Escola Pública hoje: relatando e refletindo um pouco mais

 

Escola Pública hoje: relatando e refletindo um pouco mais

– Relatos acompanhados de reflexões sobre mais alguns casos que acompanhei, trabalhando como pedagoga em escolas públicas:

Milicianos e traficantes: esses costumam ser os heróis da garotada, os que parecem fortes, poderosos, os que as meninas querem namorar e aqueles pra quem os próprios pais, muitas vezes, empurram suas filhas para ganharem presentinhos, para elas e para toda a família, à custa de favores sexuais, prostituindo as próprias filhas. Tive oportunidade de acompanhar vários casos desses.

– E as brigas entre os alunos? Espelhando o que viam em casa, queriam resolver tudo aos socos e pontapés, tanto meninos quanto meninas. Tive que intervir, para separar, algumas brigas feias, de onde saí machucada. Certa vez, uma mãe de adolescente de uns 14 anos de idade chegou à escola aos berros, com um pedaço de pau na mão (parecia um cabo de vassoura), querendo falar com a filha dela, que havia brigado fisicamente com uma colega na véspera, para entregar o pedaço de pau para a menina se vingar da outra com quem havia brigado. E ainda dizia: “se ela não encher essa garota de “porrada”, eu é que vou encher a minha filha de porrada, porque filha minha não apanha de ninguém!”. Consegui acalmá-la, depois de muito tempo e com a ajuda de outras pessoas da escola, fazendo-a assinar um documento onde admitia tudo que tinha dito e feito desde o momento em que pisou na escola aos berros, documento este em que pedia desculpas, pois era o único jeito de termos alguma garantia de que ela nem a filha esperariam a outra garota lá fora da escola para surrá-la, depois do horário das aulas, pois, se fizessem isso, levaríamos o documento à polícia.

Aliás, os alunos em geral, dessas comunidades, costumam apanhar muito em casa, o que os próprios pais e/ou responsáveis nos contavam como se estivessem, dessa forma, cumprindo com suas obrigações de pais. Não havia ou pouco havia diálogo e sobravam agressões de todos os tipos.

– Outra questão seríssima: as doenças se multiplicam. Os profissionais, pelas péssimas condições de trabalho e pelos baixos salários, acabam pedindo licenças médicas consecutivas, muitos estão com Síndrome de Burnout, deprimidos, estressados, tristes e irritados. Convivendo com o que eles têm que conviver dentro das escolas, passamos a ver quantos motivos realmente eles tem para isso e é muito triste, pois uma profissão tão importante e fundamental como a de professor anda cada dia sendo mais desrespeitada e desvalorizada. Como encontrar ânimo para continuar assim?!

– Em relação aos alunos e suas famílias, as histórias são tristíssimas. Não só as de violência, que são tantas – muitas vezes as mães, por exemplo, têm que agüentar um homem alcoólatra, que bata nelas porque não têm família, dinheiro nem outro lugar pra ir -, mas também as histórias de lutas admiráveis, mesmo em meio a tanta pobreza, de tantas pessoas que trabalham muito para que seus filhos possam vir a ter uma vida melhor do que a delas, o que, com a escola que temos hoje, dificilmente acontecerá. É um funil apertado, por onde pouquíssimos passarão. A maioria não chega nem ao Ensino Médio (antigo 2º Grau).

– Outro problema cada dia mais grave e presente nas escolas é o da gravidez na adolescência, que contribui muito para que o quadro de pobreza e ignorância se perpetue. Desenvolverei esse assunto em outro artigo depois, pois merece uma atenção mais individualizada.

– O medo da violência também é muito grande. Uma das escolas onde trabalhei era quase como se fosse o quintal da casa de um vereador miliciano, perigoso, que empregou toda a sua família lá. Escrevi sobre essa escola aqui no blog, no artigo “Cargos de confiança, milícias… e como fica a Educação???” – http://diariodoprofessor.com/2012/09/19/cargos-de-confianca-milicias-e-como-fica-a-educacao/.

