Campanha Política, Educação e Inclusão Escolar

 

Campanha Política, Educação e Inclusão Escolar

– Hoje à noite assisti o último debate televisivo, antes das eleições, com cinco dos candidatos a prefeito da minha cidade, o Rio de Janeiro. Foi interessante, embora as regras da TV deixem tudo meio picotado e o tempo seja curto, o que faz com que cada um use grande parte do seu tempo para atacar os outros e para fazer auto-propaganda e tentar, assim, ganhar mais votos, não deixando muito claro como realmente resolveriam, de forma prática, alguns problemas do nosso Rio…

Mas, mesmo assim, valeu!! O debate ajudou a me deixar mais convicta do que nunca do meu voto! Pena que hoje, dia 08/10, quando reviso e edito este texto, já sei que o meu candidato ficou em segundo lugar, infelizmente…

Mas gostaria de propor que trocássemos idéias, aqui, ou que pelo menos refletíssemos bastante sobre o que os candidatos falaram sobre Educação durante a campanha eleitoral.

Vamos relembrar um pouco do que foi dito:

– Foi falado sobre a importância de um investimento maior na Educação Básica, desde as creches, passando pelo pré-escolar e chegando ao fim da alfabetização. Concordo totalmente! Se isso realmente fosse feito, as creches deixariam de ser depósitos de crianças, o pré-escolar deixaria de ser visto como fase só de “brincadeirinhas” e a alfabetização ocorreria com mais facilidade, diminuindo esse horror do analfabetismo funcional, sobre o qual falei, indiretamente, em outro artigo, relatando um caso que acompanhei de perto.

– Foi falado sobre a importância do plano de carreira e de melhores salários para o educador, mas isso geralmente me deixa muito irritada, pois em TODAS as campanhas eleitorais isso é prometido e, depois, não é cumprido… É muita demagogia, não acham?!

– Foi falado sobre a importância do voluntariado e do quanto nossa cultura é contra isso. Sei que muitos na nossa área discordam desse tipo de participação, mas eu concordo. Vejo a Educação como um direito e um dever de todos, e, por isso, concordo com uma participação maior do terceiro setor, da sociedade civil organizada, etc. É incoerente querer presença mais ativa dos responsáveis (pais/famílias dos alunos), por exemplo, e, ao mesmo tempo, querer manter afastados todos que não são “educadores formados” (professores, pedagogos, etc.) de algum tipo de participação possível. Se nos referimos tanto aos problemas de origem social da educação, temos que lembrar que a sociedade somos nós, que ela não está pronta e acabada e que temos a responsabilidade de construí-la e melhorá-la a cada dia! E isso vale para todos os cidadãos. E olhar essas participações só de forma ideológica acaba afastando muitos projetos que podiam ajudar, mantendo, assim, a escola desconhecida e isolada em relação a quem só a olha de fora.

– Foi falado que os professores e demais educadores não são ouvidos pelos governos, o que é a mais pura verdade!!! Não há democracia e sim decisões tomadas de cima pra baixo, pacotes, medidas, sem a participação dos que estão trabalhando nas escolas diariamente, e, muitas vezes, decisões estas tomadas por quem nunca trabalhou em escola na vida!

 

– Foi falado que a inclusão dos alunos com necessidades especiais não pode ser feita do jeito que tem sido feita, pois assim não funciona e acaba gerando uma exclusão ainda maior. Concordo em gênero, número e grau! É preciso treinamento e capacitação dos professores e demais educadores que vão lidar com esses alunos, turmas menores e ao menos um assistente de turma (ou um segundo professor) para poder dar atenção individualizada, quando necessário (não só aos alunos “especiais”), e, assim, a inclusão poder dar certo. A inclusão é democrática, ajuda a acabar com preconceitos e a lidar com as diferenças – sou totalmente a favor! – e seria um amadurecimento enorme para todos os envolvidos se estivesse funcionando bem, mas precisa dessas condições, dessa estrutura, para dar certo. Conheço escolas particulares onde a inclusão tem sido tratada como deve e está dando certo sim. Mas, na educação pública, ainda falta muita coisa pra isso acontecer!

