Descrição de uma experiência de projeto de educação ambiental na escola
Este artigo escrevi há muito tempo, quando descrevi o projeto de educação ambiental que desenvolvi na Escola Municipal José de Anchieta, em Niterói, na qual estou até hoje.
Apresentei o trabalho no Encontro Perspectivas do Ensino de Biologia, em 2002.
A referência para o mesmo (publicado em resumo) é:
DIB-FERREIRA, D. R. A educação ambiental na Escola Municipal José de Anchieta, Morro do Céu, Niterói, RJ. In: VIII EPEB – Encontro Perspectivas do Ensino de Biologia, 2002, São Paulo. Caderno de Programas e Resumos do VIII Encontro Perspectivas do Ensino de Biologia. Campinas – SP : FE, 2002.
Espero que possa colaborar com novas ideias.
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
Educador Ambiental
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA MUNICIPAL JOSÉ DE ANCHIETA, MORRO DO CÉU, NITERÓI, RJ
Declev Reynier Dib-Ferreira
http://diariodoprofessor.com
INTRODUÇÃO
A Escola Municipal José de Anchieta, por sua própria localização, necessita de um trabalho de educação ambiental ininterrupto, pois situa-se ao lado do vazadouro de lixo da cidade, o que faz com que vários alunos e familiares trabalhem ou já tenham trabalhado no local, a cata de materiais para vender ou até mesmo comida para própria alimentação. Há ainda, nos terrenos em torno, áreas de vegetação, segundo Sisinno (1995), do tipo capoeirão, sendo uma floresta secundária bem desenvolvida, com aspecto de mata virgem, altura mediana a alta e sempre-verde.
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Por conta disso, a questão ambiental sempre foi uma preocupação constante. Alguns professores promoviam e promovem eventos e atividades esporádicas, trabalhando porém, principalmente, em sala de aula.
Em 1999, em resposta à necessidade de ter atividades sistemáticas em educação ambiental que envolvessem toda a Escola, elaborei um projeto que foi aprovado pela coordenação, direção e demais professores recebendo apoio da Fundação Municipal de Educação. Este passou a fazer parte do Projeto Político Pedagógico da escola.
Diversas atividades foram e são desenvolvidas com a participação, em menor ou maior grau, de toda a Escola. O projeto vem sofrendo modificações para sanar falhas detectadas no decorrer dos trabalhos, no intuito de atingir seus objetivos: promover novas maneiras de melhorar o ensino de ciências no 2o segmento do ensino fundamental (5a a 8a séries) e desenvolver na comunidade escolar como um todo, uma consciência e visão crítica sobre os problemas ambientais, utilizando-se recursos como excursões, cursos, palestras, artes, teatro, poesias, na busca de uma melhor qualidade de vida.
Levamos em consideração, em nosso trabalho, como nos diz Neves (1992), que meio ambiente tem a ver com as condições de vida das pessoas, com lixo, água encanada, lazer, educação e saúde; e que, como citado por Mauro Guimarães (1995), a educação ambiental pode ser um agente dos processos de transformação social, promovendo conhecimento dos problemas ligados ao ambiente, vinculando-os a uma visão global.
DESCRIÇÃO DO PROJETO
O projeto inicialmente foi dividido em três focos de atuação: Lixo, Mata Atlântica e Saúde, desenvolvidos paralelamente para abranger as necessidades e demandas do local e alunos.
Pretendemos desenvolver uma nova consciência na comunidade escolar em relação ao lixo que produzimos, demonstrando na prática que este pode ter um destino diferente do que ora é dado. Na etapa Mata Atlântica temos como objetivos específicos conscientizar os alunos da importância desta para a nossa região e as conseqüências diretas e indiretas do desmatamento. Com o programa de Saúde queremos trabalhar a questão do cuidado com o corpo e a mente, além da relação direta entre nós e a degradação do meio ambiente.
Atividades
Diversas atividades foram e são desenvolvidas na escola:
– “Fala Zé”, jornal interno, com notícias sobre meio ambiente e o projeto e matérias feitas por alunos e professores;
– Reuniões e conversas com a comunidade escolar sobre cada nova atividade ou fase do projeto;
– Trabalhos professor/aluno na sala de aula;
– Palestras com profissionais convidados;
– Pesquisas;
– Trabalhos de artes, utilizando-se materiais reciclados;
– Peças de teatro;
– Festivais de poesia;
– Oficinas;
– Sub-projetos em conjunto com professores de diversas matérias;
CRONOLOGIA DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Ano 1999
Este foi o ano inicial do projeto, quando foi formado o Grupo Técnico de Educação Ambiental e no qual os trabalhos foram, de certa forma, limitados pela falta de tempo livre de que dispúnhamos. Mesmo assim, diversas atividades foram empreendidas, como: excursões; participações em fóruns de educação ambiental; reuniões com demais professores; participação em concurso de ecoescultura, em Itaipú; participação em plantio de árvores no Parque da Cidade; palestras.