Lá, as pessoas não tinham o menor conhecimento ou competência para estarem nos cargos que estavam, mas a Secretaria de Educação dizia que aquele era “um caso sério” e deixava tudo como estava. Nessa escola, vi horrores: professores e outros profissionais da escola xingando, berrando, puxando orelha de alunos, colocando apelidos depreciativos – o bullying existe em todos os níveis e escolas, não só entre alunos – e piorando quadros que já eram bastante complicados. Certa vez deixaram um menino de oito anos de idade se batendo, preso na secretaria da escola (não era meu dia lá), até ele se cansar. O garoto esmurrava a própria cabeça e ninguém achou nada demais, pois já estavam grudando nele o rótulo de “maluco”… E ainda nessa escola, fui procurada por um padrasto desesperado, dizendo que a mãe (esposa dele) ia matar os três filhos e que ele não conseguia fazer mais nada, pois ela era amiga dos poderosos lá da comunidade e o matariam se ele se metesse. Fiquei atrás do Conselho Tutelar, muito preocupada com a situação – eu ia fazer uma denúncia anônima para a polícia, mas me desaconselharam, pois a mulher (a mãe), com quem eu já havia discutido, saberia que tinha sido eu e se vingaria -, mas o Conselho Tutelar não fez absolutamente nada, como acontecia em geral, e as crianças continuaram sofrendo com as surras e o abandono da mãe (sumia dias e deixava-os sozinhos; quando voltava, surrava-os constantemente, etc.). Era sempre um jogo de “empurra-empurra”, onde as desculpas sempre são a falta de pessoal, a falta de ajuda de outros órgãos, etc. Detalhe: os cargos do Conselho Tutelar também são de confiança, isto é, não são concursados e os funcionários parecem não saber nem o que estão fazendo ali!

E esses exemplos que estou citando aqui são apenas alguns entre milhares que acompanhei, direta ou indiretamente.

O Sindicato dos Educadores é atuante, mas geralmente bastante corporativista, como pude ver em alguns episódios que acompanhei de perto, e mantém uma postura de esquerda radical antiga, sem nenhuma reflexão ou autocrítica a respeito, como se ainda vivêssemos há pelo menos uns cinqüenta anos atrás!


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Aliás, a falta de autocrítica é um dos maiores problemas, em geral. Cada segmento – alunos, professores, pedagogos, administradores, funcionários, etc. – estão sempre acusando uns aos outros, mas mostram-se intolerantes na hora de ouvir o outro, se colocar no lugar dele, se interessar realmente e, com isso, rever a si mesmo, às próprias atitudes, idéias e emoções.

 

Os preconceitos são muitos. As crianças continuam sendo rotuladas, desde cedo, por colegas e, algumas vezes, também por professores (e os que não concordam com o bullying, também não o levam muito a sério e, por isso, pouco fazem), com apelidos humilhantes, depreciativos que reduzem sua auto-estima, já baixa, à zero. Como aprender qualquer coisa assim? Como o cognitivo pode funcionar nessas condições emocionais tão adversas? Não tem como!

– Ouvi coordenadores e pedagogos dizendo pra mães de alunos, por exemplo: “a senhora ‘dá mole demais’ pra ele; o garoto precisa apanhar mais!”. Parece inacreditável e, no entanto, é cotidiano. É considerado “normal” agir assim.

– Certa vez ouvi, em Reunião de Professores, que bom era o tempo da Ditadura Militar, que não era essa bagunça de agora. Que naquele tempo, os alunos tinham que obedecer, obedeciam e pronto. Além desse exemplo, sempre foi comum ouvir, dos profissionais da escola, que o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente; ECA era geralmente pronunciado como a expressão “ecaaaa!!!”, de nojo de alguma coisa -,  era um horror, que só tinha servido pra piorar a Educação, porque agora nem tocar em um aluno eles podiam, senão o aluno poderia denunciá-los pra polícia. Quer dizer, se pudessem, ainda apelariam para a violência física com esses alunos e achando que tinham todo o direito!

– É claro que existem os profissionais idealistas, ainda abertos às mudanças, mas são minoria e, com os anos de trabalho, muitos acabam se cansando, pois dar aula em escola pública, hoje em dia, virou uma verdadeira guerra, tremendamente desgastante, onde os professores passam mais tempo tendo que tentar organizar minimamente a turma, que não ouve, não quer saber de nada, é agitada, agressiva, etc., para poder simplesmente começar a dar as suas aulas.

O conhecimento que a escola insiste em passar hoje é o mesmo de muitos anos e não faz mais o menor sentido para essas turmas. Se na minha época de aluna – tenho 51 anos -, já nos perguntávamos pra que estudar determinadas coisas, hoje em dia isso é ainda pior, até porque existe um pragmatismo que faz com que esses alunos só valorizem, em geral, aquilo que vai servir para que ganhem bastante dinheiro, rápido e ainda jovens. O conhecimento em si, a curiosidade por aprender coisas novas, anda cada vez mais escassa nesse universo concreto, estreito, sem poesia ou imaginação. E isso atinge a maioria dos pais, alunos, professores, coordenadores, diretores e pedagogos, infelizmente. Dessa forma, a inteligência que se desenvolve, quando se desenvolve, é fragmentada, parcial, pouco capaz de abstrair e de criar.

