Eduardo Paes, a Farsa, é um desabafo. Desabafo de quem já não aguenta mais. Alguém que, depois de mais de 20 anos de prefeitura, quer urgente veemente e desesperadamente se aposentar.
Alguém que pode surtar a qualquer momento e sair de licença psiquiátrica – como já ocorreu. Mas agora para não mais voltar, espero.
E isso em parte graças ao Eduardo Paes, a Farsa.
Eduardo Paes, a Farsa
Pinta de galã, pé de sambista, roupinhas de malandro e ginga de carioca… o que mais se queria para um prefeito do Rio de Janeiro, não?
Tanto é que muita gente boa cai nessa farsa. São intelectuais, artistas, globais, gente de toda estirpe que faz campanha ou, se não faz, apoia e vibra quando ele ganha.
E já são 3 mandatos!
Tá certo que o Rio de Janeiro tá ruim de emplacar alguém bom, até porque a cidade – e por que não, o estado – é controlado por gente que já sai do mandato para a cadeia, além de traficantes, milicianos e toda sorte (ou azar) de vigaristas.
Desta forma, basta ser o “menos pior”, aquele que não é denunciado, julgado e preso – nem mesmo se roubar uma viga da Perimetral de milhões – para ser o queridinho e eleito diversas vezes. E com folga.
Mas não se enganem, o Eduardo Paes, a Farsa, é uma farsa.
Ao menos para nós, servidores públicos municipais. E somos nós, servidores públicos municipais, que fazemos a cidade do Rio de Janeiro funcionar.
Cercado pelo mar de um lado e por montanhas do outro, o que sobra além de uns poucos pedaços de terra bonita (muito bonita, por sinal) é favela.
Favela e MUITA gente pobre, sucumbida sob a pressão de traficantes de um lado e milicianos de outro. Da polícia, nada podem esperar, porque esta também é traficantes de um lado e milicianos de outro, mesmo que sejam todos absolvidos pela justiça corporativa.
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Então, o que sobra para eles? Os servidores públicos municipais.
Não vou desenvolver aqui sobre os servidores da Saúde, Assistência Social ou quaisquer outros setores, porque não tenho detalhes precisos, mas vou falar de nós, professores e servidores da Educação.
Sei sim, algumas coisas sobre outros. Por exemplo, de uma arquiteta da prefeitura, 40 horas de serviço semanais, com exclusividade, que ganha pouquíssimo para sua função e, diz-me, não tem nenhum aumento nem mesmo reposição das perdas pela inflação há mais de 15 anos!
Mas vamos aos detalhes da minha vida profissional com Eduardo Paes, a Farsa.
A Educação sob o Eduardo Paes, a Farsa
Fui admitido na Secretaria de Educação do Município do Rio de Janeiro como professor de Ciências em 17/12/2003.
Foi uma maravilha!
Eu já era na época professor do Município de Niterói há 5 anos (entrei em 13/01/1999) e o salário do Rio de Janeiro era cerca de 30% MAIOR do que o de Niterói!
Imagina!, entrar em um segundo emprego, com condições similares (contratado por 16 horas, sendo 12 aulas semanais), mas ganhando muito mais do que o outro!
Na época, o prefeito da cidade do Rio de Janeiro era o César Maia. A Secretaria de Educação ficou, então, sob sua tutela até final de 2008, ou seja, 5 anos desde que entrei.
As condições de trabalho continuaram maravilhosas, nosso salário idem. Todo mundo queria ser professor do Rio de Janeiro, tínhamos benefícios, atualização salarial e éramos respeitados.
Quando eu entrei eu já tinha especialização e, durante seu mandato, eu terminei o mestrado.
Até que em 1º de janeiro de 2009 entrou Eduardo Paes, a Farsa.
O dito cujo malandrex, sambando e falando gírias emplacou dois mandatos, ou seja, ficamos sob sua administração durante 8 anos – de 1º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2016.
Cláudia Costin, a Outra Farsa
Nos primeiros 5 anos – de janeiro de 2009 a maio de 2014 – a Farsa contratou a administradora ligada a inúmeras fundações Cláudia Costin, a Outra Farsa.
A Outra Farsa saiu da Fundação Victor Civita para a prefeitura, da prefeitura para o Banco Mundial.
Percebeu o naipe de educação pública dela?
