Mais um dia, apenas um dia…

 

Entro em sala após o recreio.

Crianças correm pelo corredor.

“Vou pegar ela, vou pegar ela!!!” – grita um.

Apagador voa cruzando todo o espaço aéreo da sala.

Apagador voa de volta, como um míssil de retaliação.

“Foi você que me tacou primeiro!!!” – grita um de um lado.

“Eu não taquei nada!!!” – grita ela de volta, junto com o tiro.

Alguns se sentam, outros entram em sala, me vêem e saem correndo, tornando logo após ainda mais agitados.

Sentam e começam – ou continuam – a conversar como se eu não estivesse ali.

“Eu não aprendi nada na sua aula”, diz uma aluna pra mim.

“Eu também não aprendo nada”, concorda  outra.


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Eu começo a colocar algo no quadro.

“Ah, professor, cópia não!!” , diz uma daquelas que “nada aprende” em minhas aulas.

 

“Cópia nada, é correção da pesquisa e do exercício que ele mandou fazer”, comenta um dos alunos que, geralmente, faz as atividades propostas.

“Ah… correção de quê? Eu não fiz nada!”, responde a que “nada aprende”.

Então tá.

Pensei em abrir a cabeça dela para colocar as coisas lá dentro, mas não dá.

Então ela vai continuar não fazendo nada e não aprendendo nada.

Mas a culpa deve ser minha…

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Culpado!

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4 comentários em “Mais um dia, apenas um dia…”

  1. A vida de professor não é fácil.
    Sou professora de Língua Portuguesa, leciono há mais ou menos 3 anos e já penso em abandonar a profissão.
    Também me sinto assim, culpada, culpada pelo fato dos alunos não respeitarem a pessoa que só está querendo o bem deles, culpada pelo fato deles não se respeitarem, vivem gritando, brigando, usando palavrões, agredindo uns aos outros.
    Tenho pensado muito no que fazer, na verdade estou perdida no meio do oceano, não se continuo a navegar no mar aberto, ou chamo o resgate e desisto da missão.
    Nas suas palavras, apesar de serem tristes, encontrei um pouco de consolo, agora sei que não estou só nesse barco.

    Abraço!

    Juliana.

    1. Oi Juliana,

      Realmente, você não está sozinha.

      Eu também gostaria de desistir, só não acho nada melhor (que combine o tempo e o salário, pois atuo em duas redes que pagam relativamente bem).

      Mas enquanto isso, vou levando, com relacionamento com eles baseado em não stresse e humor.

      Eu sou, hoje, da seguinte opinião: estou em sala para ensinar e eles aprenderem. Se eles não querem, não sou eu que me estressarei por isso. Faço a minha parte e eles que se virem.

      Assim nosso fardo fica menor.

      Abraços,

  2. Eduardo Bernhardt

    De 1984 a 1987 estudei numa escola pública de Porto Alegre. No ano em que a turma estava mais cheia tinha pouco mais de 20 alunos. Teve um ano que éramos 12 alunos. Cerca de 90 % eram pobres e uns 5% muito pobres. Não havia engarrafamento na porta da escola pois todos iam a pé. Mesmo pobres pagávamos uma mensalidade. Eu mesmo levava o dinheiro todo mês, algo como 30 ou 40 reais hoje. Simbólico para minha família, mas valioso para a maioria. Tínhamos um lanche simples no recreio e o pátio não tinha brinquedos, só uma quadra, aberta, claro. Tive aulas de técnicas domésticas e técnicas agrícolas. Jamais ouve qualquer tipo de indisciplina parecida com as relatadas nesses 4 anos. Perdi contato com todos os colegas, mas muitos anos depois soube que um dos colegas mais pobres e rebelde, estava empregado e indo à faculdade. Meus anos de estudo na Escola Estadual Olegário Mariano foram inesquecíveis, fundamentais para minha formação e volto lá nas visitas anuais à minha terra natal. Meus professores sentiriam-se orgulhosos dos Declevs e Julianas do magistério.

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