Não me contive em escrever mais um artigo baseado em um comentário.
Este se iniciou com os comentários números 8 e 10, do Roberto, ao artigo Escola ou presídio em dia de motim?. (o comentério 9 é minha réplica).
Após discorrer sobre a problemática dos alunos-problema, o leitor manda uma frase meio rabugenta:
“Este é um problema pra voce , que vive falando de projetos que so servem pra aumentar salario de professores que querem se ver livres de dar aula”.
Depois dessa, eu argumento, entre outras, que
“Os projetos SÃO uma forma de dar aulas. Somente diferentes do que entende-se como ‘dar aulas’ desde 300 anos, com um professor verborragindo na frente e alunos ouvindo e decorando tudo atrás”.
E ele me replica dizenso que
“PROJETO não é forma de dar aula. PROJETO é apenas um projeto:plano;intento;empreendimento; redação provisória de lei;esboço;plano geral de edificação. O “entende-se como dar aulas” é talvez uma maneira sua de entender e que não ficou clara, até porque como se dava aulas a 300 anos atras?Talvez através de PROJETOS REAIS determinados pela côrte, hoje substituida por outros grupos??? Esse desvio da realidade sim caracteriza uma “verborragia” acadêmica desprovida de objetividade”.
Como vocês podem ver nos comentários originais, há mais discussões interessantes lá, apesar da forma grosseira como o autor se refere a mim.
Mas deterei-me sobre os projetos.
Como diz meu amigo Adauri, parafraseando Jack, o estripador: vamos por partes…
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1 – Quando eu coloquei o “entende-se por dar aulas” há “300 anos”, falo da estrutura escolar desde há muitos séculos! Ela quase não mudou, oras!
Se alguém quer saber “como se dava aulas a 300 anos atras?” é só estudar história, oras! Basta fazer uma rápida pesquisa no deus Google pra achar alguma coisa.
E quando eu falei “300 anos” não estava falando de uma data específica, oras! Era um número qualquer para dizer “há muito e muito tempo”. Do tipo quando se fala “já estou há milênios te esperando!” ou “se você for lento assim vamos demorar 100 anos pra chegar!”.
Mas vamos aprender um pouco de história com este jornalzinho de linguagem simples:
“Os primórdios da escola como é hoje – um prédio com classes, alunos e professores – são do período de expansão do Império Romano sobre a Grécia”;
“Até o século XIV, a educação permaneceu nas mãos dos monges e com acesso restrito à elite. A sistematização e disseminação do ensino só ocorreu a partir do século XVII (…)”;
“Pela primeira vez, havia uma estruturação do sistema de ensino com a divisão da escola em níveis e com ritmos de ensino que se adequassem às idades e possibilidades das crianças”;
“A estrutura da escola continua a mesma dos seus primórdios. Um prédio, dividido em classes, para onde vão as crianças. Nas classes, carteiras e lousa.”
Sobre esta última frase… foi justamente isso que eu quis dizer, oras!
2 – Na maioria dos casos que escrevo aqui sobre projetos, escrevo exatamente sobre o que o próprio Roberto falou, retirado ipisis litteris, por ele e por mim, de um dicionário: “Plano para a realização de um ato; desígnio, intenção. (…)”.
Portanto, quando me refiro a projetos, na maioria dos casos, estou falando de um plano para a realização de um objetivo (exemplo, exemplo, exemplo). Um projeto tem um ou mais objetivos (intenção), e as ações nele descritas e esmiuçadas são para a realização destes objetivos.
Portanto, Roberto, quando falo de um projeto, falo de um projeto. Simples.
Mas podemos falar sobre outro tipo de projeto – os projetos de trabalho na educação. São projetos pedagógicos. Outra pesquisa rápida no todo-poderoso Google e achamos milhares de referências aos mesmos.
Estes, aos quais também me refiro por aqui (exemplo, exemplo, exemplo) SÃO UMA FORMA DE DAR AULAS, sim!, na minha humilde opinião.
3 – Portanto, os projetos não servem só “pra aumentar salario de professores que querem se ver livres de dar aula”, pois que em sua maioria eles não aumentam o salário dos professores, mas, ao contrário, aumentam imensamente a carga de trabalho.
Um projeto dá muito mais trabalho do que dar aulas como há 300 anos – ou seja, como explicado acima e nos milhares de links apresentados na rápida pesquisa: “Um prédio, dividido em classes, para onde vão as crianças. Nas classes, carteiras e lousa”. Nesta sala, o professor fala e os alunos ouvem.
Isso o que eu disse com isso. Simples.
4 – Concluindo.
Pode-se entrar na escola, dar aulas assim e sair achando que “tem um emprego, é um dito cidadão respeitável (…) que está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social”.
