Por que todo mundo quer um carro?

Estive duas semanas fora viajando – ninguém é de ferro, né?!

Fui à Argentina e ao Uruguai. Buenos Aires, Bariloche, Mendoza, Montevidéo.

Confesso que num certo momento fiquei com vontade de voltar, de trabalhar, de fazer alguma coisa. Essa vontade de consertar o mundo que um dia deve passar.

Mas confesso também que dois dias depois essa doença já passou e já estou com vontade de sumir de novo!

Ô Brasilzinho de merda!

Sim, sim, eu sei que tem coisas boas. E de fato as temos! Realmente somos muito diferentes em certos aspectos. E é justamente isso que dá saudade e pinta de verde esperança a parede cinza do meu mau humor.

Mas às vezes é foda! E não das boas.

Principalmente quando eu tenho que ir de um lado para o outro no mesmo dia pegando várias conduções.

Acho que já deu pra perceber minha implicância com o sistema de tranporte público no Brasil – ao menos no Rio de Janeiro. E eu que não dirijo e provavelmente nunca o farei, sofro com ele.

Iniciei falando da minha viagem porque, ao entrar num ônibus em quase qualquer lugar do mundo – ao menos nos que eu ja fui – me dá vergonha do que temos aqui.

Em Buenos Aires os ônibus são, ao menos aparentemente, antigos. Mas confortáveis e com apenas um degrau só, e baixo. E, detalhe: nunca vi um motorista correndo desembestado nem deixando passageiros à deriva, enquanto passam por fora do ponto.

Quam anda de ônibus sabe do que estou falando.

Hoje peguei nada menos do que 5 ônibus!

Ah vontade de fazer um boneco de Judas vestido de motorista de ônibus!!!

Ah vontade de ter duas Torres Gêmeas em forma de ônibus!!!

No primeiro do dia, vem um com ar condicionado que custa mais caro. Eu, como chato que sou, me recuso a pegar estes. Os normais custam 2 reais – o que já é um absurdo em Niterói – e estes custam 2,30. Uma diferença pequena, mas acho um absurdo. No calor o ar condicionado é um forno e no frio gela. E não quero pagar mais por isso. Esperei o outro.

Depois, voltando do Rio pra Niterói, peguei um “frescão”. Vim meio deitado, meio dormindo. Uma beleza. Mas era hora do rãsh. Isso teve duas consequências: a passagem, neste horário, passa de 3,90 para 5,30. Sim, mes camarades, a passagem aumenta às 5 horas! Eles dizem que o outro horário é “promoção” e no horário de maior movimento ela volta pro preço normal. Bom, todo mundo na prisão diz que é inocente, né? Todo mundo pode dizer um monte de asneiras. Ah, e a outra consequência é que fiz em duas horas o trajeto que levaria meia.

Chegando em casa fui com minha esposa levar minha sogra à rodoviária.

Lá fui eu novamente pro ponto. Ao entrarmos no ônibus, eu primeiro carregando uma mala, minha esposa depois com outra e minha sogra por último. Mal ela subiu o primeiro andar – lembremos que no Brasil são três andares enormes – o motorista arranca com o ônibus com a porta aberta. Quase que ela cai.

Você poderiam dizer “que azar que ela não caiu”, né? Mas eu não diria isso, ela é gente boa…

Na volta, 9 horas da noite, rodoviária do Rio de Janeiro – um local sujo, escuro e fedorento, pra quem não conhece – pra acabar com o dia e me dar vontade de quebrar tudo… estamos no ponto, o fidaputa do motorista que que faz? que que faz? que que faz? ACERTOU! passou por fora!

Coisa que, repito, nunca vi em lugar nenhum do mundo que eu ja tenha conhecido!

Ah, mães sacanas que parem os motoristas de ônibus!!! Que mal fizemos pra que os colocastes no mundo?

Fomos andando para o outro ponto, pra pegar a outra linha, pois esta que o fidapu passou por fora iria demorar muito.

Passa o primeiro… lotado.

Mas tudo bem, esta linha tem ônibus toda hora, um atrás do outro.

Meia hora.

Passa o segundo… lotado.

PUTAQUIPARIU.

Entramos nele mesmo.

Se levantasse o pé, não baixava. Mas chegamos em casa vivos, é o que importa, certo?

Mas dá pra entender porque todo mundo quer ter um carro por aqui – e porque tem tantas e tantas lojas de veículos espalhadas, tantos financiamentos, tantas publicidades…

Será que é coincidência?

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

8 thoughts on “Por que todo mundo quer um carro?

  • 06/08/2008 em 23:13
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    Quem mandou ser “chique” e passar as férias em Bariloche?… Você deveria ter ido a Araruama e ver o que é “falta de transporte público”.