Embora a escola seja laica, na prática não é bem assim que funciona. Uma questão muito presente nas escolas públicas é a da religião, sendo a evangélica a dominante. Em muitos casos a religião funciona como consolo e companhia para muitos, consegue ajudar, contribui para estimular a perseverança, mas, em muitos outros casos, reforça um moralismo antigo que só reforça a idéia de que aluno bom não é o que questiona, critica ou cria alguma coisa original e sim aquele que é quietinho, obediente e conformado.

A maior queixa de todos, dentro da escola, é a questão da disciplina. E é o que esperam, na prática, que o orientador educacional (meu caso) faça, como se alguém, sozinho, pudesse “disciplinar” toda uma instituição! Além disso, não é papel do pedagogo, seja do orientador pedagógico ou educacional, ficar resolvendo problemas de disciplina! Podemos ajudar nisso e só. Não somos “super-heróis”! E ainda acabávamos sempre criticadas por não estarmos dentro de sala de aula e, por isso, “não sabermos o que eles, professores, passam”! Mas os pedagogos também são professores e já deram aula, como eu, fato que muitos professores desconhecem ou esquecem na hora de criticar.

E, mesmo não sendo o nosso papel, quando levamos idéias para ajudar nesse quadro – e levei muitas! -, sempre ouvíamos: “ah, isso aqui não funciona não!”, “com esses alunos? Nem pensar!”, “isso é muito teórico; na prática não funciona” (mesmo sem ter tentado), “isso não tem nada a ver com os nossos alunos”, etc. Isto é, as resistências são muitas e dificultam tremendamente que ao menos um início de mudança aconteça. São baldes de água fria por todos os lados…

Mas a ânsia maior dos profissionais da escola é essa: disciplina. Ainda hoje, em pleno ano de 2012, essa é a maior preocupação e o maior desejo de todos. Mas, como não era e nem é a minha, embora considere disciplina importante sim, mas dentro de todo um contexto muito maior que precisa ser modificado, acabei desistindo do trabalho naquelas escolas. Depois de anos, adoeci pelo imenso desgaste e acabei parando, com Síndrome de Burnout (escreverei um próximo artigo só sobre isso), embora continue educadora e mantenha contato próximo com quem fiz amizade.

– Usando um pouco a Psicologia para pensar alguns aspectos desse quadro todo, vemos que uma das formas de manifestação da Sombra – todos nós somos luz e sombra, consciente e inconsciente – é quando aparece como mecanismo de defesa e/ou de resistência e negação. Podemos citar Sacha Nacht, psicanalista freudiano e um dos teóricos da “análise das resistências”, para quem a regra fundamental adquire valor sobretudo se o paciente não consegue segui-la. Suas dificuldades em associar traduzem resistências, sendo a análise destas um momento essencial para alcançar o inconsciente, isto é, no caso das escolas, para alcançar o que existe de menos bem intencionado em cada um que dela faz parte é necessário vencer muitas resistências. Em outras palavras, em relação às escolas, encarar a Sombra e conhecê-la melhor é importante até para ajudar a descobrir o que pode existir de positivo e que também esteja escondido ou mascarado por ela. Sem olharmos o que está escondido dentro de cada um de nós e debaixo dos tapetes das instituições, secretarias e ministério da educação nesse país, fica difícil se pensar em qualquer mudança realmente profunda e estrutural no cotidiano escolar.

Infelizmente, pude observar como a “sombra” é vista e assumida por pouquíssimos – isso foi algo que ficou muito claro para mim -, e, por isso, escolhi seguir nas áreas de Educação e Saúde de outra forma, escrevendo neste blog, por exemplo.

E vocês???

 

Regina Milone

Pedagoga, Arteterapeuta e Psicóloga

Rio, 26/10/2012

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11 comentários em “Escola Pública hoje: relatando e refletindo um pouco mais”

  1. Regina,
    Seu relato é categórico e terrível. Como melhorar a escola pública se ela se defronta diretamente com condições de miséria social e moral nas comunidades em que atua. As crianças e adolescentes são espelhos de suas famílias, tumultuadas pelo desrespeito, pela violência, pelo alcoolismo e pela perda de valores. O que será desses jovens, obrigados a enfrentar um funil que levará à desistência e a tornar o curso médio verdadeira utopia. A convivência dessas escolas com traficantes e milicianos torna os alunos presa fácil da cultura do dinheiro fácil e do sexismo gratuito e disseminado. Não há cultura nem poesia que resista a isso. Pior são os professores que desestimulados por salários irrisórios e tantas humilhações passam a ter complicações psicossomáticas difíceis de ultrapassar. Lendo o seu relato, penso em meu destino profissional que poderia ter sido o de ser professor. No clima descrito, dou graças a Deus por minha desistência. Abs, Waldo.

