Existe sedução mal intencionada entre professores e alunos?
– Um assunto pouco debatido e quase sempre negado entre os professores são os casos de sedução entre alunos e professores. Os professores, que são os adultos da história, tem que saber separar as coisas, mostrar pros alunos (as) que esse tipo de relacionamento não pode acontecer entre eles, mas, no entanto, sei de tantas histórias de professores que acabaram tendo casos com seus alunos (as)…
Sou do tipo que bota o dedo na ferida mesmo. Por isso, não vou ficar só elogiando os professores aqui. Sou professora também e, por isso mesmo, não vou me deixar levar por um tipo de corporativismo que abafa e tenta esconder, a todo custo, os erros dos professores.
Uma das situações mais chocantes que vivi e que afetou profundamente toda a equipe pedagógica de uma escola onde trabalhei, foi justamente quando nos deparamos com o agressivo corporativismo dos professores diante de questão de pedofilia que estava acontecendo na escola, há mais de um ano, em que um dos professores estava abusando das alunas, bolinando-as, dando indiretas, deslizando “mãos bobas” em seus corpos, olhando por baixo de suas saias, etc.
Ouvimos inúmeras vezes todos os lados da história, sozinhos e em grupo, escutamos todos os envolvidos, descobrimos que este professor já havia sido afastado de outras escolas pelo mesmo problema – inclusive estava jurado de morte pelo pai de uma ex-aluna de outra escola – e, por isso, chegou o momento em que o assunto precisou ser tratado em reunião com todos os professores da escola, já que os pais das crianças e adolescentes molestadas já estavam fazendo queixas a respeito na Secretaria de Educação. As reações foram de raiva contra essas meninas “safadas”, que de “menininhas” não têm nada e que só estavam querendo denegrir a imagem do professor. Queriam que déssemos os nomes das meninas – o que obviamente não fizemos, por uma questão de ética profissional -, para “se entenderem com elas”. Meninas pré-adolescentes, que estavam assustadas e nos haviam procurado aos prantos, várias vezes, pedindo ajuda, foram tratadas ali como se elas é que tivessem provocado algo – o mesmo tipo de acusação que se faz à muitas mulheres que foram estupradas -, por pura questão de “solidariedade à classe dos professores”, não importando se eles fossem bandidos ou não!
Tivemos que conviver ainda por meses com aquele indivíduo e com a rejeição dos outros professores que, em momento algum, quiseram ouvir o lado das alunas e nem confiaram minimamente no nosso trabalho. E já tínhamos tentado mil coisas, conversas com o professor, com as alunas, com as famílias das alunas, com o professor junto da turma inteira (por sugestão dele; e reafirmaram, na frente dele, que era tudo verdade!), etc.
No final das contas, após várias idas de pessoas da Secretaria de Educação à escola, o professor acabou transferido para outra escola, isto é, a solução foi “solução nenhuma”, já que ele continuaria fazendo o mesmo em outro lugar! E, além de pedófilo, era um tipo de profissional pedagogicamente muito fraco, pois suas aulas não passavam de cópias – enchia o quadro de matérias, ia se sentar e deixava os alunos copiando o resto do tempo -, depois dava as respostas nas provas (por isso as notas eram sempre ótimas) e ainda dizia que esses alunos nunca iam ser nada na vida mesmo e que a sociedade sempre iria precisar de empregadas domésticas, pedreiros, etc., que era o que eles iriam ser. Enfim, o indivíduo era da pior espécie e continua por aí, dando aulas. E nós não podíamos denunciá-lo para a polícia sem o depoimento das meninas e de seus pais, mas todos ficaram com medo e teve quem preferisse tirar a filha da escola.
Esse fato e todo o seu desenrolar foram uma ducha de água fria no idealismo que eu ainda tinha na época. Nós, da equipe pedagógica, soubemos, na ocasião, que até professor que ficava se masturbando dentro de sala de aula, escondido atrás da mesa, existia naquele rede de ensino, mas também nada aconteceu com ele.
É um assunto incômodo? É.
É difícil lidar com isso e admitir que alguns colegas tem esse comportamento? Sim.
Nossa tendência é achar que trata-se de alguma mentira, perseguição política ou coisa do tipo, justamente porque não podemos conceber que um colega faça isso? Infelizmente, sim.
