Inclusão Escolar: como podemos colaborar?

Inclusão Escolar: como podemos colaborar? Como crianças e adolescentes podem colaborar com a inclusão escolar de colegas neurodiversos?

Esse é o assunto que iremos abordar hoje, com a ajuda da neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto.

Nos últimos anos, o assunto inclusão se tornou mais presente na sociedade. Entretanto, ainda é necessária uma longa caminhada para nos tornarmos, de fato, uma sociedade inclusiva.

“A pessoa com algum tipo de necessidade específica deve ser tratada com respeito e empatia, sendo incluída nas atividades, fazendo as adaptações necessárias, mas, ao mesmo tempo, sem que os outros sintam pena ou diminuam o potencial delas. As pessoas costumam achar que inclusão é sobre aceitação, mas não. É respeito às diferenças e possibilidade de adaptação de acordo com a necessidade individual de cada um”, explica Bárbara Calmeto.

A seguir, Bárbara responde algumas dúvidas que podem ajudar a sociedade acelerar no processo de inclusão.

Inclusão Escolar: como podemos colaborar?

1- As pessoas costumam confundir inclusão e aceitação. Qual é a diferença?

Incluir não significa apenas aceitar a diversidade e simular esta aceitação na hora da matrícula escolar.  A ideia de inclusão escolar vai além e tem como princípios uma educação pela não discriminação, oferecendo igualdade de oportunidades para pessoas diversas, com capacidades, jeitos, condições e outras diferenças.

Aceitar, incluindo verdadeiramente, é quebrar o capacitismo.

A criança autista não é um ser especial, um anjo azul, nem um problema, nem precisa de uma cura. O autismo precisa ser tratado com naturalidade e sem romantização. Infelizmente é muito comum ver espaços que apenas “toleram” a presença de crianças no espectro do autismo e não promovem uma integração real diante da turma e das atividades, muitas vezes justificando bullyings e preconceitos como consequência do comportamento neurodiverso, colocando a vítima do preconceito como culpada.

É papel da escolar incluir, integrar e estimular o relacionamento saudável entre todas as crianças, respeitando suas diferenças.

2- Ter uma sociedade com pessoas atípicas também é importante para as outras crianças?

O primeiro passo é respeitar e observar as necessidades do colega. Seria importante a escola promover uma orientação para os colegas da turma sobre o transtorno do colega e quais as dificuldades e potenciais dela. Assim, os colegas entenderão e não ficarão com dúvidas.

As crianças não sabem sobre o transtorno, logo, não sabem como lidar.

Acredito que a informação é o principal aliado da inclusão escolar verdadeira. Quando chega uma criança com deficiência ou transtorno, a escola deve promover um processo de conscientização de acordo com entendimento cognitivo da turma e com foco no potencial, em como os colegas podem dar apoio e ajudar.

Essas ações também diminuem o processo de bullying, que é muito comum nas escolas. Crianças que aprendem sobre respeito ao próximo e sobre integração social se tornam pessoas mais gentis e com desenvolvimento sócio-emocional para a vida.

3- Como os pais de crianças neurotípicas podem ajudar nesse processo?

É importante que as crianças cresçam com consciência sobre diversidade. O espaço escolar é uma grande oportunidade para trabalhar a diversidade de ideias e comportamentos. Ao falar com seu filho, mesmo os pequenos, sobre alguma criança com autismo, ela entenderá com facilidade.

É fundamental ter cuidado na hora de passar explicações capacitistas. No caso do autismo existem diferentes níveis de suporte e comportamentos diversos.

Nem todo autista não consegue fazer contato visual, nem todo autista tem dificuldade na comunicação, nem todo autista se incomoda com barulho. O mais importante é explicar que todos somos diferentes e que podemos nos apoiar nessas diferenças.

4- No dia a dia, podem surgir dúvidas sobre os colegas com autismo. Alguns adultos, porém, preferem não abordar o tema quando tem outras pessoas presentes. Como agir nesses casos?

É fundamental acolher as dúvidas e explicar. Crianças não sabem de tudo, assim como muitos adultos não sabem. E quando há dúvidas precisamos pesquisar, estudar, questionar.

Então, se uma criança questionar o comportamento do colega, por exemplo, é fundamental explicar que aquela criança não se sente bem quando tem muita gente falando alto, por exemplo, por isso prefere ficar mais distante naquele momento. Ou que ela precisa se balançar para se regular.

