Está na moda “denunciar” para consertar a escola… mas, para quem quebrar de novo?

 

Está na moda “denunciar” para consertar a escola… mas, para quem quebrar de novo?

escola quebrada
Armário da escola todo quebrado

Virou moda – ou continua-se em moda – falar mal da escola em si, como se fosse culpa apenas da escola a falência da própria escola.

“Escola” em si, não é ninguém. Então, sem personificá-la, vamos fazer uma pequena análise do caso.

Ninguém pode negar que a escola pública não recebe dos grandiosos gestores públicos a atenção que lhe deveria ser devida.

Em muitos casos, o desleixo, a falta de investimentos, a falta de conservação faz com que ela se degrade.

Mas, que parcela é devida aos próprios frequentadores?

Venho constantemente falando por aqui da dificuldade que é ensinar, fazer os alunos pensar.

Vejam estes exemplos:

Escola ou Torre de Babel?

Um dia qualquer…

O aluno que aprende, certo? Mas como?

Fazê-los pensar, tarefa inglória.


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Quem é professor sabe disso.

Fazemos o que for, mas apenas 10 a 20% dos alunos realmente aproveitam, ouvem, estudam. Acabamos atingindo positivamente uma parcela pequena do alunado.

Também venho denunciando a degradação física da escola, em grande parte promovida pelos próprios alunos.

Vejam a foto de abertura. O armário não se quebrou sozinho ou apenas pelo simples uso diário. Vejam também estes exemplos:

Destruição da escola…

Ser professor é correr riscos?

Outros colegas professores também vem fazendo isso. Vejam o exemplo da Priscila Eiras, em seu blog.

Considerando, então, que muito da degradação da escola vem dos alunos – que trazem de casa, da rua, dos amigos, da família muito da sua maneira de agir – achar que o foco de mudança deva se dar apenas na escola – consertar o espaço físico – é incorrer em um erro que historicamente mostrará suas consequências, pois que um um sistema complexo como é a comunidade escolar está sendo vista somente por um ângulo.

 

O Uol Educação fez um mapa de queixas baseado em 30 páginas no Facebook de alunos “denunciando” a degradação da escola.  Todos conhecem o caso daquela menina, aluna de 13 anos de Florianópolis, que virou celebridade fazendo isso.

Ora, repito: na maioria das vezes, a degradação da escola parte dos próprios alunos.

Ok, nem sempre, pois a degradação física também é natural, é pelo próprio uso, ou mesmo pelos péssimos materiais e serviços que se prestam nas escolas. O que, sim, deve ser denunciado.

Mas colocar tudo no mesmo saco, sem distinção ou sem uma reflexão sobre os casos, é cruel. Cruel com os profissionais da educação e também com os alunos, pois que aqueles que não destroem, que estudam, que se interessam, são os maiores prejudicados – e não se separa um de outro.

Por outro lado, faltam-lhe – aos alunos – tudo, pala além da educação: saúde, moradia, segurança, família, cultura, transporte, lazer… Querer então que entrem na escola e que se tornem estudantes interessados que não depredam, é quase impossível.

Achar, portanto, que só à escola e aos professores cabe a função de mudar isso, não é eficiente para mudar o quadro.

Eu varro – sim, eu mesmo varro – minha sala de ciências, onde dou aulas no Rio, TODOS os dias, várias vezes. Ao final de cada aula, no entanto, ela está imunda, cheia de papéis jogados, lápis, borrachas pelo chão, mesas riscadas, etc.

E, sim, eu falo, falo,  falo todos os dias sobre isso.

Quais as soluções? Não sei. Mas posso apontar algumas ideias, que nunca devem ser pensadas isoladamente – é um conjunto:

Denúncias, sim, denúncias ao descaso público quando o caso é de descaso público, ou mesmo de roubo (nem imaginam vocês, sortudos mortais que não estão dentro da escola, quanto roubo deve acontecer por ali na “educação”). Ministério Público neles!

Mas também regras, punições, responsabilização dos responsáveis, palestras, envolvimento da comunidade escolar, campanhas, projetos, trabalhos de outras instâncias nos bairros e nas casas doa alunos (companhia de limpeza, assistência social, segurança, Conselho Tutelar etc)… porque o caso também é culpa dos próprios alunos!

O fato é que se acharem que cobrar somente o conserto da escola é o suficiente, esta será eternamente consertada, pintada, reconstruída e continuamente destruída pelos alunos, aqueles que, justamente, mais precisam de uma escola funcional, funcionando, limpa, equipada.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Gari

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Planos de aula, Atividades, Práticas, Projetos, Livros, Cursos, Maquetes, Meio Ambiente… e muito mais!

