Quando os fatos servem para mentir – o caso do horário integral no Rio de Janeiro

É impressionante a capacidade de mentir utilizando verdades.

Chamada na capa d’o globo (25/08/09) diz que “Rio começa a ter ensino público integral”.

MENTIRA!

Utilizam fatos reais para desvirtuar a verdade e dizer o que querem.

Só se pode chegar à conclusão de que esses espaços midiáticos são comprados. Só podem ser comprados; um jornal comprometido com a verdade não faria tamanha manipulação da mesma.

Na página 14 a chamada da matéria afirma: “Escolas nas áreas mais violentas agora têm ensino em horário integral”.

E quem lê uma notícia surrealista como essa vai pensar o quê? Que o Rio começa a ter ensino público integral, oras!

MENTIRA!!

Vamos iniciar a conversa com a análise do que quer dizer “ensino em horário integral”.

O que você entende por isso? O que quer dizer escola de horário integral em qualquer país sério?

Simples: quer dizer que a criança entra de manhã cedo e fica o dia todo na escola, desenvolvendo uma série de atividades, saindo no final da tarde. Certo?

ISSO NÃO ACONTECE NAS ESCOLAS DO RIO. E nem vai acontecer por conta do projeto ‘revolucionário’ em questão.

Só falta dizerem que todas as escolas no brasil são de horário integral, pois elas estão abertas de manhã, de tarde e de noite. Alguém que diz isso está mentindo?

Está.

E não está.

Viram como é fácil manipular a verdade transformando-a em outra?

Vejamos.

A notícia, na página 14 começa assim:

“Os 108.576 alunos dos 150 colégios da rede municipal localizados nas áreas mais perigosas da cidade – batizados de Escolas do Amanhã – começaram ontem a ter aulas em período integral” (1)

MENTIRA!!!

E continua a síndrome de pinóquio paulistano, ops!, carioca:

“Os quatro mil professores, coordenadores e diretores dessas escolas foram capacitados, no primeiro semestre, para utilizar metodologia diferenciada de ensino, que visa a contornar bloqueios de aprendizado em crianças sujeitas a episódios recorrentes de violência.” (2)

MENTIRA!!!!

E ainda, segundo a secretária-performance:

“precisamos de um programa que mantenha os alunos mais tempo longe desses ambientes agressivos” [dos bairros onde morarm]. (3)

Mas, detalhe, a reportagem-ficção não explica como é essa escola “de tempo integral”, o que nos leva a pensar que é o queu disse acima.

Só que a reportagem não explica como a secretária-performance e o prefeito-factóide irão fazer com que as escolas de dois turnos (diversas turmas “da manhã” e diversas turmas “da tarde”) sejam de horário integral.

Documento publicado no diário oficial [não tem data na cópia que tenho] dá umas dicas da mágica:

No conceito de Bairro Educador, escola e comunidade passsarão a viver integradas. (4)

Cada Escola do Amanhã terá um Educador Comunitário [que vai] apontar e capacitar locais e ações para a  realização do contraturno também no entorno dos colégios [sic]. (5)

Depois das aulas, as unidades vão oferecer diversas atividades culturais, esportivas e educativas, além de ampliar os horizontes da escola em relação às comunidades que acercam. (6)

Agora algumas observações importantes:

(1) “Aulas em período integral” quer dizer que as crianças teriam aulas em período integral. Período integral que dizer o dia todo, cerca de 8 horas por dia AS MESMAS CRIANÇAS na escola. Isso não acontece e, pelo projeto, não vai acontecer nas escolas públicas do Rio de Janeiro.

(2) Alguns profisisonais tiveram uns cursinhos e/ou umas palestras sobre um ou outro assunto do “revolucionário” projeto da secretaria-de-pubilicidade-educação. Afirmar o que afirmam é o mesmo que dizer que todos os políticos são honestos, só porque uns dois ou três o podem ser!

(3) Deixe eu tentar entender… a secretária-factóide diz a novidade de que “a violência pode estar inviabilizando a aprendizagem” e, por isso, “precisamos manter os alunos mais tempo longe desses ambientes agressivos”…

(4) Mas no conceito bairro educador “escola e comunidade passarão a viver integradas”.

Ops!, tem algo errado! Se é justamente a violência do bairro onde morarm que faz com que, nessas escolas, o desempenho dos alunos seja pior, conforme a matéria do jornal supra-citado…

(5) E o educador comunitário vai apontar “locais e ações para a  realização do contraturno também no entorno dos colégios”.

Vamos dizer agora que o “horário integral” da escola vai acontecer fora da escola??? Justamente nos bairros mais violentos???

Ops!, tem alguma coisa errada… quem se responsabiliza pelas crianças que estão em “horário integral” na escola fora dela??? Quem leva e quem traz??? Apenas uma pessoa [“educador comunitário”] pra catar atividades pros alunos???Quem vai dizer aos traficantes e policiais bonzinhos desses bairros que as crianças agora terão “horário integral” espalhadas pelo bairro? O prefeito-marketing já combinou com o adversário?

(6) Por fim, mais uma mentira verdadeira. Que eu saiba, as escolas receberão “oficineiros” contratados por uma merreca para dar algumas oficinas para alguns alunos.

Como assim “alguns”?, me perguntarão vocês. Sim, alguns, uns 10 ou 15%. O resto vai pra casa ou vai continuar seu “horário integral” espalhado pelo bairro.

Oras, a explicação é simples: não tem espaço nas escolas, pois se existe um “contraturno” (depois das aulas), é porque existe “turno”. Metade dos alunos entrando na escola de manhã, metade entrando à tarde.

Se existe “turno”, a escola NÃO É integral!!!

Escola de tempo integral, retoricamente falando, é aquela em que os alunos entram no início da manhã e saem no final da tarde, desenvolvendo diversas atividades neste período.

Convido a ver minhas 4 dicas de revolução verdadeira na educação.

E como eu sei disso tudo, que essas aulas em horário integral não existem e não vão funcionar?

Eu estou lá dentro, numa das “escolas do amanhã”.

E sei, por vivência, prática, observação, conversas, experiência, dia-a-dia, que é tudo mentira.

Ou, melhor, manipulação da verdade.

• p.s. 1: Para não dizerem que sou simplesmente “do contra”, sou a favor de muitas ações que querem desenvolver nas escolas. Porém, a maioria deve ser repensada, pois eles acham que estão no país das maravilhas, não no país dos absurdos e, por isso, elas não vão dar certo. É um total desconhecimento da realidade. Mais democrático e prudente seria perguntar aos professores nossas necessidades, e não nos impor uma realidade paralela.
• p.s. 2: Ademais, mentir descaradamente dizendo que com essas atividades paliativas estão implantando a escola de horário integral, fará com que nunca se realize de verdade o que se deve: implantar a escola de horário integral.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira