Preconceito no Brasil? Que isso? Não existe!!
Cotas pra quê?!? Não há preconceito no Brasil… não é verdade?
É tanta idiotice pensar desse jeito que não deveria ser necessário a gente ter que explicar o óbvio. Mas as pessoas ainda insistem em querer ver somente o que querem ver, e não a realidade.
E a realidade não é diversa, ao menos neste caso. Ela é real
Preconceito no Brasil? Não há.
Fui a uma clínica oftalmológica esses dias.
Cheguei ao balcão de atendimento, estavam lá duas mocinhas simpáticas, brancas, cabelos aloirados – seja natural, seja por artifícios. Acho que por artifícios, mas não importa.
As doutoras passaram por mim, todas novas, brancas e loiras. Inclusive a que me atendeu, muito simpática.
A mocinha da limpeza também passou por mim, com seu uniforme, sua vassoura e carrinho de limpeza.
Negra.
Venho há muitos anos reparando isso. Convido você, leitor ou leitora classe média, a fazer o mesmo.
Chama-se “Teste do Pescoço”. Vire o pescoço para ambos os lados e procure o/a negro/a.
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Meu círculo de amizade é 99% de brancos. Não é porque eu tenha algum problema com pessoas negras, diga-se de passagem. Mas é assim.
Nos lugares que frequento – bares, restaurantes, cinemas, aeroportos, clínicas – somos todos brancos. Sempre que estou num desses lugares comento comigo mesmo, ou às vezes com minha esposa: “somos todos brancos”. Olhamos em volta e constatamos.
Quando há negros, estão na função de limpeza. No máximo, atrás de um balcão, mas isso é mais raro.
Na escola que dou aulas, porém, em uma área das mais pobres de Niterói, são 80% negros. Os professores? Brancos, com uma ou duas exceções em 13 anos de magistério. As da limpeza? Negras.
[Obs.: post escrito originalmente em 9 de novembro de 2012 – mas ainda atual]
Nós não paramos pra pensar nessas coisas e achamos que porque o Brasil não tem uma separação tão radical como em outros países – que podem ter, por exemplo, bairros “de negros” – aqui não há racismo.
Pior, acham que as oportunidades são iguais para todos e que basta ter “força de vontade” e qualquer um conseguirá.
- Leia também: Cotas em Universidades Públicas
Mentira. Não é uma lógica absoluta nem uma relação tão direta. Há inúmeros fatores dentro deste contexto que são absolutamente diferentes de quando se trata de um branco ou de um PRETO.
Vê? Tenho certeza de que a palavra “preto” lhe causou, agora, um certo desconforto.
Uma amiga, branca, um dia me contou uma história verídica. Ela foi a uma loja em busca de um emprego de vendedora. O dono da loja falou pra ela:
“Que bom que você veio, porque as duas candidatas anteriores eram negras e eu não vou contratá-las”.
“Mas você é assim, tão racista??” – perguntou minha amiga, já indignada.
“Não, não sou, nem um pouco. Tá vendo aquela negra ali? – apontou para uma moça do outro lado da loja – É a minha esposa. Mas se eu contrato uma negra como vendedora eu não vendo mais nada. Nem entram na loja. Já tive esta experiência.”
Mas isso tudo está tão entranhado em nós que nem percebemos. Crescemos tão submersos ao demérito conta-gotas da população negra, que isso entra em nossas cabeças como uma propaganda subliminar.
Pare pra pensar.
Preconceito no Brasil – TV
Dos quatro Trapalhões – programa que embalou o riso de gerações, inclusive a minha – o bêbado, o alcoólatra, o vagabundo, que só pensava em “mé”, era o negro.
A única personagem negra do programa Zorra Total, da rede globo de televisão – não assistam, porque não faz bem -, é feita por um homem caracterizado estereotipicamente – com nariz extremamente alargado, sem dentes, um figurino patético – como uma negra pobre, que não sabe falar direito, pedinte em um bonde repleto de brancas, loiras, de shortinhos minúsculos.
