Lições de casa, alunos e professores…
Ok, ok, eu devo estar ficando paranoico. Ou talvez não, apenas um bom observador. Quem sabe?
Quando leio algo sobre educação, pode ser até mesmo uma simples frase, dependendo de onde vem eu penso: “lá vem besteira” ou “lá vem pancada nos professores”.
Exagero meu? Vejamos.
Esta foto eu peguei no Facebook, postada pelo site da editora abril educar para crescer:
À primeira vista parece uma singela frase sobre lições de casa, inofensiva. Mas, para mim, tem uma mensagem subliminar – mas ao mesmo tempo muito clara – desqualificando o trabalho dos professores.
Vejam o que diz, vou separar as frases:
“Alunos que RECEBEM e FAZEM lição de casa
Têm desempenho 23% maior
Do que os que NÃO RECEBEM”
Ora, não tem algo errado?
Se você vai comparar uma “categoria” de alunos com outra, você tem que comparar com o oposto desta categoria!
Qual seria o oposto da categoria “alunos que RECEBEM e FAZEM” as lições de casa?
Ora, seria “alunos que RECEBEM e NÃO FAZEM” as lições de casa!
Simples.
Mas o site oficial da editora abril decide comparar com “alunos que NÃO RECEBEM” lições de casa.
É uma diferença sutil, mas que faz TODA diferença no imaginário popular, como uma mensagem subliminar.
A frase poderia até ser
“Alunos que RECEBEM lição de casa têm desempenho 23% maior do que os que NÃO RECEBEM”.
Aí, sim, estariam comparando duas categorias opostas.
Mas, acontece que o caso não é esse, pois não basta receber a lição de casa, tem que fazê-la!
Então, eles tomaram esta decisão de “confundir” as coisas por quê?
Simples. Para expressar o que eles pretendiam, a frase correta seria:
“Alunos que RECEBEM e FAZEM lição de casa têm desempenho 23% maior do que os que RECEBEM e NÃO FAZEM”
Mas, neste caso, a “culpa” seria dos alunos, porque não fazem a lição que o professor envia.
Sem entrar no mérito das razões, das dificuldades, da falta de apoio da família, etc. – que sabemos ser verdade – o fato é que a “culpa”, nesta frase, é do aluno, pois não faz.
Mas quando eles colocam a frase deste jeito:
“Alunos que RECEBEM e FAZEM lição de casa têm desempenho 23% maior do que os que NÃO RECEBEM”
A “culpa” passa a ser do professor, porque não envia lição de casa.
Mesmo sabendo que a comparação não é real, dão um jeito de jogar a culpa nos docentes.
Percebem?
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor que já DESISTIU de enviar lições de casa, porque os alunos NÃO FAZEM… mas que ainda tenta…
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Declev,
não sei nem como eles chegam a estes números… mas é óbvio que o aluno que faz dever em casa, que é uma forma de estudar, terá uma tendência de melhorar seu rendimento.
Pela minha experiência, dever de casa só é feito se tiver algo em troca (leia-se, ganhar ponto ou perder ponto). Tentar convencê-los que devem ler o livro em casa apenas como forma de estudo é falar para as paredes, pois eles só estudam no dia anterior da prova. Infelizmente, teríamos que contar com o apoio da família nessas horas, pois quem cria o hábito dos estudos em casa são os pais. Quando passo dever e um aluno não faz, mesmo valendo ponto, eu sempre pergunto o motivo e recebo em troca o previsível “esqueci!”, quando não me surpreendo com a sinceridade de um “não queria fazer!” Mas lembra e quer passar o dia no facebook compartilhando futilidades.
Enfim, acabo passando mais deveres em sala mesmo, pois assim consigo orientá-los e ter certeza que irão fazer. No entanto, o currículo louco que temos que cumprir muitas vezes nos tira tempo para fazer esse tipo de atividade que é importantíssimo para a aprendizagem.
Abraços!
Também acho o dever de casa importante, mas não sempre. Em geral, lições feitas em sala de aula rendem mais. Além disso, numa visão construtivista, o dever de casa pode ser pedido mas não à toda aula, a não ser que sejam tipos variados de dever de casa, que envolvam observação, passeios, experiências e não só pesquisa (em grupo e individuais).
Acho que tem uma mensagem subliminar na frase citada sim, Declev. É aquela velha balela: quando dá certo é mérito do aluno e quando não dá é culpa do professor. Injusto e falso.
Na verdade pode dar certo ou errado por causa do professor ou do aluno, além da responsabilidade das famílias, do Estado, etc.
