As razões, conforme a conveniência

As razões, conforme a conveniência.

Os alunos, quando desenham algo, em geral desenham armas, mortes, metralhadoras que sabem até o nome e os detalhes.

– “Ah, é porque, coitados, vivem em meio à violência”.

Os alunos sujam toda a escola, jogando lixo pelo chão, pelas janelas.

– “Ah, é porque, coitados, vivem em um bairro onde a limpeza urbana quase inexiste e a prefeitura é ausente.

Os alunos quebram a escola toda, muitas vezes intencionalmente, como eu mesmo já vi.

-“Ah, é porque, coitados, vivem nesta cultura de violência onde tudo é quebrado e destruído em sua ‘comunidade’, e o poder público é ausente”.

Os alunos são grosseiros e desrespeitam uns aos outros, se batendo o tempo todo.

– “Ah, é porque, coitados, é só isso o que recebem em casa”.

Os alunos não fazem o que pedimos, não estudam, não leem, não se esforçam, não fazem os exercícios, têm preguiça de estudar e mesmo de pensar as coisas em relação às aulas.

– “Ah, é porque, coitados, nasceram em um meio onde isso vem se repetindo por gerações, em uma família que não privilegia o estudo, pois a preocupação maior é a sobrevivência, o trabalho”.

Os alunos não conseguem aprender, por mais que façamos, não tiram notas boas e não vão bem no Ideb; nós, professores, não conseguimos atingi-los.

– “Ah, é culpa dos professores, que são mal preparados, não sabem dar aulas e são preguiçosos!”.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Contradições

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Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

3 thoughts on “As razões, conforme a conveniência

  • 25/10/2012 em 22:44
    Permalink

    No resumo do artigo, Declev, vc colocou:

    “As razões das dificuldades dos alunos, conforme a conveniência.

    As razões da falência da escola, conforme queiramos culpar alguém.”

    Acho que tudo que vc escreveu sobre o que dizem sobre os alunos, pelo menos o que vc citou aqui, é verdade e não é nada conveniente pra ninguém, não são desculpas esfarrapadas, nem nada parecido.
    Só não sei se usaria a palavra “coitados”, porque tem sido usada de forma quase pejorativa por muitos. Talvez usasse outra palavra, mas que eles são as maiores vítimas de todos esses absurdos, até por não saberem ainda como se defender, a não ser agredindo das formas que vc citou – o que só piora tudo pra eles, mas estão longe de entender isso… -, lá isso são.
    Com vários deles, entretanto, em conversas individuais, conseguimos grandes avanços, especialmente quando a família e a escola, juntas, ajudam.

    Quanto a:

    “Ah, é culpa dos professores, que são mal preparados, não sabem dar aulas e são preguiçosos!”.

    Infelizmente, vários são, mas a “culpa” de tudo que tem acontecido na educação está longe de ser do professor, no geral, até porque o bom professor também é vítima desse sistema perverso. Vc sabe como penso!

    Força, Declev!

    Grande abraço,
    Regina Milone.

    Resposta
    • 26/10/2012 em 00:51
      Permalink

      Oi Regina,

      Esse meu artigo é todo ele uma “ironia”.

      Quero dizer exatamente isso: os alunos não são “coitados”, são vítimas. Os professores não são “culpados”, são vítimas.

      Abraços,

      Resposta
  • 26/10/2012 em 09:50
    Permalink

    Agora sim… Perfeito!
    Não tinha percebido a ironia… (dei bobeira…rsrsrs). Me desculpe.

    Abraços,
    Regina.

    Resposta

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