Há cerca de 20 anos escrevi uma poesia, dentro de um shopping em Manaus, depois de, mais uma vez, olhar em volta:
NEGRO BÃO
Negro
Eu quero negro
Negritude
Negro “bão”
Não agüento mais ver tanto
Branco que nem sabão
Não quero negro faxineiro
Nem só negro lixeiro
Mas também quero ver branco
Servindo lavando passando
E finalmente ver os negros
Pelos shoppings passeando
Preconceito e o Teste do Pescoço
Convido-os, mais uma vez, a olhar em volta.
Olhe em volta quando for a um restaurante, quando for a um cinema, a um shopping, a um médico, dentista. Ande pelos bairros mais nobres de sua cidade. Perceba na televisão, nos outdoors.
Se há negros em alguma posição de destaque, muitas vezes é por força de políticas afirmativas.
É possível “chegar” porque o Joaquim Barbosa chegou? Porque o Pelé chegou? Porque o Obama chegou?
Sim, claro.
Mas também é possível chegar à lua, porque alguém chegou. É possível ganhar na loteira, porque alguém ganhou. É possível ganhar o Nobel, porque alguém ganhou. É possível chegar ao topo do Everest, porque alguém chegou.
- Laia também: Carta de um colega de profissão
Ora, não estamos falando de “possível” nem de “capacidade”. É claro que é possível, é claro que todos têm capacidades.
Mas estamos falando de igualdade, de fazer uma sociedade mais justa!
E para isso, caros amigos, não “basta” melhorar a escola pública. Não “basta” oferecer oportunidades iguais. Isso é discurso de quem não quer ver. Convido-o: olhe em volta!
A sociedade é desigual e nós pensamos desigualmente.
Não há nem haverá oportunidades iguais nem que as escolas públicas passem a ser iguais às do Japão, pois que as condições de moradia não são iguais, os bairros não são iguais, a violência em que estamos imersos não é igual, as famílias não são iguais, o tratamento do poder público não é igual, a saúde não é igual, a infância não é igual, os estímulos desde que nascemos não são iguais, a sociedade não nos vê igual, os meios de comunicação não nos tratam igual, a polícia não trata igual, o comércio não trata igual.
Nada é igual, então somente a escola não fará mágica, mesmo se for igual.
E se nada é igual na sociedade entre brancos e negros, os resultados não podem também ser iguais.
É necessário, sim, políticas afirmativas, mesmo que seja em forma de cotas, como vem ocorrendo, para que, quem sabe daqui a mais 20 anos, minha poesia saia do papel e estas políticas não sejam mais necessárias.
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
Branco. Somos todos brancos.
Eu confesso que não gosto do critério “racial”, porque ele próprio é discriminatório. Se o critério fosse financeiro, uma cota para “pobres” provavelmente teria o mesmo efeito, já que – mercê da própria estratificação racista – a enorme maioria de pobres é de negros (já há algumas instituições de ensino destinando cotas para “alunos de escolas públicas”, coisa que eu acho ainda melhor).
Dito isto, é claro que eu concordo que algo tem que ser feito – e para anteontem! – para acabar de uma vez com a injustiça social. E o primeiro lugar onde isso tem que ser feito é na educação (nem que seja com o pobre recurso das cotas para as universidades, já que nem uma escola fundamental decente conseguimos providenciar).
Ou seja: não é solução; é um mero paliativo (e nem por isso menos adequado).
Olha, Declev, por coincidência hoje mesmo eu promovi um debate na minha escola sobre o racismo e a política de cotas. Acho que seu texto foi perfeito e demonstrou os argumentos mais indiscutíveis que comprovam a existência do racismo no Brasil.
Os historiadores costumam falar que o último aspecto que muda numa sociedade é a mentalidade. A forma como os ex-escravos foram “jogados” à própria sorte e todas as gerações seguintes que ficaram reféns desta desigualdade social acabaram por reforçar o discurso racista que relacionava esta situação com a cor da pele destas pessoas.
Não vou nem entrar no mérito científico da questão, pois hoje não existe nenhuma dúvida sobre a imbecilidade das teorias raciais disseminadas no século XIX.
No entanto, mesmo pertencentes à mesma RAÇA HUMANA, brancos e negros não recebem o mesmo tratamento social, mesmo que este preconceito esteja implícito ou até mesmo inconsciente. Desta forma, considerando que brancos e negros são desiguais em relação à forma como a sociedade os trata, e com base na célebre frase de Aristóteles (“devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade”), defendo a política de cotas como uma solução TEMPORÁRIA para que tenhamos um futuro com mais oportunidades de ascensão social para os negros.