Independente de quem tenha conseguido acompanhar e aprender um mínimo do que disse.
Obs.: Eu conheço professores que – sem exagero ou ficção da minha parte – entram em sala sem dizer palavra, escrevem no quadro “bom dia. Exercício da página tal”, sentam-se na sua cadeira e abrem o jornal. Ai daquele aluno que faça algo além do “exercício da página tal”. Quando a “aula” está acabando, levantam-se, colocam as respostas no quadro, esperam bater o sinal e vão embora. Isso quando fazem isso, pois podem simplesmente sentar e ler o jornal, sem nada mais (vamos expulsá-los sumariamente, como deveríamos fazer com os alunos-problema??).
Ou, por outro lado, pode-se dar aulas fazendo o aluno pensar; fazendo-o pesquisar; ensinando-o a buscar as informações e a encadeá-las com situações reais; fazendo-o “traçar planos” para o seu próprio aprendizado… ops!… eu disse “traçar planos para o seu próprio aprendizado”??
Oras, então são projetos!!!
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
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Prticipe do Movimento:
De minha parte acredito que o colega que tanto criticou, ainda não tentou trabalhar com projetos: É verdade dão mais trabalho ao professor e não aumenta em nada seu salário. Se algum colega sabe onde paga-se mais por se trabalhar assim: por favor, informe aos outros que gostam de ter todo esse trabalho! No meu caso é algo entre os “300 anos” e a “Pedagogia de Projetos”: Meu problema são os malditos 100 minutos por semana. Fico sem saber ao certo até onde devo trabalhar os conteúdos e/ou dar uma maior liberdade aos alunos. Nesse tiroteio de interesses termino por optar pelas duas coisas, trabalhando com experimentos que ficam quase que totalmente por conta dos alunos, propondo a “montagem de equipamentos” que possam levar-nos (eu e eles) a raciocinar sobre como será montado o experimento (materiais a serem usados; montagem; medições; verificação teórica dos resultados…), por outro lado gasto boa parte de minhas aulas com pequenos resumos teóricos (até hoje não existe, onde trabalho, o livro didático de Física; seria muito bom se eles pudessem montar seus próprios resumos, aprendendo a aprender) e fazendo exercícios de vestibulares e concursos. Cabe aqui ressaltar que “pago” até mais 2,0 pontos na média para os alunos que fazem exercícios no quadro (0,5 por exercício feito corretamente e 1,0 para tanto com a devida explicação aos colegas), também o mesmo critério (de zero até 2,0 pontos) para os alunos que se interessam em fazer apresentações sobre Ciência e Cientistas. Também os experimentos são assim “remunerados”. Acho que ficou claro que meus bimestres valem 12 pontos (2,0 para as pesquisas obrigatórias – feitas a mão, onde são cobradas tabelas, esquemas e gráficos – 3,0 do teste – tendo como base somente exercícios resolvidos em aula – 5,0 da prova – com 10 questões retiradas de concursos e vestibulares, dando, sempre que possível, preferência aquelas de raciocínio e não numéricas, sem cálculos matemáticos – até + 2,0 na media conforme foi citado – Exercícios; Apresentações; Experimentos; Boas respostas durante a participação na aula…). Então, não sei se sou um professor que não que dar aulas ou sou um velho Matusalém de somente “300 anos”!!!!
luiz.canelhas@ymail.com
Parabéns pelo site. Os assuntos e as discussões são bem pertinentes à prática na escola.
Li os comentários ao artigo “Escola ou presídio em dia de motim?” e acabei parando aqui. Não podia deixar de comentar. Compartilho da mesma visão, Declev. Sou professora de Física no ensino médio. Leciono há apenas 4 anos e fico cada dia mais triste com o que vejo na escola. Concordo e muito quando você diz que o “escola para todos” transformou a escola em escola de ninguém. Eu, enquanto professora, me sinto de mãos atadas e que o sonho dessa profissão tão linda vai se esvaindo muito rapidamente. Quem escolheu ser professor certamente não o fez pelo salário (somos tão ridicularizados pela sociedade justamente pelo salário), pelo menos eu foi por considerar esta uma missão tão nobre e um trabalho tão prazeroso ao ver alunos com os olhos brilhando enquanto aprendem, se sentindo capazes, formando-se cidadãos. Mas isso só é possível depois de ensinar regras básicas de convivência em grupo, o que consome muito das aulas. Sinto-me mais “babá” do que professora, pior, babá de criança grande. Será que sou só eu?
Ah, só mais um detalhe: gostaria de saber onde o Roberto viu que trabalhar com projeto aumenta salário…