Fazê-los pensar: tarefa inglória – Reflexões sobre uma aula e outras aulas

 

Fazê-los pensar: tarefa inglória – Reflexões sobre uma aula e outras aulas

Entro em sala e tenho os alunos sentados [muitos em pé], um quadro-branco à frente e um livro em minhas mãos.

Só.

Eles não trazem, normalmente, os livros. Se trazem, não são todos. Neste caso, nenhum.

Vejo-me em sala entre o quadro e os alunos, com um livro na mão e o total desinteresse dos discentes em saber qualquer coisa daquele livro, de fazer qualquer coisa que se refira a minha disciplina, qualquer atividade que venha propor, qualquer exercício, qualquer atividade que tenha que os fazer pensar.

Pensar?

Fazê-los refletir sobre determinado assunto – os batimentos cardíacos e a respiração, por exemplo, como estou tratando neste momento – é tarefa inglória.

Eu tento, faço perguntas, peço para medirem os batimentos, medirem a respiração, faço uma tabela, um gráfico, faço perguntas… eles conversam.

Conversam sobre os amigos, os namorados, a comida, sobre uns e outros, sobre o futebol… Ficam o tempo todo se xingando e sacaneando mutuamente.

 

O tempo vai passando e a aula não rende, porque não fazem o proposto, não escrevem sobre o exercício, não pensam sobre o ocorrido, não discutem sobre a prática, não pensam sobre as perguntas.

Com exceção de dois ou três, que tentam responder e fazer o proposto, o resto conversa.

Invariavelmente, pego o livro e faço um resumo de uma parte do texto no quadro, para que copiem.


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Invariavelmente, eles sentam e começam a copiar, muitas vezes em silêncio, outras conversando.

Acabam as aulas, e tenho a certeza de que dois ou três aprenderam alguma coisa, muito menos do que deveria ou do que eu queria.

Os outros copiaram algo sem o menor sentido, outros ainda nem isso fazem.

A culpa deve ser minha.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Sem ter pra quem dar aulas [aula de verdade]

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5 comentários em “Fazê-los pensar: tarefa inglória – Reflexões sobre uma aula e outras aulas”

  1. Eu já tinha mencionado isso no comentário a seu post anterior. E – certamente – não há de ser com um número maior de dias de aula que isso será resolvido.
    Por outro lado, é importante notar que, nem que tivéssemos uma estrutura de ensino comprável a um Japão ou uma Coreia do Sul, esse problema iria desaparecer.
    O que falta a esses jovens é motivação para a vida. Eles são, desde a mais tenra infância, treinados para consumir coisas de baixa qualidade, sob o demagógico rótulo de “popular”.
    Afinal, a sociedade sempre vai precisar de preenchedores de bilhetes de ônibus nas rodoviárias, vendedores ambulantes e “flanelinhas”… e para isso não é necessário saber de respiração e batimentos cardíacos.

    1. O que mais me aflige, João, é que tenho a certeza absoluta – e falo isso para eles, querendo acordá-los – que estou dando aulas, tirando as exceções que existem, aos futuros “limpadores de esgoto de casa de madame”.

      Infelizmente, talvez eles percebam tarde demais…

  2. Luiz Costa

    Se esses alunos (nossos ),já que não é só vc que tem esse tipo de aluno vão desempenhar um trabalho hoje muito desvalorizado no futuro não me parece ser o maior problema. A questão que me deixa tenso é a postura que eles vão ter na relação com outros humanos.
    Luiz Costa

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