Programa sobre educação: algo me parece imcompleto…

 

Assisti há uns dias um dos programas da série sobre educação da GloboNews (Educação Sob Medida).

Fico sempre preocupado com estas reportagens, porque invariavelmente dão informações incompletas e chegam a conclusões certeiras com elas.

Educação não é ciência exata, não é matemática. Dois mais dois em educação nem sempre é quatro. Para se chegar a um determinado resultado, não basta um dos fatores ser levado em conta, mas o conjunto deles e como se comportam juntos.

Nem todos que se aventuram a escrever sobre educação – “escrever”, por que “fazer” é outro papo – levam isso em conta. Vejam, por exemplo, a opinião atravancada do filho de banqueiro.

Verborragia educacional é muito fácil. Um filho de banqueiro falar que professor está ganhando muito, é demais pra minha cabeça!

Ora, tem-se hoje “todas as crianças na escola”… mas qual escola? Tem-se “aumento do salário dos professores”, mas qual salário? Se se ganha pouco e se aumenta um pouco, continua-se com pouco!

Então, nem sempre a “fórmula mágica” apresentada é simples nem mágica. Não se pode generalizar como querem supor.

Podemos dar alguns exemplos retirados da série televisiva.

A reportagem mostrou uma escola nos cafundós do sertão nordestino que é uma das melhores do Brasil nas notas em exames nacionais. Maravilha.

Logo depois, mostrou uma outra na periferia do Recife, que é o oposto: sem professor, sem carteiras, com péssimos resultados.

E fez também uma comparação das verbas recebidas entre as duas, pra mostrar o quanto uma escola e seu diretor são uma maravilha (recebendo pouca verba) e a outra é uma m recebendo muito mais verba.

Até aí, nada de mais e tudo lógico como matemática, certo? Não na lógica matemática educacional.


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A reportagem não citou quantos alunos tem em uma escola e quantos alunos tem em outra… Qual o tamanho de uma e o tamanho da outra? Quais as necessidades de uma e as necessidades da outra? Ninguém ficou sabendo.

Ora, se uma tem 1.000 alunos e a outra tem 200, se uma tem 20 salas e a outra tem 8… as diferenças entre as verbas se tornam muito menores do que literal e matematicamente vemos.

 

Desta forma, a reportagem esquece de inserir uma série de fatores atenuantes e agravantes que modificam a equação dois mais dois – ou, quando lembra dos fatores, o faz quase que mostrando o quanto uma escola é ruim e a outra boa, para corroborar a tese deles.

Neste caso, a reportagem, por exemplo, em determinado momento cita o entorno da escola da periferia do Recife como área de risco, perigosa e que, por isso, nenhum professor quer ir para lá – um dos motivos da falta de aulas constante.

Mas não problematiza esta situação com a direção da escola nem com a secretaria de educação, nem mesmo com os professores. Fala até como se fosse culpa destes não quererem trabalhar lá.

Em nenhum momento relaciona a vida dos alunos nesta área de risco com seus resultados nos estudos – a violência que sofrem, as pressões que sofrem, o medo que sentem, os “heróis” que têm, o relacionamento com os responsáveis…

Só que isso faz a diferença entre elas ser de uma distância absurda!

Veja, por exemplo (um exemplo extremo, mas exemplo), o que aconteceu na escola de Realengo. Dá pra comparar essa escola, especialmente agora, com uma escola de uma área não conflitiva, seja rural, seja dentro da cidade? Dá pra comparar as condições de estudo e trabalho? E se em uma escola que vive a violência de perto ainda faltasse verba para consertar as carteiras (apesar da verba “maior” recebida)? E se faltasse professor, porque ninguém quer ir pra lá?

Pode-se comparar as duas?

Ou se deveria ver os problemas reais de cada uma para atuar com foco direcionado?

Se prestarmos atenção, há outras “faltas” na reportagem, tal qual quando apresenta a escola “boa” em atuação, mostra pequenos grupos de alunos, no grupo de recuperação, poucos alunos; na escola particular, turma bem pequena… Mas em nenhum momento remete ao fato das turmas pequenas serem um fator positivo na aprendizagem e trabalho desenvolvido.

Poderíamos continuar ainda com as divagações, mas o artigo ficaria muito grande.

Só quero mostrar que educação tem muito mais elementos envolvidos – por se tratar de gente, de pessoas – do que simplesmente “essa escola atingiu o Ideb, aquela não” ou “essa escola recebeu 100 mil, aquela recebeu 20’”.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor de escola em área violenta

5 comentários em “Programa sobre educação: algo me parece imcompleto…”

  1. Rosângela

    O que querem mesmo é transformar a educação pública em “empresa”, o que já acontece com a educação privada…

  2. Declev,esse Ioschpe é um caso de polícia!Ele bate sempre na tecla do salário da gente!Se vc ler na totalidade o caso dele verá que ele escreve pra revista que tem o cu (desculpe!) preso com o governo do estado de Sampa(meu estado)que sempre,desde que o PSDB é governo (há quase 20 anos!) jogou a culpa do fracasso escolar nas costas da gente.Aqui fizeram a tal Progressão Continuada sem as devidas adequações-classes menores,psicopedagogos,psicólogos,orientadores pedagógicos(pra lidar com aluno,não com professor)e…salário pro professor não ter de dar aulas em mais de uma escola-e quando viram o resultado,alunos semi-analfabetos terminando o Ensino Médio,disseram que os alunos não aprenderam por causa dos professores.Por causa da gente!Na mesma linha temos a tia Viviane Senna com sua “ongui”.Pois é,até quando?

    1. Oi Valter,

      Ese filho de banqueiro falando que o salário de professor é alto, realmente é caso de polícia ou de hospício.

      No mais, aqui no Rio importamos a cláudia costin, daí de São Paulo.

      Por favor, LEVEM-NA DE VOLTA!!! rs…

  3. rapaz!Até poderia trazê-la pra cá-gosto de mulheres mais velhas-mas quem vai pagar a passagem?O governo de RJ ou o nosso(des)governo?Porque eu não posso;além de professor de Escola Pública,eu estou licenciado(depressão,burn-out,o escambau)e,por causa disso,ganho menos ainda que o “normal”.
    Abraço,Declev.AMO o seu blog,véio!

  4. Pingback: O que fez desta escola uma das melhores escolas do Estado?, perguntou o repórter à diretora | Diário do Professor

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