Esta primeira etapa serviu para buscarmos contatos e apoios, além de solidificar na escola, a idéia do trabalho em educação ambiental.
Ano 2000
Este foi o ano da consolidação do trabalho. Com tempos extras além da sala de aula, eu (professor de Ciências), uma professora de Geografia e outra de História pusemos em ação várias atividades que tiveram continuidade ininterrupta até o fim do ano:
– Oficina Arte com Lixo. Voltada para o aproveitamento de materiais reutilizáveis (jornal, papelão, garrafas, latas, etc.) de forma a estimular a sensibilidade dos alunos, com produção de peças de arte e utilitárias. Foram realizados também, o cenário e roupas para peça da Oficina de Teatro, ornamentação para a Festa do Folclore e exposições diversas.
– Oficina de Teatro. Os alunos escreveram, ensaiaram e representaram uma peça com tema de meio ambiente (A Sementinha), apresentada no Fórum Ambiental da Secretaria de Educação e na Escola.
– Clube de Ciências. Voltado para o ensino da atividade de investigação, realizado através de experiências práticas. Foram realizados um herbário de árvores da região (para a realização de um catálogo de árvores da região do Morro do Céu), pesquisas sobre o desenvolvimento das plantas, montagens de terrários.
– Clube de Jornalismo Ambiental. Os alunos liam jornais e revistas e selecionavam reportagens a respeito de meio ambiente, faziam entrevistas para o jornal, pesquisavam sobre o ambiente em torno da Escola, além da cobertura de festas e fóruns da escola e da Secretaria de Educação.
– Campanha de conscientização em sala, nos ciclos iniciais. A professora de História regularmente entrava em sala contando histórias, realizando atividades voltadas para o meio ambiente, com uma linguagem adequada para a idade. Esta atividade tem a intenção de iniciá-los aos trabalhos do projeto. Entre outras, foram realizadas leituras de textos e conversas sobre temas afins, dobraduras, contação de histórias, produção artística.
– Viveiro de mudas de Mata Atlântica. Recebemos a doação de sementes pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro e iniciamos os plantios.
– Mini-museu., Organizado nos corredores em móveis doados pelo Lions Clube Niterói Vital Brazil. Nestes ficam expostos crânios, animais fixados, dentes, conchas, fósseis, além de animais vivos, como peixes e insetos.
– A Coleta seletiva de lixo foi iniciada este ano, porém, por falta de estrutura operacional, como espaço para estocagem e coleta diferenciada, foi paralisada e reiniciada no ano seguinte.
– Palestras. Recebemos diversos profissionais que proferiram palestras sobre temas diversos: lixo e coleta seletiva, educação sexual, Educação Ambiental para os professores.
– Outras: plantio de mudas de árvores, como Pau-Sangue e Pau-Brasil; aula externa de ciências no Zoológico de Niterói; participação nos Fóruns Ambiental e Cultural da Secretaria de Educação e da Escola.
Ano 2001
Diversas dificuldades nos acometeram em 2000 (duas professoras se desligaram da escola por motivo de mestrado e doutorado), o que nos levou a um novo remodelamento. Além disso, em conversas e depoimentos escritos com as demais professoras e professores da escola, estes se sentiam afastados do projeto, apesar de diversos alunos de suas turmas estarem envolvidos. Desta forma, este ano foi iniciado com atividades diferentes das que foram feitas até então.
Em todo o primeiro semestre dispomos de apenas um professor com três tempos de aula fora de sala para realizar as atividades, que se resumiram, durante este tempo, em:
– Visitas regulares no 2o ciclo (3a e 4a séries), nas quais se realizaram atividades como origami, confecção de terrários, reciclagem, poesias;
– Preparação de um jardim interno na escola, com a participação de alunos do 6o ano (5a série);
– Participação em concurso de ecoescultura, em Itaipu.
A partir do 2o semestre, com novos professores e mais tempo disponível, o projeto tomou outros rumos. Com o intuito de aproximar outros professores dos trabalhos, iniciamos alguns subprojetos:
– Projeto História da Escola. Um grupo de alunos coordenados pela professora de História está pesquisando e escrevendo a História da escola, na intenção de fazê-los conhecer a trajetória do local onde estudam. Esta será resgatada através de entrevistas com antigas funcionárias, professoras, diretoras, além de ex-alunos. Todas as fotos já tiradas da escola e de suas atividades foram organizadas, catalogadas e acondicionadas de forma adequada pela equipe. Um pequeno livro com os resultados será produzido no computador.
