Criou-se há pouco tempo uma celeuma – que todavia persiste – em torno de um livro que conteria erros de Português.
Entendi eu, inicialmente, que ele de fato continha erros de Português e que o MEC o tinha aprovado para distribuição aos alunos, dentro do Progrma Nacional do Livro Didático (PNLD). As notícias que eu lera inicialmente me induziram a pensar assim.
A grande mídia e qualquer pessoa escreve como quer, certo? Mas cabe a nós “que sabemos ler”, ler com cuidado, decifrando suas entrelinhas e suas intenções. Nada é à toa, nada é por nada.
Veja, por exemplo, o link anterior dO Globo e esta frase abaixo, de outra fonte:
Veja esta outra frase que, segundo a fonte, vem da Agência Senado:
Viram como eles nos induzem a pensar tal ou tal coisa, segundo o que querem que nós pensemos?
Segundo, então, minhas informações iniciais, o MEC se negaria a retirá-lo de circulação, mesmo com os erros.
Depois, fui entendendo que os livros não continham erros de Português!
Como não, Declev? Tá todo mundo dizendo!
Ora, ele não contém erros de Português, mas, sim, tem uma parte onde ele explica para os alunos o que seria a norma culta e o que é o falado, o popular, que pode ser diferente.
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Essa parte se chama, inclusive, “Escrever é diferente de falar”.
Oras, e não é?!?
Veja aqui a parte do livro acusada de ter erros.
Não sei, realmente, porque tanta discussão e tanta preocupação.
O livro está certíssimo. Ele ensina que existe o certo, seguindo-se uma norma, e afirma que as pessoas têm o direito de falar a linguagem “popular”.
Oras, e não têm?!?
Pois que TODOS falamos errado. Sim, ao falar TODOS NÓS FALAMOS ERRADO!
E nunca ouvi ninguém jamais criticando este ou aquele por falar assim.
O fato disso estar em um livro é sinal que o livro ensina o que de fato existe, o que está no dia-a-dia do aluno. E não é isso que falam que nós, professores, temos que fazer???
É só ver novela, conversar com alguém, ver um vídeo no youtube, ouvir uma conversa alheia que você poderá achar mutias palavras ditas de forma diferente da norma culta escrita e, sim, também com erros de Português.
“Uma coisa é a forma de falar juntando palavras, etc., outra são erros”, dirão alguns sábios.
Pois bem. Formas de falar [“errado”] juntando-se palavras ou mesmo modificando-as:
- Mermo = Mesmo
- Podicrê = Podes crer
- Nuncusei = Nunca usei
- Poriço = Por isso
- Eu tava lá = Eu estava lá
- Num vô = Não vou
- Cê = Você
- Onqueutô? = Onde que eu estou?
- Prondqueuvô? = Para onde que eu vou?
- Cê taí? = Você está aí?
Poderiamos continuar até fazer um dicionário de termos falados diferentes da norma culta do sarney, este senhor tão diferente de todos nós, segundo Lula, e tããããão preocupado com o nosso país, coitado.
Mas agora vamos, então, aos erros falados, tão duramente criticados pelos sábios e que não se pode mostrar aos alunos que eles existem:
- Em primeiro lugar, vejam quaisquer dos vídeos do Adoniran Barbosa [Ah, sim, isso é “licença poética”…]
- Então, vejam este vídeo. Vejam inteiro, se quiserem, mas eu gostaria que vocês vejam EXATAMENTE nos tempos 5:45 e 6:40 :
http://www.youtube.com/watch?v=p3Dp8uXvi8w
Viram?
Na melhor escola, segundo o jornal nacional da rede globo defensora dos bons constumes das leis da família e da propriedade, temos:
- No tempo 5:45 – a diretora fala “o desafio é ir em busca de mais qualificação e mais tempo pras crianças estudar”;
- No tempo 6:40 – a professora pergunta pro aluninho “o que que tu vem fazer na escola?”.
O QUE QUE TU VEM FAZER NA ESCOLA??????
Isso é um erro GRAVE de concordância, em pleno jornal nacional, com o economista filho de banqueiro que agora é “especialista” em educação mostrando porque aquela escola é uma das melhores!!!
Então, ao invés de uma manchete assim: “MEC distribui livro que aceita erros de português“, poderíamos ler uma assim: “Para Jornal Nacional a melhor escola é aquela em que professoras falam com erros de português”
eu venho
tu vens
ele/ela vem
nós vimos
vós vindes
eles/elas vêm
Então, não é “certo” falar tu vem, tu quer, tu mostra, tu aprende, tu mente.
Mas se fala.
E nunca se falou nada por causa disso.
E, agora, porque um livro destinado à Educação de Jovens e Adultos (EJA) vem demonstrando, vem ensinando que existem essas diferenças, que as pessoas falam assim e são entendidas, mas que existe uma norma culta, “certa” de se escrever ou de falar, etc., as pessoas se mostram tão indignadas?
Apenas para frisar: SEMPRE ensino aos meus alunos como falar certo, como escrever certo, como se expressar etc.
Eles têm que saber distinguir um do outro, a linguagem coloquial da culta, a falada da escrita.
Sei que, por exemplo, numa entrevista de emprego, num concurso, na busca de uma colocação no mercado de trabalho, se expressar corretamente pode ser fundamental.
Mas o ataque desmedido ao livro, considerando seu contexto, é irracional, tu não acha? [com sotaque do sul]
Sem maiores comentários.
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor
P.s.: Por fim, reproduzo aqui a Carta Aberta de uma das responsáveis pela coleção, a Claudia Lemos Vóvio, da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da UNIFESP, que recebi por email:
NOTA PÚBLICA
Livro para adultos não ensina erros
Uma frase retirada da obra Por uma vida melhor, cuja responsabilidade pedagógica é da Ação Educativa, vem gerando enorme repercussão na mídia. A obra é destinada à Educação de Jovens e Adultos, modalidade que, pela primeira vez neste ano, teve a oportunidade de receber livros do Programa Nacional do Livro Didático. Por meio dele, o Ministério da Educação promove a avaliação de dezenas de obras apresentadas por editoras, submete-as à avaliação de especialistas e depois oferece as aprovadas para que secretarias de educação e professores façam suas escolhas.
O trecho que gerou tantas polêmicas faz parte do capítulo “Escrever é diferente de falar”. No tópico denominado “concordância entre palavras”, os autores discutem a existência de variedades do português falado que admitem que substantivo e adjetivo não sejam flexionados para concordar com um artigo no plural. Na mesma página, os autores completam a explanação: “na norma culta, o verbo concorda, ao mesmo tempo, em número (singular – plural) e em pessoa (1ª –2ª – 3ª) com o ser envolvido na ação que ele indica”. Afirmam também: “a norma culta existe tanto na linguagem escrita como na oral, ou seja, quando escrevemos um bilhete a um amigo, podemos ser informais, porém, quando escrevemos um requerimento, por exemplo, devemos ser formais, utilizando a norma culta”.
Pode-se constatar, portanto, que os autores não estão se furtando a ensinar a norma culta, apenas indicam que existem outras variedades diferentes dessa. A abordagem é adequada, pois diversos especialistas em ensino de língua, assim como as orientações oficiais para a área, afirmam que tomar consciência da variante linguística que se usa e entender como a sociedade valoriza desigualmente as diferentes variantes pode ajudar na apropriação da norma culta. Uma escola democrática deve ensinar as regras gramaticais a todos os alunos sem menosprezar a cultura em que estão inseridos e sem destituir a língua que falam de sua gramática, ainda que esta não esteja codificada por escrito nem seja socialmente prestigiada. Defendemos a abordagem da obra por considerar que cabe à escola ensinar regras, mas sua função mais nobre é disseminar conhecimentos científicos e senso crítico, para que as pessoas possam saber por que e quando usá-las.
O debate público é fundamental para promover a qualidade e equidade na educação. É preciso, entretanto, tomar cuidado com a divulgação de matérias com intuitos políticos pouco educativos e afirmações desrespeitosas em relação aos educadores. A Ação Educativa está disposta a promover um debate qualificado que possa efetivamente resultar em democratização da educação e da cultura. Vale lembrar que polêmicas como essa ocupam a imprensa desde que o Modernismo brasileiro em 1922 incorporou a linguagem popular à literatura. Felizmente, desde então, o país mudou bastante. Muitas pessoas tem consciência de que não se deve discriminar ninguém pela forma como fala ou pelo lugar de onde veio. Tais mudanças são possíveis, sem dúvida, porque cada vez mais brasileiros podem ir à escola tanto para aprender regras como parar desenvolver o senso crítico.