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7 comentários em “Está na moda “denunciar” para consertar a escola… mas, para quem quebrar de novo?”

  1. Caro Declev,

    TODAS as escolas em que trabalhei viviam quebradas, principalmente as públicas.
    Se o povo em geral lida com tudo que é “público” como sinônimo de “não é de ninguém” e, por isso, “vale tudo”, como seria diferente na escola?
    Se as pessoas sujam as ruas, vandalizam, quebram orelhões, monumentos, etc., como seria diferente na escola?

    Também já varri muita sala de aula, inclusive depois de reuniões com os profissionais da escola – professores e outros -, pois vai chegando a hora do término da reunião e todos estão loucos para ir embora logo, sem pensar em quem vai ficar lá limpando, guardando materiais, organizando algumas coisas, etc., quando, na realidade, essa responsabilidade deveria ser de todos que participaram da reunião e não só dos que a coordenaram ou dos funcionários de limpeza da escola.
    Se os educadores (todos!) não derem, constantemente, um exemplo diferente do que os alunos vêem do lado de fora, como eles vão agir diferente dentro da escola?

    Concordo totalmente com esse trecho: “achar que o foco de mudança deva se dar apenas na escola – consertar o espaço físico – é incorrer em um erro que historicamente mostrará suas consequências”. Claro! O espaço físico degradado é apenas consequência de outras questões muito mais graves e complexas!

    Ficar aconselhando eternamente os alunos a não fazerem isso – sujar ou quebrar coisas da escola -, não vai mudar o quadro, especialmente enquanto eles não sentirem a escola como sendo deles, da comunidade, da população, que é o que ela é afinal!! Se for “terra de ninguém”, continuarão despejando sua revolta, pelas tantas injustiças sociais que vivem, na escola sim, assim como nos colegas, nos professores, etc. E aluno não pode ser punido como adulto porque não é adulto!! Simples assim.
    Isso quer dizer punição nenhuma? Não. Mas só se parte para medidas sócio-educativas, previstas em lei, se for algo realmente grave e criminoso. Sujar e estragar coisas da escola é comportamento muito criticável, mas é antigo. No meu tempo de escola – e estudei em colégio particular – isso já existia! Mas é claro que hoje, com a violência maior e generalizada em que vivemos, esse tipo de comportamento também vai aparecer de forma mais chocante.
    Acho que quem quebra devia consertar, de preferência junto com a família (os responsáveis por aqueles alunos), não como humilhação e sim como parte da educação, que é também mostrar que para cada ato há uma consequência e que a vida não vai ficar passando a mão na cabeça de ninguém! Mas coisas quebradas na escola não são casos para a polícia, na minha opinião. São casos para EDUCAR melhor, ensinar o que é público, o que isso significa, entre outras coisas.

    Agora, se apenas 10% da turma se interessa, é óbvio pra mim que há algo muito errado na escola sim! Não só nela, mas TAMBÉM nela. Na instituição escola realmente e não só na falta de moradia, saúde, segurança, emprego, etc.

    Reformular currículos, dar aulas mais dinâmicas, inclusive fora do espaço físico da escola, usar mais a tecnologia, conhecer e ouvir mais os alunos e a comunidade a que eles pertencem… Essas são apenas algumas das tantas medidas que já podemos tomar e que, a médio prazo, já trariam uma enorme melhora, inclusive nessa questão da degradação do espaço físico escolar.

    Quanto aos alunos que escrevem sobre esse tipo de problema em suas escolas nas redes sociais, acho ótimo! Já li várias opiniões dessa galerinha e elas acusam os próprios colegas e as secretarias de educação por esse estado de coisas ou pela manutenção dele. Nunca li alguém criticando os professores por isso, por exemplo. E isso é um bom sinal, pois mostra que, mesmo imaturos, esses adolescentes não estão caindo fácil nesse papo de que “os professores são os vilões da educação” e, por isso, tudo que está errado nas escolas é por responsabilidade deles.
    Agora, querer que eles tenham maturidade para grandes discussões políticas sobre o que vivem, não só nas escolas, é querer demais. Acho ótimo que, pelo menos em relação a algumas coisas, não estejam acomodados! E eles vão muito pelo pensamento concreto mesmo, então falar sobre algo tão visível quanto o espaço físico escolar é mais fácil, de certa forma. Compreendem melhor.
    Até deveriam estar numa fase de raciocínios mais abstratos, mas, infelizmente, principalmente nas escolas públicas, estão bastante atrasados em relação a isso. A maioria está. E isso acompanhei muito de perto…

    Amigo Declev, entendo e respeito seu ponto de vista, mas realmente avalio tudo isso de forma um pouco diferente, como coloquei aqui.

