Como os professores idealistas vão desanimando…

 

Como os professores idealistas vão desanimando…

– Antes que me linchem aqui no blog (rsrs…), por escrever artigos onde   critico também os professores, resolvi mostrar um pouco do outro lado, que acompanhei e acompanho há anos e que me faz continuar admirando profundamente a profissão de professor, especialmente quando ele consegue ser verdadeiramente um professor-educador.

Foram justamente os maravilhosos professores que tive na vida que acabaram sendo o maior incentivo para que eu me interessasse por educação. Tive professores péssimos também, em todos os sentidos – de alguns lembro com horror! -, mas os ótimos foram tão incríveis que me deixaram essa herança: o gosto pelo saber, a curiosidade de aprender sempre e de questionar, transmitir, analisar, trocar… sobre tudo que o homem já foi capaz de descobrir na história da humanidade. Não sou só educadora, mas uma eterna aprendiz. E isso eu aprendi com alguns dos melhores professores que tive na vida!

Mas, voltando ao título desse artigo, infelizmente vi muitos professores irem desanimando com o tempo, perdendo o idealismo com que começaram a trabalhar, por causa das péssimas condições das escolas hoje. E isso inclui a falta de estrutura, de recursos didáticos, técnicos, de pessoal, carga horária decente, salários dignos, etc. O professor tem que lidar com tantas faltas diárias, que tudo que idealizou, no início de sua carreira, parece logo impossível de ser aplicado.

Em parte, considero esse um dos erros dos cursos de formação, que não preparam para a dura realidade com que nos deparamos em sala de aula. Mas é também, e principalmente, uma falha política terrível, com a qual convivemos há muitos e muitos anos em nosso país, pois é mais interessante para os que estão no poder que as pessoas sejam “educadas” sem o menor espírito crítico diante da realidade, já que os políticos em geral preferem o povo adestrado, manipulado, sem raciocinar, sem questionar nada, como já sabemos. Por isso é tão perverso todo esse quadro. E esse é um dos motivos que mais desanima, quando se está no dia-a-dia das escolas.

Minhas irmãs também são professoras, assim como grande parte das minhas amigas e amigos. Alguns acompanhei de perto durante esse processo de passar do idealismo para o “não acredito mais em nada”, “não tem jeito mesmo”, etc.

 

Ouvi críticas injustas, inclusive de professores, a outros professores que tentavam trabalhar com mais doçura e inteligência, sem autoritarismo, e que eram, por isso, chamados de ingênuos e considerados como professores que “não tem domínio de turma”. Uma tremenda injustiça! Mas quem faz esse tipo de crítica é quem acha que o bom professor é o que mantém a turma em silêncio o tempo todo, à moda antiga. E é difícil manter o idealismo assim, pois a pessoa se vê sozinha e sente que, se não se alinhar logo ao senso comum, repetindo as mesmas coisas que os que estão há anos em escolas dizem, serão rejeitados, discriminados, ridicularizados e excluídos. E realmente vi isso acontecer. Às vezes até por quem também foi um dia idealista e não é mais, tornou-se amargo e se incomoda profundamente com quem insiste em tentar colocar em práticas ideias de transformação da relação professor-aluno, entre outras.

Vi profissionais de educação (não só professores) desistindo, pedindo exoneração, ficando doentes – ainda vou escrever um artigo aqui só sobre síndrome de burnout, por causa disso -, pois esse processo é extremamente sofrido. Vi que muitos parecem cínicos e frios diante da realidade com que tem que lidar, por se sentirem impotentes, irritados, cansados… No fundo, apenas uma capa, uma defesa emocional para lidar com tantos tipos de violência diárias: a desvalorização da profissão, a falta de um plano de carreira, os salários baixos, as salas quentes, lotadas e mal iluminadas, a violência (também social e psicológica) vista e também recebida de alunos, diretores incompetentes, famílias de alunos, pessoal das secretarias de educação, etc. É muita coisa pra dar conta! E, na maioria das vezes, parece que o único interesse nos professores é que façam mil avaliações, cumpram toda a parte burocrática (o mesmo acontece com os pedagogos; somos extremamente cobrados, nesse sentido), sem atrasos e ponto final. É de deixar pessoas sensíveis, inteligentes e idealistas desanimadas e indignadas mesmo! Afinal, estudaram tanto pra quê???

