O ano acaba e a farsa continua

Mais um ano se passou e a história se repete.

No Rio, após o estardalhaço de que a rede começaria a ter escolas de ensino integral – escrevi sobre isso – tudo continua na mesma.

A escola lotada, suja, mal arrumada. Os alunos com grandes dificuldades para aprender, os professores com grandes dificuldades para ensinar.

E continuam fingindo soluções.

A secretária que entrou dizendo que “acabaria com aprovação automática” sabe o que fez? Para um aluno ser reprovado tem que ter conceito insuficiente (I) em 4 matérias das 5 do “núcleo comum”: Português, Matemática, Ciências, Geografia e História.

Isso mesmo: de 5 matérias, tem que ser insuficiente em 4 para ser reprovado.

E, isso mesmo: Artes, Educação Física e Língua Estrangeira não são suficientemente importantes para reprovar.

E aqueles que tiraram “apenas” até 3 conceitos insuficientes (das 5) devem levar para casa exercícios para fazer durante as férias.

Agora inclui-se, nos exercícios, as demais disciplinas que não reprovam (mas se não reprovam, para quê os exercícios?).

Dever de férias“.

Piada. Só pode ser.

Bom, eu sou contra a reprovação e não reprovo aluno nenhum. Isso é um assunto para um artigo extenso e detalhado, o que não farei aqui.

Só digo que não adianta reprovar um aluno no final do ano para se fazer exatamente a mesma coisa o ano que vem, sabendo-se desde o ano anterior, que ele tinha dificuldades em aprender.

E também não adianta achar que ele vai fazer algo durante as férias, em janeiro, no calor do Rio, sem ir às aulas, morando onde moram, se não fizeram o ano inteiro na escola.

A escola tem que ter meios para que este aluno aprenda – se ele quiser, pois se não quiser, não há Paulo Freire que dê jeito.

O aluno tem que, desde o início do ano letivo, contar com reforços decentes, aulas extras, aulas diferenciadas, atendimento pessoal, etc, como deve ser de fato uma escola de tempo integral verdadeira.

Já deixei aqui dezenas de opiniões, direções, exemplos, conselhos do que se deve fazer para melhorar a educação. São visões de quem está lá dentro, querendo fazer algo.

Em uma delas, dei 4 pontos, 4 mudanças que devem ser realizadas para que a educação tenha uma chance de funcionar.

Esta secretaria não fez nenhum deles.

A escola não aceita mais remendos. A roupa não serve mais. Ou faz uma renovação geral no guarda-roupa, ou vive-se como mendigo.

Deixo este alerta somente para confirmar o que já disse antes: os fatos serem para mentir.

Feliz ano novo para todos, e mais um ano letivo de enganação para os filhos dos pobres.

Declev Reynier Dib-Ferreira
Esperando Papai Noel

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

7 thoughts on “O ano acaba e a farsa continua

  • 23/12/2009 em 09:28
    Permalink

    Declev Reynier Dib-Ferreira , olá !
    O que esperar ? Só podemos mesmo é esperar pelo presentinho do Papai Noel !

    A coisa está feia , meu caro amigo !

    Na segunda-feira próxima passada , fui cumprir minha missão : pagar a matrícula dos meus filhos .
    Aproveitei para conversar com o Diretor à respeito da quantidade (56) de alunos na turma do meu caçula (1º ano do 2º grau ) .
    E veja a “justificativa” apresentada :
    – Existem turmas , em algumas faculdades , com mais de 70 alunos !
    – Se não houvesse a inadimplência , eu poderia abrir uma outra turma para adequar o ensino no 2º grau …

    Um Diretor comparar aluno do segundo grau com um aluno de faculdade ( teoricamente mais maduro ) e justificar sua incompetência administrativa por ter que aceitar a inadimplência , convenhamos , é demais !

    Fazer o que ? Trocar de escola ? Rezar para as coisas melhorarem ? Reclamar com o Bispo ?
    É melhor ficar como está e fica o dito pelo não dito !
    O certo é que a coisa está feia mesmo .
    Abraços à todos !
    Somel Serip .

    Resposta
  • 23/12/2009 em 22:19
    Permalink

    E…. você tem dito. E eu, concordo com tudo.
    Boas festas e relaxe bastante nessas férias para repor as energias!
    Um abraço,
    Dirce.

    Resposta
  • 03/01/2010 em 14:41
    Permalink

    Declev Reynier Dib-Ferreira , olá !
    Peço licença para opinar, mesmo não sendo um Professor!

    1 – O Barato sai Caro !

    É pura hipocrisia ambientalista eleitoreira, o reaproveitamento periódico dos livros escolares que já foram utilizados!
    Ao desfolhar um livro ou caderno, suas páginas “ventilam” o ar na direção do rosto do estudante . Se , no ano anterior, o mesmo livro foi estudado por um aluno doente, as páginas podem estar contaminadas e o novo aluno poderá contagiado daquela doença o que acarretará em maiores custos para o governo !
    Reciclar o livro sim. Nunca reutilizar como medida preventiva !

    2 – Segregação Escolar !
    Até parece que todos os brasileiros são sedentários e que todos os 5564 municípios brasileiros possuem escolas públicas suficientes à demanda municipal e que oferecem formação completa aos estudantes !
    Se não, porque ficar regionalizando o ensino público ?
    Gostaria que os responsáveis pela idéia, tivessem seus filhos transferidos, p. ex., de um municíopio paraense, cursando o 5º ano do 1º grau, para um município do Rio de Janeiro !
    creio que o ensino público tem que sero mais abrangente e uniformizado possível, para evitar que o aluno tranferido sinta tal dificuldade de adapdação, que lhe obrigue a desistir de estudar !
    O que temos não é, em si, um “apartheid” ?
    O aluno estuda como plantar mandioca e quando é transferido para São Paulo, não sabe como plantar tomate !
    Abraços à todos !
    Corrente Nacionalista Brasileira de Votos Nulos – CNBVN
    correntenacionalista@gmail.com

    Resposta
  • 03/02/2010 em 13:50
    Permalink

    Quanto a reprovação eu sou a favor. Não adianta fazer o telhado de uma casa se ela não tiver paredes, não adianta fazer paredes se não tiver um chão adequado.

    Resposta
  • 03/02/2010 em 13:51
    Permalink

    Sim, mas nem ia falar da reprovação… ia falar do lenga-lenga da escola integral. Pelo visto isto não é só no Rio e não é de agora. Fica só na promessa, sempre.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *