O que faz o pedagogo na escola? Será que você sabe mesmo?…
– Como pedagoga, com habilitação em Orientação Educacional, formada em 1986, estive distante do trabalho em escolas por algum tempo e, quando voltei, já nos primeiros anos do século XXI, encontrei tudo muito pior. A reação foi de choque, susto, perplexidade e indignação. A situação era mais caótica e carente do que nunca, no ensino público brasileiro, o que fica absolutamente visível quando convivemos, diariamente, com a falta de recursos, de todos os tipos, e de conhecimento, nas escolas.
Sendo a Baixada Fluminense – para onde entrei por concurso público – uma das regiões mais violentas do Estado do Rio de Janeiro, logo ficou claro que a situação de pobreza, miséria, e ignorância imperavam, por todos os lados. É sobre essa realidade, que representa bem uma grande parte do país, que escreverei este meu relato.
Como lidar com isso?
Como ainda não existem concursos públicos para a função de psicólogo escolar, quem acaba fazendo um pouco o trabalho que seria do psicólogo é justamente o orientador educacional, nas redes de ensino onde ainda existe essa função – na maioria das redes, quando se fala em “pedagogo escolar”, só se pensa numa espécie de coordenador pedagógico, que trabalha mais com os professores, de maneira geral. Mas a função do chamado “orientador pedagógico” deixarei para próximos artigos, desenvolvendo mais, aqui, o papel do pedagogo que é orientador educacional. O pedagogo é um “especialista em educação” e só nos formamos com esse título porque estudamos por quatro anos, fizemos inúmeros estágios, atuamos no magistério também, tudo para alcançarmos esse título, tantas vezes usado de forma raivosa e pejorativa por tantos companheiros professores, infelizmente…
Como também sou psicóloga, acreditava que esse conhecimento e experiência seriam úteis, contribuiriam para aprofundar o trabalho como pedagoga, mas, no entanto, o que rapidamente me mostraram foi que o que esperavam do orientador, na prática, era apenas que cumprisse um papel burocrático, enviando relatórios e ofícios para a Secretaria de Educação, além de encaminhamentos de alunos com algum tipo de problema de saúde física ou mental que estivesse atrapalhando sua convivência e aprendizado no ambiente escolar, fornecendo-lhes endereços e telefones de hospitais públicos e de escolas onde haviam “salas de recurso”, isto é, classes onde alunos com necessidades especiais complementavam o aprendizado do ensino formal e regular das escolas comuns. Tínhamos, também, que encaminhar os casos de violência doméstica, negligência e abandono para o Conselho Tutelar, além de termos que enviar correspondência para os alunos com muitas faltas, pois a freqüência tinha que ser controlada, o que era cobrado pela Secretaria de Educação. E o pensamento corrente era: se os pais vão aos lugares que indicamos ou se os alunos faltosos vão reaparecer ou não, devíamos agir como se não tivéssemos nada a ver com isso, pois já “tínhamos feito a nossa parte” e, portanto, a escola não poderia ser responsabilizada por não ter agido. Mas, na prática, não estava agindo realmente e sim repetindo, ano após ano, uma conduta que ninguém questionava e que não estava dando certo.
Os alunos dessas escolas públicas pertenciam a comunidades muito carentes, de periferia, favelas, onde faltava de tudo um pouco. Mas a instituição escola só queria saber dos alunos uniformizados, chegando na hora certa, sem faltar e, de preferência, o mais quietinhos que pudessem durante as aulas, para que os professores pudessem dar suas aulas e para que a Secretaria de Educação não considerasse que a escola não estava indo bem. O “resto” não interessava.
O que importava era manter as aparências e manter a papelada em dia.
Boa escola era considerada aquela onde a disciplina imperava melhor e onde tudo estava sempre limpinho, aparentemente bem cuidado, para que, se chegasse alguém de surpresa para fiscalizar algo, não encontrasse nenhuma falha. Por isso, as falhas, em geral, eram varridas para debaixo do tapete. Por exemplo, os alunos considerados “problemáticos, indisciplinados e difíceis” viviam suspensos, vi vários serem expulsos das escolas, mesmo isso sendo fora da lei, pois todos preferiam que eles estivessem o mais longe possível para não atrapalhar.
Na prática, era gritante que a Escola era de exclusão, em todos os sentidos – inclusive em relação aos profissionais que viam e questionavam esse estado de coisas e eram, em geral, rejeitados -, o que tornava o discurso político atual de inclusão das diferenças na Educação Brasileira, inclusão dos alunos com necessidades especiais nas turmas regulares, enfim, essa ideia de inclusão tornava-se quase uma piada de mau gosto, pois, com a mentalidade reinante e a falta de recursos, o que acontecia era que esses alunos acabavam mais excluídos ainda, pois os professores não sabiam como lidar com eles, não tinham preparo para isso e, mesmo se tivessem, tinham que lidar com turmas lotadas, o que inviabiliza qualquer projeto em que poderiam dar uma atenção mais individualizada aos alunos. Além disso, muitas vezes pareciam bastante incomodados e mesmo assustados, preferindo esses alunos “diferentes” longe dali.
