Fazê-los pensar: tarefa inglória – Reflexões sobre uma aula e outras aulas
Entro em sala e tenho os alunos sentados [muitos em pé], um quadro-branco à frente e um livro em minhas mãos.
Só.
Eles não trazem, normalmente, os livros. Se trazem, não são todos. Neste caso, nenhum.
Vejo-me em sala entre o quadro e os alunos, com um livro na mão e o total desinteresse dos discentes em saber qualquer coisa daquele livro, de fazer qualquer coisa que se refira a minha disciplina, qualquer atividade que venha propor, qualquer exercício, qualquer atividade que tenha que os fazer pensar.
Pensar?
Fazê-los refletir sobre determinado assunto – os batimentos cardíacos e a respiração, por exemplo, como estou tratando neste momento – é tarefa inglória.
Eu tento, faço perguntas, peço para medirem os batimentos, medirem a respiração, faço uma tabela, um gráfico, faço perguntas… eles conversam.
Conversam sobre os amigos, os namorados, a comida, sobre uns e outros, sobre o futebol… Ficam o tempo todo se xingando e sacaneando mutuamente.
O tempo vai passando e a aula não rende, porque não fazem o proposto, não escrevem sobre o exercício, não pensam sobre o ocorrido, não discutem sobre a prática, não pensam sobre as perguntas.
Com exceção de dois ou três, que tentam responder e fazer o proposto, o resto conversa.
Invariavelmente, pego o livro e faço um resumo de uma parte do texto no quadro, para que copiem.
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Invariavelmente, eles sentam e começam a copiar, muitas vezes em silêncio, outras conversando.
Acabam as aulas, e tenho a certeza de que dois ou três aprenderam alguma coisa, muito menos do que deveria ou do que eu queria.
Os outros copiaram algo sem o menor sentido, outros ainda nem isso fazem.
A culpa deve ser minha.
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
Sem ter pra quem dar aulas [aula de verdade]
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Eu já tinha mencionado isso no comentário a seu post anterior. E – certamente – não há de ser com um número maior de dias de aula que isso será resolvido.
Por outro lado, é importante notar que, nem que tivéssemos uma estrutura de ensino comprável a um Japão ou uma Coreia do Sul, esse problema iria desaparecer.
O que falta a esses jovens é motivação para a vida. Eles são, desde a mais tenra infância, treinados para consumir coisas de baixa qualidade, sob o demagógico rótulo de “popular”.
Afinal, a sociedade sempre vai precisar de preenchedores de bilhetes de ônibus nas rodoviárias, vendedores ambulantes e “flanelinhas”… e para isso não é necessário saber de respiração e batimentos cardíacos.
O que mais me aflige, João, é que tenho a certeza absoluta – e falo isso para eles, querendo acordá-los – que estou dando aulas, tirando as exceções que existem, aos futuros “limpadores de esgoto de casa de madame”.
Infelizmente, talvez eles percebam tarde demais…
Com o risco de parecer apocalíptico ou catastrófico: acho que,no futuro,eles JAMAIS perceberão que se tornaram limpadores de esgoto de casa de madame.
Se esses alunos (nossos ),já que não é só vc que tem esse tipo de aluno vão desempenhar um trabalho hoje muito desvalorizado no futuro não me parece ser o maior problema. A questão que me deixa tenso é a postura que eles vão ter na relação com outros humanos.
Luiz Costa
Oi Luiz,
Isso já podemos ver ocorrendo hoje em dia, com a relação que temos na sociedade…
Abraços,