Dia do professor

Prezadas e prezados amigos,

Não acredito em “dias”.

Dia do meio ambiente, dia da árvore, dia do caceteàquatro, dia do professor. Tem dia de tudo, de nada e de mais um pouco.

Dia do professor, pra mim, só serve para feriado.

Aproveitei e fui gastar umas milhas acumuladas no friozinho de Curitiba. Vejam as fotos no facebook da minha digníssima esposa.

Mas vale (mais) algumas reflexões.

Na 4ª anterior ao feriado houve uma apresentação da orquestra dos alunos de uma das minhas escolas. Um grande e ótimo projeto. Alguns antigos alunos meus estão hoje “na estrada”, com perspectivas de ganhar a vida tocando violino, clarinete, flauta…

Um a um os professores foram chamados, recebendo – como homenagem e por incentivo da equipe de coordenação – um coro de aplausos e gritinhos.

Na minha vez, começou-se com aplausos, mas ganhei umas vaias vultosas.

Fiquei matutando de onde elas vieram. Não de quais alunos, mas de onde de mim.

Cheguei à conclusão de que sou hoje nem uma sombra do professor que fui. Fiquei também matutando a razão disso.

Não consigo ver a educação como “é assim mesmo”, como “não tem jeito”, nem como “vai tudo bem, fazemos o máximo que podemos”.

Algo está errado e não consigo me enquadrar. Aliás, nunca consegui.

O tempo é curto; o curto tempo é mal distribuído; a verba é pouca; a pouca verba é mal empregada; há muitos professores ruins e nada acontece com eles; há muitos professores bons que não conseguem; a estrutura da escola é pífia; a pífia estrutura é mal aproveitada; os alunos que nada querem não deixam quem quer querer e nada acontece pra mudar isso; os alunos que querem são mal aproveitados; há muita distribuição e desperdício de material; por outro lado, há falta de material; os alunos ficam pouco na escola e muito na rua; os conteúdos são esquecidos; quando os conteúdos não são esquecidos, são absolutamente desimportantes…

Poderia falar uns 25 centímetros de minhas angústias, mas o fato é que é difícil, após 12 anos de magistério, não ver perspectivas de mudanças do que é, de fato, fundamental.

Nesta mesma semana soube que uns 4 ex-alunos foram assassinados, dentre Niterói e Rio, seja por bando rivais (de traficantes) ou pela polícia (o que dá na mesma…).

Mas a vida do aluno extra-escola praticamente não importa para os fazedores das políticas educacionais. Daí vem o quererem fazer formação, pagamento de 14ºsalário por desempenho, cobranças, projetos de reforço quase de mentirinha…

Ora, reforço do quê, no final do ano, se não se consegue a base? A casa não tem fundações, vai reforçar as paredes?

Continua-se achando que os professores são os culpados pela falência da educação. Mas eu vejo que somos vítimas, como os alunos. Mesmo os maus alunos, mesmo os péssimos professores.

O problema é anterior, é de base, é social.

A escola tem que atuar socialmente. Não como pura assistência social, mas abrangendo a vida toda do aluno. A escola tem que ser a família que eles não têm, o lazer que eles não têm, a segurança que eles não têm, o espaço de estudo que eles não têm, o reforço (de fato) que eles não têm, as atividades extra-curriculares que eles não têm…

E isso não se consegue com 3 ou 4 horas por dia, sem estrutura e com professores estressados desestimulados mal pagos trabalhando em diversos lugares.

Ao não ver – e não conseguir – mudanças, não consigo ficar imerso na mesmice.

Acho que é por isso que estou assim. E eles percebem.

Ou eu mudo o meio que me cerca, ou eu mudo o interior que me recheia.

Quem sabe os dois?

Declev Reynier Dib Ferreira
Professor, eu acho.

11 comentários em “Dia do professor”

  1. Declev Rynier Dib Ferreira, olá !

    Lhe vejo em pleno campo de batalha, na linha de frente !

    Os dias ? Não existem segundas-feira, …..,,sábados, domingos, feriados ! Só dias de combates e outros de revezamentos !

    Tudo numa evolução sem hora, sem lugar e sem certezas !
    E, assim, o corpo exausto carrega a mente conturbada , já quase vazia, autônoma !

    Mas, caro Declev, lhe vejo, não um soldado com fuzil !

    Você é do Batalhão Médico !
    Está lá para salvar vidas ! Sejam elas de qual lado for !

    Você, lá, ora, aplicando morfina para suavizar a morte eminente, ora, prolongando por mais alguns minutos suficientes para anotar uma despedida ou ora, controlando hemorragia enquanto os maqueiros não chegam para o transporte aos procedimentos complementares !

    Algumas vezes você, amigo, num procedimento emergente, tolhido, assiste uma outra vida, mais ao longe, se dissipar …

    Nos poucos momentos de descanso, você se pergunta:
    – Por que tudo isto ?
    – Até quanto eu suportarei ?
    Mas as respostas não surgem ! Você se sente isolado, sozinho !

    Porém, eu sei que você não será um combatente desertor!
    E lhe digo a razão :

    Na retaguarda da batalha, ao constatar, num simples gesto de aceno, que o seu socorro foi glorioso !
    Aquela vida preservada é que lhe renova o ímpeto de ajudar !
    De se fazer valer viver !

    Abraços à todos !
    Somel Serip.

  2. Um dia exclusivo pra se comemorar o dia do professor?
    Pra que?
    Nosso dia deveria ser comemorado conjuntamente com o dia do (a):
    Médico
    PSICÓLOGO
    Dentista
    ASSISTENTE SOCIAL
    Enfermeiro
    Fisioterapeuta
    TERAPEUTA
    Fonoaudiólogo
    Dia das Mães
    Dia dos Pais
    Dia de Santa Rita de Cassia (das causas impossíveis)
    Dia de Santo Expedito (das causas urgentes)
    e de mais uns santos e santas por aí.

    abraços

  3. Caro Declev,
    Passo novamente por aqui porque considero este espaço muito importante, seja porque você é um dos poucos educadores que tem a coragem de expor o que de fato acontece no interior do espaço escolar, seja porque aqui encontro forças para perceber que não estou louco e, portanto não sou o único que vê e não se conforma com a miséria em que estamos metidos.
    Sou professor de Filosofia na rede estadual de São Paulo desde 2004 e percebo que a cada ano as coisas parecem piorar para quem não quer fechar os olhos para a imundície que nos cerca.Todas as suas reflexões, toda a realidade que você descreve, toda a crítica é necessária para percebermos que o problema é nacional, ou seja, a EDUCAÇÃO assim com letras maiúsculas é algo totalmente fora de moda, pois os “burrocratas” que dominam as secretarias da educação, diretorias de ensino e unidades escolares estão preocupados com números, em maquiagem estatística e nada se importam em procurar a qualidade e a possibilidade de troca de conhecimentos entre professores e alunos, aquilo que deveria ser a formação.Boa parte do alunado está lá e não sabe ao certo o que procura, quando questiono os alunos eles desprezam a formação e dizem que só vão a escola porque são obrigados, não há nenhuma perspectiva, há apenas ódio em relação ao conhecimento e aqueles que ainda se importam. Professor “bom” tanto para alunos quanto para os “burrocratas” é aquele que cumpre seu “papel”, ou seja, finge que ensina, sem rigor algum, apenas reproduzindo o que livros didáticos e apostilas impõem, sem nenhum comprometimento com o saber, apenas com horários, diários e toda essa imunda parafernália de controle – sociedade de controle/vigiar e punir.O problema chegou num nível tão sórdido que os professores quando colocamos nossa insatisfação para fora questionando, criticando, somos repreendidos, isolados, considerados como um”câncer” no interior de um organismo que funciona muito bem.Desculpe o tom de desabafo, mas por hora é tudo o que posso dizer, pois me sinto profundamente cansado e com vontade de destruir toda essa estruturada podre, pena não ter poder efetivo para transformar o estado atual de coisas, penso que em breve serei extirpado…

    Um abraço,
    grande lutador!

    1. Oi João,

      Seja sempre bem-vindo.

      A sensação que vocÊ descreve é a mesma para mim e para todos aqueles que enxergam a educação como nós: tudo errado.

      Não dá pra ficar engando que estamos fazendo algo.

      Ou muda-se toda a estrutura, ou o caos será ainda pior.

      Mas, quem sabe daqui a uns 100 ou 200 anos?

  4. O sistema social vigente está falido. Não existe mais conserto para a sociedade que aí está! É necessário se construir toda uma nova sociedade! Então Educação não para é para o Trabalho, nem para a Universidade, nem para a Vida (para o Sistema Social Vigente)! Educação é para uma Nova Sociedade, em que formará pessoas que contribuirão para a Humanidade e que tenham forte espírito de solidariedade. Procure no Google por Movimento Zeitgeist Brasil.

    1. Oi Tomaz,

      A educação é para uma nova sociedade, mas, dentro dela, há trabalho, há universidade, há vida.

