Antes de mais nada, veja o post Fichamentos de artigos e livros de educação ambiental, com as “regras de uso”.
GUIMARÃES, Mauro. Armadilha paradigmática na educação ambiental. In LOUREIRO, C.F.B.; LAYRARGUES, P.P.; CASTRO, R.S.de (orgs.). Pensamento complexo, dialética e educação ambiental. São Paulo: Cortez, 2006.
“Apenas reconhecer a gravidade dos problemas ambientais, como resultado de um processo educativo, pouco avança na construção da sustentabilidade. Sendo assim, a ação que me parece prevalecer ainda nos ambientes educativos restringe-se apenas à difusão da percepção sobre a gravidade dos problemas ambientais e suas conseqüências para o meio ambiente. Essa perspectiva não é suficiente para uma educação ambiental que se pretenda crítica, capaz de intervir no processo de transformações socioambientais em prol da superação da crise ambiental da atualidade” (Guimarães, 2006: 15-16).
“Conhecermos as origens causadoras dos problemas ambientais (…) é um primeiro passo para percebermos que esses problemas não são frutos de uma evolução natural da dinâmica do meio ambiente, mas conseqüência de uma intervenção antrópica sobre o meio” (Guimarães, 2006: 16).
“Essa intervenção antrópica que degrada o meio não é uma condição inata dos seres humanos, mas o resultado das relações sociais constituídas e constituintes de um meio de produção, promotor de um modelo de desenvolvimento, que imprime uma forma de relação entre sociedade e natureza” (Guimarães, 2006: 16).
“Diante dessa visão de mundo tão desintegradora [base desta relação acima citada], constrói-se e banaliza-se a separação entre seres humanos e natureza estabelecendo uma relação de dominação de um sobre o outro” (Guimarães, 2006: 16).
“Esta relação se estabeleceu a partir de uma visão social de mundo historicamente construída, fruto da sociedade moderna com seus paradigmas” (Guimarães, 2006: 16).
Dados sobre a situação do planeta do relatório Sinais Vitais 2003 (PNUMA) (Guimarães, 2006: 17 e 18).
“O que torna pior as projeções futuras deste modelo é que os padrões de vida (consumo) daqueles 20% da população mundial (que consomem 86% dos recursos naturais) são vendidos (ideologicamente) como modelo de qualidade de vida para os 80% restantes.” (Guimarães, 2006: 18).
“Essa crise ambiental é uma crise de um modelo de sociedade e de seus paradigmas, modelo que nos apresenta um caminho único a seguir. É, portanto, uma crise civilizatória” (Guimarães, 2006: 18).
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“Toda essa exploração da natureza tem côo alguns de seus alicerces a perspectiva antropocêntrica da modernidade e o cientificismo mecanicista da ciência moderna (cartesiana). Essas são formas de olhar e compreender o mundo que informam a nossa relação individual e social com esse mundo” (Guimarães, 2006: 18).
“A compreensão e a ação que prevalece hoje no mundo é intermediada pelos paradigmas construídos historicamente pela sociedade moderna e que estabelecem essa relação tão desarmônica entre os indivíduos em sociedade e entre sociedade e natureza. (…) mas se essa crise ambiental é uma construção histórica, ela pode também ser historicamente desconstruída” (Guimarães, 2006: 19).
“Uma identidade comum [entre paradigmas, visões de mundo, ideologia] é de serem produtos (e produtores) de uma construção histórica socialmente determinada (e determinante) e que, pelas relações de poder constituintes (e constituídas) da (na) realidade social, refletem posições sociais predominantes de certos grupos e classes sociais” (Guimarães, 2006: 20).
“Os paradigmas tendem a nos levar a pensar e agir de acordo com açgo pré-estabelecido, consolidado por uma visão de mundo que nos leva a confirmar (inconscientemente) uma racionalidade dominante” (Guimarães, 2006: 20).
“Há uma tendência [nos paradigmas da sociedade moderna], utilizando-se de uma lógica binária, de estabelecermos dualidades como vida e morte, bem e mal, certo e errado, verdadeiro e falso… seres humanos e natureza. Só que ao focarmos em uma parte, considerando-a diferente e desigual (superior), criamos um antagonismo dicotômico (dissociado) entre as partes e que ofusca a visão de complementaridade entre estas mesmas partes, fundamental para percebê-la como uma unidade em sua diversidade” (Guimarães, 2006: 20).