Em todos esses aspectos, sempre estive ao lado dos professores. Defendo, participo, tento ajudar, etc. Batalhei o que pude com diretores de escolas e secretaria de educação para verem também o lado do professor, o que não fazia de mim uma pessoa muito “simpática” aos olhos dos burocratas de plantão. Enfim…

Estou participando do blog do Declev porque tenho realmente muito a dizer. Às vezes poderei elogiar e me solidarizar totalmente com o que tem acontecido com os professores – como já disse, também sou professora -, e, outras vezes, estarei aqui também para criticar a todos, incluindo alguns professores, que podem estar prejudicando a educação, porque é com ela o meu compromisso maior. Como pedagoga, vendo e ouvindo todos os lados, todas as pessoas da escola, tenho muitas críticas a todos sim, assim como elogios, e não vou me furtar, por corporativismo, a relatar casos reais, às vezes incômodos, mas que também precisam ser vistos para melhorarmos a educação.

E, já que o dia 15/10 está chegando… PARABÉNS A TODOS OS PROFESSORES!!!!


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Abração…

Regina Milone

Pedagoga, Arteterapeuta e Psicóloga

RJ, 12/10/2012

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No Diário do Professor você encontra artigos e links sobre o dia-a-dia da Educação:

Planos de aula, Atividades, Práticas, Projetos, Livros, Cursos, Maquetes, Meio Ambiente… e muito mais!

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5 comentários em “Como os professores idealistas vão desanimando…”

  1. Recebi o e-mail abaixo, do professor Denis, a respeito deste meu artigo, pedi para postar aqui e ele consentiu.
    Vejam que interessantes e realistas as suas considerações:

    réplica:

    “o tempo passa….o tempo passou…”

    Achei muito lindo o que a professora Regina Milone escreveu porém…

    Eu também já passei dessa fase de acreditar que tudo vai mudar…de ver a escola como realmente um lugar de transformações e de alegria. Foi assim comigo, eu adorava ir a escola, encontrar meus amigos, falar com os professores, etc. mas hoje a realidade é outra. Podem sonhar e buscar milhares de teorias para provar o contrário mas eu sou mais prático. A educação no Brasil é um caso perdido. As escolas até mudam, investem em tecnologia, tentam de alguma forma abrilhantar as aulas etc, mas por incrivel que isso possa parecer o que mais se mantem na mesma são os educadores…sim são eles em sua grande maioria que não suportam a idéia de uma sala de aula participativa, animada, reflexiva.A maioria acredita ainda na idéia do professor na frente falando, uma turma apática ouvindo enquanto a sala de aula cai aos pedaços. Não há condição mínima de vida alí. As verbas até chegam mas ninguém sabe explicar pra onde vão. Se você tentar passar algo diferente aí vem os pais reclamarem porque não houve prova….todos querem continuar esse teatro do ensina-aprende. Daqui a 50 anos, pode voltar a escola que ela estará do mesmo jeito….é claro que podemos fazer nossa parte para mudar essa realidade, mas acredito que só faremos isso isoladamente e que a maioria continuará com um modelo arcaico e falido. A educação é definitivamente uma instituição falida, uma bomba retrograda e um relógio parado. Pergunte em uma sala de aula lotada com 50 alunos: ” Quem quer ser professor aqui?” se 2 ou 3 levantarem a mão é muito…e se você for verificar eles são filhos de professores. Você pode até dizer que eu estou sendo altamente pessimisma e tal mas no fundo reflita e você verá que isso é a mais pura verdade…a verdade nua e crua de nosso país. Por esse e por outros motivos estou mesmo pedindo exoneração e sabes por que??? Por que o tempo passa…e eu não posso ficar aqui so nhando em algo que um dia sabe quando poderá mudar…enquanto isso vou perdendo minha saúde e meus sonhos ??? não amigo, definitivamente não….somente o tempo desde a criação da humanidade não muda, não se transforma, não cessa…o tempo é nosso maior parametro de mudança e eles espera mais de nós. Eu estou saindo, antes que o meu tempo se acabe. Sorte a quem fica, torço por todos para que realmente encontre seu caminho, seu ideal e sua realização pessoal e profissional.Que Deus abençoe a todos nós.