Em reuniões pedagógicas, onde pedagogos, administradores da escola, pessoal da secretaria da escola, diretores e professores deveriam se reunir para estudar – chamavam-se “Grupos de Estudo” e constavam do horário regular dos profissionais da escola -, fazia-se e falava-se tudo menos estudar. Eram reclamações, lamentações, críticas aos alunos “indisciplinados”, etc. Se eu, como pedagoga, ou outra colega, trazíamos um texto para reflexão ou para mostrar experiências que, apesar dos pesares, têm dado certo em várias escolas pelo país, aconteciam reclamações de todos os tipos, desde o tamanho do texto até críticas sobre o conteúdo – “não tem nada a ver com a nossa realidade!”, diziam, mesmo sem nem lerem com atenção ou refletirem com calma sobre o texto. Se o dito texto tivesse mais do que três páginas já incomodava também, já achavam que seria “chato” e que teriam que sair tarde da escola por causa disso, pois sempre queriam aproveitar esses momentos para irem mais cedo para casa. Era desanimador “nos virarmos” em busca de assuntos interessantes e pertinentes e nos deparamos com essas reações. E sempre procurávamos mostrar a realidade dos alunos que tínhamos e de suas famílias, já que, como pedagogos, também assumíamos essa função na escola, e, por isso, realmente conhecíamos de perto os inúmeros problemas que viviam e a complexidade de todo aquele contexto, pois sempre nos reuníamos com os pais e os alunos, individualmente, podendo ver de perto o quanto suas vidas eram penosas, em muitos casos, e, em outras, o quanto eram repletas de ignorância, violência e preconceitos. Esse conhecimento maior sobre os alunos e suas famílias poderia ser muito útil a todos! Mas muitos profissionais não queriam conhecer realmente os alunos. Principalmente os professores (não todos, é claro!), queriam alunos quietos, interessados e só. Os outros que se mudassem de escola!
Esses “educadores” muito teriam a aprender com o grande poeta Carlos Drummond de Andrade, que diz:
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“Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem.”
Utilizei, junto com as equipes pedagógicas que trabalhei, inúmeras dinâmicas de grupo nessas reuniões, vários trabalhos de sensibilização e de arte, de valorização dos profissionais e de busca de aproximação entre todos os segmentos da escola. Uma das funções do orientador educacional é justamente procurar tecer essa rede de relacionamentos, atuar sobre as relações que acontecem na escola ou que a atingem indiretamente, procurando uma união que mantenha a pluralidade existente mas que ganhe força política para lutar pelas mudanças tão necessárias para todos.
E os Conselhos de Classe? Acabavam sempre sendo reuniões onde muros de lamentações se levantavam, acusações de todos os tipos e por todos os lados – muito raramente alguma autocrítica era feita – e imperava o pensamento, que já deveria estar absolutamente ultrapassado, mas, na prática, infelizmente não está, de que se tirássemos os “alunos-problema” da escola, tudo ficaria bem.
Era um trabalho que exigia muita paciência e uma busca constante de bons relacionamentos com as pessoas. Encontrei bastante ajuda nisso com os funcionários mais simples das escolas – merendeiras, faxineiras, porteiros… -, pois, em geral, moravam na própria comunidade e conheciam bem aquelas crianças e adolescentes, assim como as idéias, costumes e toda a cultura do lugar. Aprendi muitíssimo com eles, escutei muito, observei muito, assim como fazia com todos, pois sem se abrir para o novo, é impossível chegar à um lugar e vir cheio de regras que possam ser úteis ali. Mas, muitas vezes por ignorância, outras vezes por medo e, outras ainda, por necessidade de auto-afirmação e segurança, muitos profissionais chegam com uma postura arrogante, julgando o tempo todo, tentando entender, através de seus valores de classe média, realidades e culturas tão diferentes. Vi muitas injustiças acontecerem por causa disso.
Os cargos de Direção e Vice-Direção das escolas são cargos de confiança nessas regiões. Não acontecem eleições nem concursos. Quem escolhe são os vereadores e o prefeito. E, em geral, o que mais vi foram pessoas totalmente despreparadas para assumirem a responsabilidade desses cargos, sem o menor conhecimento do que a função exige, mas convenientemente “obedientes” em relação aos que os colocaram ali. Verdadeiros “paus-mandados”, para usar uma expressão popular. Por terem o “rabo-preso” (outra expressão popular que cabe aqui), não podiam questionar nada que viesse de cima e tinham que ir levando a escola de qualquer jeito, alguns com o dinheiro do próprio bolso, pois faltam materiais didáticos, salas refrigeradas e bem equipadas e iluminadas, as turmas são lotadas, entre outros problemas gravíssimos que afetam diretamente e diariamente a rotina escolar. Os professores têm razão quando dizem: “como dar aulas interessantes assim?”
