Sobre o salário do professor: piso mínimo e qualidade da educação.
O piso salarial do professor é, hoje, de R$ 1.451,00 para quem trabalha 40 horas. Ou seja: as prefeituras e governos em geral, têm que pagar, no mínimo, apenas 1.451 reais para um professor que seja contratado por 40 horas.
Celebrou-se como uma conquista, mas continua sendo uma vergonha, apesar do “especialista” em educação ioschpe ver – com os óculos de um empresário – que “A partir da década de 90, ocorreu um aumento substancial de salário nas regiões mais pobres do Brasil, mas não houve melhoria na qualidade do ensino” [É da revista (não)veja, então, se você tem estômago fraco, não leia).
Já escrevi aqui que governadores vêm pedindo para que este piso não aumente. Segundo esta notícia, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), havia pedido ao presidente da Câmara para votar projeto de lei que diminuía o piso. Mas, hoje, o site da Secretaria de Educação da Bahia disse que o governo vai cumprir a lei:
Apesar disso, o fato é que mesmo este piso – que ainda não deve ser totalmente cumprido pelo Brasil adentro – é uma merreca que reflete a desimportância que se dá à educação.
Para se ter uma ideia, um professor ou professora que receba este glorioso piso salarial não paga nem imposto de renda. É considerado pobre o suficiente para que o governo não raspe uma lasca de sua “renda”.
Ora, a educação é feita, basicamente, da interação entre aluno e professor!
O nosso aluno – especialmente nós que damos aula em escola pública – é carente de uma série de coisas, necessitando de atenção, dedicação, trabalho árduo, repetições, aprofundamentos, ajudas especiais.
O professor, para dar conta, tem que ser especialista em sua área de ensino, mas, para além disso, tem que saber como dar aula para seu público (não, não é nem fácil nem tão óbvio), tem que saber como repassar conhecimentos, como fazer estudar quem não quer estudar, entender de relações interpessoais, um pouco de psicologia, sociologia, antropologia, tem que pensar e repensar, fazer e refazer suas aulas permanentemente, saber diferenciar dentre diversas turmas e inúmeros alunos a maneira como cada um tem condições de aprender – sim, porque uma aula para uma turma não atinge a todos e a mesma aula pode ser totalmente ineficaz em uma outra turma.
Então, a base de uma boa educação é um professor competente e contente com o trabalho, bem pago, com tempo, calma e estrutura para trabalhar.
É só isso? Não, mas começa por aí e não se pode tentar fazer algo mais sem isso. Paulo Freire já dizia:
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“Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”.
E eu digo: Se apenas investir nos professores não muda a educação, sem investir nos professores não se muda a educação.
Simples assim:
– Salário decente, compatível com a formação e a responsabilidade do cargo. Os salários de professores universitários, apesar de já defasados, servem como uma boa base. Ora, temos no ensino básico muito mais dificuldades e responsabilidades, por que ganhar menos?
– Tempo e calma adequados ao trabalho – contratação para uma só escola, no mínimo metade do tempo para aula e metade para planejamento e pesquisas. Não dá pra trabalhar em 4 escolas e fazer um ótimo trabalho em todas elas! Novamente, a forma de trabalho de um professor universitário serve de base.
– Estrutura de trabalho decente nas escolas – salas de aulas decentes, materiais necessários, dentre outros.
Fora disso, pode-se fazer de tudo, que é jogar dinheiro fora. É dizer que investe-se em educação, mas, na verdade, gasta-se (ou lava-se) dinheiro com a educação.
Veja este artigo:
Investir mais em educação não garante resultados melhores – Relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) indica que investimento alto nos professores garante bom ensino – (…) Outro dos fatores cruciais detectados pela OCDE é que os países com os melhores resultados nas provas trianuais sobre compreensão de texto, Matemática e Ciências Naturais são aqueles que mais investem em seus professores. Os docentes do ensino médio da Coreia do Sul e de Hong Kong, ambos com excelentes resultados nas provas Pisa, ganham “mais que o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) per capita médio em seus respectivos países”. “Em geral, os países que alcançam bons resultados no Pisa atraem os melhores estudantes à profissão de professores e lhes oferecem salários mais altos e um grande status profissional”, indicou a OCDE. (FONTE)
Toma, Ioschpe, “especialista” em educação! Finge que tá passando mal e sai da mídia!
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor
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