Mais sobre a criatividade humana e o que fazemos com ela

 

Recebi do meu amigo Eduardo Bernhardt o link de uma palestra, à qual, segundo ele, o fez pensar em mim o tempo todo.

Vendo-a [ou melhor, lendo-a em português], percebi o por quê.

De fato, lembra-me muitas das coisas que penso e escrevo.

O palestrante faz uma profunda valorização da criatividade e das artes, colocando-as mesmo acima das disciplinas (escolares) tradicionais, tais como a matemática e as letras.

Concordo plenamente.

Lembrando alguns artigos que já fiz por aqui:

A escola deveria ser, mais que uma fábrica de bonecos iguais em série, um local de aprofundamentos das diferenças: quem sabe desenhar, dançar, escrever, atuar, jogar etc.ar, deveria ser estimulado a tal.

A arte na escola não deve ficar restrita aos reduzidos dois tempos da grade curricular, nem ficar restrita somente aos momentos “agradáveis” e de lazer. Este lazer e este agradável que são aliados do fazer da arte, também podem e devem ser utilizados nas aulas de quaisquer disciplinas.

Não entendo e não concordo com a priorização do ensino da Matemática e Português no currículo da escola brasileira […] Talvez seja o momento de repensarmos nossas prioridades. Não nego a importância destas disciplinas, mas sim exalto a importância das outras, desvalorizadas.


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Até quando vamos achar que bem educar é ensinar matemática? Números? […] Mas onde fica o raciocínio ilógico? O raciocínio subjetivo? […] Até quando vamos achar que bem educar é ensinar todos aqueles termos da Língua Portuguesa? Orações subordinadas, preposições, substantivos, blá blá blá… E a escrita, a leitura?

Na minha escola todos os que tem um dom para uma determinada arte a praticam sempre que querem. Mas para que o dom seja amplamente desenvolvido aprendem a ciência das cores, a matemática das formas, a história da arte.

Mas minhas divagações vêm especialmente em função da nossa profissão de professor: quantos passam pelas nossas mãos e não damos valor? Quantos talentos desperdiçamos?

Intrinsicamente, todo ser humano é capaz de ser capaz. A capacidade de fazer algo é inata. Dom, existe, mas todos podem fazer de tudo. É só dar a oportunidade.

Copio abaixo uns trechos que considero mais interessantes da palestra, mas aviso: vale a pena ver/ler por inteira – quem a quiser é só ir neste site: TED – Ideas Worth Spreading.

A palestra está em inglês, mas ao lado direito tem-se a transcrição em português, clicando-se no interactive transcript.

Vejamos alguns trechos:

[…] A terceira coisa é que nós todos concordamos, apesar de tudo, com a capacidade extraordinária que as crianças têm. Sua capacidade de inovação. […] Minha convicção é que todas as crianças têm um talento tremendo. E o desperdiçamos, implacavelmente. […] Minha convicção é que a criatividade hoje é tão importante na educação como a alfabetização, e deve ser tratada com a mesma importância.

[…] E hoje administramos os sistemas educacionais de um jeito em que errar é a pior coisa que pode acontecer. O resultado disso é que estamos educando as pessoas para serem menos criativas.

 

Uma coisa chama atenção quando se vem para os EUA e quando se viaja pelo mundo: todo sistema educacional do planeta tem a mesma hierarquia de disciplinas. Todos eles. Não importa aonde vamos. Você pensa que seria diferente, mas não é. No topo estão a matemática e as línguas, depois as humanas e por último as artes. Qualquer lugar do planeta. E praticamente em qualquer sistema existe uma hierarquia dentre as artes. Arte e música normalmente tem uma importância maior nas escolas do que drama e dança. Não existe um sistema educacional no planeta que ensina dança diariamente às crianças da mesma forma que ensina matemática. Por quê? Por que não? Eu acho bastante importante. […]

[…] as disciplinas mais úteis para o trabalho estão no topo. Então você era bondosamente afastado na escola quando era criança de certas coisas, coisas que gostava, com a premissa que você nunca iria conseguir um emprego fazendo aquilo. Correto? Não faça música, você não vai ser músico. Não faça arte, você não vai ser artista. Conselho benigno. Hoje, profundamente errado. […] A consequência disso é que muitas pessoas altamente talentosas, brilhantes e criativas, pensam que não são, porque aquilo que elas eram boas na escola não era valorizado, ou era até estigmatizado.

Leia o resto aqui.

Ou veja a palestra aqui mesmo:

Fantástico, não?

Sou realmente um entusiasta das artes.

Um dia verei uma escola em que as matemáticas, línguas e outras disciplinas não serão mais importantes do que a própria formação do cidadão.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Mais artista que cientista

1 comentário em “Mais sobre a criatividade humana e o que fazemos com ela”

  1. Talvez, só pensando na minha “experiência”, o maior problema seja pensar que crianças não sabem de nada, não sabem o que querem, que são idiotas. E vi disso até o Ensino Médio…

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