  2. Meu Burnout vai bem, obrigado.
    Acho que vou copiar este texto pra levar pra próxima consulta com a psiquiatra, vc descreveu, com calma e precisão, a maioria dos motivos pelos quais estou doente.
    Mas quero acrescentar que na minha aula não tem bagunça, fazemos festa juntos, todos os dias, em todas as aulas, temos uma cumplicidade tão grande que quando alguém apronta algo, me pede desculpas antes de eu reclamar. Em compensação todos os outros professores dizem assim : Se não fizer isso, ou se fizer aquilo, não vai pra aula do Dante e, quando vou reclamar disso ouço o diretor dizer, nas entrelinhas de um discurso mofado e viciado, que as outras aulas são mais importantes. Daí eu digo que quando alguém aprontar na minha aula não vai assistir as aulas de matemática… Silêncio na reunião.
    Imagine ser ateu nesse meio.
    Dia da família na escola, sábado letivo, chego às 8 h e um pastor ou padre, sei lá, estava tocando uma canção falando do Senhor dele lá. Falei pra diretora: Pensei que fosse escola, se soubesse que era igreja nem tinha vindo, tchau!
    Sou indesejável, desagradável, um cisco no olho, uma pedra no sapato, mas o pior é que eles estão vencendo, conseguiram ajudar a acelerar a minha doença, mas sei que eu estando fora da escola, é um motivo de alívio para os adultos e tristeza pras crianças.
    Sem falar dos pedagogos que , pelo menos comigo, nunca levou um papo sério sobre educação e, na hora da reunião, preferem comprar AVON.
    Bjs

    1. Oi Dante,

      Te entendo perfeitamente.

      Vou lendo o artigo da Regina e, também, aprofundando minha angústia, pois já passei por praticamente tudo isso e ainda passo por muitos.

      Já passei por períodos que eu diagnosticaria “de Burnout”, e esse período ficou bem marcado aqui, com artigos bem depressivos e agressivos.

      Mas quem é diferente é assim.

      Como você disse, eles estão vencendo, e eu procurando minha porta de saída.

      Abraços,

  3. Ótimo texto!
    A melhor parte pra mim: “É claro que existem os profissionais idealistas, ainda abertos às mudanças, mas são minoria e, com os anos de trabalho, muitos acabam se cansando, pois dar aula em escola pública, hoje em dia, virou uma verdadeira guerra, tremendamente desgastante, onde os professores passam mais tempo tendo que tentar organizar minimamente a turma, que não ouve, não quer saber de nada, é agitada, agressiva, etc., para poder simplesmente começar a dar as suas aulas.”
    Este é só o meu sexto ano de magistério e tenho a impressão que a Burnout tá chegando…

  4. Amigos,
    Algumas pessoas tem respondido meus artigos via facebook ou e-mail e sempre peço permissão para postar aqui, para que a troca possa ser maior. Aí vai, então, mais um comentário, do psicólogo Fábio De Almeida Machado:

    “Minha querida amiga Regina Milone, antes de qualquer consideração sobre seu artigo, eu gostaria de te parabenizar e te convidar ao constante reconhecimento da importância de seu trabalho na área da Educação que, como você mesma disse, continua através de seus textos, muitas pessoas que passaram por tais experiências jamais gostariam de voltar a intervirem nesta área, mas você, apesar de todo o sofrimento vivenciado, continua produzindo em prol deste segmento, se tornando alvo de minha profunda admiração.
    Li seu texto com muita atenção, e confesso que fiquei muito chocado com suas experiências, e imaginei você assinando contrato de trabalho no que considero ser a imagem mais severa de inferno que me vem a mente, e que daria inveja a qualquer diretor de filme de terror. Como não adoecer em um sistema absurdo como este? Quem se mantem saudável deve ser considerado rara exceção (ainda hoje conversei com uma amiga professora que está sob licença por não possuir mais condições para suportar o referido sistema).
    Compartilho de sua angustia por não enxergar sequer sombra prática de solução, até porque, como sabemos, as instituições escolares sob administração do Estado refletem situações que tem suas origens nas misérias vivenciadas por seus usuários, sejam eles pertencentes ao corpo docente ou discente, e, assim sendo, vemos o quanto essa questão é complexa, e o quanto o sistema é travado.
    Nunca vivenciei a experiência de lecionar, nem de me envolver enquanto psicólogo no segmento escolar, pois reconheço que é uma área de atuação para quem está disposto a despender muito mais do que seu conhecimento técnico ou teórico, talvez seja um dos mais duros “sacerdócios”. Parabéns pelo seu trabalho desempenhado, e que faz de você uma profissional/pessoa com diferencial muito peculiar, e parabéns por seus tão profundos e muito bem redigidos artigos, que demonstram sua admirável e resiliente capacidade profissional/pessoal. Obrigado por compartilhar comigo mais uma vez de seu valoroso trabalho.”