Antes mesmo de assumir a Outra Farsa soltou na mídia a pérola “quando um aluno é reprovado, é sinal que o professor falhou”.
Esta é uma frase tão absurda que eu tive que responder à época com um grande artigo aqui mesmo no blog (Carta aberta à futura Secretária de Educação do Rio de Janeiro, Cláudia Costin) para explicar à senhora do Banco Mundial que o professor em sala de aula é somente o soldado que está lá na frente de batalha, atuando para minorar o estrago que a sociedade e pessoas como ela – e o prefeito – fazem ao povo.
Quem perde a guerra não é o soldado, mas uma série de acontecimentos, decisões, contratações, estratégias e ordens que fazem com que a guerra seja perdida.
Podem ser os melhores soldados, mas sem apoio, sem retaguarda, sem salário, sem benefícios, sem recompensas, sem armas, sem um líder justo que pensem por eles, não vencem nem batalhas nem guerras.
Mas é fácil colocar a culpa nos soldados, ops!, nos professores, e depois desviar os recursos para os salvadores.
Durante a passagem da funcionária do Banco Mundial, inúmeras Fundações, Institutos, consultores e ONGs receberam MILHÕES da Educação para realizar projetos, projetinhos e projetões.
Sobre o imenso desvio legal de dinheiro da Educação para os “parceiros”, eu escrevi diversos posts na época. Veja alguns exemplos:
- É urgente desfazer a ideia de que todo problema está no(a) professor(a) e as Fundações, Institutos e empresas vão salvar a educação
- A quem cabe fazer a educação formal?
- Não tem dinheiro pra educação? Mas pras Fundações, Institutos, Consultores e ONGs “parceiras” da escola tem, e muito!
- Diz que foi engano, diz!
- Comentário sobre artigo do Cristovam Buarque e Jorge Werthein – Sangari e outros bichos
- Comentário sobre comentário… Sangari e mais outros bichos
- É, realmente, “muito dinheiro para a educação”, senhor Burro? Vejamos o caso da sangari, no município do Rio de Janeiro
Assim é muito fácil transitar entre secretarias, fundações, institutos e bancos, não?
Muita gente, mas MUITA gente ganhou dinheiro nesta época. Menos os professores, aqueles que estão lá no front de batalha.
Neste ínterim da passagem da administradora pela Secretaria de Educação do Rio de Janeiro – lembrem, apenas 5 anos – o meu salário do Rio passou a ser METADE do de Niterói (lembram que era 30% menor do que o do Rio?).
METADE. E assim continua até agora. Ou seja, eu ganho no Rio de Janeiro METADE do que ganho em Niterói.
Sou a mesma pessoa, o mesmo professor, a mesma formação, a mesma carga horária. Terminei o doutorado e esse título não me dá NADA a mais no Rio.
Ganho em Niterói o DOBRO do que eu recebo no Rio.
Para compensar a perda salarial – aliás, eu nem diria perda, diria minoração salarial – a dupla dinâmica Paes-Costin inventou o 14º salário; uma esmola que dariam a quem se comportasse bem, andasse no cercadinho e atingisse algumas “metas”.
É óbvio e ululante que este tipo de política gera inúmeras injustiças, mas eles não estão nem aí, claro. O Banco Mundial deve gostar.
São tantos elementos a serem analisados dentro desta proposta de “metas” na educação que eu sugiro vocês a lerem outro artigo aqui:
Só queria dizer umas coisinhas: o professor não atua com máquinas; não atua com números; não atua com autômatos. São seres humanos, centenas de seres humanos que cada professor atua, divididos em turmas de mais de 30 alunos com seus problemas, descasos, famílias, necessidades, dificuldades…
Nós podemos fazer TUDO certo, dentro das normas do Banco Mundial, nos comportar bem, andar no cercadinho e mesmo assim não atingir as “metas” estipuladas para a gente ganhar a esmola que nos dão ao final do ano.
Mas isso não quer dizer que não tenhamos dado alento à inúmeras crianças; que não tenhamos ajudado dezenas delas a não se cortarem, não fugirem de casa nem evadido da escola; que a gente não tenha ensinado a um aluno do 9º ano, atrasado por conta de dezenas de motivos, a ler e escrever e saber fazer as contas básicas – mas não o suficiente para atingir a “meta”.
