Até gravidez na adolescência?? Tudo é culpa da escola?!

 

Até gravidez na adolescência?? Tudo é culpa da escola?!

Não, eu não estou paranoico. Para a sociedade, TUDO de ruim é culpa da escola.

O deputado do Rio de Janeiro Jean Wyllys acabou de escrever um artigo maravilhoso em resposta a um bosta da bosta da revista veja.

Mas, ele, assim como toda a sociedade, ao mesmo tempo ajuda a culpabilizar a escola – educação formal – por um problema que é social.

Veja suas afirmações, que retirei de seu twitter:

Jean Wyllys @jeanwyllys_real

Brasil conta com 320 mil casos de gravidez precoce/ANO e muitos legisladores e gestores se recusam a implementar Educação sexual nas escolas

1. Gente, não há dúvida de que as famílias têm papel importante na educação informal das crianças e jovens. Mas me refiro à EDUCAÇÃO FORMAL

2. Se meninas estão engravidando, há falhas na educação informal, mas sobretudo na formal. Se as famílias têm tabus, a escola não pode ter!

3. E uma educação formal para as sexualidades não precisa excluir a participação das famílias, muito pelo contrário! Todos sairão ganhando!

4. Não deixem que seus preconceitos e moralismos se coloquem contra um educação de qualidade que minimize os números da gravidez precoce!

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As meninas estão engravidando porque não têm perspectiva de vida, de futuro. Na maioria das vezes elas QUEREM ter filhos, é uma questão de status social, viram mães, casam, moram sozinhas, longe da família.

Vejam este artigo, que eu recortei do jornal e colei em uma folha e, sim, trabalhei com alunos em sala:

Não foi por falta de informação

Elas SABEM o que devem fazer mas não fazem. Sempre foi assim. Meninas engravidam desde os primórdios. Antes, escondiam, casavam rapidamente, hoje não.

Veja outro estudo: “A gravidez na adolescência, como atestam pesquisas sobre o tema, está relacionada à obtenção do status adult0 (…)“.

Não, não estou louco nem paranoico.

E, deputado, a educação sexual é, SIM, muitas vezes feita na escola, especialmente pelos professores de Ciências, como é o meu caso.

Eu falo com eles abertamente. Não há tabu. Falo abertamente com elas e elas engravidam. Já escrevi, inclusive, sobre isso. Leia meu relato de desespero:

Educação como projeto profissional: frustração, alegria, raiva, superação, insatisfação…

 

Uma professora lá da escola fez, inclusive, um vídeo com elas sobre o tema, no qual eu participei como entrevistado:

Vídeo sobre sexualidade produzido na escola.

As alunas que o fizeram? Algumas já têm filhos. Irônico, não?

Por outro lado, há diversos e diversos projetos que não são das escolas, mas que trabalham este tema nas escolas. É só fazer uma pequena pesquisa no deusgooglequetudosabe e milhares aparecem:

Projetos de Educação Sexual.

Mas eu falo de minha experiência e de outros professores e escolas que conheço. Essa experiência é significativa, na medida em que, mesmo assim, ELAS ENGRAVIDAM AOS MONTES!!!!!!!

Então, não há uma relação tão direta e linear como o deputado aponta, sobre a “falha” da escola e os índices de gravidez na adolescência.

Sabem por quê?

Porque a escola sozinha não tem este alcance, pois não tem como competir com a sexualidade na televisão, na música, no funk, nos filmes, nas novelas, na internet, nos programas imbecis de auditório que eles adoram, dentro de casa, no carnaval, nos desfiles de carnaval, nos bailes de carnaval, nas praias…

A sexualidade é propagandeada em todos os lugares, inclusive – e de forma ostensiva, nobre deputado, nas passeatas LGBT.

É só vermos televisão, folhearmos jornais e revistas que percebemos isso.

“Se meninas estão engravidando”, deputado, é porque esta sociedade está doente, incentiva e estimula a sexualidade precoce em todos os  lugares! Talvez o único lugar em que esta sexualidade NÃO SEJA estimulada, seja justamente na escola…

Ora, a sociedade COMO UM TODO tem que tomar as rédeas de suas responsabilidades e parar de achar que a “falha” está dentro da escola!

Cansa, nobre deputado, cansa muito a gente se matar todo dia na escola fazendo nosso trabalho, e a sociedade doente e cega de seus defeitos ficar apontando o dedo como se a escola assim não o fizesse.

Aliás, como se a escola não fizesse parte da sociedade e vice-versa.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Profesosr de Ciêncais que, SIM, trabalha questões de sexualidade na escola

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No Diário do Professor você encontra artigos e links sobre o dia-a-dia da Educação:

Planos de aula, Atividades, Práticas, Projetos, Livros, Cursos, Maquetes, Meio Ambiente… e muito mais!

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4 comentários em “Até gravidez na adolescência?? Tudo é culpa da escola?!”

  1. Declev,

    Comento aqui com a experiência de ter sido pai com 18 anos. Minha família era de classe média, estudei em colégios particulares e tive acesso a todo tipo de informações sobre como evitar uma gravidez. Nada disso impediu de me descuidar. Simplesmente achava que não ia acontecer comigo.
    Mas independente disso tudo, sem dúvidas que a escola deve debater esses temas. E não só o professor de Ciências. Muitas vezes fui procurado por meninos e meninas pedindo aconselhamentos em relação à sexualidade. Eram adolescentes que não tinham nenhuma abertura para falar do assunto com os pais. Mesmo sendo professor de História nunca me abstive de orientá-los. Afinal de contas, mesmo sendo contra o rótulo de educador, assumimos papéis que não somos formados para exercer, mas que o desejo de ajudar nos impõe. Daí a colocar a culpa da escola pela gravidez da aluna é desconhecer os múltiplos fatores, como você bem disse, que contribuem para que isso ocorra.