Mas esse tema dá pano pra manga…
Eu sou negro.Ou mulato,sei lá.Sei que em 1984 (sim,faz tempo!) quando passei na FUVEST e fui cursar Biologiana USP eu era o ÚNICO NEGRO num contingente de 120 alunos.Na USP toda éramos tão poucos (os africanos não contavam!) que nos conhecíamos pelo nome!Pessoa que nem mesmo faziam o mesmo curso!Tinha o grandalhão da Poli e a mulatinha de pernas bonitas que fazia letras.E só!Havia algo de errado,mas eu não sabia muito bem o que era e até hoje quando toco no assunto,a ideia de racismo é rechaçada como se eu quisesse descrever algo tão obsceno ou nojento.
As cotas são necessárias,sim,pra que nós outros aqui deixemos de ser exceção.Pra que os “menos pretos”,aqueles brasileiros que se julgam “brancos” comecem a se acostumar em ver a gente nas Universidades Públicas,em shoppings de bairros nobres,nas empresas como executivos e onde mais a gente quiser.
é uma pena que o autor tenha colocado aquele parágrafo tão preconceituoso sobre o Lula. todas as pessoas bem informadas sabem que o Lula concluiu um curso de nível médio. que foi o presidente que mais escolas criou no país, então por que discriminá-lo assim? De resto, o texto está perfeito, e me encantei com a sensibilidade dele ao enumerar as várias situações que a mim também, sempre revoltaram.
é uma pena que o autor tenha colocado aquele parágrafo tão preconceituoso sobre o Lula. todas as pessoas bem informadas sabem que o Lula concluiu um curso de nível médio. que foi o presidente que mais escolas criou no país, então por que discriminá-lo assim? De resto, o texto está perfeito, e me encantei com a sensibilidade dele ao enumerar as várias situações que a mim também, sempre revoltaram.
O endereço do meu Blog é: http://risomarfasanaro.blogspot.com
Oi Risomar,
Minha frase não foi de preconceito não. Foi mais uma ironia.
Ele mesmo afirmou que não lia e que não gostava de ler, eu não inventei isso.
Mas o que eu quis dizer foi isso: “é possível” ser e fazer um monte de coisas, mas as dificuldades são imensas, e algo tem que ser feito.
Abraços,
Grande texto, Declev!!!
Concordo em número, gênero e grau com vc!!!!! Totalmente!!!
Também cresci na classe média, na zona sul do Rio de Janeiro, estudei em escola particular, depois universidade pública (onde praticamente só entravam brancos, pois os negros vinham do ensino público e não passavam no vestibular – a maioria nem concluía o ensino médio; dá pra entender bem o que o Valter sentiu quando foi pra faculdade), mas reparava, sim, nessa diferença. E logo aprendi que era fruto do preconceito, da forma como acabou (acabou???) a escravidão no Brasil e que era uma absurda injustiça social.
Trabalhando em escolas públicas, tive mais sorte do que vc em relação aos colegas: tive muitos colegas professores e da administração das escolas que eram negros. Fiz mais amigos negros nesses anos do que em toda a minha vida, porque antes eu só fazia amizade com negros que eram porteiros, empregadas domésticas, etc., pois eram os que eu convivia.
A questão do racismo sempre me emocionou muitíssimo! Até porque sempre me identifiquei com os que são tratados como “diferentes”, coisa que vivi a vida inteira, por outros motivos e não pela cor da pele.
Quanto aos alunos, a maioria absoluta é de negros e mulatos nas escolas públicas e fiz muitos amigos entre eles também.
Quanta gente linda e se sentindo inferior sem merecer!!! É muito triste…
Batalhei contra o racismo mil vezes, que envolvia o bullying tantas vezes, mas passei a ouvir mais antes de julgar certas coisas pois, entre amigos, muitas vezes os colegas se colocavam apelidos que eu achava super depreciativos e eles não. Enfim… Fui revendo muito coisa.
As cotas são um paliativo – concordo com o João -, são pra ser temporárias – concordo com o Luiz -, mas são necessárias, no momento, pra pelo menos começar a mudar esse quadro de desigualdade social tão perverso. Concordo com vc, Declev!