– Projeto Maquete da Região. Com o intuito de fazê-los conhecer melhor o local onde vivem, sua geografia e seus problemas, um grupo de alunos com a coordenação do professor de Geografia, construirá uma maquete da região do Morro do Céu. Esta será feita com material reutilizado.
– Coleta Seletiva. Está sendo reimplantada, com o apoio da Companhia de Limpeza Urbana de Niterói (Clin).
– Jardim Interno. Com um viveiro de mudas, plantas ornamentais, medicinais, uma pequena horta, compostagem e minhocário.
– Projeto Caminhantes. Grupo de alunos que faz caminhadas ecológicas regulares, acompanhados por um guia e professores.
– Concurso de Poesias. Com tema sobre meio ambiente, natureza e afins, envolveu toda a escola, com diversas poesias inscritas e solenidade de premiação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo da idéia citada por Azevedo (1999), de que a escola é um espaço definido e significativo onde as relações ensino/aprendizagem, interpessoais e profissionais, necessitam de mudanças e, com a noção da qual partilhamos, apresentada por Pedrini (1997), de que o que causa a degradação ambiental é, dentre outros motivos, a falta de educação ambiental, desenvolvemos este projeto com a convicção de suscitar mudanças, tanto a nível de aprendizagem escolar, quanto comportamentais e de consciência em relação ao papel de cada um na busca de uma melhor qualidade de vida.
Porém, a experiência de três anos atuando nos revelou diversos obstáculos que temos que superar na consolidação deste projeto. No primeiro ano ficou patente a necessidade de tempo livre, o que foi sanado no ano seguinte com o apoio da Fundação Municipal de Educação.
Neste segundo ano, embora muitas atividades fossem realizadas e vários alunos estivessem envolvidos diretamente, percebemos que houve falha na comunicação e envolvimento dos demais professores. Isso fez com que não se envolvessem no projeto e não contribuíssem de forma significativa. Cremos que o mesmo se aplica à direção e demais servidores. Procuramos sanar esta dificuldade, com subprojetos envolvendo outros professores, cada qual contribuindo em sua área.
Um trabalho deste tipo necessita de professores com tempo disponível para atuar fora de sala de aula. O professor pode desenvolver atividades em sala com enfoque nas questões ambientais, porém, talvez não como um projeto de educação ambiental, mas como atividades isoladas, como nos indica a cartilha “Educação Ambiental”, da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da ALERJ (ALERJ 2000): “A E. A., por ser de responsabilidade de todos, será tema transversal, uma preocupação de toda a escola”.
Desta forma, uma das condições que, através de nossa experiência, podemos considerar fundamental para o sucesso e alcance dos objetivos, é uma equipe de professores, ou um professor responsável pelo projeto, que articule as atividades, faça as ligações com os demais professores, divulgue as atividades, enfim, que movimente toda a engrenagem. Isto só pode ser conseguido se esta equipe, ou se este professor, tiver algum tempo livre para atuar fora da sala de aula. O sucesso de um trabalho deste tipo depende da participação de todos na escola.
Por fim, a educação ambiental é um processo e, como tal, não deve ser interrompida no primeiro obstáculo. Os resultados vêm a médio ou longo prazo, através de atividades que sucedem atividades que, com o tempo, envolvem a todos em sua volta, desenvolvendo uma consciência de respeito ao próximo e ao meio ambiente.
Referências Bibliográficas
ALERJ, Comissão de Defesa do Meio Ambiente. Educação Ambiental – Como Elaborar um Projeto de Educação Ambiental. gráfica ALERJ, 2000(?).
AZEVEDO, G. C. de. Uso de jornais e revistas na Perspectiva da Representação Social de Meio Ambiente em Sala de Aula. In Marcos Reigota (org.) Verde Cotidiano: O Meio Ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
GUIMARÃES, M. A dimensão Ambiental na Educação. Campinas, SP: Papirus, 1995.
NEVES, e. & tostes, A. Meio Ambiente: A Lei em Suas Mãos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992.
PEDRINI, A. G. Trajetórias da Educação Ambiental. In Alexandre de G. Pedrini (org.) Educação Ambiental: Reflexões e Práticas Contemporâneas. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
SISINNO, Cristina Lucia Silveira. Estudo preliminar da contaminação ambiental em área de influência do aterro controlado do Morro do Céu (Niterói – RJ), Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1995.
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Declev, gostei muito de seu projeto.Estarei apresentando este mesmo tema para um projeto de coordenação. Ajudou-mea ter novas idéias.
Abraços
Rosana
Gostei muito de seu projeto. Ajudou-me nas ideias do tema que farei o projeto de coordenação.
Grata
Rosana
legal seu projeto, me esclareceu muitas duvidas. obrigada