Mais uma pequena descrição de uma aula… ou “não-aula” de ciências?

Iniciei o novo tema de estudo, “ar”, com 10 perguntas simples.

Dez perguntas para responderem com suas próprias palavras.

A intenção é fazerem pensar, eu entender o que pensam sobre o assunto e que comecem a buscar soluções para determinadas questões.

As perguntas são:

1 – O que é o ar?

2 – De que ele é formado?

3 – Você já viu o ar? Como? Quando?

4 – Como podemos provar a existência do ar?

5 – O ar pesa?

6 – Como podemos provar que o ar pesa ou não pesa?

7 – Um copo “vazio” está vazio ou cheio?

8 – Como podemos provar que um copo “vazio” está vazio ou cheio?

9 – Qual a importância do ar? Por quê?

10 – Como podemos provar a importância do ar?

Com isso, percebam, eu não estou dando “cópia”, nem estou lá na frente do quadro falando sem parar, regurgitando minha sabedoria.

Estou, com isso, querendo que eles pensem inicialmente sobre o assunto e, depois, passemos à ação para corroborar ou não o pensamento deles póprios.

Depois disso, minha intenção é se juntarem em grupos para discutirem as mesmas questões e as respostas individuais.

Após essa discussão, os grupos passariam à tentativa de provar ou refutar as respostas, seja por pesquisas, seja por experiências.

Bem, que lindo, não?

Mas…

Quatro aulas de 45 minutos se passaram e pelo menos a metade nem ao menos terminou de copiar as 10 perguntas do quadro!!

Conversas sobre tudo rola, menos sobre o assunto.

Já conversei. Já briguei. Já gritei. Já separei. Já pedi. Já expliquei a intenção.

Mas nada de se concentrarem nas perguntas. Não posso dizer que todos, claro, pois alguns fizeram.

Mas quatro aulas de 45 minutos se passaram e não consegui fazer com que a turma respondesse 10 perguntas simples, de sua própria cabeça. Ao menos metade da turma nem mesmo copiou. E grande parte levanta, briga, bate, joga, esperneia, grita, reclama, conversa…

O tempo vai passando e sei lá quando e como conseguirei prosseguir com a atividade.

Por isso que, muitas vezes, jogamos uma “matéria” no quadro… se é pra tomar conta de criança que não quer nada, ao menos o que dá menos trabalho… 

É pra isso que eu penso tanto, estudo tanto, elaboro tantas atividades?

Declev Reynier Dib-Ferreira
Frustrado

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

6 thoughts on “Mais uma pequena descrição de uma aula… ou “não-aula” de ciências?

  • 10/08/2010 em 20:28
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    Caro Declev

    Conheço muito bem está experiência, acabei de chegar da escola, e ao contrário da semana passada, hoje consegui dar as minhas aulas. Milagres às vezes acontecem, entrei na sala para a primeira aula do dia, o cenário poderia ser descrito como um fim de balada funk, todo mundo andando de um lado pro outro, gritando conversando, enfim a muvuca tradicional.
    Dei uma de louca, juntei o estilo do Paulo Francis e do Paulo Henrique Amorim, botei uma dosse de Hebe, um balde de Chacrinha, uma pitada de Ana Maria, uma lasquinha de Luciana Gimenez e uma colher de sopa de Wagner Monte, e comecei a discorrer sobre a colonização espanhola, ignorei o que estava diante dos meus olhos e imaginei o auditório do Sílvio Santos. Cara, funcionou! Três minutos depois, todos estavam sentados e calados prestando atenção, até interagir, quando provocados a pensar, interagiram. Repeti a receita nas outras duas turmas e funcionou! Claro, que esse milagre já aconteceu outras vezes, mas nem sempre dá certo. Acho é uma forcinha lá de cima.
    A coisa mais doida e irresponsável que fiz, vou contar, mas não aconselho a ninguém repetir. Verão, quase 50 graus, eu dentro de sala, tentando fazer a minha voz ultrapassar o barulho infernal do trânsito da Clarimundo de Melo e o barulho produzido por uma draga, que limpava um riacho próximo, a turma só de homens, 20 adolêscentes com todos os hormônios à flor da pele, disputavam a vez para ver a foto da Xuxa pelada em um celular. Eu, tentando explicar a política econômica do segundo reinado, e nada, usei de todos os recursos e nada. Até que em dado momento, eu esmurei a mesa com as duas mãos e gritei a plenos pulmões, poooooooooorraaaaaaaaaa, caraaaaaaaaaaalhooooooooo, meeeeeeeeerdaaaaaaa! Vamos parar com essa viadagem e prestar atenção na aula! A turma ficou em estática, paralisada, pois eu não falo palavrão e mesmo gírias uso em gotas. O silêncio deles foi tão significativo, que na hora do cafezinho, os colegas vieram me perguntar o que eu tinha feito, queriam saber o segredo. Contei e ficamos rindo, alguns colegas me contam que isso ainda funciona, eu deixei de lado, pois o palavrão me incomoda, foi o desespero ao extremo que me fez ter essa reação.