Ou seja, no final, o que Eduardo Paes, a Farsa fez foi diminuir o nosso salário a nível de fome para, depois, oferecer algo no final do ano. Algo que nem todos ganham, mesmo se esforçando e fazendo o trabalho.
Mas tem mais.
O novo Pacote de Maldades de Eduardo Paes, a Farsa
Agora, em seu 3º mandato, virado no Jiraya, depois que ganhou as eleições contra ninguém (desculpe Tarcísio Mota, você seria meu prefeito ideal, mas o povo miliano do Rio de Janeiro nunca te aceitará; talvez nem mereça), ele já tem o seu Pacote de Maldades contra o funcionalismo público – especialmente aos professores – antes mesmo de colocar a mão na chave da sala.
Ele simplesmente, para além de acabar com o nosso salário e autonomia, desviando dinheiro para os “parceiros”, como mostrei, agora quer enterrar de vez o funcionalismo público.
Sério, estou passando mal de escrever estas linhas, então quero parar, mas darei algumas pitadas das asas de morcego e olhos de cobra que existem no pacote:
- Os contratos temporários podem chegar a SEIS ANOS.
Isso quer dizer que ele não precisa mais chamar concursados ou realizar concursos. Tem falta de professor? Contrata. Aí o profissional ficará todo fim de ano (contrato anual) sem saber se terá o contrato renovado ou não e, depois de seis anos, será simplesmente descartado.
O “professor temporário” vira praticamente permanente.
- Aumento da Carga horária sem mexer no salário
O projeto altera a contagem das horas-aula dos professores da rede municipal do Rio de Janeiro.
O prefeito quer modificar o cálculo atual das nossas horas de trabalho. A nossa hora-aula tem 50 minutos (em Niterói são 45 minutos), então, quando somos contratados para 16 horas ou 40 horas, são 16 ou 40 horas-aula.
Por que isso? Ora, porque as crianças e adolescentes têm um tempo próprio de atenção, de “aguentar” uma aula. Muitas vezes damos duas ou três aulas seguidas. Ficar 2 ou 3 horas direto com a mesma turma é improdutível.
Além do mais, há de se ter dezenas de horas-aula por semana para caber todas as disciplinas, se elas fossem de 1 hora não caberiam no tempo da grade curricular.
Enfim, isso SEMPRE foi assim na educação.
Agora, o Eduardo Paes, a Farsa quer passar para um sistema que contabiliza apenas os minutos trabalhados. Com isso, os docentes de 40 horas aumentarão de 26 para 32 tempos em sala de aula.
Ao final do mês, cada professor de 40 horas terá ministrado 24 tempos a mais, com o mesmo salário que ele mesmo minguou. Isso, como você pode perceber, diminui consideravelmente o tempo do professor fora da sala de aula.
Devo lembrar que, além da sala de aula propriamente dita, faz parte do trabalho docente (para que ele seja bem feito e ele possa “atingir as metas”) a auto-atualização, a preparação das aulas, a preparação de exercícios e provas, a correção de exercícios e provas, a pesquisa para desenvolver trabalhos diferenciados, o estudo de caso a caso dos alunos e muito mais.
Comparando com um jogador de futebol, este não trabalha somente no dia do jogo. Comparando com um advogado, este não trabalha somente no dia do julgamento.
Entende?
- Extingue a Licença Especial para todos os servidores
Para ele, a Licença Especial (três meses de licença a cada 5 anos trabalhados) é “arcaica”.
Mas, estranhamente, o alcaide “esqueceu” dos procuradores, e a licença especial da Procuradoria continua. Interessante, não é?
- Contribuição previdenciária com alíquotas progressivas
Alíquotas de contribuição previdenciárias maiores conforme mais ganha os servidores.
Tem mais coisas, mas paro por aqui.
Com tudo isso, confesso que estou muito, mas muito estressado, que não consigo mais dar aulas, que não tenho forças nem motivação para me empenhar. Não consigo ser nem 10% do que eu já fui. Não consigo nem me levantar da cadeira para dar aulas.
O ódio me paralisa.
O ódio que Eduardo Paes, a Farsa tem dos professores, hoje eu tenho dele em dobro.
Preciso me aposentar.
E é por isso que hoje, dia 11 de novembro, estou em estado de paralisação.
Quem sofre, além de nós, são os alunos.
Mas e daí, não é?
Abraços,
Declev Reynier Dib Ferreira