Esta é mais uma falácia para falar mal da escola pública, mais um reducionismo do amplo espectro da educação.
Ora, ninguém pode negar que a escola pode ser mais ou menos motivadora, mais ou menos desenvolvedora de habilidades e de capacidades intelectuais.
Mas reduzir-se esta questão a este estudo, falho, é mais uma vez nivelar os absolutamente diferentes pela mesma ótica.
As conclusões a que se chegaram são totalmente direcionadas ao que eles queriam chegar, pois pode-se muito bem chegar a outras.
Ou seja: vê-se o sol passear por todo o céu da Terra, de horizonte a horizonte, portanto… o Sol gira em torno da Terra!
É uma conclusão a que podemos chegar, mas sabe-se que não é bem assim.
Vamos analisar.
Contribuição da Escola ao desenvolvimento intelectual
Primeiro, pinçaremos alguns itens do artigo e da pesquisa (com negritos meus):
1 – O estudo foi feito com dois grupos de alunos do 7º ano do ensino fundamental de escolas públicas de São Paulo. Todos se inscreveram para participar do Projeto Alicerce (programa da ONG Ismart que concede bolsas em colégios particulares de elite que preparam o aluno para cursar o ensino médio nessas instituições), porém metade foi aprovada e metade não.
2 – A nota dos dois grupos era muito parecida no Saresp, mas, dois anos depois, quando os estudantes concluíram o 9º ano do ensino fundamental, a comparação do desempenho dos dois grupos apontou diferenças – os que participaram do projeto tiveram um acréscimo de pontos maior na prova do Saresp.
3 – “Em dois anos, estudantes que participaram de aulas no contraturno em colégios particulares avançaram mais de 100 pontos na média do Saresp”;
4 – Segundo o pesquisador – um economista da USP, “Os resultados mostram que a escola faz a diferença”. Segundo o artigo, “concluiu-se que o ambiente escolar contribui, e muito, para alavancar alunos do nível básico ao avançado”;
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5 – E, segundo a a diretora da ONG, “Temos dificuldade em preencher as 20 vagas disponíveis por escola participante. É difícil encontrar alunos dentro do perfil. Tem que ter motivação, família dando suporte, maturidade e bom desempenho. O programa exige muito deles”
Vocês percebem a maldade?
Percebem as mensagens subliminares?
Percebem a manipulação das informações?
E tudo isso com uma capa de “científico”, de “universitário”, ou seja, como se fosse a verdade absoluta provada e comprovada por um estudo “científico”.
Vamos às minhas considerações:
1 –
O estudo foi feito com alunos que se inscreveram para participar do projeto.
Bom, se eles se inscreveram, é porque queriam algo mais, não são aqueles alunos que não querem nada com o estudo. Então, já começamos a selecionar os alunos de determinada escola, não são todos os alunos de toda a escola, certo?
2 –
Percebam onde está o pulo do gato, na frase da diretora da ONG: “É difícil encontrar alunos dentro do perfil. Tem que ter motivação, família dando suporte, maturidade e bom desempenho.”
Ops!, “alunos dentro do perfil”??? Tem que ter “motivação, família dando suporte, maturidade e bom desempenho”???
Então não estamos falando de escola, mas de alunos!!!
Presta atenção: você seleciona, dentre os alunos que querem algo, os melhores.
É a seleção da seleção, em termos de “bom desempenho”, “motivação”, família dando suporte”, “maturidade”.
3 –
Aí você pega a nata da seleção dos alunos e o que faz?
Faz mais com eles. Faz com eles muito mais do que a escola em que os outros – o refugo – estão, é capaz de fazer.
Você dá a eles aulas no contraturno, aulas de reforço, aulas direcionadas a que possam fazer uma boa prova.
Ou seja, aos outros – o refugo – você dá o mesmo. E eles são justamente os que mais precisam, porque são desmotivados, não têm bom desempenho, a família não dá o suporte necessário…
Temos, inclusive, dentro deste refugo, aquele grupo dos melhores, mas não tão bons, que foi descartado pelo projeto porque não passou numa primeira prova de seleção.
Mas todos estes continuam estudando metade do tempo dos outros (sim, porque não tiveram direito ao contraturno) juntamente com todos aqueles alunos que “não querem nada”, são desmotivados, não têm bom desempenho, a família não dá o suporte necessário…
Então, com estes dados totalmente desproporcionais, com estas duas realidades tão distintas, com estes dois grupos de análise absolutamente incompatíveis, a USP, a melhor universidade do país, faz um estudo “científico” e chega à brilhante conclusão que “a escola faz diferença”.
Ora, meus amigos: o que fez a diferença foram os alunos!
Os alunos foram selecionados e foram dadas a eles muito mais opções de estudo ou aprendizado!
E se, por acaso, este contraturno com um grupo menor, selecionado, direcionado ao estudo e aprofundamento de determinada matéria fosse feita na mesma escola que eles estudam, o resultado seria diferente?
Não, meus amigos, não seria: eles teriam, com certeza, um grande aumento de “pontos” nas provas, pois teriam, para além das aulas normais com aqueles que são desmotivados, não têm bom rendimento nem família dando suporte, aulas de reforço com um grupo menor.