    E continuemos na luta, cada um da sua maneira!

    Um abração,
    Regina Milone.

    1. Oi Regina, eu já sabia que seu comentário traria visões opostas.

      Mas nos meus 13 anos de escola pública, vejo-a sendo constantemente destruída pelos próprios alunos.

      As razões disso são inúmeras, mas é um fato e não se pode fugir dele, se quisermos mudar algo.

      Mas vamos por partes:

      “Se o povo em geral lida com tudo que é “público” como sinônimo de “não é de ninguém” e, por isso, “vale tudo”, como seria diferente na escola?”

      Justamente. Mas, então, – e esta é minha questão – como querer que a escola resolva sozinha?

      “E aluno não pode ser punido como adulto porque não é adulto!!”

      Claro que não! Nunca disse isso! Mas punido, como aluno, tem que ser. Responsabilizado dentro de suas responsabilidades, cobrado quando necessário, solicitado a consertar ou limpar quando tiver que ser.

      Ora, não é assim que se educam os filhos? “Leve seu prato para cozinha”; “Limpe seu quarto”; “Não faça isso ou aquilo”; “Ficará sem viodegame por uma semana!”; “Você sujou, você que limpe”… e por aí vai.

      Porque na escola seria diferente? QUANDO eles poderão “sentir a escola como sendo deles, da comunidade, da população”, se eles quebram, sujam, destroem e fica por isso mesmo?

      “Acho que quem quebra devia consertar, de preferência junto com a família (os responsáveis por aqueles alunos)”.

      Isso! É isso!

      Mas nem isso ocorre, nunca. Nunca disse e não digo que é caso de polícia. Não é. Mas é caso de algo, de medidas educativas, punições dentro da conta do possível.

      Mas, nada, não é educativo.

      “Se apenas 10% da turma se interessa, é óbvio pra mim que há algo muito errado na escola sim! Não só nela, mas TAMBÉM nela. Reformular currículos, dar aulas mais dinâmicas, inclusive fora do espaço físico da escola, usar mais a tecnologia, conhecer e ouvir mais os alunos e a comunidade a que eles pertencem…”.

      É claro que tem algo errado com a escola, também com ela. Eu falo isso constantemente em meus artigos. Tenho diversos exemplos aqui do que, para mim, seria uma escola, se não ideal, perto do ideal. E trabalho assim constantemente, dentro de minha sala. Mas dentro de minha sala, dentro do meu horário, dentro de minhas possibilidades.

      Mas, você sabe, nem sempre isso é possível, nem todos que tentam conseguem. Eu acabo conseguindo pelo simples fato de ser agraciado com salas de ciências em minhas escolas. Fora isso, a escola não é feita para que seja do jeito que você descreve acima

      “Quanto aos alunos que escrevem sobre esse tipo de problema em suas escolas nas redes sociais, acho ótimo! Já li várias opiniões dessa galerinha e elas acusam os próprios colegas e as secretarias de educação por esse estado de coisas ou pela manutenção dele”

      Fico feliz com seu relato sobre essas páginas e, claro, fico feliz com elas. Acho que nós devemos, junto com eles, focar essas discussões, direcionar, politizar, buscar soluções.

      A crítica pela crítica acaba em nada, e não só em relação a este assunto. Por exemplo, muita gente mete o pau nos políticos, na política, na corrupção. Mas participa? Se envolve com os que estão lutando contra? Ajuda os movimentos sociais? Faz algo, para além de reclamar, ou apenas diz “eu detesto política”?

      Então, mais uma vez, cobrar que a escola seja consertada é apenas uma parte do processo – parte importante e fundamental. Mas é agir nas consequências, esquecendo-se da raiz dos problemas.

      Repetindo o que disse no artigo, não trago respostas, mas uma colaboração à discussão.

      Por fim, não acho que estamos discordando. No fundo, falamos a mesma coisa, mas com outras palavras.