Eu trabalhei como professora voluntária, durante um ano, com uma turma assim, de pré-escolar, onde vários alunos tinham “necessidades especiais” (como se diz agora), tais como autismo, agressividade física em alto grau, surtos com gritos e extremo nervosismo, atraso intelectual grande, problemas emocionais diversos, crianças vítimas de maus-tratos físicos e psicológicos, abandonados pelos pais, etc. Foi muito antes de se falar em inclusão, ainda nos anos 80. Foi uma experiência riquíssima e, ao mesmo tempo, bastante sofrida. Mas trabalhávamos, em geral (não sempre), em duplas – duas professoras juntas com a mesma turma – e com um número possível de alunos para podermos dar conta. Dessa forma, mesmo sem “treinamento específico”, demos conta e conseguimos desenvolver um bom trabalho, que ajudou aquelas crianças. Mas, por ser um trabalho voluntário – não ganhávamos nenhum salário -, não pudemos ir além de um ano, infelizmente. Mas, mesmo assim, foi útil e valeu à pena!

Enfim…


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De tudo que ouvi sobre educação, no último debate com os candidatos a prefeito da minha cidade, esses foram os pontos que mais me chamaram atenção.

E a vocês? O que chamou atenção? O que pensam desses pontos que listei, levantados pelos candidatos e comentados um pouco aqui por mim?

Reparem que estes são mais ou menos os mesmos pontos que sempre são destacados pelos políticos, superficialmente e, muitas vezes, demagogicamente, nas campanhas eleitorais em geral no nosso país, com raras e honrosas exceções.

Trocar ideias sobre educação é sempre bom, gente! É saudável e não nos deixa “enferrujar” e acabar na descrença total de muitos, que acham que “todos os políticos são iguais” (não são!), que “nada vai mudar mesmo”, da mesma forma que acham que “muitos alunos não tem jeito mesmo”, entre outras coisas desse tipo…

Eu vou votar (hoje, dia 08/10, posso dizer que já fiz isso e valeu!) com convicção!!! E você???

Beijos…

Regina Milone
Pedagoga, Arteterapeuta e Psicóloga

Rio, 04/10/12

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No Diário do Professor você encontra artigos e links sobre o dia-a-dia da Educação:

Planos de aula, Atividades, Práticas, Projetos, Livros, Cursos, Maquetes, Meio Ambiente… e muito mais!

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2 comentários em “Campanha Política, Educação e Inclusão Escolar”

  1. Colegas educadores,
    Se alguém tiver alguma experiência sobre inclusão escolar para contar, aproveite este espaço!
    Como é lidar com alunos com necessidades especiais em turmas “normais” nas escolas?
    Esse é um assunto importante, não acham?
    Vamos trocar ideias a respeito?
    Beijos…
    Regina Milone.

  2. Amigos,
    Recebi o e-mail abaixo, do professor Alexandre, sobre este meu artigo. Pedi permissão a ele para postar aqui e ele topou.
    Acho que muitos podem se identificar!
    Aí vai:

    Cara amiga e companheira, professora Regina Milone,

    Li com satisfação o debate que você propõe aqui. Este debate entre campanha política, educação e inclusão social conheço desde que optei por uma proposta de ensino diferenciada no Distrito Federal.

    No DF a situação é, talvez, mais atípica. Não temos eleições para representantes políticos nas cidades satélites do DF. Trabalhei em algumas creches e escolas voltadas para a Educação Escolar. Segundo o meu ponto de vista, muito pouco mudou, os administradores regionais assumiram um compromisso (cabível), mas “a importância de um investimento maior na Educação Básica, desde as creches, passando pelo pré-escolar e chegando ao fim da alfabetização” no Distrito Federal , até onde estou a observar, na primeira década deste século, não tem a mesma democratização eletiva.