Então, como se pode chegar, com estes dados deturpados, à conclusão que a escola faz diferença?
Eu respondo: sendo malicioso, maldoso e direcionando sua conclusão ao que você quer dizer. Eles querem dizer que o Sol é que gira em torno da Terra.
Eu chego à seguinte conclusão:
Selecionar os melhores alunos de uma escola – os mais motivados, que têm a família dando suporte, que têm maturidade e bom desempenho – e dar a eles mais tempo de estudo, separados dos “piores” alunos, é eficaz para melhorar os índices nas provas oficiais.
Nada mais do que isso.
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
Revoltado
Artigo escrito originalmente em 15 de maio de 2012
Declev, não entendi o seu ponto. O argumento principal do artigo é: muitos alunos podem ser beneficiados por melhorias no ambiente escolar. Essas melhorias incluem, como é citado no artigo: acesso a laboratórios, maior cobrança dos professores, colegas mais estimulados, atividades no contraturno, etc. O foco não é, de modo algum, falar mal da escola pública.
Quanto à seleção dos alunos, não vejo problema neste ponto, uma vez que o efeito da escola é observado dentro do mesmo grupo de alunos. Em outras palavras: não se compara os alunos selecionados (teoricamente, mais preparados, motivados e etc) com os não selecionados. Compara-se, isso sim, alunos antes e depois de passarem pelas atividades extras. E conclui-se que essas atividades levam a um aumento do desempenho destes alunos nos testes.
Acredito que, ao invés de nos fecharmos em uma postura defensiva, devemos estar abertos ao que o estudo diz. O resultado é positivo, visto que comprova o que os profissinais da rede pública tanto dizem: é necessário oferecer um ambiente cada vez melhor aos alunos, com professores motivados, recursos pedagógicos inovadores, acompanhamento personalizado, equipe multidiscplinar na escola, entre outros.
Oi Zuaquim,
Obrigado pelo seu comentário e considerações. Discussões sempre são bem vindas.
Mas continuo discordando de você.
Para mim, o artigo e a pesquisa são bem claros.
Discordo que o argumento principal seja o que você diz. O argumento principal (implícito ou explicito, não importa) é: “as escolas particulares são boas, as públicas são ruins ao desenvolvimento intelectual dos alunos”.
Isso fica bem claro em algumas passagens e começa pelo título e subtítulo, o qual é:
“Estudantes assistidos por ONG que paga curso em escolas particulares saltaram 100 pontos em 2 anos,
enquanto colegas não avançaram”
Esta frase já resumo tudo o que pensam, e que é justamente ao contrário do que você diz.
Eles não falam em “melhorias no ambiente escolar”, pois em nenhum momento falam em melhorar o ambiente da escola pública (ou fazer o mesmo que fazem nas escolas particulares, ou seja: selecionar os melhores e mais interessados alunos e dar a eles aulas no contra-turno em sua própria escola).
Veja esta outra frase, logo no primeiro parágrafo:
“Estudantes que participaram de aulas no contraturno em colégios particulares avançaram mais de 100
pontos na média do Saresp”.
Ora, o que faz a diferença é o fato de terem aulas no contra-turno ou o fato de ser em “colégios particulares”. Segundo você, eles querem dizer que é o contra-turno. Mas, então, porque “em colégios particulares”?
Nada, em jornalismo, é à toa.
Você também diz que “O efeito da escola é observado dentro do mesmo grupo de alunos”.
Veja que efeito é observado dentro de um grupo de alunos, mas é COMPARADO com os outros alunos: aqueles que NÃO recebem aulas no contra-turno e NÃO são os melhores, nem os mais motivados, nem têm família apoiando, etc.
Ora, esta comparação está no próprio subtítulo da matéria, copiado acima!
E é exatamente este o meu ponto: eles pegam os melhores, dão mais aos melhores em uma escola particular e fazem comparações esdrúxulas, demonstrando “cientificamente” que as duas escolas são diferentes, a particular e a pública.
E eu também não entendi o seu ponto de vista, ao afirmar que eles não comparam os dois grupos de alunos, visto que a comparação já está explícita no próprio subtítulo e em outras passagens, sendo bem claros:
“A nota dos dois grupos era muito parecida no Saresp, mas, dois anos depois, quando os estudantes
concluíram o 9º ano do ensino fundamental, a comparação do desempenho dos dois grupos
apontou diferenças.”
Por fim, você diz que “O foco não é, de modo algum, falar mal da escola pública.”, Ora, veja esta passagem:
“Ele destaca que teve bons professores na escola estadual, mas que teria sido muito mais difícil
fazer Medicina sem uma bolsa em uma escola particular.”
Sinceramente, reafirmo todas as minhas palavras: compara-se os resultados de dois grupos de alunos em situações totalmente diferentes, ou seja, um dos grupos é selecionado, são os melhores, mais interessados, que têm família que ajudam e tem aulas no contra-turno. No outro lado… os que não têm nada disso.
E chegam à conclusão que a escola que presta é a particular.
Covardia.
Abraços,