    Mas essa sua observação sobre os motoristas de ônibus recai no mesmo tema do seu post anterior (sobre policiais). Não são os ricos que fodem os pobres: são os próprios pobres, quando se vêem em uma situação de “otoridade”…

    E é por isso mesmo que eu faço questão de me valer de minha condição de Oficial da Marinha e botar essas “otoridades” no lugar. Dou parte de samango que age como se fosse “dono da lei”, e já levei mais de um motorista de ônibus para a Delegacia… Aliás, eu concordo em gênero, número, grau, caso e declinação: parece que os DETRANs filtram no psicotécnico para motorista de ônibus somente os filhos da puta… Os que não sabem dirigir, são aproveitados como Segurança de Agência Bancária, para ficar travando a porta giratória nos seus cornos (já prendi um desses em flagrante, também…)

    Como eu costumo dizer: “isso aqui ainda é Brasil e, para filho da puta, filho da puta e meio”…

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  • 07/09/2008 em 18:24
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    Eu sempre digo: a missão de todo ser humano na terra é ter um carro, porque a coisa mais desumana que tem é depender de ônibus, em dias de chuva, no sol de meio dia, no vento, ônibus lotado, ônibus que passa fora… essas coisas… Sempre que estou num coletivo fico olhando pras pessoas e pensando: por que diabos essas pessoas saem de casa, sabendo que terão que andar de ônibus???????? A minha resposta é: trabalhar pra comprar um carro, obviamente.

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  • 07/09/2008 em 19:57
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    Foi até bomalguém ressuscitar este post… Estou há um mês “pedestre” e tenho que levar meu neto para e de volta da escola (Laranjeiras ao Forte São João, na Urca: dois ônibus de ida e dois na volta…)
    É dose para côrno nenhum botar defeito!… Eu chego em casa, depois de deixar o neto, almoço e já está na hora de sair de novo… (sem contar que arde mais no bolso do que andar de carro…)

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  • 08/09/2008 em 21:46
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    Pois é…

    O problema é que, na minha opinião, procuramos a solução errada: comprar um carro, como diz a Giselle.

    Falta-nos cidadania o suficiente para, ao invés de comprar um carro e ter um emprego a mais para pagá-lo e sustentá-lo, deveríamos lutar por um sistema de transporte público decente e barato!

    Abraços.

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  • 09/09/2008 em 00:13
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    Neste Brasil “cartorial”?… Onde cada linha é concedida, em regime de monopólio a uma única empresa?… Onde as “Companhias Municipais de Transporte” são “cabides de emprego” para afilhados políticos?… E onde o Zé Povinho que não tem grana para comprar um Chevette velho, paga para andar em Kombis caindo aos pedaços?…

    Mesmo problema que você encontra para ensinar ciências a seus alunos: eles não acreditam que mercem coisa melhor!…

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  • 12/09/2008 em 20:07
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    É verdade João… mas comprar carro não adianta nada também, não resolve o problema.

    Principalmente neste Brasil “cartorial”, onde quem monopoliza as empresas de ônibus provavelmente são aqueles que vendem os carros!

    É só ver as cidades como estão. Em breve será mais rápido andar a pé!

    Abraços.

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  • Pingback: Ou fazemos algo rápido, ou as pessoas ainda estarão nos chamando de ECOCHATOS enquanto a Terra acaba | Diário do Professor

  • 03/02/2010 em 15:28
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    Aqui em Petrópolis ônibus é um inferno…
    Cidade pequena, com inversões de rua quase semanais, ônibus com IPVA atrasado há mais de 4 anos (com vistoria da Companhia petropolitana de transportes em dia), manutenção precária, número de carros reduzidos pra compensar a bilhetagem única (essa então… o povo banana acha que sai lucrando comprando cartão de 20 reais pra pagar R$2,20 de passagem e fazer 2 viagens, sendo que os percursos não podem ter ruas em comum no itinerário o que é quase impossível), frequentemente os ônibus quebram no meio do caminho (a maioria dos bairros possuem 2 carros, quebrou, fica 1 só), ônibus andando sem freio e batendo em casas e prédios comerciais, etc, etc, etc
    Como a cidade é pequena e estou acima do peso passei a andar à pé, se chove ou tenho sacolas de mercado pesadas pego táxi, dinheiro pra monopólio é que não dou.
    Vocês me perguntariam o que a prefeitura diz disso tudo?
    Bem, colocam panos quentes e dizem que os empresários estão endividados, que mal tem dinheiro pra pagar os funcionários e muito menos renovar a frota, então nós (povão) devemos ser tolerantes e compreensivos.
    Apenas uma comunidade teve coragem de apedrejar um ônibus no ponto final, com todo cuidado de não ferir ninguém, claro. A resposta da empresa?
    A comunidade lá no fim do mundo que tinha 1 único ônibus ficou sem nenhum.
    As pessoas que estavam no terminal a espera do ônibus que foi apedrejado, ficaram sem e precisaram da ajuda da polícia pra voltar pra casa. Belo trabalho da PM, fez o manobrista abrir a garagem da empresa e recolher os passageiros até suas casas, pessoas que saíram do trabalho às 19hs e só conseguiram transporte após as 23hs.
    Brasil…
    Abraços

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