É fundamental normalizar, sem romantizar ou evitar os assuntos como se fossem um tabu.

5- E qual é o papel da escola na inclusão escolar?

A criança com autismo, assim como toda criança que vai à escola, deve aprender, se desenvolver, brincar e ser inserida em sala de aula. Para isso, é necessário ter um planejamento pedagógico adequado, que considere suas dificuldades, habilidades e necessidades, com conteúdo inclusivo. 

As crianças com autismo se sentem mais seguras quando têm uma rotina previsível. Além disso, podem reagir mal a mudanças e adaptações no ambiente. A repetição de processos e atividades em sala de aula é muito benéfica para elas.

É fundamental entender se o aluno responde melhor a estímulos visuais ou auditivos, de que forma interage melhor com a turma. Se a criança puder reconhecer padrões e uma rotina na escola, ela conseguirá controlar a ansiedade e se sentir mais segura.

Mas um detalhe importante: não deve existir diferenciação entre os conteúdos, pois isso atrapalha a interação com as outras crianças e prejudica a motivação do aluno com autismo para a aprendizagem e também acaba promovendo o capacitismo.

Todos os alunos devem ter acesso às mesmas informações, ainda que seja necessário fazer algumas adaptações na forma como elas serão apresentadas e trabalhadas por cada um.

6- Segundo a Lei nº 12.764/2012, que fala sobre a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, alunos autistas incluídos em classes comuns de ensino regular têm direito a acompanhante especializado. Há muitas dúvidas sobre esse assunto. Quais são, de fato, os direitos dessas crianças e, consequentemente, dos pais?

A escola é obrigada a oferecer suporte para toda e qualquer adaptação que o aluno precise. Infelizmente, a escola fica com olhar na parte pedagógica, mas alguns alunos precisarão de suporte para a parte de socialização e comunicação. Outros alunos precisarão de um apoio maior com adaptação curricular e de rotina diferenciada no ambiente escolar.

Só com a presença de um mediador escolar exclusivo que o direito à educação dos pacientes mais graves será mantido. A Lei Federal 12.764 diz que “Em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do espectro autista […] terá direito a acompanhante especializado”.

Inclusão Escolar – sugestões práticas

Abaixo, Bárbara sugere 10 sugestões de práticas importantes na escola para criar um ambiente diverso e respeitoso.

“Além das famílias, a escola tem papel fundamental nesse processo de inclusão escolar, não apenas por ser o ambiente onde as crianças começam amizades como também por contar com profissionais capacitados para essa interação. É nas escolas que as crianças começam seu processo de socialização, que aprendem na prática sobre respeitar as diferenças do outro. E por isso é essencial que esses locais estejam preparados para esse dia a dia”, afirma Calmeto.

1 –    Estude sobre o diagnóstico do aluno, saiba as principais características do transtorno e as dificuldades específicas do aluno;

2 –    Faça um trabalho educativo de conscientização sobre o transtorno do aluno em toda a escola, desde o porteiro, auxiliares de limpeza, alunos, professores e outros. Naturalize as diferenças! Se o aluno com deficiência tiver possibilidade, peça para ele mesmo participar desse processo;

3 –    Escute o aluno com deficiência, olhe para ele, observe seu dia a dia. Dê voz para que ele te mostre seu potencial e suas necessidades;

4 –    Anote as dificuldades específicas do aluno e trace estratégias de adaptação e ajustes dessas necessidades;

5 –    Crie dicas visuais, organização da rotina escolar, adaptações curriculares para conteúdos e provas;

6 –    Organize um “canto da calma” na sala de aula com materiais que possam ajudar no equilíbrio sensorial do aluno;

7 –    Escreva um Plano de Ensino Individualizado (PEI) com as metas específicas e estratégias necessárias para que o aluno consiga ampliar seu conteúdo pedagógico durante o ano;

8 –    Vá aumentando as possibilidades de participação do aluno com deficiência na rotina escola, conte com apoio dos próprios colegas para os apoios;

9 –    Busque reunião com a família e com os profissionais que acompanham o aluno para trocas e ajustes de como ajudar melhor;

10 –  Seja empático! Respeite! Inclua! Somos diferentes e tudo bem!

Texto: neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto

Imagem: Jumping Rope by Perlisima Shoeder from Noun Project

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

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