Não sou Dante, mas fui ao inferno e voltei!

Hoje de manhã saí de casa pra ir à escola e devo ter pego o caminho errado, pois parei no inferno

Tudo se iniciou devagar, com uns gritos aqui, outros acolá.

Em sala, já antes do “recreio” (que se transformou num motim), alunos abriam a porta, gritavam pra dentro, chamavam os colegas, que saíam a despeito de todas as advertências para não fazê-lo.

No recreio, esquentando meu pãozinho, ouvimos gritos, berros, urros, escândalos vindos de diversas partes da escola. Descemos…

Pandemônio.

Presídio em dia de motim (a missão II).

Briga em baile funk.

Guerra.

Não há palavras para descrever.

Cerca de cinco focos de tensão e brigas ao mesmo tempo.

Um aluno levou umas pancadas e saiu mancando.

Um grupo se trancou no banheiro pra sair na porrada. Um professor quase arromba a porta e entra pra separar o certame e colocá-los pra fora.

Gritos.

Uns brigando, outros correndo e a maoria dos quase 200 alunos gritando desesperadamente, incitando as confusões.

Alunos gostam de brigas.

Umas alunas choram com medo, as coitadas.

Abrem-se os portões, mas relutam em sair, enquanto houver indícios de luta.

Saem. Pegam paus e pedras e correm.

Na escola, alunos e professores ainda atônitos.

Entre os entreouvidos, os que participaram ativamente do início, meio e não fim da briga disseram a alguns professores que tentavam apartar, acalmar e dissipar a confusão generalizada presídio em dia de motim inferno com milhões de estagiários do demo:

“Eu só estou vindo pra zoar! Ano que vem não estou aqui mesmo!!”

“Eu não trago nem caderno! Estou aqui pra tocar terror!”

Escola para filho de pobre tem que ser “para todos”?

Oras, escola para todos, ou escola para quem quer?

Você colocaria seu filho numa escola dessas? Ou, melhor: se ele estivesse ali você faria de tudo pra ela deixar de ser “para todos”?

Eis a questão…

Declev Reynier Dib-Ferreira
Cansado de guerra

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

10 thoughts on “Não sou Dante, mas fui ao inferno e voltei!

  • 08/12/2010 em 11:13
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    ééé, a nossa realidade pandemônica diária.
    nós professores somos obrigados a aturar em sala um sujeito que não quer estudar, só está ali pra incomodar ou aproveitar a melhor clientela dos seus produtos – maconha, cocaína e crack. isso pq vem a secretaria de educação cujos funcionarios nunca devem ter presenciado uma situação dessa, dizer pra nós que o aluno tem o DIREITO DE ESTUDAR! e o dever de respeitar, diabos, cadê???

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    • 08/12/2010 em 17:55
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      Oi Nádia,

      Quem sai da sala de aula e vai pra funções burocrátias continua se dizendo professor, mas esquece muito rápido como é SER professor, dentro de sala.

      De fora, realmente, é mais fácil.

      Por isso os discursos que ouvimos por aí das secretarias e afins…

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  • 08/12/2010 em 14:11
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    Vixe Declev…
    Sinceramente fiquei aqui presa na cadeira sem saber o que escrever…
    Aqui na minha escola nunca aconteceu isso…..mas até quando?
    E os gestores?
    E a secretaria?
    Vão culpar os professores como sempre?

    Com carinho
    Jac

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  • 21/12/2010 em 22:14
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    Infelizmente vivemos em um país cujo projeto(ECA) foi elaborada por uma tal de Rita Camata.Ainda bem que esta infeliz perdeu esta eleição. Porque ela estragou a educação no Brasil, onde se fala que o adolescente tem direito a tudo. Como dizia minha vó, mente vazia é oficina de diabo., ou seja só aqui no Brasil que o adolescente não pode trabalhar, mas pode roubar, fumar ….

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  • 01/01/2011 em 18:22
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    Complicado mesmo, outra dia achei que estava numa guerra da palestina, pois enquanto eu estava indo pra sala dos professores no intervalo, vi passar por cima de mim algo brilhoso que logo que caiu no chão explodiu num barulhão(até rimou), se eu estivesse um pouco mais pro lado tinha caído na minha cabeça. Os alunos estvam ascendendo bombinhas no banheiro e de lá jogando em quem passasse, temos que orar muito a Deus por todos nós…

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  • 25/01/2011 em 16:17
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    CARTA ABERTA À SOCIEDADE
    Nós, Agentes Auxiliares de Creche, trazemos por meio desta Carta Aberta à Sociedade, o conhecimento das dificuldades que enfrentamos no dia-a-dia em relação ao cumprimento de nossas atribuições e na promoção do bem estar das crianças matriculadas na educação Infantil, nas creches do Município do Rio de Janeiro, que permanecem sob nossa guarda no período de oito a dez horas, diariamente.
    Prestamos concurso para o cargo Agente Auxiliar de Creche da Cidade do Rio de Janeiro, em que o nível de escolaridade exigido para o concurso foi o nível fundamental. O edital conjunto SME/SMA Nº. 08, de 24 de julho de 2007 do concurso relatava que em nossas atribuições básicas ou específicas, teríamos que participar com e auxiliar o “educador” nas atividades das rotinas diárias.
    O que encontramos como realidade é bem diferente da redação de nossas atribuições inerentes ao cargo para o qual prestamos concurso. Na prática, não temos a presença do educador em sala e o número de agente auxiliar de creche por turma não corresponde a real necessidade de 25 crianças. Que precisam de apoio em sua higiene básica; serem protegidas para que não sofram acidentes e orientadas pedagogicamente para o seu perfeito desenvolvimento psicofísico.
    Várias são as possibilidades de pequenos acidentes acontecerem diariamente, por ter apenas um agente, sozinho, tomando conta de muitas crianças por uma ou duas horas. Ficando, também sob a responsabilidade deste mesmo agente, a elaboração e execução do planejamento pedagógico, bem como a avaliação do desenvolvimento de sua turma.
    Nós, agentes auxiliares de Creche, nos sentimos em desvio de função, sem qualificação para tal e sem estarmos recebendo o real valor para que estejamos executando esta função.
    Apesar de fazermos parte do Proinfantil (Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício) que é exclusivo para Professores Leigos, o Município do Rio de Janeiro não nos considera profissionais do Magistério.
    O Proinfantil chegou para regularizar a situação do Município do Rio de Janeiro em relação à LDB e assim poder receber os recursos do Fundeb/Fundef e Banco Mundial.
    Sem mais, subscrevemo-nos acreditando que juntos podemos desenvolver uma verdadeira educação que faça a diferença neste país tão assolado pelo descaso com a educação de seu povo.
    AGENTES AUXILIARES DE CRECHE.

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  • 07/02/2011 em 21:05
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    Declev…que delícia de texto!!!!:( Durante a primeira leitura fui me lembrando de algumas situações que tb vivi como professora e que me deixaram atônita,assim como você nesta escola.
    Concordo com Jaqueline, Rose,Suzana, Nádia: dizer o quê??? A quem??? Como???
    Depois da leitura do Livro 1808 e 1822 pude compreender melhor tanto descaso do poder público(herança histórica) e de tanto ‘silêncio’ em nossos corações. Precisamos acordar desse ‘berço esplêndido’, urgentemente!
    Que bom que descobri seu blog!

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  • 09/02/2011 em 21:59
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    Olá colegas professores ! a luta e a realidade educacional do nosso pais é uma só vivemos caminhando com todos mas, sem apoio de nenhum.

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