      E a educação tem que ser para o trabalho, a universidade, a vida no seio desta nova sociedade.

      Senão não há como seguir…

      Abraços,

  5. Declev Rynier Dib Ferreira, olá !

    Ainda bem que segui as orientações do Tomaz !

    Fui ao Google e pesquisando encontrei algo que me pareceu oriundo da Nova Ordem Mundial, ainda fresquinha …
    Possui partes que ainda estão sendo traduzidas , pode ?

    Parece até coisa de lavagem mental, essa afirmação do Tomas :
    “… Então Educação não para é para o Trabalho, nem para a Universidade, nem para a Vida (para o Sistema Social Vigente)! Educação é para uma Nova Sociedade, em que formará pessoas que contribuirão para a Humanidade e que tenham forte espírito de solidariedade….”

    Se a Escola não Instruir o seu aluno, o suficiente para que ele possa seguir se instruindo, para que ele possa ter consciência social e,por último, para que ele se qualifique profissionalmente e possa se auto-sustentar, é melhor, então, que essa escola do Tomaz, nem mesmo venha a existir, pelo menos aqui no Brasil !

    Pelo que vi, é aquela estória ( com E mesmo ) de que os anarquistas sempre falam : quem chega na Chefia, torna-se Explorador , blá, blá, blá …

    Não tem desculpas !
    Enquanto não só existirem os apropriadamentes qualificados para criarem as Leis Brasileiras, e suficientes éticos para exigirem que o Ensino Público de Qualidade seja priorizado na qualidade de Segurança Nacional, teremos este caos social cada vez mais intenso !

    “Um povo unido, jamais será vencido !”

    Abraços à todos !
    Somel Serip.
    Um brasileiro …

    1. Oi Somel,

      As coisas são muito confusas em educação, não?

      Todo mundo tem seu pitaco a dar.

      Mas quem está lá, dentro de sala, é quem leva a culpa por não dar certo.

      Seria mais simples se perguntassem aos profesores: “o que vocês acham? O que vocês querem?”.

      Mas aí corria o risco de dar certo…

      Abraços,

  6. Antonio F A da Silva

    CARTA ABERTA À SOCIEDADE
    Nós, Agentes Auxiliares de Creche, trazemos por meio desta Carta Aberta à Sociedade, o conhecimento das dificuldades que enfrentamos no dia-a-dia em relação ao cumprimento de nossas atribuições e na promoção do bem estar das crianças matriculadas na educação Infantil, nas creches do Município do Rio de Janeiro, que permanecem sob nossa guarda no período de oito a dez horas, diariamente.
    Prestamos concurso para o cargo Agente Auxiliar de Creche da Cidade do Rio de Janeiro, em que o nível de escolaridade exigido para o concurso foi o nível fundamental. O edital conjunto SME/SMA Nº. 08, de 24 de julho de 2007 do concurso relatava que em nossas atribuições básicas ou específicas, teríamos que participar com e auxiliar o “educador” nas atividades das rotinas diárias.
    O que encontramos como realidade é bem diferente da redação de nossas atribuições inerentes ao cargo para o qual prestamos concurso. Na prática, não temos a presença do educador em sala e o número de agente auxiliar de creche por turma não corresponde a real necessidade de 25 crianças. Que precisam de apoio em sua higiene básica; serem protegidas para que não sofram acidentes e orientadas pedagogicamente para o seu perfeito desenvolvimento psicofísico.
    Várias são as possibilidades de pequenos acidentes acontecerem diariamente, por ter apenas um agente, sozinho, tomando conta de muitas crianças por uma ou duas horas. Ficando, também sob a responsabilidade deste mesmo agente, a elaboração e execução do planejamento pedagógico, bem como a avaliação do desenvolvimento de sua turma.
    Nós, agentes auxiliares de Creche, nos sentimos em desvio de função, sem qualificação para tal e sem estarmos recebendo o real valor para que estejamos executando esta função.
    Apesar de fazermos parte do Proinfantil (Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício) que é exclusivo para Professores Leigos, o Município do Rio de Janeiro não nos considera profissionais do Magistério.
    O Proinfantil chegou para regularizar a situação do Município do Rio de Janeiro em relação à LDB e assim poder receber os recursos do Fundeb/Fundef e Banco Mundial.
    Sem mais, subscrevemo-nos acreditando que juntos podemos desenvolver uma verdadeira educação que faça a diferença neste país tão assolado pelo descaso com a educação de seu povo.
    AGENTES AUXILIARES DE CRECHE.

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