Eles não desistem desse papo pra boi dormir, né, Declev?!!!
Um abraço…
Pois é Regina,
Meu artigo, neste caso, menos importância dá ao mandar ou não mandar dever de casa do que ao fato deles, mais uma vez, desqualificarem o trabalho do professor.
Eu sei muito bem onde isso pode chegar.
Com esta frase e com a desqualificação do trabalho do professor, esses idiotas-espertos-que-têm-amigos-no-poder fazem um “projeto” com a justificativa de que “os professores não têm o hábito de enviar deveres de casa” e inventam um “método miraculoso” para “capacitar” professor para fazer “atividades de casa interessantes” ou mesmo um “método próprio” de dever de casa que o professor – que não sabe trabalhar – tenha somente que replicar como um robô.
Aí vendem o projeto para as prefeituras onde têm influência, amigos ou mesmo onde compram com um porcentagem quem tem a chave do cofre e recebem milhões para fazer isso.
Daqui a pouco a editora abril, a fundação roberto marinho, o instituto ayrton senna, a fundação getúlio vargas e outros parasitas estarão ganhando milhoes porque “professor não passa dever de casa”.
A coisa é séria!
Milhões eles já ganham, né, Declev?!
De qualquer forma, quando vejo uma boa ideia, não me prendo muito à de onde ela vem e a aproveito da melhor forma possível.
Só não dá é pra assinar embaixo de críticas veladas como essa da mensagem da revista que vc postou. Precisamos ler as entrelinhas sempre! Vc tem razão.
Abração…
Acho que mais importante do que tentar identificar de quem é a culpa é pensar em formas de melhorar o atual quadro. É claro que em uma situação tão complexa como o quadro da educação, todos tem culpa: governos, professores, escolas, alunos, etc.
Não adianta só o professor reclamar que o aluno não faz o dever, que a família não acompanha, que não tem tempo pra passar a tarefa, que ninguém da importância. Todas essas são questões importantes também, e é interessante o professor aborda-la de forma crítica. Mas mais importante, ao meu ver, é fazer a reflexão individual: aplico tarefas de casa com frequência? Elas são adequadas ao conteúdo que dei? Posso torna-las mais interessantes, ou criar algum mecanismo que estimule os alunos a fazer os deveres? E por aí vai. Dadas as mesmas (precárias) condições, alguns professores conseguem e outros não. Por que?
“Acho que mais importante do que tentar identificar de quem é a culpa é pensar em formas de melhorar o atual quadro. ” – Concordo, Vinícius.
Quanto a fazer reflexões individuais, elas são sempre importantes para o profissional melhorar, claro.
Mas, respondendo um pouco a sua questão final, se alguns professores conseguem e outros não, isso não é mérito ou culpa só do professor, mas também das turmas, da escola, do apoio dos governos, etc. É sempre um coletivo. A responsabilidade pelo sucesso ou fracasso é de todos.
Um abraço…
Oi Vinícius,
Claro que concordo que o mais importante do que identificar o culpado é pensar em melhorar.
Mas, insisto, este meu artigo vem em análise da frase que se utilizou – e não, isso não é irrelevante.
Não é irrelevante porque
1 – se “alunos que recebem e FAZEM” os deveres de casa têm rendimentos melhores do que “os que NÃO FAZEM”, podemos inferir que o problema está em NÃO FAZER, e aí – como eu disse, “culpa” dos alunos que recebem mas não fazem – temos que ver, sim, melhores maneiras de fazê-los fazer, seja pelo lado do docente seja pelo lado da família – deveres melhores, conversas com os pais, incentivos, etc.
Mas…
2 – se “alunos que recebem e FAZEM” os deveres de casa têm rendimentos melhores do que “os que NÃO RECEBEM” , podemos inferir que o problema está em NÃO RECEBER, e aí – como eu disse, “culpa” dos professores que não passam dever de casa – bastaria os professores passarem a enviar os deveres de casa!
Entendem a diferença?
Quando se joga todo o problema da educação nos professores, como a mídia oficial tenta fazer, pensa-se, sempre, em soluções equivocadas, pois não se ataca o problema de fato.
NÃO estou dizendo que não há problemas com os professores, mas temos que saber QUE problemas são esses, REAIS, para se combater os problemas da maneira certa.
Então, falando de novo, dependendo do ângulo que vemos a coisa, pensamos em soluções diferenciadas.
Se aquela solução não for adequada, porque o problema não é aquele, de nada adiantará.