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  • 11/08/2010 em 13:11
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    Caros Declev e Graça,
    Cada vez mais acho que a discussão começa antes desses casos diários de sala de aula e tem que ir além disso e chegar seriamente no questionamento da existência da própria escola em si, nos moldes em que ainda funciona. Cada vez mais acho que é uma instituição que precisa ser reinventada, pois, do jeito que está, me parece realmente falida.
    Na minha adolescência, anos 70/80, mesmo estudando em escola particular, eu já vivia muito do que os professores reclamam hoje sobre os alunos. Especialmente nessa fase, de 5ª à 8ª série, achávamos a escola um saco e o único interesse era encontrar os amigos, paquerar, falar das festas dos fins de semana, etc. Os “conteúdos” que tentavam nos passar – e que eu, diga-se de passagem, absorvia bem, pois só tirava notão e sem ser na base da decoreba – nos pareciam totalmente sem sentido e sem significado pra nossas vidas. Imediatistas e pragmáticos, já naquele tempo nos perguntávamos: pra que estudar tudo isso? Vai servir pra quê?
    Não lembro de nada do que estudei naquela época e, como falei, era ótima aluna! Mas, quando algo não parece ter sentido e não é nem passa a ser usado como parte de nosso dia a dia, simplesmente é esquecido. Nossa memória só guarda o que nos parece realmente significativo. O resto some na poeira do tempo.
    Quem de nós se lembra do que estudou na escola, nessa mesma fase de vida em que esses adolescentes de hoje, seus/nossos alunos, estão???
    O valor do conhecimento em si, do desenvolvimento de diversos tipos de raciocínio (não só o lógico), o prazer de aprender coisas novas está cada vez menos associado a escola e mais à vida nas ruas, com os amigos, a internet (hoje em dia), etc. E dizer: vcs precisam estudar pra poderem ter uma vida melhor um dia, um emprego melhor do que os dos seus pais, um futuro melhor…! Isso não convence mais há muito tempo! Até porque vêem os exemplos de corruptos e criminosos “se dando bem” por todos os lados em nossa sociedade e querem o mesmo!
    Na idade deles, com os hormônios a mil, ver fotos de mulher pelada no celular, falar sobre sexo e drogas, entre outros assuntos desse tipo, é muito mais interessante do que todos os conteúdos que a escola tenta lhes passar! E isso é uma coisa normal da idade, não começou com as gerações de agora e continuará se repetindo enquanto a escola continuar não fazendo sentido nenhum pros adolescentes, a não ser, como já citei, como “ponto de encontro” com os amigos.
    Essa parte não é por desrespeito aos professores e à hierarquia e sim algo natural da idade.
    Já as agressões cada vez maiores – xingamentos, tapas, socos, ameaças, brigas de todos os tipos… -, essas sim são preocupantes, mas apenas refletem o quanto está violenta a nossa sociedade, principalmente nas comunidades onde nossos alunos vivem.
    Então, na cabeça deles, pra que estudar o que é o ar e qual é a sua importância em nossas vidas ou o que aconteceu na Europa há décadas atrás, entre outros exemplos??? Preferem curtir os colegas, as baladas, o funk, a descoberta do sexo, das drogas, entre outras coisas que os fazem sentir-se mais vivos e interessados em aprender sobre a vida do que a escola!
    Ou acontece uma reestruturação total da instituição escola, aproximando-a mais da vida fora dela, ou esse quadro continuará e até se agravará, pois cada vez mais a escola está parecendo sem sentido pra esses jovens, apesar dos imensos esforços, diários, de excelentes profissionais de Educação, como vcs, que existem e tentam fazer o melhor trabalho possível…
    Eu estou buscando outras formas e outras áreas para continuar lutando pela Educação de nossas crianças e jovens. Em escola, do jeito que está, não acredito mais!
    Mas torço por quem fica, pra que consiga alguma coisa.
    Beijos a todos,
    Regina Milone.

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  • 11/08/2010 em 18:06
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    Regina

    Estava com saudades de você. A sua sensibilidade como educadora é preciosa, mesmo fora da sala, continue a nos ajudar, pois você é uma pessoa que faz falta à educação.
    Concordo com o seu ponto de vista, a escola tem que ser reestruturada, ela tem que ser voltada para os interesses do indivíduo, e não somente uma adestradora de mão-se-obra. Muito se fala na formação integral do indivíduo, mas sabemos que na verdade, a escola passa longe desse objetivo. A situação é grave, pois esse modelo está empurrando as crianças e os jovens para fuga em relação ao conhecimento. Observo em meus alunos a existência de um bloqueio ao ato de pensar, isso me preocupa e entristece.

    Abraços

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  • 13/08/2010 em 15:59
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    Graça querida,

    Muito obrigada por suas palavras!
    Espero poder continuar sendo útil, de alguma forma, pois também me dói demais ver esse quadro todo, esse bloqueio ao ato de pensar, como vc bem colocou, a falta de interesse em aprender algo que não dê dinheiro rápido e não possa ser usado de forma concreta e imediata no dia a dia, entre outros problemas. Essas questões poderiam ao menos ser minimizadas caso começasse a se estudar Filosofia, Psicologia e Sociologia, entre outras ciências do tipo, desde o Ensino Fundamental, claro que adequadas às idades desses alunos, mas que servissem de estímulo, de introdução ao desenvolvimento da inteligência, da sensibilidade e da criatividade. Disciplinas que ajudariam na formação do tal aluno “questionador e crítico”, que se busca na teoria, mas que, na prática, ainda está muuuuuuito longe de existir.
    Enfim…
    Se os próprios profissionais de Educação também não forem críticos, questionadores, criativos, inteligentes, sensíveis, conscientes… como vão poder ajudar a desenvolver essas características e habilidades nos alunos??? Como vão despertá-los, atraí-los para o mundo dinâmico do conhecimento e para a troca necessária ao saber?
    Então o caminho é longo…
    Os profissionais que têm essa visão e disponibilidade, como, por exemplo, vc e o Declev, acabam não conseguindo nem metade do que gostariam por questões políticas, pois é realmente impossível dar boas aulas com salas lotadas, sem iluminação e ventilação adequadas e só na base do quadro-negro e giz, em plena época das lan houses, internet acessível a todos, entre outros estímulos que o mundo fora da escola oferece! Sem estrutura e condições de trabalho dignas (coisas que os políticos só prometem e nunca cumprem, até porque interessa manter o povo assim e a escola pública servindo apenas para formar mão-de-obra barata), fica muito difícil fazer a escola funcionar minimamente no padrão tradicional, que dirá então num padrão novo, mais moderno e inovador?!
    Eu realmente cansei… Fiquei doente (como vc sabe) e cheguei ao meu limite: ou cuidava da minha saúde ou insistia em dar murros em ponta de faca até que o desgaste e o estresse não me deixassem fazer mais nada. Por isso ainda estou de licença médica.
    Mas vamos continuar trocando idéias por aqui e, se eu puder contribuir de alguma forma, conte comigo, ok?!

    Beijão,
    Regina.

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  • 16/08/2010 em 03:41
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    Declev, e demais, olá !

    Realmente é, e somente é, uma questão de Vontade Política !

    Por isso mesmo, pois a Instrução …( prefiro “instrução” quando se trata de Escola ) , … a Instrução de um Povo é uma questão de segurança nacional, que empunho a minha bandeira reivindicadora !

    Sem Instrução, o Povo pode e está sendo Dominado ! Já estamos vivenciando uma invasão territorial por mão-de-obra especializada !

    Recentemente, na construção de um alto-forno, para executar o assentamento de tijolos refratários, os Chineses trouxeram os seus conterrâneos !

    Então, caros amigos, para que o Sistema “Instrutor” Público Brasileiro possa ser Autenticamente Reestruturado – já que isto depende de Vontade Política, a parcela, ainda, consciente do Povo, tem que EXIGIR do TSE, que o seu Sistema Eleitoral Político – SEP, seja Reestruturado de conformidade com as REIVINDICAÇÕES, que a maioria popular , em consenso, indicar, na edição de um Projeto Popular para a Reestruturação do SEP.

    O SEP tem que possuir um FILTRO, que só permita a inscrição, nos seus pleitos políticos eleitorais, de quem tiver o, respectivamente apropriado, Certificado de Qualificação Política, que for reconhecido e registrado por um ” Conselho Regulador das Atividades Políticas – CRAP ” ( equivalente ao CREA, à OAB etc ).
    Isto, amigos, creio, seria suficiente para que os futuros mandatários procedessem sempre dentro da Ética Política, ao ocuparem os seus Cargos Eletivos, quaisquer que sejam !

    O Voto Sempre Nulo, intransigentemente assumido, até que as suas reivindicações sejam, plenamente, satisfeitas, é a única solução pacífica e democrática que vejo !

    Temos que assumir, o que a nossa consciência nos indica fazer, para que possamos sentir a Paz Interior !

    ” Um Povo Unido, Jamais Será Vencido !”

    Abraços à todos !
    Falei, pronto !

    Resposta

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