“Podemos perceber a dificuldade que a nossa sociedade tem para lidar com a morte, já que vê vida e morte como algo diferente, desigual e antagônico” (Guimarães, 2006: 21).
“A primeira forma de observar e compreender esses fatos, focado na parte, aprofunda sua compreensão, mas reduz e simplifica a realidade. A segunda forma de observar e compreender os fatos a partir de uma abordagem integrativa de conjunto, de totalidade, permite uma compreensão mais ampla da realidade,no entanto mais superficial se focado apenas na totalidade” (Guimarães, 2006: 21).
“Vista como diversidade em uma unidade, as partes coexistem num todo em que, além dos antagonismos entre as partes, percebem-se também as suas complementaridades. Essa é uma outra visão de mundo (paradigma da complexidade) a ser construída; mais relacional, menos simplista e reduzida” (Guimarães, 2006: 21).
“Essa perspectiva nos permite uma outra compreensão e ação sobre o meio ambiente, refletindo e contribuindo no processo de transformação das relações entre seres humanos em sociedade e com a natureza” (Guimarães, 2006: 21).
“Os paradigmas da sociedade moderna (…) limita (sic) o entendimento de meio ambiente em sua complexidade. Essa compreensão de mundo não vem dando conta para estabelecer uma relação equilibrada entre essa sociedade e a natureza” (Guimarães, 2006: 22).
“Se os paradigmas informam inconscientemente nossa compreensão e ação, individual e coletiva, no mundo, eles tendem a nos apontar para uma concepção de realidade que influencia a estruturação dessa realidade assim compreendida e, reciprocamente, influencia a compreensão dessa realidade assim estruturada” (Guimarães, 2006: 22).
“Talvez ainda seja uma afirmativa forte para a sociedade em geral, mas no meio educacional já me parece que esse cenário começa a despontar – o anseio por mudanças nessa realidade em crise. Indicativo disso seria a difusão da educação ambiental, por exemplo, na educação formal. Nos dias de hoje, dificilmente deixamos de encontrar em escolas alguma atividade que não seja reconhecida pela comunidade escolar como sendo uma atividade que denominem de educação ambiental” (Guimarães, 2006: 22).
“No entanto, apesar da grande difusão da educação ambiental no meio educacional, formal e não-formal, ao longo destes últimos 25 anos no Brasil e, até a mais tempo, no mundo, tivemos neste mesmo período uma maior degradação ambiental no Brasil e no mundo; ou seja, hoje apesar desta difusão da educação ambiental, a sociedade moderna destrói mais a natureza do que há 25 ou 30 anos” (Guimarães, 2006: 22-23).
“(…) a realidade socioambiental, mesmo no entorno dessas escolas, tem sofrido transformações pouco significativas e os problemas ambientais só tem se agravado” (Guimarães, 2006: 23).
“Os educadores, apesar de bem intencionados, geralmente ao buscarem desenvolver atividades reconhecidas como de educação ambiental, apresentam uma prática informada pelos paradigmas da sociedade moderna” (Guimarães, 2006: 23).
“Os indivíduos (…) experenciamos em nosso cotidiano a dinâmica informada pelos paradigmas da sociedade moderna que tende a se auto perpetuar e que, seguindo essa tendência, é reprodutora de uma realidade estabelecia por uma racionalidade hegemônica” (Guimarães, 2006: 23).
“É a essa dinâmica que estou chamando de armadilha paradigmática, quando por uma “limitação compreensiva e uma incapacidade discursiva” (Viégas, 2002), o educador por estar atrelado a uma visão (paradigmática) fragmentária, simplista e reduzida da realidade, manifesta (inconscientemente) uma compreensão limitada da problemática ambiental e que se expressa por uma incapacidade discursiva que informa uma prática pedagógica fragilizada de educação ambiental, produzindo o que Grum (1996) chamou de pedagogia redundante. Essa prática pedagógica presa à armadilha pedagógica não se apresenta apta a fazer diferente e tende a reproduzir as concepções tradicionais do processo educativo, baseadas nos paradigmas da sociedade moderna. Dessa forma, se mostra pouco eficaz para intervir significativamente no processo de transformação da realidade socioambiental para a superação dos problemas e a construção de uma nova sociedade ambientalmente sustentável” (Guimarães, 2006: 23-24).