Muitos pedagogos, acreditando serem parte da “equipe diretiva” da escola – o que só são no discurso, pois não possuem, politicamente, nenhum poder decisório -, acabam atuando como verdadeiros “cães de guarda” dos diretores, sempre defendendo-os e dizendo amém para tudo que vem deles e das Secretarias de Educação. Muitas vezes, por serem apolíticos, como tanta gente nessa área de Educação (ter visão política não é só lutar por melhores salários e plano de carreira, como, infelizmente, muitos acabam fazendo na prática – não que não sejam pontos importantes para batalharmos, claro! -, sem perceber que a questão é muito mais ampla!), acabam agindo até com boas intenções, mas ingenuamente. Isso sempre me deixou tristíssima e/ou irritada, pois eu já era (e sou) do tipo que “batia de frente”, questionava, ia na Secretaria de Educação, buscava uma atuação mais consciente e, por isso, sentia-me bastante só, em muitos momentos. Eu não havia estudado tanto, me preparado tanto, para atuar apenas como uma burocrata escolar! E muito menos para manter a postura de “mocinha obediente, ao lado da “autoridade” do diretor da escola”, que nem mesmo eleito ou concursado era!!!
E os passeios? Poucos ônibus estão disponíveis e, geralmente, quebrados, o que faz com que seja comum pedirem favores a vereadores para poderem levar os alunos, em algum momento, para um tipo de aula mais dinâmico. Eu mesma tive que levar, para aulas-passeio e atividades culturais, turmas inteiras de ônibus comuns, com a ajuda de professores, porque achava fundamental tirá-los um pouco daquele ambiente e apresentá-los ao mundo de outras formas. Sempre adoraram isso! Os alunos que pareciam tão desinteressados em sala de aula, segundo os professores, mostravam-se animados nesses passeios, curiosos, querendo aprender e com brilho nos olhos. Isso era estimulante!
Mas, trabalhar em Educação Pública hoje, com o mínimo de senso crítico e sensibilidade, é mexer em vespeiro e sair bem machucado!
Bem… Muito mais tenho pra contar e acredito que esses relatos encontrem pessoas que se identificarão e outras que descobrirão como é muito mais difícil do que parece o trabalho do pedagogo escolar. Aos poucos, em outros artigos, vou expondo mais, porque considero fundamental que os profissionais de educação realmente se conheçam, se respeitem e se unam, pois uma mudança na educação onde só se fala de “professores de um lado e todos os outros educadores do outro lado” enfraquece essa luta, empobrece as discussões e não está dando certo há muitos e muitos anos…
Abraços a todos…
Regina Milone
Pedagoga, Arteterapeuta e Psicóloga
Rio, 20/10/2012.
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Regina,
A escola no Brasil sofre duplamente, pela visão quantitativista, de preenchimento de vagas, e pela visão burocrática, que incentiva o conformismo e a falta de criatividade. Em regiões carentes, então, as dificuldades sociais das famílias repercutem no ambiente da escola e os chamados controles a que a gestão escolar é submetida não permite a experimentação e o aprofundamento das questões realmente educacionais. Nesse cenário, sofrem os profissionais que a ela se dedicam, porque não podem combater os gargalos apresentados, impedindo a excelência da aplicação de novos métodos e de um programa real de promoção para os alunos. As funções pedagógicas que fazem a ponte entre professores e alunos, nesse contexto, sofrem duplamente, porque são vistas como forasteiras e desmoralizadas em seu poder de interferência. Manter a escola limpinha e com alunos quietinhos lembra as penitenciárias e os quartéis, jamais um ambiente em que se deseja transformar crianças e adolescentes em verdadeiros homens. E, lá fora, infelizmente, está o mundo da vida, que pesará um dia. Parabéns, querida. Você é estimada pelo que sabe e pelo que me inspira… Waldo.
