Talvez tenhamos que nos ater mais aos detalhes, às pequenas coisas e, para isso, tenhamos que saber observar melhor.
Enxergamos o mundo com olhos de humanos, mas deveríamos observar com os instrumentos adequados às situações.
Determinadas vezes, olhar com binóculos, outras com lupas.
Ao enxergar uma turma com olhos de humanos vemos uma massa homogênea, um bando de gente. São bagunceiros; são quietos; são bons; são maus; são bons estudantes…
São?
Quem são?
Devemos, neste caso, estar sempre com o binóculo a postos, preparado para uso. Enxergar um aluno mais de perto, estando longe.
Quem é; onde vive; com quem mora; tem família; pai; mãe; irmãos; vive com os avós; padrasto; tem atividades externas; fez pré-escola; está namorando?…
E, ao mesmo tempo, devemos estar sempre com a lupa, para observar os alunos bem de perto, lá dentro, mas ao lado dele.
O que ele quer; quais suas aspirações; tem medo; tem coragem; o que gosta; o que tem facilidade; por que não aprende; o que quer para o futuro; por que faz o que faz; como se vê; por que se vê deste jeito?
Sem esses “aparelhos”, sem essas observações, não vemos o outro. Apenas vemos nós neles.
E, como são todos diferentes de nós, não os entendemos.
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Se não os entendemos, não os atingimos, não os ajudamos e não os educamos.
Sei… e, no dia em que você conseguir isso (ganhando o que você ganha, trabalhando na escola onde trabalha, com todo o maravilhoso apoio que a direção e o município lhe dão), pode conferir aquele bilhete da Mega-Sena que está no seu bolso: você acertou a acumulada sozinho!… 😀
Mas, para não parecer derrotista demais, eu vou repetir a máxima do Almirante Frontin: “Quando não se pode fazer tudo o que se deve, deve-se fazer tudo o que se pode”.
O mero fato de perceber que os alunos são indivíduos, com históricos (não meramente escolares, mas toda uma vivência) e motivações distintos, já ajuda muito.
(Totalmente “off-topic”: você conseguiria me explicar para que um aluno do (que chamam hoje de) 4º ano precisa saber que “tóraces” é o plural de “tórax”?… Eu, nos meus 57 anos, jamais usei “tóraces” em uma frase…)
Oi João,
É verdade… com as condições de trabalho é muito difícil de conseguir isso, como eu mesmo já disse por aqui em outros artigos. (comentário 1)
Mas, de qualquer forma, os alunos – e as pessoas em geral – não são uma massa homogênea. Ter esta noção já é um começo.(comentário 2)
Fiz este artigo assim que assisti a um filme que esqueci o nome, no qual (resumiondo) há um casal de irmãos que só tem um par de tênis. Ela estuda de manhã, vai correndo pra casa, se encontra com o irmão, dá o tênis pra ele, que sai correndo pra escola.
Quando ela atrasou por um motivo qualquer lá, ele se atrasou pra escola, apesar de ter corrido um monte.
O inspetor não o deixou entrar (talvez não tenha sido a primeira vez dele, peguei o filme já começado).
Mesmo com o aluno chorando, pedindo pra entrar e dizendo que não aconteceria mais, ele não deixou.
Dura lex sed lex?
Ninguém procurou saber o que acontecia.
Simples, não? E simbólico.
É claro que não podemos conhecer a fundo nossos aluns, neste sistema. Mas me pego muitas e muitas vezes me surpreendendo com as histórias deles, quando tenho oportunidade de ouvir.
Invariavelmente câmbio a forma como vejo aquele aluno.
Quanto à outra questão, nem eu sabia! E, convenhamos, “tóraces” é muito feio!
Assim não tem quem possa gostar de estudar…
Dura lex sed lex? (Eu também detesto “Fiat justitia, pereat mundus”…) Claro que não!
“Lei” é uma regulamentação sobre casos genéricos. “Justiça” é a aplicação da “Lei” em casos específicos. Justo é tratar de maneira diferente pessoas diferentes.
É claro que não podemos conhecer a fundo nossos alunos, neste sistema. Mas me pego muitas e muitas vezes me surpreendendo com as histórias deles, quando tenho oportunidade de ouvir. (o grifo é meu).
Exatamente porque deveria haver todo um Sistema de Orientação Educacional (se é que não mudaram o nome…) alimentando você e todos os professores com os dados biográficos e psicológicos dos alunos. Para isso deveriam servir os pedagogos e psicólogos do Sistema de Ensino (e não para ficarem “inventando modas” e “ensinando o vigário a rezar a missa”).
Mas o lance do filme que você narra, é um dos aspectos mais odiosos que as escolas têm, até hoje: a figura nazista do “bedel”… geralmente recrutados entre pessoas sem o menor discernimento e incapazes de distinguir “autoridade” de “autoritarismo”. Como costumávamos dizer nos Fuzileiros Navais: “a linha principal de resistência do incompetente é o regulamento”.
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