Parabéns pelo texto!!!
Abração,
Regina.
Acho que não se pode simplificar tanto assim uma questão dessas.
O preconceito no Brasil já foi de cor, hoje em dia é muito mais pela classe social. Um negro rico não vai ter problema algum, um branco pobre vai.
No entanto por razões históricas vc vai ver muito mais negros pobres.
As “políticas afirmativas” inventadas não são mais do que golpes de marketing que vão piorar em muito a educação superior do Brasil e o mercado de trabalho, e ainda dificultar mais ainda a vida dos negros que se formarem.
Hoje se um negro se forma em uma faculdade (de engenharia, por exemplo) ele comprovou ter a mesma competência e conhecimento de seus concorrentes brancos. A partir do momento que se implantou o sistema de cotas o empregador vai pensar duas vezes para empregar um negro formado, pois ele pode ter vindo de uma política de cotas, podendo ter entrado e saído sem o mesmo nível de esforço e rendimento de seu concorrente branco.
Neste caso não tem band-aid, para ser justo tem que melhorar a educação fundamental para que todos disputem um vestibular meritocrático.
Oi Paulo,
Eu que digo: não é tão simples.
O preconceito de cor, sim, existe.
E não é verdade que o cotista tem menos capacidade ou nível de esforço.
Veja os estudos e notícias a respeito.
Por exemplo:
http://www.advivo.com.br/node/1134777
Paulo,
Um negro rico pode até não ter grandes problemas de aceitação na sociedade, como vc falou, mas a grande maioria do povo é de classe média e de pobres e, nesses casos, o negro vai sofrer preconceito na hora de disputar um emprego com um branco, que seja também de classe média como ele, simplesmente por ser negro. Isso acontece toda hora, assim como acontece com as mulheres em relação aos homens, já que as mulheres são consideradas mais instáveis, menstruam, tem TPM, engravidam, tem direito a licença maternidade e licença para amamentação, etc. Os preconceitos são claros e aparecem também contra os homossexuais, entre outros.
Se for negrA, pobre e homossexual então, pode ser uma profissional nota mil que vai ser preterida mesmo assim, por puro preconceito!
É o que vejo acontecer em nosso país, infelizmente…
Um abraço,
Regina.
Concordo, Declev: “E não é verdade que o cotista tem menos capacidade ou nível de esforço.”
Abraços…
Esse “estudo” está meio esquisito, poderia ter um link para o estudo mesmo na notícia.
A coisa é bem simples, se um cotista entra tirando 40 e o não cotista entra tirando 60 o cotista se esforçou menos.
Óbvio que isso não é para todos, o primeiro lugar entre os cotistas provavelmente terá uma nota semelhante aos primeiros lugares dos não cotistas, mas estamos falando de massa e não de indivíduos fora da curva.
Além da mensagem errada que vc passa de que o esforço não é o que vale, e sim chorar que vc faz parte de alguma minoria para obter vantagens… cota, bolsa família, bolsa estuvo, bolsa coxinha,etc… Se eu tivesse fazendo vestibular hoje, eu me declararia negro, afinal como a quase totalidade dos brasileiros, meu sangue é uma mistura que eu nem sei se tem alguma raça de fora…
Além do que hoje em dia gasto quase 50% do meu salário no colégio dos meus filhos para ele ter que tirar uma nota maior para obter o mesmo resultado… Isso é muito distorcido!
E só complementando, não disse que o cotista tem menos capacidade, só que ele teve que se esforçar menos para obter a vaga!
Paulo,
Mais uma vez, não estamos de acordo, pois eu não acho que o cotista se esforce menos.
Não é porque tira uma nota menor – na teoria, porque pode não ser – que ele se esforçou menos.
Isso é um pensamento linear que não é verdadeiro, nem neste contexto, nem no contexto no Ideb e rankeamento das escolas, assunto que discutimos em outro artigo.
“Notas mais baixas = menor esforço”. Isso não é verdadeiro.
Muitas vezes, o aluno mesmo tirando uma nota menor, teve que se esforçar muito e muito mais do que outro, pois mora em um lugar violento, trabalha uma parte do dia e estuda em outra, tem que cuidar da família, pega ônibus lotado e demora muito mais pra chegar ao estudo ou em casa, tem que arrumar livros emprestado ou ir a bibliotecas velhas, com livros defasados… Enfim, tudo o que um aluno “classe média” não precisa – que tem toda a facilidade “só para estudar”.
