Entrei, sentei na minha mesa e fiquei calado.
Fiquei só ouvindo.
Fiquei 25 minutos ouvindo.
Quatro alunos e uma aluna, sentados perto uns dos outros.
Quase 30 minutos de implicâncias e xingamentos e ameaças e apelidações.
“Cala boca sapo!”
“Vou te dizer uma coisa: vc fede!”
“Cheia de béri-béri!”
“Você mora na favela”
“Moro no condomínio!”
“Ah ah ah, condomínio, aquilo é favela!”
“Olha a calça dela, já anda sozinha!”
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“Amanhã venho com outra calça”
“Ela vai achar outra na lixeira”
“Leite azedo, leito podre” (para um branco)
“Assolan!!!” (para uma negra)
“Jonatas é igual àquele chocolate feioso”
“Ele é branco, não é preto”
“Cala sua boca, você tá com a gripe suína e tá escondendo de todo mundo aí!”
25 minutos.
Me levantei, peguei o livro, copiei umas frases no quadro.
Entre pegar o caderno e olhar o quadro para copiar, eles deram uma pausa.
Aí entrei e falei, argumentei, mostrei, professorei.
“Vocês não perceberam… blá, blá, blá… 25 minutos se xingando… blá, blá, blá… nem uma conversa sobre nada… blá, blá, blá… só ficaram falando mal uns dos outros… blá, blá, blá… não falam de futebol, nem de novela, nem de namoro, nem de nada, só se sacaneiam… blá, blá, blá…”
Me olharam por alguns segundos.
“Ele que começou!”
“Eu nada, sua preta fedida!”
“Foi sim seu queijo branco estragado!”
“Tua mãe que é!”
. . .
Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor. Professor?