Lindo texto, Regina, parabéns! É muito importante termos esse tipo de informação que você está colocando. Sempre tive esse mesmo pensamento que você em relação ao papel dos pedagogos e até mesmo do psicólogo dentro da escola, e me entristece muito ver o quão aquém esses profissionais estão nas suas atuações. Falo como mãe, e infelizmente em muitas escolas particulares a realidade (da atuação) não é muito diferente. Meu filho estuda na escola particular mais bem conceituada da região em que moro (a mais cara também!), ela tem 1 psicóloga escolar e 2 orientadoras pedagógicas por turno, e na turma no meu filho ( 1ºano EF) teve graves casos de bullyng, várias crianças foram parar em psicólogo clínico por indicação minha, porque a escola não fez absolutamente nada!!! Resultado: estou tirando meu filho de lá… Fico feliz de saber que você é uma profissional que faz e quer sempre fazer a diferença! Sucesso sempre. Bjs.
Caramba, Regina. Foi tão importante para mim ler o seu texto. Como você foi pontual em cada quadro traçado. Descreveu a realidade da escola com seus pontos mais
, sem no entanto, desmerecer ninguém, e sem a lógica reducionista de recriar o paredão dos culpados – onde essa conta recai somente no operário da educação, que é a figura do professor. Um trecho que me surpreendeu demais, foi quando relata sua proximidade com os profissionais que atuam nas atividades de apoio da escola. O riso me saltou quase em forma de gargalhada. Achei que só eu me consultasse com eles. Menina, muitas vezes é a merendeira ou a servente generosa que me traz a lucidez na escola
Regina, acho super importante o assunto que vc traz neste texto sobre o lugar do pedagogo, orientador educacional, em relação aos professores que estão em turma e em relação à escola como um todo. É realmente muito comum vermos professores que atuam em sala de aula considerarem que estudar e pensar sobre as questões que tangem as diferentes relações que atravessam o ambiente escolar, uma “bobagem”, “que não vai dar em nada”, e coisas deste tipo. E, nesse sentido, desvalorizam totalmente os conhecimentos que fazem parte do trabalho do orientador. Em escolas particulares isso também acontece muitas vezes. Como se só quem está em sala tivesse autoridade para falar e entender o que precisaria ser feito para melhorar a educação do alunos… É realmente muito triste e muito difícil de ser resolvido. Muitas coisas estão envolvidas aí… as condições de trabalho (precárias) que os professores encontram, as salas lotadas, a falta de uma formação continuada para que os profesores possam dar conta da enorme diversidade de experiências que se encontra numa sala de aula… Muito difícil. Pela falta de formação, mas também de desejo de aprender, o que você relata de fato acontece; é sempre mais fácil culpar os alunos “difíceis” e desejar que estes sejam excluídos… É claro que os caminhos para que se resolvam os infindáveis problemas de uma sala de aula não passam só pelo professor… Há a questão das políticas públicas, que por vezes são desastrosas, tolindo os professores, de certa forma, de sua autonomia para ensinar, há a questão dos cargos de confiança, como você já citou, e que coloca no comando de escolas profissionais que nem da educação são, há a questão política de se ter que cumprir metas de qualidade a qualquer custo, enfim…
São muitas as questões, mas ainda assim, acho que os professores são sujeitos, que podem escolher querer estudar mais e se intrumentalizar melhor para o encontro com o outro; esse outro que é o aluno e que será sempre imprevisível, inacabado, pois é também um sujeito marcado por sua cultura e condições sociais, psicológicas, etc. É nas relações com o outro que nos constituimos como sujeitos que pensam e interagem com o mundo, e isso não “serve” só para o aluno, isso é para todos.
bjs,
Sônia
Caro Waldo,
O que acrescentar ao que vc escreveu? Acho que nada. Vc disse tudo! E com muita propriedade.
É exatamente essa a realidade: quantitativista, bur(r)ocrática, sem criatividade, conformista, sem espaço e apoio para novos projetos e métodos educacionais que sejam verdadeiramente atuais e transformadores, enfim… É desanimador.
Nós, pedagogos, somos vistos, em geral, como “chatos”, “pouco inteligentes” ou, por outro lado, “teóricos demais”. Grande parte do que falamos para os outros profissionais, procurando orientar, entra por um ouvido e sai pelo outro. Acabamos sendo mais ouvidos e valorizados pelos alunos e por muitas famílias, já que estamos sempre procurando ouvi-los também.
Escola limpinha com alunos quietinhos parece quartel realmente! Sem dinamismo, arte, inventividade, incentivo ao saber, às descobertas e às criações, como pode haver educação de verdade?
Muito obrigada por sua visão profunda e por sua lúcida participação aqui!
Abraços,
Regina.
Olá, Rosângela!
Muito bom ler o seu comentário, pois vc fala como mãe, mostrando bastante experiência e uma sensível observação desse quadro complexo que vivemos nas escolas.
Realmente muitos profissionais estão aquém dos cargos que ocupam. Já vi tantos absurdos que daria para escrever uns mil artigos só sobre isso! Em relação a psicologia, por exemplo, os preconceitos e a ignorância são imensos.
