Diário – 29/06/09

 

Cheguei hoje cedo na escola do Rio. Deu tempo de almoçar.

No almoço, entro no meio da conversa entre duas professoras, duas das boas professoras da escola, por sinal.

Falavam da problemática de uma turma do 6o ano – ou 5a série – que foi montada para ser de “alfabetização”.

Sim, isso mesmo que vocês ouviram… aproveitaram uma turma que tinha extrema dificuldade, juntaram mais alguns alunos de outras turmas que também o tinham, e fizeram uma turma para desenvolver um trabalho especial, pois eles são analfabetos… no 6o ano.

Esses alunos não sabem ler uma sílaba, sem exagero.

Eles os juntaram para que pudessem trabalhar, todos os professores, a alfabetização desses alunos.

 

Estavam elas dizendo que há professores, no entanto, que também têm dificuldades com isso… não compreendem que eles não sabem ler. Colocam um texto enorme no quadro, os fazem copiar e acham que eles entenderam.

Não, não entenderam. Simplesmente copiaram.

Os outros professores trabalham palavras, frases simples, muita leitura (quando conseguem), etc.

Dizia uma delas que escreveu, por exemplo, “espaço” no quadro (professora de Geografia)

O aluno foi com o caderno à sua mesa e ela pediu pra ele ler o que escreveu.

– “ba-bi…” – respondeu ele.


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Sem comentários.

Declev Reynier Dib-Ferreira

Professor (ainda)

9 comentários em “Diário – 29/06/09”

  1. Giovanna Carvalho

    Olá Declev. Sou Giovanna Carvalho da Edelman, agência de comunicação da Symantec, tudo bem?
    Passei por aqui e, como você é professor, gostaria de indicar alguns vídeos educativos a respeito de segurança online.
    Como é um tema bastante atual, mas ao mesmo tempo um pouco difícil de abordar, esses vídeos que falam das principais ameaças na Internet fazem muito sucesso entre os docentes.
    Se você tiver interesse em recebê-los, por favor me envie um e-mail: giovanna.carvalho@edelman.com
    Um abraço

  2. Olá, Declev.
    Há algum tempo acompanho o seu blog e sempre repasso os artigos que leio. Gostaria de parabenizá-lo pela escrita. Mas, voltando a esse artigo, onde será que está o problema desses alunos não serem alfabetizados? Família, sistema? escola? Bem, será que realmente é válido criar uma sala só com alunos analfabetos?
    Um abraço

  3. Amigo Declev,

    Estou passando para mais uma vez te elogiar pelos seus textos…
    E gostaria também de te convidar para visitar o meu blog, que apesar de recém-nascido já tem um conteúdo legal. Andei escrevendo umas coisas novas sobre educação.
    Você e seus leitores serão muito bem vindos.
    Um forte abraço pra você.