  2. Gente, calma.
    O que o deputado fez não foi colocar toda a culpa na escola! Acho que ficou claro, na fala dele, que a escola tem parte da responsabilidade e não toda. E, infelizmente, isso não dá pra negar, na minha opinião.
    Concordo com tudo o que o Declev colocou e com o comentário do Luiz, mas discordo desse ponto.
    Como pedagoga trabalhei muito a questão da sexualidade com os alunos. Mil vezes! Eles confiavam em mim, me contavam tudo e eu questionava, orientava, sem moralismos mas com informações. Adiantou pouco ou quase nada.
    O mesmo acontece com os professores de ciências que tentam passar o máximo possível de informações e, mesmo assim, pouco adianta.
    Porque o problema é maior. É social sim, com aspectos psicológicos, entre outros. Envolve sim a sexualização precoce, envolve o moralismo religioso que impede tantas famílias de sequer tocar no tema, envolve o imenso desejo dessas meninas de serem tratadas como adultas, serem respeitadas e pararem de apanhar ou ouvir gritaria dos pais, envolve o tesão natural da adolescência que explode com toda a força nessa idade, envolve a necessidade de viver o afeto com um filho (embora sem noção do trabalho diário que o filho dará, já que não será um bonequinho…), envolve o imenso machismo que ainda reina em nosso país e ensina aos meninos, desde cedo, que homem não usa camisinha porque transar assim é ruim e mulher é que tem que se cuidar e tomar conta “dessas coisas”… Enfim, envolve muita coisa!
    A escola poderia fazer um trabalho maior, onde todos os profissionais de educação participassem (e não apenas pedagogos e professores de ciências), com palestras, relatos de experiência de pessoas da própria comunidade, reflexões, debates, exposições, aulas-passeio, filmes, etc. E, mesmo assim, resultados dificilmente seriam vistos a curto prazo. Mas ajudaria. E considero essa questão parte importante do que é educar sim. É educação sexual e isso não se deve ter só em casa! Não é uma “ajudinha” que estaríamos dando aos professores e alunos e sim uma parte importante da função de EDUCAR da escola.
    Acho incrível que, após décadas de revolução sexual, tantos ainda sejam tão moralistas, desinformados, bloqueando o aprofundamento num assunto tão importante!
    Pra competir com a sexualização precoce estimulada pela mídia o tempo todo, só muita informação, muito debate, muito trabalho educativo, tanto em casa como na escola e nos postos de saúde, hospitais, que também deveriam participar dessa luta, assim como o Serviço Social.
    Mais uma vez vejo a necessidade de um trabalho conjunto. E que irá requerer muita paciência e persistência.
    É um sonho? Sim! Mas é dos sonhos que vem as ideias, as metas, enfim… Precisamos primeiro saber onde queremos e podemos chegar para, então, nos organizarmos nessa direção. Não é utopia não, mas realmente ainda está longe da realidade que vivemos…
    E precisamos muito trabalhar a questão do machismo e da baixa auto-estima desses meninos e meninas pois, senão, continuarão buscando a forma aparentemente mais fácil e comum entre eles de serem vistos como “adultos” (o que é claro que não se tornam automaticamente, só porque tiveram um filho!) por suas comunidades. E é muito triste ver isso se repetindo, repetindo, repetindo…
    E vem daí tantos outros problemas depois, como o abandono, o ressentimento constante, a violência, a negligência…
    Ô, país complicado e difícil de melhorar, esse nosso!!!
    Com os políticos que temos, que ELEGEMOS (a maioria elege, certo?… e de onde vem essa maioria?), como mudar?????
    Abraços…

  3. Só mais uma coisa: nós, que estamos aqui debatendo, nos importamos realmente com o assunto e tentamos fazer alguma coisa. Mas o que dizer dos tantos que só reclamam e não tentam ou já tentaram absolutamente nada???
    Declev, meu amigo, tenho certeza que vc tem dado aulas incríveis sobre o assunto, desenvolvido projetos super bacanas, atividades criativas, etc. Tenho certeza disso! Mas a questão precisa ser abraçada por um coletivo, pois uma pessoa sozinha pouco consegue e nós sabemos disso!
    A escola tem que estar a serviço da educação, do conhecimento e, por isso, não pode se omitir diante dos tabus familiares e religiosos. Se em casa vão ensinar coisas sem base aos filhos, não podemos impedir, mas podemos fazer a nossa parte, como escola, em grupo, para mostrar o outro lado da moeda.
    Beijos…

  4. Última coisa (rsrsrs…): quando o deputado fala em educação formal, não podemos ler isso só como “os professores”! Não foi isso que ele falou e são muitos os profissionais que organizam e participam da educação formal. Deveriam ser só profissionais de educação (não necessariamente professores), mas infelizmente sabemos que tantos que tentam “melhorar” a educação, especialmente a pública, e falo dos que tem cargos políticos para isso, não tem nada a ver com a área, esse sim um absurdo sem tamanho!!!
    Abração…

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