A questão do bullying é seríssima e é uma das que ainda não é bem compreendida nem levada à sério como deveria. Não temos ajuda para lidar com isso, nem das famílias e nem da maior parte dos profissionais das escolas. E realmente acontece tanto em escolas públicas quanto em particulares. Ainda vou escrever um artigo só sobre bullying aqui e outro só sobre síndrome de burnout, ambos presentes, cada vez com mais força, no ambiente escolar. A escola e seus profissionais estão cada dia mais adoecidos.
Acho que vc fez bem, depois de lutar bastante, de tirar seu filho da escola. Tudo tem limites! Quem tem filho e o cria com amor sabe disso. Quando fica esse empurra-empurra com a barriga e ninguém resolve nada ou finge que não vê ou que não é tão grave, o melhor é protegermos nossos filhos e buscarmos um lugar melhor sim. Sempre fui mãe-leoa com meu filho em relação a isso! Entendo você.
E sempre tentei fazer a diferença sim, porque pra mim a verdadeira educação é para transformar, formar, mudar a sociedade pra melhor. É com esse tipo de educação que me comprometi e não com a bu(r)rocrática e alienada! Comprei muitas brigas por causa disso – o pedagogo que faz seu trabalho à sério sofre tanto ou mais do que o professor que também está tentando e não conseguindo – e acabei doente.
Agora luto de outra forma.
Obrigada por suas palavras e por sua participação aqui!
Beijos,
Regina.
Tanto – quase tudo – por fazer; tão pouc@s dispost@s às tarefas; tantas as armadilhas em todos os trechos do caminho… Vale é o sonho que se insiste em sonhar… não desista!!!
Querida Ana,
Como é bom conversar com as serventes, merendeiras e demais funcionários dos vários serviços de apoio da escola! Realmente aprendemos demais! Que bom que vc me entendeu e faz o mesmo. Eles são verdadeiros “tradutores”, muitas vezes, daquela cultura, costumes, gostos e dificuldades, enfim, vão nos ensinando o “idioma” de lá, com sua simplicidade encantadora. Somos muitos brasis, muitas línguas e, por isso, antes de chegarmos depositando isso ou aquilo (conteúdos e valores que nós achamos importantes, mas que, pra eles, naquela realidade, talvez não sejam, naquele momento), precisamos conhecê-los, ouvi-los, de verdade!
E que bom que vc percebeu que não sigo aquela lógica reducionista que coloca os professores no paredão como grandes culpados por tudo que anda mal na escola. Isso é uma das maiores injustiças que vivemos – culpar os professores por tudo -, já que grande parte dos professores é batalhador, idealista, dedicado e sofre com tantos obstáculos, dificuldades, falta de estrutura para trabalhar, etc. Por essas e outras é que defendo a ideia de que os professores trabalhem 40 horas somente em uma escola, horas essas divididas em sala de aula, contato com os pedagogos, com as famílias, com os alunos individualmente, tempo para planejamento e avaliação, grupos de estudos e conselhos de classe, para que possam conhecer melhor com quem estão lidando e para que possam realmente formar uma equipe com toda a escola, onde as diferenças possam se expressar e os pontos em comum possam virar projetos e práticas renovadoras. Mas, para isso, o salário teria que ser decente, é claro!!!
Obrigada por sua participação, Ana!
Beijos,
Regina.
Sônia,
Seu comentário me emocionou…
Vc mostra saber bem do que está falando.
Realmente as dificuldades que os professores enfrentam são inúmeras, mas a falta de vontade de aprender, se atualizar, respeitar outros saberes, também é muito presente entre tantos deles, infelizmente. Aí o pedagogo passa por mero “teórico”, que não sabe o que diz pois não está em sala de aula enfrentando aquelas “ferinhas”.
É horrível estudar tanto, pesquisar tanto, passar por inúmeros estágios e experiências profissionais para, ao final, ser visto assim! É injusto, preconceituoso e uma tremenda ignorância. Por isso perguntei no título deste artigo: será que vc sabe realmente o que faz o pedagogo na escola?
A maioria não sabe.
Inclusive, nas licenciaturas, é muito comum ouvir comentários do tipo: “as matérias de pedagogia são todas chatas e só faço mesmo porque são obrigatórias”… Acabam sem saber, realmente e minimamente, o que é pedagogia afinal.
Infelizmente, muitos pedagogos também parecem perdidos… Alguns viram meros assistentes dos diretores, meros “capachos”, outros viram conselheiros dos alunos (nosso papel não é ficar dando conselhos ou descobrindo fórmulas mágicas para que os alunos indisciplinados se “comportem”!), outros acham que não adianta falar nada pros professores pois, na sala de aula “deles”, vão mesmo fazer sempre e só o que querem… E por aí vai.
Nunca me conformei com isso.