Abraços,
As notas mais baixas evidenciam uma menor absorção da matéria. Isso pode acontecer por menor esforço ou por maiores dificuldades como vc falou.
No entanto para que o processo seja justo, deve medir resultado (absorção da matéria) em detrimento de somente o esforço. Inclusive porque um é mensurável e outro não.
Vc está certa quando diz que as questões do ambiente de vida do aluno têm que ser observadas e tratadas por uma política abrangente, no entanto deixar que esta informação polua o processo de admissão no ensino superior gera distorções e injustiças com uma outra camada da sociedade e não ataca a causa raiz dos problemas.
No entanto é muito mais fácil dar uma canetada e criar cotas do que criar e implementar tal política abrangente.
Uma vez ouvi uma frase de um grande executivo da área de RH que disse “No Brasil, desempenho não se mede, se justifica”, pois há a cultura de que se uma pessoa tem um desempenho medido ruim logo se busca desculpinhas “o Zé não bateu a meta porque está em meio a um divórcio tadinho” ou “O Joãozinho tirou nota baixa porque a prova foi no dia depois da festa de aniversário dele” como se ter um fato atenuante o livrasse da consequência de uma medição objetiva.
Eu estava doente (cachumba) quando fiz a prova de vestibular, vc acha que eu deveria ter que tirar uma nota menor para entrar? Meu esforço para estar lá e responder as questões foi muito maior dos que estavam lá e estavam saudáveis…
Meus pais vieram do interior, será que porque eles vieram de um colégio mais fraco, no meio do mato, quando fizeram o vestibular no Rio de Janeiro eles deveriam ter que tirar uma nota menor? Por saberem desta desvantagem, estudaram muito mais, passaram e até hoje eu os uso como exemplo a ser passado para os meus filhos, de que quanto maior o obstáculo, maior deve ser o esforço (e não o choro por condições especiais).
Existe uma matéria chamada “medidas educacionais” em pedagogia. A maioria não conhece ou, quando teve a chance de aprender, achou chato mesmo sem saber e continuou não sabendo. Então, acabam repetindo as formas antigas como eram avaliados quando eram apenas alunos.
Existem muitas formas de avaliar, de medir desempenhos, de observar processos e, ao final, chegar a algumas conclusões. O que não dá é, num país como o nosso, querer usar o mesmo tipo de medida para todas as realidades culturais que temos, pois é uma pluralidade enorme, muitos brasis, então dizer simplesmente que, pelas notas, um aluno merecia estar ali e ir além ou não, é muito pouco. Insuficiente. Estamos na área de Humanas, como nos lembrou o Declev, e, por isso, a forma de medir não pode ser apenas estatística e nem a mesma aplicada indiscriminadamente a todos. A não ser que neguemos a existência da injustiça social em que vivemos, que obviamente afeta o aprendizado dos alunos e o trabalho dos professores.
Não há competição de igual pra igual entre brancos de classe média de um lado e negros de periferia de outro. Isso é um dado de realidade.
Por essas e outras é que sou a favor das cotas!
Abraços…
O verbete de “medidas educacionais” da wikipedia é muito pobre, vou supor que trata-se de algo muito mais rebuscado do que o que está lá.
Ser uma área de humanas não é justificativa para fugir de ferramentas matemáticas avançadas, na verdade quando vc sai da área de exatas é que as ferramentas estatísticas mais avançadas é que têm mais uso. Processos estocásticos, indices de correlação e outros conceitos estatísticos são muito mais úteis na biologia do que em diversas áreas de engenharia (onde as variáveis são mais “comportadas”) por exemplo.
A discussão mais correta não é se o desempenho do professor deve ser medido, e sim qual é a métrica que permite o acompanhamento do resultado do professor levando em conta (e isolando) as distorções que vão ocorrer em um país de diversas realidades como o Brasil.
Paulo,
Com certeza não vai ser em verbetes da wikipedia que você aprenderá sobre “medidas educacionais”, matéria obrigatória dos cursos de Pedagogia, por exemplo. Se fosse assim, com a internet, ninguém precisaria fazer mais formação nenhuma!
Tenho um filho da área de exatas, como você, que defende com unhas e dentes o quanto as ferramentas estatísticas avançadas são aplicáveis a todas as áreas, inclusive a de Humanas. Discordo dele, como discordo de você nisso. E olhe que sempre adorei matemática e era excelente aluna na matéria!
Precisamos pensar em formas mais justas e complexas na área de Humanas e, por isso, concordo com o que você disse no final: “A discussão mais correta não é se o desempenho do professor deve ser medido, e sim qual é a métrica que permite o acompanhamento do resultado do professor levando em conta (e isolando) as distorções que vão ocorrer em um país de diversas realidades como o Brasil.” Aí sim!
Abraços…
Sim, mas esta métrica tem que ser matemática e objetiva, sem justificativas ou desculpinhas, daí minha defesa por uma ferramenta estatística.
nada impede que sejam várias medidas:
-redução do desvio padrão das notas
Uma turma onde as notas dispersam muito é um sinal de que a nota é resultado do esforço do aluno e não da didática do professor.
-aumento da média da turma comparada com o ano anterior naquela matéria.
Se os alunos são os mesmos e o que mudou foi o professor, o aumento da nota média foi consequência da alocação deste professor.
-número de alunos premiados em eventos externos
como olimpíadas de matemática, mostras de ciências, etc
No entanto nunca vi uma propaganda de escola mencionando algo assim. No máximo é algo genérico como “a que mais aprova no vestibular” que vc sabe que é mentira!
Os pais são muito mal munidos de informação para escolher em que instituição colocar os filhos… A gente tem que confiar em boato e renome da escola (que pode ou não ser justificado).
Paulo,
Vocês está falando de algo que não existe. Não existe essas análises.
SE SE SE fosse assim, poderia, quem sabe, DIMINUIR as desigualdades e injustiças nas avaliações, mas não é.
O que eles querem é colocar tudo no mesmo saco, como se não houvesse NADA além da sala de aula e da interação entre professor e aluno na educação – o que não é verdade.
Faz-se um aprova única, igual, para TODO o Brasil e diz-se “essa é melhor que aquela”, sem perceber nada além disso: notas.
É patético e injusto.
Entendo sua preocupação, Paulo, mas não é simples assim…
Nenhuma avaliação estatística vai oferecer esse controle, essas certezas todas, na área de educação, na minha opinião.
Por exemplo, você diz: “Uma turma onde as notas dispersam muito é um sinal de que a nota é resultado do esforço do aluno e não da didática do professor.” Mas, na prática, não dá pra afirmar isso não, mesmo levando em conta as variáveis (reduzindo o desvio padrão das notas, por exemplo), porque a realidade SÃO as variáveis, entende? Quer dizer, “as vezes é o professor”, “as vezes é o aluno”, “as vezes são os dois” e em outras “nenhum dos dois”. Não dá pra afirmar que é sempre pelo mesmo motivo que as notas que dispersam muito mostram o esforço do aluno e não a didática do professor!
No seu outro exemplo, quando fala de avaliar as turmas ano a ano, também é complicado porque as turmas mudam, entram e saem alunos, os que ficam também mudam (estão em fase de rápidas e profundas mudanças na infância e na adolescência), os professores mudam, enfim… Como avaliar segundo esse padrão assim, levando toda essa realidade em conta?
Por isso acho difícil que se consiga uma forma apenas objetiva e matemática, embora eu seja a favor da avaliação dos professores, escolas, alunos, pedagogos, etc. Mas ainda é um desafio que não encontrou uma resposta satisfatória, na minha opinião.
Abraços…
Mas quem sabe alguém especializado em estatística consiga encontrar essa forma satisfatória, não é?
Realmente minha base estatística é pouca – estudei o assunto nas duas faculdades que fiz -, o que me impede de aprofundar mais essa discussão, especificamente.
Mas de educação e psicologia eu entendo. E são áreas bem mais complexas e subjetivas…
E, no caso da educação, os interesses políticos interferem o tempo todo, mascarando, induzindo, manipulando, etc. Então fica mesmo complicado!
Enfim…
Abração…
E uma prova única e igual para todo o Brasil, Paulo, é totalmente injusto, como disse o Declev. E é o que fazem hoje!
A educação escolar NÃO depende só da interação professor-aluno.
