As desgraças do dia a dia que ouvimos e vemos como professor vão nos corroendo cada vez mais, pouco a pouco.
É impossível ficar indiferente sem sentir nada ouvindo os relatos dos alunos e alunas sobre suas vidas.
As desgraças do dia a dia
Com 26 anos de docência em escolas públicas de periferia, não seria de estranhar a quantidade de histórias que a gente ouve.
Ás vezes a gente fica sabendo por terceiros, às vezes são os próprios alunos e alunas que nos contam.
Nem sempre contam esperando consolo – às vezes sim – mas como algo normal do dia a dia.
São as desgraças do dia a dia do povo mais pobre, na maiora das vezes, mais preto. Porque que há pobre branco, há, mas dentre os pobres, os pretos são maioria e são os mais pobres.
É uma situação que a gente ainda não conseguiresolerver… a falta de oportunidade, de perspectiva de futuro, a falta de absorção da população negra à vida social.
Faça o teste do pescoço: a cada lugar que for, vire sua cabeça para a direita e para a esquerda, procure a quantidade de negros que há em cada espaço social, convivendo com os brancos.
Isso muda se for um boteco na margem da favela ou um restaurante na Zona Sul; se for um shopping mais popular ou um shopping de rico; se for uma escola pública ou uma escola particular.
Os perigos da internet para crianças e adolescentes
É algo que não conseguimos mudar, mas é urgente.
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Bem, na verdade eu estava contando sobre as desgraças do dia a dia.
Hoje a avó de uma aluna ligou para a escola para justificar a falta dela.
Não sei detalhes, mas a história a grosso modo é: a prima de 19 anos caiu da moto na estrada, o caminhão passou por cima. Ela ficou “igual a um papel”.
A mãe dela, tia da aluna, estava no hospital esperando a operação para amputar uma perna. Teve que pedir uma licença, uma alta temporária para ir ao enterro da filha.
De caixão fechado.
Esta menina já havia perdido os pais desde criança e o irmão já havia se suicidado. Agora foi a prima que ela mais gosta.
E hoje recebemos a notícia também da morte da mãe de um outro aluno, que já é meio pancado, agora então…
É isso.
A minha vida? Não tem desgraça nenhuma.
Mas não consigo ser feliz vendo tudo o que ocorre à minha volta.
Abraços,
Declev Reynier Dib Ferreira
Doutor em Ciências