    Luiz Eduardo Farias

  4. Luciana Barbin

    Nossa, sabe… acho que sei de onde vem esse problema Declev.
    Como disse em outro comentário sobre (Como estimular um professor) me formei no magistério em 1996 . Lembro como se fosse hoje, Colégio Estadual D. Pedro II em Petrópolis. Depois de 1 e meio estudando técnicas de ensino e aprendizado pra crianças, montando planos de aul e analisando conteúdo a ser dado, veio o construtivismo. Isso mesmo no meio do meu curso…
    Nós perguntávamos a professora de didática “o que é construtivismo?” “Como aplicamos” “O que muda e qual a diferença?”
    Mas era novo demais e as respostas eram vazias. Ela dizia que viria um professor do estado pra nos explicar (1 professor pra 3 turmas de magistério, em 3 turnos e mais as turmas de 4o ano da noite, cada qual com 60 alunos). Ela substituiria nosso professor de matemática, que ensinava álgebra (matéria que minhas colegas não julgavam importante, pois não fariam vestibular e também não precisariam ensinar nada tão avançado pras crianças), eu quase chorei.
    Ela explicou que o construtivismo trabalharia o ensino aprendizado de forma lúdica, que nós deixaríamos que os alunos dessem o ritmo do aprendizado, ou seja, não precisaríamos nos importar se o livro didático seria usado até o fim e todo o progresso dependeria da capacidade da turma.
    Eu estagiava numa turma de 4a série, a professora antecipou as férias e deixou 3 estagiárias em seu lugar, pra aplicar o construtivismo.
    Abri o livro dos alunos pra ver onde ela havia parado, não havia chegado ao meio, eles mal sabiam a tabuada e verbos. Metade da turma não sabia ler, isso devido a progressão continuada e eu e minhas colegas com a meta de deixar pra lá. Nesse período fiquei responsável pela turma com minhas colegas de auxiliares, pois me disseram que o conteúdo era muito avançado pra elas (eu com 17, uma com 35 e outra de28). De acordo com as novidades sem explicação, o livro não terminado de um ano pra outro não teria continuidade no ano seguinte e seria iniciado o novo livro sem as bases do anterior, mas e a turma da 4a série? Pegaria no ano seguinte uns 10 professores, como ficariam todos (alunos/professores)?
    Uma colega respondeu: “Não será mais nosso problema”
    Tentamos alfabetizar os alunos que pudemos, conseguimos algum resultado. Aplicamos o conteúdo dos livros até onde deu.
    Hoje o construtivismo é mais maduro, porque um dia tivemos cobaias públicas pra testar novas receitas de bolo.
    Hoje é mais fácil trazermos conhecimento de fora dos livros e fazermos comparações, usarmos a interdiciplinaridade. Tudo isso é lindo hoje, mas senti na pele o como isso foi jogado no meu colo aos 17 anos.
    Se sou a favor do meu curso não ser válido sem curso superior? SIM.
    Em parte (mesmo que não por mim) as turmas de magistério que se recusavam a ter disciplinas comuns com formação geral (física, química, matemática) e queriam apenas as específicas (ditática, psicologia, sociologia, matemática de 1a a 4a série). Estudei com pessoas que no segundo grau não sabiam frações, números decimais, (riam) nem dividir por mais de um algarismo. Nunca me senti preparada pra dar aulas, não quis mais usar cobaias.
    Ao contrário da minha turma tenho o conhecimento pra efetuar aulas, assim como outras poucas, não tinha e nem tenho dificuldades com as disciplinas básicas. Sempre adorei as turmas mais avançadas de 4a série, enquanto as colegas diziam que quando estivessem lecionando não dariam aulas pra turmas acima da segunda série por causa do conteúdo difícil.
    Se traçarmos um mapa veremos que os atuais alunos passaram pelas mãos dessas inocentes professorinhas (falo ao menos de 80% das que estudaram comigo e continuaram em sala de aula). Claro, eu tive formação de primeiro grau em escola particular e isso conta, mas não é tudo. Hoje penso em fazer pedagogia mesmo aos 32 anos e confesso tenho medo, mas me sinto em dívida comigo mesma.
    Abraços professor

    1. Oi Luciana,

      Nunca é tarde pra recomeçar.

      De qualquer forma, creio que fazemos o inverso do que deveria ser feito: as professoras (ou professores) das séries iniciais deveriam ter uma formação mais ainda do que a universidade (especialização para o cargo, por exemplo).

      Além disso, deveriam ser as mais bem pagas – ou tanto quanto por exemplo, os das universidades.

      Obrigado pelos seus comentários, volte sempre.

      Abraços,

  5. Luciana Barbin

    Obrigada pelo convite Declev, de agora em diante eu meu marido Rodrigo Cacilhas (que publicou um artigo seu recentemente com sua permissão) estaremos por aqui.
    Ele trabalha na área de TI, é programador em uma firma aí no Rio, e gosta de projetos voltados pra comunidades carentes e escolas públicas (aliás esse foi praticamente o começo da carreira dele). Se precisar de qualquer coisa, pode nos procurar.
    Abraços

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