A farsa continua e a cara de pau cresce

Não bastasse mentirem de que estão “consertando” a educação do Rio, agora eles vão fabricar as provas da farsa.

Na 4a feira, dia 02 de setembro de 2009, milhares de alunos foram reunidos no maracanãzinho para um simulacro de prova.

Diz-se que seria um “teste” para a prova brasil, do governo federal.

Movimentaram milhares de alunos, retirando-os de suas escolas, assim como muitos e muitos professores e professoras.

Devem ter gasto mais uns milhõeszinhos em alguma ONG paulista, com certeza.

É impressionante como as ONGs paulistas entendem de educação! Com certeza a educação de São Paulo já deve estar consertada, com tantas ONGs competentes merecedoras de tão vultosas somas de dinheiro em troca de sua competência!!!

Desta vez foi pra que mesmo?

Segundo a secretária municipal de marqueting… ops!, de educação, “as provas servirão para balizar os eventuais problemas de aprendizagem deste grupo específico de alunos”:

Com o simulado estamos oferecendo às escolas a possibilidade de entender onde o jovem não está aprendendo direito para adotar alguma ação corretiva antes da Prova Brasil, em outubro – disse a secretária. (Fonte)

Deixe-me entender… “servirão para balizar os eventuais problemas de aprendizagem” e “estamos oferecendo às escolas” me sugere que a educadora em questão acha que os professores e as escolas não são capazes de avaliar os seus alunos… é isso?!?

Oras, convenhamos!

E, por outro lado… avaliar os alunos através de uma prova com questões públicas???

Oras, convenhamos!!

Vejam estes dois depoimentos de duas colegas (apesar de permitirem, omiti os nomes), de escolas diferentes, sobre o que viram e sentiram no dia:

“Queridos, hoje fiquei muito surpresa ao ver a prova do simulado na revista Escola que está nas bancas. E, curiosamente, já vem com as respostas e os devidos comentários. Nada é sério na nossa Rede!!!

“O Simuladão de hoje foi mais uma farsa da nossa Secretária. Como disse ontem, a provas foram mesmo as que estavam na revista Nova Escola. Várias escolas sabiam, desde o início de agosto, e, é óbvio, os professores de matemática e de português fizeram as provas com os alunos (uma outra escola do Caju estava acomodada atrás da nossa e ouvimos vários comentários: “já sabemos fazer tudo mesmo, não vamos demorar”). Pensando em estatística, o desempenho nas escolas vai “melhorar” muito. Mas uma vez, uma prova de São Paulo! Será que não há em nossa rede ninguém capacitado para elaborar uma prova? Os alunos sentaram quase que um no colo do outro.Compareceram apenas 33 alunos. Talvez tenha sido a escola com menor representação. Porém, se todos tivessem comparecido, não haveria provas para todos, nem pranchetas e nem lugares suficientes para sentar. É inacreditável como se gasta dinheiro com uma farsa! Muita publicidade, propaganda enganosa e nenhuma seriedade. Lamentável!!!!! Bjs.”

Eu peguei um modelo da prova, que ela me deu, e comprei a revista. É igual. Impressionantemente copiada, cada questão. A revista é essa.

O outro depoimento:

“Um misto de tristeza e vergonha se abateu sobre mim, no Maracanazinho, no dia do simulado da prova Brasil. Não que eu estivesse esperando que corresse tudo bem, muito pelo contrário, sabia que uma atividade desse porte, envolvendo tantos alunos, precisaria de muita organização, tanto por parte dos organizadores da Secretaria de Educação, quanto por parte das escolas. E, como era a primeira vez, obviamente, muitas falhas aconteceriam. O que não esperava era que ao chegar ao local da prova, no horário marcado, precisaria subir e descer tantas vezes as escadas para encontrar as cadeiras reservadas aos meus alunos e que, depois de encontrá-las, teria que subir e descer, de novo, para pegar todo o material da prova. Vi professores subindo muito lentamente as escadas e soube que são professores com problemas sérios de coluna. Lógico que as escolas poderiam ter previsto tudo isso e mandado para lá professores que pudessem subir e descer, tantas vezes fosse necessário, sem nenhum problema. Mas não seria mais decente que cada professor, lá chegando, fosse orientado para assumir o seu lugar, sem muitas buscas? Só depois que muita gente já havia chegado e passado por essa situação é que apareceu alguém com uma lista de posicionamento das escolas e ainda assim não foi fácil a localização dos lugares. Quanto a distribuição do material, não teve jeito. Cada professor responsável pela escola tinha que transportar o seu material, mesmo que fosse uma grande quantidade de provas e pranchetas. E aí, foi impossível atender a solicitação dos organizadores para que não deixássemos os alunos carregarem as caixas com as provas. Pelo amor de Deus, amadorismo tem limite! Como não mobilizar auxiliares para a distribuição racionalizada e adequada de material?

Bom, esse foi só o começo dos problemas e se ficasse por aí tudo bem. As coisas pioraram consideravelmente quando um dos responsáveis pela organização, colocou uma outra escola no lugar reservado a minha e a uma outra, sob alegação de que aquele espaço era muito grande para a quantidade de alunos da minha escola e, mesmo avisado que não, que quando reservaram o lugar, já contavam com aqueles alunos e que eles estavam a caminho, fez com que a outra escola invadisse, literalmente, as cadeiras. Depois dessa invasão e de muita discussão, esse senhor, levou nossos alunos para as cadeiras mais altas do espaço reservado à 1ª CRE ( sou da 2ª) e como não tinha acomodação para todos, colocou um grupo sentado e espremido em uma arquibancada, bem pertinho da laje do estádio. Para chegarmos aos alunos tínhamos que nos abaixar pois tinha uma pilastra inclinada separando os setores.

