Sempre trabalhei – ou ao menos sempre procurei – buscando fazer com que os próprios alunos construam seus conhecimentos, na medida das possibilidades e quereres de cada um.
Penso que há horas em que a explicação expositiva do professor é importante, assim como a cópia de alguns trechos de textos sobre o assunto.
Mas também penso que basear suas aulas, especialmente com crianças e adolescentes, em explicações expositivas não os farão aprender, assim como fazê-los copiar um texto para depois resolver algumas questões relativas ao mesmo também não.
Essas são estratégias que, como disse acima, podem ser utilizadas em determinados momentos, mas não devem ser utilizados como a TV às vezes o é, como babá eletrônica: a solução mais fácil.
Dito isso, sempre procurei fazer trabalhos diferenciados para que os próprios alunos aprendam a estudar, ou seja, para que aprendam a aprender.
Já fiz, por exemplo, trabalhos com quebra-cabeças dos sistemas do corpo humano; com maquetes; com jogos, etc.
Desta vez, aproveitando algumas reflexões sobre ensino investigativo levadas a cabo em algumas formações que participei na rede de Niterói, fiz o trabalho que passo a descrever abaixo, nesta mesma rede.
O tema central é alimentação, nutrientes, sistema digestório.
Iniciei com uma pesquisa em grupo sobre os nutrientes (no livro didático, única fonte disponível em questão), pesquisa que culminou com um cartaz, por grupo, com uma espécie de fluxograma dos nutrientes, por exemplo:
Ao lado de cada nutriente, os grupos colocaram informações básicas, como: o que são, funções no organismo, onde são encontrados.
Apresentei, também, power-point e vídeos sobre o assunto, baixados da própia internet.
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O passo seguinte foi trabalhar o sistema digestório.
Distribuí folhas ofício individualmente e pedi para que desenhassem e escrevessem – sem consulta – o que acham que acontece com os alimentos dentro de nosso corpo.
O que acontece com a comida que entra pela boca e sai como fezes pelo ânus? O que ocorre dentro do corpo no caminho entre um e outro.
A intenção foi fazê-los pensar sobre o assunto, descobrir o que já sabiam, fazendo-os registrar seus conhecimentos até o momento. Por isso fiz questão de que não olhassem o do colega nem em livros.
Depois, o passo seguinte foi fazer este exercício em grupo, em uma cartolina, após a discussão entre eles sobre o trabalho de cada um. Assim eles poderiam ver o que estava em comum e o que seria diferente. Se algo estava diferente, qual seria o “certo”, qual seria o que se transformaria num desenho e texto comum, na cartolina?
Após este exercício, cada grupo apresentou seu trabalho para a turma.
Finalmente, distribuí livros didáticos para podermos comparar seus trabalhos com a informação de lá.
Ao mesmo, tempo, fiz perguntas para que eles pensassem a respeito, observando aqueles pontos que ficaram mais obscuros, errados ou faltando.
Eles foram olhando no livro, respondendo as perguntas e comparando como próprio trablaho.
Foi fácil?
De jeito nenhum!!!
Foi difícil pra caraaaaaamba!
Eles, sem estarem acostumados a dinâmicas assim, ficam extremamente agitadas, parece uma bagunça (e às vezes é).
Me estressei, briguei, conversei, parei, continuei.
Ufa!
Mas acho que, assim, eles assimilam muito melhor os conteúdos, independente da “quantidade” de conhecimento construído por cada um.
Aliás, “cada um” é que é o mais importante nisso tudo, pois aquele aluno que realmetne faz as coisas, pensa, desenha, escreve, busca, pergunta, pesquisa no livro, é justamente aquele que, ao final, sabia dizer exatamente todo o caminho percorrido pela comida no sistema digestório e os nutrientes, etc.
Aquele que fica na bagunça, brinca demais, olha pro outro e fica na aba do grupo… sei não…
Professor pode orientar, chamar atenção, brigar, pedir, mandar fazer, mas não dá pra eu abrir a cabeça de cada um. Cada um é seu mundo, é seu lobo. Livre arbítrio é isso.
Se eles não aprendem, eu é que sou “mau professor”, termo muito em voga ultimamente?
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferrreira
Professor ( ) bom ( ) mau
Isso que vc disse no final tem um nome:Anarquia.Cada um é sua própria autoridade.Liberdade e responsabilidade absoluta. E viva Bakunin!
Liberdade e responsabilidade absolutaS
Acho, Valter, que isso flata às escolas, pra deixarem de ser uma fábrica de mentes parecidas.
Mas, pra isso, temos que chamar à cada um sua responsabilidade – dos responsáveis e também dos alunos.
São crianças e adolescentes, mas pensam.
Mostramos os caminhos, eles escolhem.
Abraços,
Que legal saber que sua aula deu certo em meio a tanto sufoco, pena que não chamou as coordenadoras pra ver! O que é bom e funciona deve servi de exemplo para quem acha que esta perdendo tempo com estes “aborrecentes”. Parabéns, professor!
Obrigado, Karla,
Geralmente as pessoas só conseguem nos ver quando há problemas, não quando algo dá certo…
Abraços,