Mas, nessas horas, o corporativismo só atrapalha, porque não devemos tapar o sol com a peneira! No Ensino Fundamental estamos lidando com menores de idade, crianças e adolescentes, e, por isso, temos que ter muito cuidado com essas questões. Existem inúmeros depoimentos, na própria internet, de alunas apaixonadas por professores e vice-versa. Até porque os pré-adolescentes e os adolescentes idealizam muito alguns professores, acham que estão apaixonados, muitas vezes, e isso pode levá-los a confundir algumas coisas sim (como alguns professores confundem também) . Mas não sempre! Infelizmente, repito, os casos de abuso e de pedofilia existem também sim e, por isso, temos que ter calma suficiente para analisar cada caso e ver o que está realmente acontecendo.
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Não é fácil não. Mas é muito importante, na minha opinião.
E vocês? O que acham disso?
Um abraço,
Regina Milone
Pedagoga, Arteterapeuta e Psicóloga
Rio, 12/10/2012
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O que eu acho, Regina? Acho tudo isso lamentável. Canalhas e corporativismo+machismo se encontra em todas as profissões. Mas é particularmente nocivo quando se trata de magistério.
O mais grave é que um único “ovo-podre” desses é capaz de aniquilar todo o trabalho de todo um corpo docente; ainda mais quando esse corpo docente faz questão de acobertar o caso, em nome de um “corporativismo” totalmente fora de lugar.
Pior ainda será quando um caso desses for secretamente entregue à Polícia e for dado um flagrante com direito a exploração midiática – aí eu quero ver a “solidariedade” dos outros…
Como eu sou de outros tempos (e sou “entulho autoritário” assumido), sou adepto da solução que se aplicava na Paraíba de meus ancestrais: capa o tarado! Talvez se consiga apanhar uns dois… o terceiro já vai estar com tanto medo que não vai se aventurar.
Lamentável mesmo, João Carlos!
Sem dúvida as reações dos outros professores, naquela situação, foi de um corporativismo fora de lugar, e isso pra dizer o mínimo. O corpo docente só se prejudica ao acobertar casos como esse e, se um deles for parar na mídia com estardalhaço, o professor vai passar a ser mais desvalorizado ainda do que já é. Concordo com você!
Quanto a solução paraibana de capar o tarado… rsrs… Melhor que fosse preso, ao invés disso, né?! Mas que dá muita raiva de canalhas como esse, lá isso dá!
Muito obrigada pela sua participação, João!!
Um abraço,
Regina Milone.
Regina, Regina… realmente não sei que tipo de professores você pegou pela frente!
Sei também de casos de professores que se envolveram com alunas, mas este realmente, é assustador.
Eu sou contra corporativismo de qualquer espécie, não seria a favor com professor, muito pelo contrário: quero bons colegas, para que a luta pela valorização valha a pena.
Reclamamos tanto do que a igreja católica faz com os padres pedófilos (nada), não poderíamos ser assim com professores só por serem “colegas”.
No mais, nos grupos de professores que eu já atuei e atuo, lhe garanto, as reações seriam bem diferentes, pois já passamos por situações parecidas.
Aos poucos temos que ir “limpando” e “aperfeiçoando” o magistério. Tarefa dura. Assim como em qualquer profissão.
Abraços,
Querido Declev,
Peguei dos piores e também dos melhores professores que vc possa imaginar! Mas confesso que os piores me deixaram totalmente indignada, chocada, assustada, revoltada… Bati de frente com cada um deles, claro! Não engulo certas coisas de jeito nenhum!!
Também tenho horror a corporativismo. Mas o que vi, nesses anos todos, é que muita gente se deixa levar, sem perceber, principalmente quando se trata de críticas a professores, pois já há uma ideia corrente de que o professor é sempre perseguido e injustiçado, o que não é verdade! Por essas e outras que acho que ficar culpando o professor, por um lado, ou vitimizando-o, por outro, acaba levando a uma cegueira muito grande, maniqueísta, simplista, etc. Atrapalha muito ao invés de ajudar nessa melhoria do magistério.
Abração,
Regina Milone.
Toda carreira tem maus profissionais e corporativismo.
Sei que pode ser desmotivante ver este tipo de coisa, mas espero que isso não tire este idealismo de vcs.
O trabalho do professor é um dos mais importantes para a sociedade!
Att
Paulo