Se somos educadores, temos que ser os primeiros a valorizar e respeitar os diferentes saberes e não a ridicularizá-los!
É o cúmulo da incoerência reclamar que os alunos não querem aprender nada e, na hora de um profissional aprender com o outro dentro da escola, isso não acontecer, na maioria das vezes, porque cada qual acha que já sabe tudo! E medem isso competindo uns com os outros, tipo: “Há quantos anos vc trabalha nessa rede? Só isso? Ah… então vc não sabe como é!”… E por aí vai.
Outro absurdo, de uma pobreza e de um literalismo deprimentes, é dizer que só se aprende com a experiência prática e direta, concreta, e que, por isso, quem não está dentro de sala de aula (independente de ter estado um dia ou não) “não pode falar nada sobre isso”, “não sabe nada”, etc. Então a escola não deveria nem existir! Se é impossível transmitir alguns conhecimentos, aprender com a pesquisa e com as experiências da humanidade em todas as épocas, já que só se aprende por experiência direta, pra que existir a instituição escola??? Não serve pra nada então!!!
A dispersão, conversas paralelas, desinteresse, etc., que vemos em muitos profissionais durante as reuniões pedagógicas (COCs, grupos de estudos, etc.), são idênticas às que são criticadas nos alunos, que fazem o mesmo durante as aulas!
Cadê a auto-crítica, minha gente???
E achar ruim estudar, reclamar de um texto um pouco maior pra se ler numa reunião, com o grupo todo de profissionais da escola, é vergonhoso para um educador! Como querer estimular os alunos a gostarem de estudar e aprender, se são os primeiros a se mostrarem fechados em relação a isso? É tão óbvio, meu Deus…
Não é mole não!!
Mas fecho meu comentário com as suas palavras finais, Sônia, que mostram profundidade, lucidez e consciência, na minha opinião, e com as quais concordo totalmente:
“São muitas as questões, mas ainda assim, acho que os professores são sujeitos, que podem escolher querer estudar mais e se instrumentalizar melhor para o encontro com o outro; esse outro que é o aluno e que será sempre imprevisível, inacabado, pois é também um sujeito marcado por sua cultura e condições sociais, psicológicas, etc. É nas relações com o outro que nos constituímos como sujeitos que pensam e interagem com o mundo, e isso não “serve” só para o aluno, isso é para todos.”
Beijos,
Regina.
É, xará… Não é fácil!
Mas obrigada pela força e incentivo!!!
Grande beijo,
Regina.
Regina Milone, sou professora. então vivencio esta situação que vc descreveu com tanta objetividade. Alguns pontos por vc abordados são bastante pertinentes, como a questão de iconizar a disciplina, a uniformidade e a submissão como fatores fundamentais para a aprendizagem. Estas caracteristicas consubstanciam uma escola que funcionou, e apresentou resultados, seculos atras. O mundo mudou, seus valores mudaram, a linguagem mudou. Mas a escola, não. Ela quer continuar ensinando conteudos que não apresentam aplicabilidade no cotidiano da vida, ou mesmo como “caixa de ferramentas”, expressão cunhada por Rubem Alves, para designar conhecimentos e tecnologias necessarias ao bom desempenho de nossa capacidade profissional. Livros didaticos, visando desenvolver uma educação em massa, a fim de facilitar o acesso do aluno ao conhecimento, e o planejamento dos conteudos curriculares pelo professor, não exprimem a realidade na qual vivemos, nem mesmo a realidade artificial de uma escola com todas suas riquezas e dicotomias sociais e culturais interagindo. Por outro lado, todos os alunos, mesmos os menos favorecidos, socialmente falando, tem contato diario com os meios de comunicação midiaticos, seja a televisão, e , principalmente, a internet. A linguagem destes dois veiculos da mensagem são atrativos, coloridos, instigantes, rapidos, simultaneos… Como ensinar a esta clientela com o velho quadro-negro e giz, salas lotadas com um unico professor se fazendo dono de uma verdade estratificada e defasada? O mundo não e mais assim! E e uma chatice aprender – ou melhor – fingir que aprende conceitos, tecnicas e linguagem que não tem mais funcionalidade. Eles não tem interesse nisto. A interdisciplinariedade engatinha, e projetos , quando implantados, ou são perfunctorios, outros nomes para atividades rotineiras dentro da escola; ou são bons, muito bons, e por serem bons, exigem dedicação, originalidade, paciencia e muito jogo de cintura para não serem extintos por n fatores. Enfim, a escola nåo acompanha as mudanças e complexidades cada vez maiores de nossa sociedade inquieta, fragmentaria e des-referenciada. Este debate pode ser levado muito mais adiante do que permite um comentario. So gostaria de sublinhar a sensibilidade, coerencia intelectual e coragem de levantar problemas nevralgicos dentro do relação aluno-escola pela autora do artigo, Regina Milone. Aguardarei novos artigos aprofundando o questionamento da situação educacional emergencial de nosso pais.