    Denis
    ex-professor

  2. Abaixo a minha resposta ao e-mail do professor Denis:

    Olá, Denis!

    O Declev me passou o seu e-mail e achei ótimas as suas considerações. Posso colocar lá no site?
    Pergunto porque acho que muitos vão se identificar e isso ajuda as pessoas a refletirem sobre suas escolhas. Mas, se não quiser que eu coloque lá, conversamos só por aqui mesmo, de forma privada.
    Entendo totalmente o seu desânimo. Também parei de trabalhar em escolas, há pouco tempo. Mas, por isso mesmo, acho importante escrever sobre o que vi e vivi, pois a grande maioria das pessoas ainda não tem noção da realidade das escolas, principalmente públicas, em nosso país.
    Não acho que a educação seja um caso perdido no Brasil, mas tenho procurado outras formas de lutar por ela.
    Eu também ficava chocada, no início, com as mentalidades totalmente fechadas dos educadores, parados no tempo, mantendo um modelo arcaico e falido de escola, de aula, de relação professor-aluno, etc. Isso foi uma das coisas que mais me desanimou.
    Comecei na pedagogia em 1982 e, de lá pra cá, a educação só piorou! É realmente decepcionante… E a principal transformação necessária é mesmo na mentalidade dos educadores. Concordo com vc!
    Entendo que tenha pedido exoneração, concordo que a saúde tem que estar em primeiro lugar e que o tempo passa rápido; não perdoa.
    Eu não pedi exoneração como vc, mas pedi aposentadoria proporcional, pois é um direito meu como trabalhadora, até porque estava parando por ter ficado doente – síndrome de burnout – justamente por causa das condições e ambiente de trabalho. Me desgastei até os ossos!
    Enfim…
    Gostaria muito de compartilhar essas nossas impressões, nosso papo, lá no artigo, no blog, se vc permitir.
    Aguardo sua resposta.
    E cuide bem de sua saúde, ok?!

    Abração,
    Regina Milone.

  3. Oi Regina,

    Me sinto como um desses há muito tempo.

    Mas a cada momento, minha teimosia me faz fazer algo, ir, ir, ir… até desanimar de novo.

    Me sinto um iô-iô, ou um professor com transtorno bipolar: uma vez empolgado com algo que estamos fazendo, no outro dia extremamente desanimado de não conseguir sair da cadeira e de trás da mesa.

    E assim vou levando.

    Confesso que, no fundo, já desisti, mas só não saí de vez por não ter outra alternativa.

    Mas também continuo acreditando na educação – só não do jeito que os administradores e gloriosos secretários acreditam.

    Bipolar.

    Abraços,

  4. Oi Declev,

    Que delícia de comentário, super bem humorado! Com uma pitadinha de acidez, claro, pois nem vc e nem eu somos “Polyana” nem nada… Aquele pouquinho de amargura faz parte.
    Mas, sem humor, não conseguimos seguir adiante nessa área realmente. A Educação adoece quem dela faz parte e está adoecida (especialmente a instituição escola), infelizmente…

    Seja iô-iô, bipolar, o que for, mas saiba que, mesmo com toda essa inconstância que sente, vc faz a diferença diariamente, mesmo nas mínimas coisas que faz e diz. Sou testemunha disso!
    Te admiro muito!!!!

    Eu parti pra psicologia clínica, mas não desisto de aprender e de contribuir, de alguma forma, com a educação, mesmo fora de escola no momento. E acho que essas nossas trocas em blogs, comunidades, etc., são uma forma de contribuição bastante válida também! Não são só uma “fala” mas um “fazer”, pois nos expomos, refletimos, questionamos e, com isso, podemos estar contribuindo com muita gente e ajudando até a manter a nossa própria saúde mental diante da loucura da educação. Tenho recebido comentários que mostram isso (alguns pelo facebook), assim como leio nos seus. É real. É alguma coisa sim.

    Gosto demais de vc, cara!!! É uma inspiração pra mim!

    Abração,
    Regina Milone.

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