  5. Mais um comentário, enviado para o meu facebook, da psicóloga Luciana Jacques de Moraes:

    “muito contundente… triste ver essa realidade nua e crua… foram anos até chegar a esse ponto… e pra mudar esse quadro, serão necessários muitos outros anos… além de profissionais que queiram arregaçar as mangas, famílias que acreditem que é possível, governos que invistam e valorizem a educação,…”

  6. Waldo,
    Nada tenho a acrescentar ao que vc escreveu. Acho que colocou tudo muito bem e a realidade é essa mesma.
    Quanto a quase ter sido professor… Te digo que, apesar dois pesares, é muito bom ser professor, especialmente quando damos aulas para quem está ali com interesse – por isso, prefiro dar aula para adultos, em geral, mas também já tive ótimas experiências com crianças e adolescentes.
    E te digo mais uma coisa: quando conseguimos dar uma boa aula, onde os alunos realmente aproveitam, trocam, se entusiasmam, ficamos muito gratificados, aprendemos também e isso realmente vale a pena!
    Beijos,
    Regina.

  7. Que bom que meu texto foi útil pra vc, de alguma forma, Dante! Cuide bem da sua saúde!!!

    Quanto a fazer festa com os alunos, também fiz muito isso e ouvi de alguns “educadores”, pela escola, que eu era “mole” demais com eles e outras críticas e indiretas desse tipo. As pessoas precisam muito da ilusão do controle e quando a gente chega e subverte isso, espanta. Acham que dali só virá caos. Mas é do caos que nasce a vida e toda criação! Na Mitologia, por exemplo, isso é colocado de forma simbólica, metafórica e muito sábia. E, nesse sentido, viva o caos!

    Quanto a usarem minhas iniciativas para tentarem disciplinar os alunos – tipo: “só vão no passeio com a Regina se ficarem quietos e se comportarem na minha aula” -, aconteceu muito comigo também. O pensamento comportamental antigo, à base de condicionamentos, que ainda impera na escola, só sabe “educar” na base do prêmio ou castigo e temos que ir encontrando uma forma de manejar isso melhor, lidar com essa questão muito mais mostrando aos alunos que pra cada ato na vida há uma consequência, mas de forma coerente e não descontando a raiva que se sente de certos alunos impedindo-os de vivenciarem outras experiências pedagógicas, outros formatos de aula, etc.

    Os alunos adolescentes, em geral, me curtiam, me contavam mil coisas de suas vidas, me respeitavam e tinham intimidade comigo sim, pois não é necessário manter uma hierarquia rígida e distante para conquistar isso, como tantos ainda acham. Eu sempre preferi correr o risco e valeu a pena!

    Me irrita profundamente, também, esse discurso das matérias “mais” e “menos” importantes. Uma estupidez! E realmente a escola ainda funciona assim: Matemática e Português na frente, depois Ciências (Biologia), História e Geografia e, atrás de todos, as ARTES, a Educação Física, o Inglês, etc. Um total absurdo!!! Por essas e outras que acho a reformulação dos currículos urgentíssima!!! Aliás, há muitos e muitos anos já!

    Quanto a escolas, na prática (não no discurso), religiosas… Já escrevi no texto o que penso: o ensino é laico e essa mistura tem feito muito mais mal do que bem.

    E ser uma pedra no sapato dos que apenas seguem a onda… Também sempre fui e entendo vc pra caramba! Mas, sinceramente, acho ÓTIMO que existam pessoas como nós na Educação!

    E sobre as pedagogas que só falam da Avon… Lamento que vc só tenha trabalhado com essas, porque elas existem sim mas existem muitas outras super batalhadoras, criativas, inteligentes, engajadas, etc. São minoria, assim como acho que os realmente bons professores, engajados, criativos, livres, etc., também são, infelizmente…

    Grande abraço…
    Regina Milone.

  8. É… Luiz Eduardo, Declev, Dante… Burnout anda por aí assombrando a todos nós!
    Não é mole não!!!
    Lembro dos períodos em que vc estava mais assim, Declev… É sofrido.
    Vou escrever um artigo só sobre isso aqui, pois acho que pode ajudar um pouco a todos nós.
    Abraços,
    Regina.

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