Concordo com Declev.
Um abraço…
Regina,
Essa resistência em quantificar é muito típica de quem está em uma área em que não há um planejamento de longo prazo. Como diz o ditado “não se pode gerenciar o que não se consegue medir”
Mesmo que a métrica não seja ideal, ela deve ser complementada com novos dados.
Para ter uma mensuração coerente o primeiro passo, o mais básico e necessário de todos, é que seja uma prova única e ministrada ao mesmo tempo para todos os alunos no país. Não é injusta, é coerente! A interpretação errada desta nota é que pode levar a injustiças…
quando vc fala “porque a realidade SÃO as variáveis” parece que a medição não lhe agrega valor…
Paulo,
Sem planejamento, verbas, recursos, valorização, etc., para a área de Educação COMEÇAR a funcionar decentemente, tanto para os alunos quanto para todos os educadores (pois TODOS sofrem com o estado em que está), não há como fazer uma avaliação do tipo que vc propõe (essa que estão fazendo não agrega valor nenhum), muito menos uma prova única e nacional, já que existem muitos “brasis” e seria o mesmo que querer que todas falassem a mesma “língua”, o que não falam! Vivemos num país de imensa diversidade e pluralidade cultural.
Dê uma olhada no abaixo-assinado que está correndo – eu já assinei! -, pois acho que te ajudará um pouco a compreender, a partir dos olhos dos educadores, porque criticamos tanto certas medidas que estão sendo tomadas atualmente, de cima pra baixo, sem a participação de quem está ou esteve pra valer dentro da realidade escolar, vivendo suas mazelas e contradições.
A petição está em http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2012N32256 e é um “Abaixo-assinado Cláudia Costin, Não!”, para “Ministério da Educação, Sindicatos da Educação, Escolas Municipais, Estaduais e Federais, Universidades Públicas, Entidades Acadêmicas”, criado e já assinado por grandes educadores brasileiros como Dermeval Saviani, por exemplo.
Um abraço…
O abaixo assinado não está abrindo, vou tentar de novo mais tarde…
A medição tem que vir antes do planejamento, não depois. E sem uma prova única não há como priorizar quais escolas devem ser analisadas e tratadas primeiro.
Pluralidade cultural não deveria influenciar o que uma criança já deveria saber na terceira série de português, matemática, história, ciências, etc… Isso pode ser padronizado em qualquer lugar do planeta (na maioria dos países é assim). A cultura local pode influenciar na escolha da melhor forma de passar o conteúdo.
Os padrões seguidos por tantos países do mundo, ainda hoje, não servem de exemplo, na minha opinião, pois só geram aquela antiga relação com o estudo como se fosse algo muito chato, pesado, apenas uma obrigação e nunca algo estimulante. Vemos alunos reclamando disso em todos os cantos do mundo!
E o conhecimento é dinâmico, o que torna quase impossível definir “conhecimentos que todas as crianças deveriam saber nesta ou naquela série escolar”. Mudaram os conteúdos, mudou a forma de priorizá-los e é necessário que se mude a forma de ensiná-los. A cultura local não influencia só a forma de passar conteúdos mas os próprios conteúdos em si, muitas vezes.
Provas únicas, só se feitas por estado ou município. Nacional, como se faz no Brasil, dá uma ideia falsa do que está realmente acontecendo e da imensa diversidade com a qual lidamos.
Por isso acho importante o planejamento e melhor estruturação das próprias avaliações em si, antes de aplicá-las. E isso não pode ser feito de cima pra baixo (pelo menos não deveria…).
Para avaliar a educação no Brasil, considero que se poderia até aplicar provas contanto que elas fossem feitas com a participação dos professores que estão nas salas de aula, o que continua não acontecendo. Eles não são nem ouvidos!
Um abraço…
Não existe diversidade no objetivo, somente na forma de aprender.
Todo aluno tem que conhecer toda a matéria que cai no vestibular e mesmo isso já é pouco, se mirar neste objetivo os alinos estarão fadados a mediocridade.
Quando fiz o vestibular eu já sabia cálculo e eletromagnetismo devido ao segundo grau técnico, a faculdade foi tranquila, mas para muitos amigos meus, egressos de colégios bons (tanto da rede pública quando da privada), alguns brilhantes, fugiram do curso pois suas bases eram deficientes.