Esclarecimentos sobre o livro “Por uma vida melhor”, para Educação de Jovens e Adultos
Uma frase retirada de seu contexto na obra Por uma vida melhor, cuja responsabilidade pedagógica é da Ação Educativa, vem gerando intensa repercussão na mídia. Diante da enorme quantidade de informações incorretas ou imprecisas que foram divulgadas, a Ação Educativa se coloca à disposição dos órgãos de imprensa para promover um debate mais qualificado, e esclarece:
1. “Escrever é diferente de falar”. Como o próprio nome do capítulo indica, os autores se propõem, em um trecho específico do livro, a apresentar ao estudante da modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) as diferenças entre a norma culta e as variantes que ele aprendeu até chegar à escola, ou seja, variantes populares do idioma.
2. Os autores não se furtam, com isso, a ensinar a norma culta. Pelo contrário, a linguagem formal é ensinada em todo o livro, inclusive no trecho em questão. No capítulo mencionado, os autores apresentam trechos inadequados à norma culta para que o estudante os reescreva e os adeque ao padrão formal, de posse das regras aprendidas. Por isso, é leviana a afirmação de que o livro “despreza” a norma culta. Ainda mais incorreta é a afirmação de que o livro “contém erros gramaticais”.
3. Para que possa aprender a utilizar a norma culta nas mais diversas situações, o estudante precisa ter consciência da maneira como fala. A partir de então, poderá escolher a melhor forma de se expressar. Saberá, assim, que no diálogo com uma autoridade ou em um concurso público, por exemplo, deve usar a variante culta da língua. Mas não quer dizer que deva abandoná-la ao falar com os amigos, ou outras situações informais.
4. É importante frisar que o livro é destinado à EJA – Educação de Jovens e Adultos. Ao falar sobre o tema, muitos veículos omitiram este “detalhe” e a mídia televisiva chegou a ilustrar VTs com salas de crianças. Nessa modalidade, é necessário levar em consideração a bagagem cultural do adulto, construída por suas vivências e biografias educativas.
5. O livro “Por uma vida melhor” faz parte do Programa Nacional do Livro Didático. Por meio dele, o MEC promove a avaliação de dezenas de obras apresentadas por editoras, submete-as à avaliação de especialistas e depois oferece as aprovadas para que secretarias de educação e professores façam suas escolhas. O livro produzido pela Ação Educativa foi submetido a todas essas regras e escolhido, pois se adequa aos parâmetros curriculares do Ministério e aos mais avançados parâmetros da educação linguística.
6. A Ação Educativa tem larga experiência no tema, e a coleção Viver, Aprender é um dos destaques da área. Seus livros já foram utilizados como apoio à escolarização de milhões de jovens e adultos, antes de ser adotado pelo MEC, em vários estados.
Nenhuma linha a acrescentar, concordamos, o que é raro. Talvez eu andasse um pouco mais em direção a reação dos linguistas que ficaram indignados, pois a discussão certo/errado é coisa superada há séculos…
Mais um pouquinho de culto = popular
* Propugnamos sempre para obnubilarmos preconceitos de toda sorte, mas no momento em prol de se caçar culpados para os problemas da educação, condenam livros por textos, que lidos fora do contexto, não livraram nem Monteiro Lobato. = lutamos pra cacete pra acabar com essa pôrra de preconceito do caralho contra os que vem de outras regiões ou qualquer um que seja diferente do costumeiro, aí agora pra foder os outros apontar os “errado” na educação, eles pegam textos dos livro, que lidos sem prestar atenção na pôrra toda, caralho, aí não vai sobrar merda nenhuma, cara, queriam foder com o cara do sítio do pica pau amarelo! Ou ainda na internet poderíamos dizer: – nois lutamo p/ evitar todo tipo de preconceito, mas c/ intencao dize os culpados p/ educacao, elis pegao os textos dos books, sem ve o contexto, nem ML ficou salvo. 😛 .
Bom tanto trabalho pra fazer pra melhorarmos tudo, mas com pressa sem cuidados, só faramos merda. (Dito assim, pq apesar de saber e usar aforma culta, é assim q eu falo e escrevo normalmente no meu dia-a-dia e foda-se) bjos pro cês.