Vania Perciani,
Que comentário consciente! E isso pra dizer o mínimo!!
Deu gosto de ler!!!
Sinceramente, não tenho nada a acrescentar às suas palavras, pois concordo em número, gênero e grau com você.
Também acho que esse é um assunto para muito mais do que podemos desenvolver aqui, mas, mesmo assim, ainda é uma discussão e uma reflexão válida.
Esse “finge que ensina e finge que aprende” é lamentável… Não há verdadeiro ensino se não está havendo aprendizagem. E, para haver aprendizagem, o fundamental é despertar o gosto pelo conhecimento, a curiosidade, enfim… Isso é muito mais importante do que todos os antigos conteúdos programáticos em que ainda se insiste em jogar goela abaixo dos alunos.
Saem todos frustrados, especialmente os alunos e os professores.
E obrigada por ter citado o grande Rubem Alves, uma inspiração constante para mim e para tantos educadores. Só com “caixa de ferramentas” nunca “funcionaremos” tão bem como poderíamos em sociedade (e nem na vida íntima)!
Grande abraço e muito obrigada por sua inteligente participação!
Regina Milone.
Oi Regina,
Na verdade, vamos combinar: existem professores e professores, pedagogos e pedagogos. Como você mesmo reconheceu, tem alguns supervisores e orientadores que são extremamente burocráticos e sem capacidade de exercerem suas funções. O mesmo acontece do lado dos docentes, muitas vezes sem habilidade alguma em lidar com pessoas e muitas vezes até com o conteúdo de suas disciplinas. Mas por vezes levamos a fama como se estivéssemos “no mesmo saco”. Tenho certeza que eu e você nos preocupamos e tentamos fazer o nosso melhor, além de nos prepararmos para isso. Mas até que ponto o poder público está interessado que todos os profissionais da educação sejam assim? Na minha escola tem um professor contratado que foi reprovado no último concurso, ficando em 384º. Ele acertou um pouco mais de 30% da prova e não conseguiu média nem mesmo na específica. Porém, alguém bem influente politicamente não precisa ter capacidade para exercer cargos no funcionalismo público. Conclusão: é um péssimo profissional, que no final das contas vai entrar na mesma análise e será comparado com outros professores que passaram por concurso público, fazem formação continuada e levam o magistério com profissionalismo.
Estou escrevendo tudo isso para chegar no mesmo ponto que você chegou ao concluir seu texto: não adianta ficarmos em um fogo cruzado, de um lado professores e do outro pedagogos. Já perdi muito deste preconceito, mas o que mais escuto nas conversas informais entre colegas é a generalização do pedagogo ruim, em todos os sentidos. Do outro lado, também sinto um certo preconceito das supervisoras e orientadoras em montarem a imagem do professor a partir destes “profissionais” ruins, em todos os sentidos. Isso leva ao desgaste e à decepção de ambos os lados (dos bons profissionais), quando percebem que são injustiçados, incompreendidos.
Deveríamos perceber que estamos do mesmo lado – o lado daqueles que são massacrados pelo poder público e carregam nas costas a tarefa de mudar o país, sem receber nada em contrapartida.
Concordo com vc, Luiz.
Há pedagogos e “pedagogos”, assim como há professores e “professores”.
Os cursos de formação ainda são fraquíssimos, em sua maioria: cursos normais, licenciaturas, cursos de pedagogia…
Eu fiz a melhor faculdade de pedagogia da minha época aqui no Rio, mas cursos de pedagogia existem em quase que qualquer universidade pequena, em todos os cantos do Brasil, e muitos são fraquíssimos. Assim como também são fracos os cursos de licenciatura, que considero uma piada de mau-gosto terem a duração de apenas dois anos!
E os cursos normais, (mal) formando adolescentes para dar aulas pra crianças?
Tá tudo errado!!!
E aí sobram as guerrinhas, os preconceitos, as fofocas, os deboches e todo esse clima de fogo cruzado constante entre os educadores, que deveriam trabalhar juntos, pois como vc diz (e sempre digo isso também): “Deveríamos perceber que estamos do mesmo lado – o lado daqueles que são massacrados pelo poder público e carregam nas costas a tarefa de mudar o país, sem receber nada em contrapartida.”
“Profissionais” fracos, incompetentes, sem vocação e que não querem se esforçar para melhorar existem aos montes, mas existem muitos que se dedicaram ou se dedicam, tanto professores quanto pedagogos e outros que acabaram se ligando à área de educação mesmo sem uma formação acadêmica, mas com muito idealismo e entrega.