Repito, não existe isso de “cultura local não influencia só a forma de passar conteúdos mas os próprios conteúdos em si” esse pensamento que gera o abismo de qualidade de um profissional formado no eixo Rio/SP de um formado no Acre… E isso que está levando o Brasil a ter que importar mão de obra qualificada agora…
http://computerworld.uol.com.br/blog/profissao-ti/2012/08/23/brasil-vai-incentivar-imigracao-de-profissionais-qualificados/
http://oglobo.globo.com/pais/brasil-quer-facilitar-vistos-para-profissionais-estrangeiros-3671799
Ensino é coisa séria, tem que ser mais pragmática e com menos idealismo.
Justamente porque o ensino é coisa séria, como vc disse, Paulo, que os EDUCADORES é que tinham que ser ouvidos em primeiro lugar na hora de organizar, reformar, melhorar a educação no Brasil!
Não falei em diversidade de objetivos (???) e educar não é pensar no vestibular, desde cedo, como se todos fossem querer passar por ele, seguir esse caminho, enfim… Na realidade, em relação aos alunos de escolas públicas, ainda é uma minoria que chega até uma faculdade e mesmo que almeja chegar!
As cotas poderão começar a mudar um pouco esse quadro.
Além disso, educar pensando no vestibular lá na frente é uma forma medonha de educar, na minha opinião e de muitos outros educadores, mas respeito quem vê de outra forma, claro.
Educar é muito mais do que preparar pra concursos de qualquer tipo (o vestibular é um), pois através da educação estamos formando cidadãos, pessoas pensantes, com espírito crítico, questionadoras… Pelo menos é o que se pretende! Formar apenas “bons técnicos” que só sabem raciocinar segundo os mesmos moldes sempre é lamentável. É como “formar” pessoas numa linha de produção em série!
Mas cada um com sua opinião, certo?!
É bom haver diversidade nas opções de escolha de escolas também, com diferentes filosofias, pois aí caberá aos pais escolherem uma que pense desde cedo no vestibular ou não e colocarem seus filhos lá. Só que essa discussão ainda é de classe média, pois o povão nem mesmo sabe que existem diferentes tipos de escola e de ensino para que possam escolher.
Concordo com vc: ensino é coisa séria. Por isso, com a palavra, em primeiro lugar, devem estar os educadores!
Um abraço…
Vou sugerir que vc repense um pouco esse seu preconceito pela área de exatas 🙂
Bons técnicos não são aqueles que “só sabem raciocinar segundo os mesmos moldes sempre” são aqueles que conhecem a técnica, e com base em conhecimento sólido do que funciona e do que não funciona consegue contestar os métodos e ferramentas utilizados para propor novas e melhores. Como dizia Einstein: “Você tem que aprender as regras do jogo. E então você tem que jogar melhor do que todos”
Não defendi educar pensando no vestibular (coisa que eu também sempre critico) pois as instituições que fazem isso normalmente utilizam-se de atalhos didáticos que pendem mais para a “decoreba” do que para o aprendizado real.
Quando trabalhei como professor (coisa que pretendo voltar a fazer) foi para adultos, para obtenção de certificações profissionais internacionais, PMP, CISA, COBIT… e minha maior dificuldade era que não havia um nível mínimo que eu pudesse contar, a base de cada um era tão diferente que só pode ser resultado de um excesso de flexibilidade no conteúdo ministrado quando eram crianças.
Tinha adulto que só sabia (mal) as 4 operações fundamentais e outros que a capacidade de compreensão de texto era sofrível. Eu entendo um profissional formado em jornalismo não saber calcular uma derivada ou um engenheiro saber muito pouco de biologia, mas um mínimo padronizado todos deveriam saber…
Abraços
Caro Paulo,
Agora concordo com vc. Acho que compreendi melhor o que está tentando dizer.
Ficamos um pouco na defensiva na área de educação porque talvez seja a área onde mais se faz todo tipo de absurdo nesse país, por razões políticas, e sofremos as consequências de tudo isso diariamente, na pele.
Se fui preconceituosa, me desculpe…
Meu filho mesmo é da área de exatas e respeito sim!
Mas que é uma área completamente diferente da área de Humanas, lá isso é. 🙂
Um abraço…