Esse aí é o maior “filhinho-de-papai”!

 

“Hiiii… ele é o maior filhinho-de-papai!”.

“Ele tem tudo o que quer!”

“Vocês estão estragando esse menino!”

“Tem que educar, mostrar que isso não pode fazer!”

“Dê algum castigo, tire isso ou aquilo dele!”

Ao ouvir essas frases, já imaginamos o tipo de pessoa a quem nos referimos.

Alguém que não está sendo educado pelos pais.

Alguém a quem se dá tudo o que quer, mesmo ele fazendo só o que ele quer.

Alguém que está sendo “mal-educado”.

Alguém que ficará mal acostumado, não sabendo lidar com as vicissitudes da vida.

Alguém que não se importará com os outros, tornando-se egoísta.

Um filhinho-de-papai, na linguagem popular.


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Em geral, um filhinho-de-papai não tem limites, não tem normas, não segue regras.

Sei que já é notícia antiga, mas o exemplo serve: na novela “Caminho das Índias”, o personagem Zeca era um garoto classe média não educado pelos pais. Todo mundo na época, acredito, achou um absurdo o fato dos pais dele não conterem suas investidas pitbullísticas e, pior, acharem graça.

O Zeca aprontou em todos os lugares, inclusive na escola (alguém tem algum aluno assim?… rs.).

Ele tacava ovos nos outros pela janela, roubava, inventava histórias incriminando outras pessoas etc.

Pra quem não viu a novela – eu os perdôo e confesso: vi – vão aqui alguns links pra saber do que falo:

Zeca é protegido pelos pais;

Tentativa de Assassinato;

Zeca mata o filho de Duda;

Suellen é apedrejada pela turma do Zeca;

Quem quiser mais, faça uma busca no deus google.

Mas eu pergunto: o que estamos fazendo com gerações de crianças e adolescentes, de uns 20-30 anos pra cá?

 

Estamos dando os mesmos não limites. Ou não dando os limites, o que dá na mesma.

Crianças e adolescentes podem fazer tudo. Sim, podem fazer tudo e não acontece nada. Dá-se de tudo e não se pede nada.

Isso é educação?

Hoje uma criança ou adolescente mata, quebra, rouba, estupra, picha, briga, rasga, esfola, xinga, cospe, chuta, perde, atrapalha, responde, foge, dá, come, faz careta, dá o dedo, faz o que quer e o que fazemos?

Nada.

ECA? Nada. São ininputáveis. Têm todos os direitos e nenhum dever.

E, registre-se, não estou falando simplesmente de diminuir a maioridade penal ou porrada ou expulsão sumária, como simplificam alguns. Estou falando de educar antes de perder qualquer controle ou antes de ser necessário penalizar criminalmente.

Sanções anteriores a cometimentos de atos piores ou mesmo crimes.

E o “crime” principal, no nosso caso, é a escola muitas vezes não funcionar como escola. 

Hoje, em uma escola pública – falo de minha realidade, Niterói e Rio de Janeiro – o aluno recebe a escola, o uniforme, os livros, a mochila, os materiais, a comida, a passagem… recebe tudo.

E o que muitos fazem?

Nada.

Não estudam e atrapalham quem quer estudar.

E ainda por cima matam, quebram, roubam, estupram, picham, brigam, rasgam, esfolam, xingam, cospem, chutam, perdem, atrapalham, respondem, fogem, dão, comem, fazem careta, dão o dedo… e o que fazemos? O que podemos fazer?

Nada.

Simplesmente o forçamos a frequentar a escola. Não precisa estudar nada nada nadica de nada. Basta ir. Pode fazer tudo o que está dito aí em cima com um certo exagero meu. Mas tem que “ir” à escola. 

Crime é não educarmos de verdade (sociedade, escola e responsáveis), ao não darmos os limites que toda criança ou adolescente necessita.

Crime é, com isso, negarmos uma educação de qualidade aos que querem de fato, por acharmos que é “democrático” e “de direito” dar à força àqueles que nada querem.

Aí ninguém tem.

E não me perguntem a resposta para tal impasse, que não a tenho.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor pensador em constantes dúvidas



3 comentários em “Esse aí é o maior “filhinho-de-papai”!”

  1. Declev
    O pior de tudo é que estão criando pessoas sem responsabilidade, caráter, dignidade e respeito ao próximo. Até completar 18 anos, tudo é permitido, depois vão ter enfrentar um mundo altamente coercitivo. É um crime criar um filho numa bolha de permissividade para depois jogá-lo às feras, pois estes jovens e essas crianças não tem o menor preparo para lidar com as frustações e as limitações que a vida em sociedade exige.
    Que bom que você está de volta, estava faltando algo na blogosfera, ela não é a mesma sem você.
    Abraços

  2. Andaram esquecendo que “deveres” vem antes de “direitos” até no dicionário… Qualquer reclamação nesse sentido é “ranço autoritário”.
    E são os mesmos que não ensinam às crianças as obrigações decorrentes da vida em sociedade, que reclamam dos políticos (que eles mesmos elegeram), das autoridades que “não poem ordem na casa” (mas “dão um jeitinho” sempre que podem) e das escolas que “não ensinam nada”. (a omissão de um comentário entre parênteses foi intencional)

  3. Senti muita falta dos seus artigos, Declev!!!!
    Que bom que voltou!
    Essa questão dos limites é fundamental e dificílima de lidar, tanto para pais quanto para a escola. Como mãe, pra mim sempre foi difícil encontrar o equilíbrio nesse ponto, a dosagem certa, o momento mais adequado, a melhor forma de colocar esse ou aquele limite. Mas procurei fazer o meu melhor. Meu filho está com 18 anos agora e acho que, entre erros e acertos, consegui alguma coisa, principalmente porque sempre fui uma mãe PRESENTE, o que anda muito em falta por aí, em todas as classes sociais.
    Crianças e adolescentes sem limites existem cada vez mais, tanto nas escolas particulares quanto nas públicas e, como educadora, encontrei dificuldades ainda maiores com isso do que como mãe, especialmente com aqueles pais que de “responsáveis” não têm nada. Esses, que são os que a gente mais precisa conversar, para pensarmos juntos em causas e soluções para o comportamento dos filhos na escola, esses não aparecem nunca! Chamamos mil vezes, mandamos cartas, contactamos o Conselho Tutelar (totalmente inoperante e, geralmente, administrado por pessoas em “cargos de confiança” (grande PRAGA em nosso país!!!), que não têm a menor habilitação para exercer esse papel), mas nada adianta. Os pais, quando aparecem, só querem surrar os filhos ou empurrar a “culpa” para alguém (pais separados fazem muito isso, por exemplo), muitas vezes pra própria escola.
    Mas me desculpe, Declev, a escola é responsável TAMBÉM por esse estado de coisas. E não é por causa do ECA, que foi uma conquista sofrida que veio depois de muita luta e que acaba sendo culpabilizado injustamente. A parcela de responsabilidade da escola vem, em grande parte, a meu ver, do imediatismo geral que faz com que só se pense em sanções e mais sanções, sem a mínima preocupação em se ter um olhar mais profundo sobre tudo isso. Como orientadora educacional e psicóloga cansei de ouvir: “eu não quero saber o que ele (aluno) tem, qual é a causa, o que ele passa (e passou, desde a infância) no dia-a-dia pra chegar na escola assim… só quero que ele mude JÁ ou saia daqui!!!!” E aí fica difícil, pois a escola acaba fazendo a mesma coisa que os pais que não querem ter trabalho, tentando empurrar o “problema”, de alguma forma, pra fora dali, tentando convencer os pais, por exemplo, a tirar o filho da escola e tentar outra, onde ele pode não conhecer ninguém e, por isso, se “comportar” melhor…
    A maioria dessas crianças e adolescentes estão é LARGADOS mesmo, nas ruas (caso dos pobres) ou nas academias e shoppings (caso das escolas particulares), sendo “educados” assim e não pelos pais, que não dão limites porque também não estão dando atenção mínima pra eles, na maioria das vezes! Dar limite é dar amor, é parte importante da responsabilidade de educar, mas essas crianças e adolescentes acabam sem limites pois estão é LARGADOS e não porque são “filhinhos-de-papai”, na maioria das vezes.
    E não acho que o exemplo da novela a que vc se referiu sirva para entendermos a complexidade do que acontece com os alunos das escolas públicas hoje, pelo menos onde trabalhamos (vc no Rio e em Niterói e eu em Caxias, baixada fluminense), onde a maioria absoluta dos alunos é de comunidades carentes de tudo, favelas, etc. Por mais que tentem se espelhar nos valores de classe média (burguesa, consumista, etc.) passados pela telinha global diariamente, esses alunos, assim como seus pais, avós, etc., vêm de realidades totalmente diferentes, vivem em “outro Brasil”, em outra cultura e olhá-los com olhar de classe média é não entender nem o básico, na maioria das vezes. Isso eu vi diariamente acontecer em Caxias nesses anos em que estive/estou lá. E ninguém quer nem PENSAR sobre isso! Só querem soluções rápidas e pronto. E isso não existe!!!
    A situação é muito complexa e complicada mesmo.
    LIMITE é fundamental na Educação, mas dado com coerência para servir como chão, continente, suporte, preparação para o mundo, onde mil frustrações serão vividas e não como castigo ou punição. Confundem demais essa questão. E só pioram as coisas assim… Tanto pais quanto profissionais de Educação. Infelizmente…
    Um abração,
    Regina Milone.

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