Do mesmo jeito que não interessa aos governantes ter um povo culto e crítico, também não interessa ter educadores de alto nível. Concordo com vc. Por isso, temos que batalhar mais ainda!
É mesmo uma barra, meu amigo…
Obrigada pela participação aqui, nesse nosso papo!
Abração,
Regina.
Não ficou muita coisa pra ser dita diante de tão plena explanação, mas copio aqui um trecho do texto: “Na prática, era gritante que a Escola era de exclusão, em todos os sentidos – inclusive em relação aos profissionais que viam e questionavam esse estado de coisas e eram, em geral, rejeitados -“, para dizer que fui excluído em várias escolas das quais me dispus a trabalhar.
Sempre (durante mais de 20 anos) trabalhei em escolas particulares, onde há a figura de um patrão, um dono que visa também o lucro e, se o professor ou o patrão não estão satisfeitos, pode se mudar de escola, simples assim.
No ano 2000 entrei para o serviço público, onde o ‘patrão’ é o povo de Macaé. Na 1ª escola, fiquei apenas 15 dias, por ter comentado um texto que foi lido numa reunião pedagógica, trazendo uma visão diferente sobre o funk e a prostituição.
Cheguei a trabalhar 3 dias numa outra escola, 1 semestre em outra, 2 meses em outra, assim por diante.
Até chegar ao ponto de sair de licença médica por cansaço, fadiga, depressão, e outros nomes que a medicina tem pra isso, mas que eu chamo de impotência profissional causada por incompetência do em torno.
Regina, obrigado por descrever de forma clara estas questões, assim eu pude compreender também os meus problemas e falhas no decurso da minha longa carreira de professor sonhador.
bjs.
Ótimo depoimento, Dante!!
As pessoas precisam saber dessas coisas, precisam ouvir isso!
Em escolas públicas o conservadorismo costuma ser imenso e a ignorância também. Existem muitos preconceitos contra pontos de vista diferentes do senso comum do lugar. Um horror! É um atraso danado, contra o qual tentei lutar, contribuindo com informações, textos, relatos, dinâmicas, questionamentos, palestras, orientações, dicas, etc., mas, na maioria das vezes, era como tentar falar com as paredes…
Os bons profissionais também estão lá, mas é preciso buscá-los, pois muitos acabaram se calando para, mal ou bem, conseguirem “sobreviver”…
Vc viu os dois lados da moeda, tanto das escolas particulares quanto das públicas. Essa é uma experiência muito rica!
Acredito que vc tenha acabado com síndrome de burnout, Dante, como aconteceu comigo e tem acontecido, cada vez mais, com os profissionais da Educação.
Cuide da sua saúde!!! Ela tem que estar em primeiro lugar!!!!!
Depressão acaba com a gente, mas, se for tratada, dá pra encontrar a própria força de novo e caminhos profissionais mais gratificantes também.
Descobri que podemos lutar pela Educação de outras formas, fora das escolas, com mais liberdade e menos desgaste.
Boa sorte, Dante!!!
Obrigada pela participação e pelo corajoso depoimento!
Volte sempre!!
Beijão,
Regina.
Ótimo texto. Me vejo nele, obviamente.
Obrigada, Declev!
Também te vejo nele…
Abraços,
Regina.
Re, parabéns pelo texto e pela coragem de enfrentar essa luta diária q parece ser o trabalho com educação no nosso país. bjs, sucesso!
Obrigada, Carmen!
Que bom que passou por aqui, leu, gostou e comentou esse meu artigo!!!
A situação na educação é muito pior do que as pessoas que nunca trabalharam na área imaginam, querida amiga…
Exige muita coragem, força, integridade, enfrentamentos diários… Cheguei no meu limite em relação ao trabalho em escolas, mas não desisto da educação não, mesmo procurando atuar de outra forma agora.
Beijo grande (saudades de vc!!!),
Regina.
Oi Regina,
Seu texto retrata a realidade de nosso país tal qual ela se apresenta. Consigo visualizar cada cena. Tudo é bastante familiar. Parabéns!!! É triste, é duro, mas fica a esperança da luta de tantos profissionais que como você não desistem da educação e contruibuem para a transformação desta realidade.
Oi, Ana!
Obrigada pela participação aqui!!
A minha luta, hoje, é mais na fala, no debate, na indignação que mostro, nos relatos de experiências, nos estudos… É a maneira que consigo agora, pois anos de escola me desgastaram terrivelmente. Mas é alguma coisa, né?…
A educação está no sangue; não conseguiria me desligar totalmente, “esquecer” tudo que vi ou ouvi e virar a página simplesmente.
Acredito que falas como a minha e tantas outras aqui do blog e de outros lugares dão uma contribuição importante também.
Grande beijo,
Regina.