    Apoio plenamente a questão do voluntariado. Creio que este caminho auxilia muito o desenvolvimento de propostas que não podem alcançar todos nas cidades satélites do DF. E quanto à questão de ser ouvido, como professor, eu concordo e participo para você que sempre, durante o período em que estive oferecendo meu trabalho nas cidades satélites do Distrito Federal, realizei um relatório descritivo apontando os problemas que enfrentava lá. Não sei se alguém leu meus relatórios (mais de 30) que apresentei durante dois anos aplicando minhas aulas de Dança Contemporâneae Reeducação Postural com recursos subsidiados pelo Programa Arte Por Toda Parte da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

    Aqui eu gostaria de apontar uma questão ética, que ressalto por meio de uma leitura que faço de Vila Merino, Eduardo S. (2004), professor do Departamento de Teoría e História de la Educación.
    Na sua obra “Pedagogia de la Etica: de la responsabilidade a la alteridade”, Vila Merino ressalta que não podemos esquecer que a ética surge de nossa preocupação pelas consequências de nossas ações sobre os demais dentro de um padrão intercultural (já que a educação deve ser, por definição, intercultural) onde as próprias culturas devem ser vistas como redes de conversações.
    Ainda estamos no momento das conversações. E, em São Paulo, por exemplo, a partir de segunda-feira, voltaremos a ter a campanha política e provavelmente nova rodada debates e conversações sobre o futuro candidato à prefeitura de São Paulo.
    Concordo que a sociedade é um conjunto e que para melhorá-la temos que pensá-la melhor a cada dia. Entretanto, o fato de estar dentro da escola lidando com os alunos nos oportuniza a percepção do desenvolvimento a que se refere no seu texto. Percepção esta que, se não for devidamente acatada, ouvida e considerada, não trará uma mudança ou melhoria da política para a Educação.
    A realidade é que não somos ouvidos. Tenho procurado me comunicar insistentemente com o Ministério da Cultura, estou sempre ligando e procurando formular a minha nova proposta cultural de acordo com as demandas e exigências contidas nas Instruções Normativas dele.
    Mesmo assim, os esclarecimentos ainda não foram suficientemente capazes de dar por encerrada esta fase de inscrição desta proposta cultural (tendo o meu nome como proponente) na base SALIC-web. Esta falta de comunicação, de atenção ao professor-artista que vos escreve me pareceu sempre uma das mais instransponíveis barreiras que enfrentei com a política brasileira que não entende a importância de um trabalho que ainda desempenho; trabalho executado de forma praticamente voluntária em muitas cidades, e agora não somente no Distrito Federal, porém em várias outras que foram escolhidas como trajetória desta proposta cultural.
    Os pontos que são destacados por você não podem ser descartados. A demagogia a que se refere me pareceu à mesma que muitos de nós, professores, arte-educadores, enfrentamos logo após a entrada destes prefeitos e vereadores em seus devidos cargos, após as eleições.

    Desculpando-se sempre de outras despesas que comprometem o orçamento para a Educação e que fatalmente, após alguns meses, incitam mais e mais exclusão social por conta disso.
    Algumas soluções são oriundas diretamente do Governo Federal (bolsa-escola, PROUNI, ENEM, cotas nas universidades…). Mas, convenhamos Regina, que estas medidas acabariam por reduzir o problema dos municípios, ou pelo menos, estas medidas ampliam o debate pela qualidade do ensino que só poderia ser encontrada (a priori) nas instituições privadas com poucos alunos na sala.
    Eu não votei no último domingo, justifiquei, tendo em vista que aguardo a implementação da proposta cultural que aprovei e que foi arquivada (inexplicavelmente) pelo Ministério da Cultura. Aproveito aqui para te repassar uma cópia do programa de AURORA que é justamente a essência (o norte) da proposta cultural que venho lutando acirradamente para tê-la aprovada e publicada no Diário Oficial da União. Repito-lhe que não votei, só justifiquei.

    Já fui contemplado com a publicação no DOU antes, porém, nunca executei. Agora, estou impedido de dar seguimento pois ainda percebo-me sem alternativa conciliadora de prazos (e recursos plausíveis) a serem captados por meio de patrocínio; impedimento que foi imputado pelas derradeiras diligências do Ministério da Cultura.
    Espero que a nova gestão do MinC, que os novos prefeitos e vereadores leiam o que proponho oportunamente como professor-artista.

    Cordiais saudações !

    Alexandre Reis
    Seu companheiro e trabalhador pela Educação de qualidade.
    Diretor da Contemplo Cia de Dança

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