      Acho que vou transformar estes dois comentários em um artigo…

      Abraços,

  2. Queria só explicar melhor um ponto, para não dar margem a algum mal entendido.
    Quando escrevi – “Se os educadores (todos!) não derem, constantemente, um exemplo diferente do que os alunos vêem do lado de fora, como eles vão agir diferente dentro da escola?” -, quis dizer que é incoerente exigir do outro algo que não se faz. Como dizem os próprios adolescentes, os adultos que agem assim, ficam “sem moral” para cobrar algo diferente.
    Eles – crianças e adolescentes – aprendem muito mais com os exemplos do que com as palavras, por isso repetem tantos absurdos vistos e vividos em casa, na política, na escola, na TV… em todos os cantos! Infelizmente…
    Beijos,
    Regina.

  3. Senão, vejamos… Eu fui aluno de escolas particulares (Santo Inácio e Andrews), antes de ser da primeira turma do Colégio Estadual Andre Maurois… e as depredações feitas pelos alunos nas instalações e material das escolas eram mais ou menos os mesmos em todos eles (e isso foi nas décadas de 1960 e 1970 – portanto, o problema não é novo, nem associado ao meio social dos alunos). Diga-se, de passagem, que observei o mesmo mau comportamento e desprezo pela “coisa pública” nas escolas frequentadas pelos meus filhos (Santa Úrsula, no Rio, e no ginásio estadual, em MG), assim como vejo nas escolas onde meu neto estuda(ou) (públicas, como a Estácio de Sá, no Rio; privada, como o Sion).
    E, em todas elas – sim, eu sei que os exemplos de colégios públicos que eu citei, não são o “padrão” – pelo menos uma vez por ano havia o conserto das instalações vandalizadas.
    Um professor varrer, eventualmente, uma sala de aula é dedicação à profissão. Quando isso vira rotina, fica claro que a direção da escola está pisando na bola – seja por não ter (ou não mobilizar) o pessoal da limpeza, seja por não coibir o emporcalhamento da sala.
    Ao fim e ao cabo, eu acabo chegando à conclusão que o problema está na Constituição, onde o capítulo sobre os “direitos do cidadão” vem antes do capítulo sobre os “deveres do cidadão” (note-se que nem no dicionário “direito” vem antes de “dever”…) – sem contar que o primeiro é bem mais volumoso que o segundo.

  4. Acrescentando ao anterior: que bom que está na moda denunciar as más condições das escolas!
    Será que assim os responsáveis (todos eles) vão começar a fazer algo?

    1. Oi João,

      Seu testemunho só reafirma o que digo no artigo: a escola sozinha não dá conta. Há algo que vem da sociedade e entra na escola, seja em qualquer classe social, seja em qualquer bairro.

      Mas somente consertar o que foi degradado não dá conta.

      Senão, pode ter certeza, o que está sendo denunciado será consertado, mas estas páginas serão sempre necessárias, pois sempre estará quebrado.

      Se já era assim em sua época e não mudou, o que vem sendo feito não funciona, é isso que estou querendo dizer.

      Temos que expandir as ações, sejam projetos na escola, sejam responsabilização de quem quebra e de suas famílias, seja a punição dos gestores que são omissos ou corruptos. É um conjunto de coisas.

      Abraços,

  5. Caro Declev,

    Você tem razão. No final das contas, não estamos discordando. Apenas falamos as mesmas coisas com outras palavras.

    Me desculpe se pareceu que eu estava achando que vc era a favor de resolver vandalismo de alunos com a polícia. Sei que vc não defende isso! Apenas fui desenvolvendo o pensamento e como vejo que, hoje em dia, muitos defendem a polícia nas escolas, da mesma forma que muitos defendem a volta do regime militar (absurdoooooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!), fico preocupada e acho que nunca é demais tocar nesse assunto. Só por isso citei essa questão e não por achar que vc é a favor dessas medidas.

    Nesses anos em que tanto temos trocado por aqui, acho que já posso dizer que te conheço o suficiente para saber o quanto vc é um professor diferente desses tantos que mal pensam e só sugerem “soluções” rápidas e mais “agressivas”. Te admiro muito! Não é rasgação de seda não.
    Estou sempre aprendendo com vc!!

    A escola não pode resolver sozinha o vandalismo dentro dela, mas educar pessoas para serem futuros cidadãos que saibam, entre outras coisas, valorizar e cuidar do que é público, é uma das funções da escola sim. É educar. E, na minha opinião, é muito mais importante do que tantos conteúdos que ainda tentam passar para os alunos na escola.

    No mais, não poderia concordar mais com você!

    Abração,
    Regina.

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