Sou um ser raro: professores doutores são exceção

 

Sou um ser raro: professores doutores são exceção.

Segundo o Censo Escolar 2010, só há, além de mim, mais 1.155 professores com doutorado atuando em sala de aula do ensino fundamental.

A situação é bem simples de ser explicada, e vai muito além de um simples desinteresse dos professores, conforme poderiam pensar pessoas e instituições externas à escola, mas que fingem ser especializadas em educação.

Dentre os motivos, podemos citar:

  • Falta de plano de carreira que incentive. Mesmo aqueles que têm plano de carreira por formação, a diferença é mínima, às vezes 5% ou 10%. Ora, 10% de pouco é muito pouco!
  • Você tem que estudar e dar aula ao mesmo tempo, porque não consegue bolsa se estiver empregado e se tirar licença, a bolsa não corresponde ao seu salário. Ah, claro, isso SE conseguir licença, porque são raras.
  • Depois que você consegue mestrado ou doutorado, onde e como você poderia aplicar o tanto que estudou e aprendeu no ensino fundamental? Quem te incentiva a isso? Nada nem ninguém.

Vai estudar pra um doutorado e dar aula em duas ou três escolas ao mesmo tempo! Enlouquece. Foi o que aconteceu comigo.

E depois você se pergunta: pra quê?

A reportagem aponta a fala da diretora de Educação Básica Presencial da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes):

“Todo cidadão, esteja ele na Educação Infantil ou na pós-graduação, merece ter professores formados com o mais alto grau de excelência”.

 

Ahtá, merece… Então porque somos tão desvalorizados pelas agências de fomento?

Mistério…

Por fim, ela afirma que ao obter a titulação de mestre ou doutor, os professores tendem a migrar para o Ensino Superior:

“Em geral, as universidades oferecem melhores condições salariais e de trabalho e também a oportunidade de fazer pesquisa”. “Além disso, criou-se a cultura de que mestres e doutores são formados para atuar na graduação e na pós.”


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Pergunto: quem faz algo para desconstruir esta cultura?

Quem faz algo para que os professores do ensino fundamental sejam, além de “aulistas”, pesquisadores?

Quem faz algo para que possamos ganhar um salário compatível com nossos colegas com a mesma formação das universidades?

Quem faz algo para que possamos receber por 40 horas, mas dar apenas 8, 12 ou mesmo 20 aulas e o resto fazer pesquisa, como nas universidades?

Ahtá, ninguém…

E depois acham que nós, professores de ensino fundamental, temos que continuar os estudos – trabalhando ao mesmo tempo, não tendo nenhuma recompensa por isso e continuando, depois da formação, a ficar enfurnados em sala de aula com 40 alunos???

Ahtá…

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Doutor em Ciências, professor de Ensino Fundamental (por enquanto)

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No Diário do Professor você encontra artigos e links sobre o dia-a-dia da Educação:

Planos de aula, Atividades, Práticas, Projetos, Livros, Cursos, Maquetes, Meio Ambiente… e muito mais!

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3 comentários em “Sou um ser raro: professores doutores são exceção”

  1. Gosto muito das suas colocações.
    Também passei por esse dilema por causa do mestrado. Realmente são anos de correria numa capacitação de alto gabarito para não ter a contrapartida financeira no ambiente que deveria valorizar a busca pela melhoria educacional.
    Tomo a liberdade de repostar suas ideias no blog acampagreve.

  2. Professores com boa formação acadêmica e bom nível cultural são extremamente raros na rede pública de ensino! Para resolver isso proponho o uso de EaD (Educação à Distância) para todo ensino médio público. Os professores com mestrado e doutorado fazem melhor mesmo procurar uma faculdade ou universidade para ensinar! O futuro da educação brasileira se houver algum é a EaD!

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