobre os filhos e jogam toda a responsabilidade para a escola.Somos ainda criticados pelos fracassos, indisciplina, rebeldia e tremenda falta de educação doméstica que tornam vítimas as nossas crianças.Culpo a família que também em decorrência de sua desestruturação permite tudo; como se assim pudesse suprir a falta de condições básicas de sobrevivência .Na ausência de qualidade de vida, se permite tudo compromentendo toda a formação educacional de que todos precisam.
Isso, Sonia. Limites. Não há, não há mesmo!
E uma sociedade sem limites – imposta também, por exemplo, pela justiça – dá no que estamos dando: ninguém deixa de fazer algo porque “não pe permitido”, pois sabe que não vai ser punido.