“Pude constatar [em um grupo de professores] uma percepção de problemas ambientais com uma compreensão limitada, simplista e reduzida da realidade. Tendiam a associar as causas dos problemas a um desvio comportamental, do indivíduo e/ou do sistema social e, sendo um desvio no comportamento, a solução apontada era a denúncia do erro e a transmissão da informação do comportamento correto para o indivíduo, na perspectiva de que no somatório de indivíduos com atitudes ecologicamente corretas, teríamos a solução do problema; ou seja, uma sociedade ‘ecologicamente correta’” (Guimarães, 2006: 24).
“Os professores, ao não perceberem que os problemas ambientais manifestam um conflito entre os interesses privados e o bem coletivo, o que estabelece, por um referencial paradigmático, o mote da relação entre sociedade moderna versus natureza, não questionam e não problematizam as causas profundas da crise ambiental. Dessa forma, esses professres ficanm submetidos (por não conseguirem questionar) ao caminho único proposto por esse modelo de sociedade e seus paradigmas” (Guimarães, 2006: 25). [armadilha paradigmática]
“A visão ingênua, presa à armadilha paradigmática, tende à reprodução de práticas educativas consolidadas; como por exemplo, a da educação comportamentalista que acredita que dando (transmitindo) ao indivíduo (educando) os conhecimentos (aspecto cognitivo) necessários e ainda provocando nele uma sensibilização (aspecto afetivo) pela questão ambiental, o indivíduo pode transformar seu comportamento incorreto e que, se assim for, ao final teremos como resultado da soma destes indivíduos transformados uma sociedade transformada” (Guimarães, 2006: 25).
“Essa educação ambiental se faz conservadora …
– por estar presa à armadilha paradigmática, entre outras múltiplas determinações deste modelo hegemônico;
– por voltar-se para um processo educativo focado no indivíduo e na transformação de seu comportamento;
– por não vincular e perceber as práticas educativas como uma intervenção individual e coletiva no processo de transformações socioambientais” (Guimarães, 2006: 26).
“Conservadora até porque limitada e incapaz de transformações significativas da realidade socioambietnal, já que estrutura a compreensão e a ação do seu fazer pedagógico nos mesmo referenciais paradigmáticos constituintes e constituídos deste e por este modelo societário gerador dessa grave crise ambiental” (Guimarães, 2006: 26).
“[educação ambiental crítica] Proposta voltada para um processo educativo desvelador e desconstrutor dos paradigmas da sociedade moderna com suas “armadilhas” e engajado no processo de transformações da realidade socioambiental, construtor de novos paradigmas constituintes de e constituídos por uma nova sociedade ambientalmente sustentável e seus sujeitos” (Guimarães, 2006: 26).
“A reflexão desta perspectiva de educação ambiental torna-se crítica ao perceber, problematizando e complexificando, os antagonismos e complementaridades da realidade em suas múltiplas determinações materiais, epistemológicas, culturais, entre outras, instrumentalizando para uma prática de transformação desta realidade, a partir da construção deuma nova percepção que se reflete em um prática diferenciada (…)” (Guimarães, 2006: 26).
“a ‘armadilha paradigmática’ que os torna reféns [os educadores] não é uma prática conservadora ideologicamente assumida por esses educadores. Essa se dá pela própria influência dos paradigmas que nos leva muuitas vezes a agir inconscientemente, por não saber fazer diferente e ‘porque sempre foi assim por aqui’” (Guimarães, 2006: 27).
“acredito ser possível e eficaz o esforço no trabalho de formação inicial e continuada dos educadores nessa perspectiva crítica, como forma de potencializar a resistência capaz de abrir brechas na estrutura dominante” (Guimarães, 2006: 27).
Eixos para a formação de educadores ambientais (Guimarães, 2006: 28).
Vejo claramente essa educação conservadora predominando nas nossas escolas. Muito importante as observações
estou com dúvidas para montar um ficamento gostaria que explicasse passo à passo. tenho urgência tenho que entregar o trabalho dia 29/10/2009 muito obrigado…
Oi Cristiane,
Estes fichamentos eu faço simplesmente retirando dos textos o que acho mais importante.
Isso varia conforme o trabalho que estou fazendo, pois cada trecho tem sua importância em dado momento.
Abraços,
Considerei nota 10 o artigo. Muito bem escrito e muito bem fundamentado. Parabéns!