A educação não aceita mais remendos! Necessitamos de um projeto de roupa nova, com mudanças estruturais e não pontuais à mercê dos (des)governos!
Algumas notícias podem conter mentiras boas ou verdades ruins – depende de quem as “lê”.
E o fato de ser tão crítico me faz um chato, eu sei. Aquele que reclama de tudo.
Mas não fico feliz com esmola, não aceito esmola nem remendos na educação. Sim, remendos. Tudo o que vimos fazendo até hoje na educação são remendos.
Uma vez, há muitos anos, estava eu criticando um “projeto de educação ambiental” caça-níquel implantado na rede de Niterói, quando uma das professoras presentes à reunião disse:
Mas nós nunca temos nada, as crianças não têm nada, então mesmo assim [com as falhas que eu apontava] é bom, porque estamos “ganhando alguma coisa”.
ARGH! Nós não temos que “ganhar” nada! Nós temos direitos! E, se são direitos, não deveríamos, mas temos que lutar para tê-los! E, então, se nos dão, não “ganhamos”, conquistamos um direito que já era nosso por direito!
Está na hora de renovar o guarda-roupa da educação, numa faxina geral. Sim, chega a hora em que as roupas não cabem mais. Os remendos não são suficientes. Já rasgou em partes demais.
Ou mudamos radicalmente a sala de aula, diminuindo a quantidade de alunos por metro quadrado, colocando outros profissionais para ajudar o professor, estantes, livros, prateleiras, armários diversos, mesas para trabalho em grupo (ao invés de carteiras individuais), ou o resto é remendo.
Já falei aqui também muitas vezes sobre o que penso em educação, mas deixo só este como exemplo: Afinal, o que é educação?.
Percebo agora que as secretarias para as quais trabalho – Rio e Niterói – “descobriram” a importância do ensino de Ciências e o quanto falho tem sido este.
Maravilha. Boa notícia. Mesmo.
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Mas me preocupa o gastar de dinheiro com o “ensino de ciências” sem consultar quem está na escola “ensinando ciências“.
Não quero que o que acredito seja utilizado para fins… que não acredito, digamos assim.
Também não quero ser o dono da verdade, porque seria um peso muito grande. Mas existem vários problemas que mascaram a situação e que não são atendidos com os projetos mirabolantes:
- as carteiras não são adaptadas a se fazer experiências;
- não temos ajuda para preparar, montar, fazer e guardar todo o material;
- as turmas continuam enormes;
- os professores não têm tempo para estudar e preparar as aulas…
Mas, mesmo sabendo disso e vivendo na pele, ninguém me perguntou: “Declev, o que você quer?”; “professor de Ciências, o que você quer para incrementar suas aulas?”.
Bom, se um dia formos chamados, já deixo aqui minha opinião:
–> Eu quero uma sala de ciências, a qual eu e meus colegas possamos ajudar a fazer o projeto (e não um arquiteto com as ideias mirabolantes dele do que seria uma sala de ciências).
–> Nesta sala, eu quero determinados materiais que não se podem improvisar, tais quais microscópios, lupas, vidrarias, etc.
Além disso, a sala deve ser equipada com TV, vídeo, datashow, computador ligado à internet.
E também com equipamentos nada convencionais para uma sala de ciências, mas que considero muito interessantes para dar aulas: fogão, geladeira, liquidificador… (Ciência na cozinha: veja um exemplo).
–> Quero que a escola tenha uma verba mensal para comprar os materiais QUE NÓS INDICARMOS como necessários às nossas aulas. E não a imposição de materiais que a secretaria queira comprar de uma empresa tal ou qual, por este ou aquele motivo.
Essa verba serviria para s materiais de consumo (que se gastam), materiais permanentes que fossem sendo necesários e manutenção das salas.
E se eu posso utilizar garrafas pet, vidros de maionese, bolas de gás, cabides, pregadores de roupa em lugar de materiais caros comprados de uma empresa X, eu faço. E o dinheiro, eu utilizo para comprar aquilo que se tem que gastar.
–> Eu quero tempo a mais aos professores para que possam participar de formação continuada em locais diversos, além de desenvolverem pesquisas sobre seus trabalhos e, quiçá, suas publicações e apresentações em congressos, encontros, etc. E, claro, quero a possibilidade deles irem aos congressos e encontros.
Porque isso?
Porque quem sabe do que precisa são os professores. Quem está lá são os professores. Quem tem a possibilidade de pensar e pesquisar sobre sua prática são os professores. Quem não desperdiçaria uma oportunidade de melhorar sua prática e seus resultados – pelos seus próprios caminhos – são os professores.
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor, pela autonomia e profissionalização dos professores
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Planos de aula, Atividades, Práticas, Projetos, Livros, Cursos, Maquetes, Meio Ambiente… e muito mais!
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Olá, Declev.
Se me permite um quase desabafo…
Além de tudo isso, também queria mais tempo para o básico mesmo, preparar as aulas e fazer e corrigir as avaliações. Onde trabalhei (escola estadual) tinha 1/4 das horas de trabalho para preparar as aulas. Não acredito numa boa aula preparada em 11,25 minutos (45min/4), e não é isso que a gente aprende na licenciatura, quando aprende a fazer os planos de aula. Muito menos se esse tempo for dividido para as avaliações. Vejo poucos professores falarem disso, mas era o que mais me incomodava quando eu lecionava.
Quem não é professor não faz nem ideia de quantas horas um professor realmente trabalha se quer fazer um bom trabalho.
Oi Magde,
Quando defendo o professor em tempo integral, claro que é com tempo para o planejamento e preparação de suas aulas.
Quando veremos um secretário pensar assim?
abraços,
Estamos diante de um câncer, professor Declev, porém, há muitos, estamos tomando aspirina. Essa é a verdade! Sua verdade é a verdade! Só estou fazendo a analogia de outra forma. Ao invés de um intenso tratamento de quimio e radioterapia estamos tomando aspirina. Até quando?
Oi Priscila,
É uma boa analogia.
Eu uso o dos remendos, mas a roupa já era.
Abraços.