Tudo muito difícil e complicado para um simulado ou treinamento. Várias vezes uma senhora fez uso do microfone para chamar a atenção dos professores para que eles tomassem conta dos seus alunos pois eles estavam fazendo bagunça. Alguns colegas gritaram com seus alunos porque eles conversavam durante a prova. Que prova? Nenhuma atividade acadêmica deve ser feita daquele jeito. Não ensinamos nada a eles. Penso que a secretária de educação Claudia Costin deveria ouvir os professores com muita atenção antes de buscar ajuda tão longe e fora das nossas escolas.

Com certeza nossos alunos teriam aproveitado muito mais esse treinamento se o tivessem realizado em sua própria sala de aula, com uma infra estrutura adequada. Deus, nem a água, nem o lanche prometidos chegaram no momento adequado! Só no final.

Tentamos fazer tudo direitinho: aceitamos participar do evento, organizamos essa participação saindo da escola pois muitos pais ficaram preocupados por não poderem acompanhar os filhos até o local da prova, nos preocupamos com muitas coisas mas de que adiantou? Só me restou pedir desculpas aos meus alunos por tê-los colocado nessa situação tão incômoda para não dizer humilhante. Saí de Lá com a sensação de que eu e meus alunos fomos usados. Aquela foi uma aula de deseducação. Os bons resultados virão à medida que a educação for de fato levada a sério. À medida que os professores forem realmente valorizados. E não estou falando apenas de salários. Falo do reconhecimento da luta do dia a dia que cada professor trava para fazer com que as crianças e os adolescentes de nossas escolas aprendam a ler, escrever, falar, perceber e tentar superar os problemas que os impedem de ir além do simplesmente ler e escrever. Interpretar o mundo a sua volta e interferir de modo positivo na história da sua cidade, do seu País,da sua história enfim.

Se torna cada vez mais difícil alcançar esse objetivo. Senão não teríamos tantos projetos, tantas ONGs. Essas soluções buscadas fora da escola são solução para quê e para quem?”

Eu sei muito bem avaliar a educação pública:

  • Enquanto essas mirabolices acontecem, as salas continuam lotadas, sem nem espaço para circular.
  • A escola agora está ainda mais inchada, com a farsa do horário integral, pois alguns alunos de um turno vão para o contra-turno e nós não temos espaço pra isso.
  • O calor entra rachando, sendo impossível ficar minimamente sossegado.
  • Os professores não têm nenhuma ajuda para enfrentar a batalha.
  • O salário continua sem aumento.
  • Por conta disso, temos que ter diversos empregos pra nos manter classe média baixa.
  • A violência invade as escolas, sem pedir pra abrir o portão – somos reféns sem direito à resgate.

Eles não perguntam o que nós, que estamos lá dentro, queremos e achamos melhor pra escola.

Mas eles aparecem nos jornais dia-sim-dia-não, jogando bola, dançando, bricando com as criancinhas…

Quando a gente não imagina que podia piorar, eles sempre nos surpreendem!

Declev Reynier Dib-Ferreira

Professor. Ainda.

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

3 thoughts on “A farsa continua e a cara de pau cresce

  • 14/09/2009 em 10:55
    Permalink

    Meu querido amigo, grandes dúvidas me afligem:
    Eles fizeram a prova e publicaram na revista ou pegaram a matéria da revista e fizeram a prova?
    Surpreendi-me quando algumas colegas me disseram que a prova foi quase em conjunto.
    Que simulação é essa?
    Os alunos aprenderam o quê com isso?
    Quanto a São Paulo, com a educação pública sempre envolvida em escândalos na mídia. Por que essa OSC não aplica na prefeitura de São Paulo os seus préstimos?
    Você sabe que eu participei daquela reunião para professores de ciências, onde determinavam a atuação do professor de ciências na rede municipal do RJ e mandariam os armários e materiais a serem usados. Cadê tudo?
    Foi bom o Simuladão de 2009, de repente, todo o ano de 2009, será só o simulado do que fazer a frente de uma SME.
    Só tenho uma palavra que me dói até dizer: Sofisma!

    Resposta
    • 14/09/2009 em 11:38
      Permalink

      Oi Alex,

      Sinto-me honrado por um comentário seu no site… rs.

      Não sei qual foi a ordem das coisas. Mas como nossa colega disse – e eu comprovei com a revista – a prova era igual. Mas a revista já estava nas bancas há tempos, antes da prova. As questões de lá eram de edições anteriores do prova brasil.

      Quanto aos armários, quando duas pessoas da secretaria visitaram a escola, uma delas responsável pelo armário de ciências, eu perguntei como faríamos as atividades práticas de lá com 40 alunos e sem tempo antes nem depois da aula para preparar e arrumar tudo. Ela disse que teríamos que dar um jeito, trabalhar com alunos monitores, sei lá… professor é tão criativo né?

      E, detalhe: vem pra todas as salas de aula… menos pra Sala de Ciências!

      Abraços.

      Resposta
  • Pingback: O ano acaba e a farsa continua | Diário do Professor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *