Não percebem – aqueles que têm o poder de mudar a educação – que os professores, em sua maioria, desistiram de dar aulas.
Deixam apenas o tempo passar.
Em certas turmas e em determinados momentos, que infelizmente estão se tornando mais e mais constantes, é isso o que eu faço.
Como um sobrevivente abaixo dos destroços de um terremoto, que tem que fechar os olhos e esperar o tempo passar, na esperança do resgate.
Algumas turmas confesso que não sou professor, mas guardador de crianças. Aquele que está em sala apenas para não deixá-los se matar ou destruir a escola e, claro, não deixá-los sair de sala!
Estava conversando com uma amiga, que me contava do marido, também professor. Diz ele que em determinada escola ele não dá aula. Não dá porque não dá pra dar. Se você tenta, fica louco. Literalmente. Um amigo dele que tentou dar aulas, explicar, fazê-los fazer, está em tratamento psicológico.
Ou você se aborrece por dois anos acumulativos em cada aula que você tenta dar, ou cuida da sua saúde mental e física, fingindo que nada lhe atinge e você não está ali, no inferno.
A impressão que se tem é que a cada aula dessas são uns dias a menos de vida. Só quem entra em sala sabe do que estou falando.
Voltando ao marido da minha amiga. Então, ele fica lá, conversando, lendo jornal, deixando o tempo passar e “tomando conta” da turma.
Exatamente como eu faço em determinados momentos.
E como a maioria de nós.
E sabe por quê? Porque não dá pra dar aulas! Não dá para “ensinar”.
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Simples.
É impossível querer um resultado decente com 35, 40 ou 45 adolescentes entulhados em uma sala.
É impossível para um único professor fazer isso (e não se sustentem pelas exceções, porque exceções não são a regra!).
Silêncio e atenção você NÃO VAI TER.
Diálogo decente você NÃO VAI TER.
Ouvidos atentos e perguntas sobre o que você não consegue falar você NÃO VAI TER.
O que fazer Declev? Apenas reclamar? Choramingar? Mudar de profissão?
Digo-vos.
Quer mudar a escola, senhoras e senhores secretários? (quem tem o poder nas mãos? Quem tem a “caneta”?)
Dou quatro pistas, só pra começar, vindas de quem está lá dentro. E não vindas de quem acha que entende do assunto, mas nunca entrou numa sala com 40 adolescentes em plena ebulição hormonal:
1 – Turmas pequenas. DESDE O PRIMEIRO ANO.
15 alunos. 20 alunos. Só.
A educação é feita da interação professor-aluno. E não de professor-40 alunos.
2 – Professor BEM REMUNERADO e TRABALHANDO EM UMA ÚNICA ESCOLA.
Quer algum parâmetro? Equipare com salário de professor universitário, isonomiando com a formação.
40 horas na escola: aulas em sala (não só!), planejamento, pesquisas, projetos, formação continuada, atendimentos personalizados e individualizados a grupos ou a alunos, conversas com responsáveis, etc.
3 – Equipe escolar abundante, de apoio às atividades docentes, aumentando a relação numérica profissional-aluno.
Psicólogos, assistentes sociais, professores reservas, responsáveis por projetos escolares, coordenadores pedagógicos, etc.
O professor não pode agir sozinho sem ajuda.
4 – Alunos em horário integral.
Escolas de três turnos não existe. Só no País dos Absurdos.
Só isso.
Nada mirabolante. Nada de projetinhos revolucionários empurrados goela abaixo da escola como fôssemos o ganso do foie gras.
Professores e alunos o dia todo na escola, interagindo, construindo conhecimentos, apoiados por diversos profissionais, em quantidade e regras de frescobol, não de fla flu.
Ah, sim, mas aí tem que deixar de desviar o dinheiro da educação desses projetos revolucionários e investir REALMENTE na educação.
Sinto muito que o pé de meia de muita gente acabaria…
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
É difícil, infelizmente em muitas famílias a idéia que se tem é que somente a escola que tem que passar educação e com isso o professor é sobrecarregado.
Fora a falta de apoio seja da própria Direção da escola e das Autoridades.
Não esmoreça, continue sua batalha mas, cuide se também.
Valeu
Olá Declev!
Espero acordar um dia, abrir o notebook e me deparar com um texto seu, elaborado com o mesmo primor que este, nos contando das suas alegrias com o novo sistema educacional implantado em nosso país.
Sonho utopia? Espero que não!
Façamos algo, reclamemos, cobremos, mobilizemo-nos!
Obrigada por dividir suas idéias e anseios conosco.
Abraços.
Declev Rrunier Did-Ferreira , olá !
Creio ser fundamental e urgente , que o salário-base do professor de ensino fundamental seja o equivalente à quatro salários mínimos normais vigente no País . Isto possibilitará amenizar o atual ambiente de trabalho e incentivará a formação de nova geração de professores que irão , em si , consolidar o aprendizado da futura população brasileira !
Lógico , a formação das novas gerações de professores tem que ter , como meta , a excelência profissional . Seus estudantes irão prestar estágio como auxiliares didáticos , durante as aulas do professor titular – não é substituição e , sim , auxílio direto na aula !
As instalações escolares e equipamentos didáticos devem ser , comodamente apropriados e mantidos , para que o ambiente torne-se o mais desejável ao ensinamento escolar .
Declev , o seu 4º item – alunos e professores em horário integral na escola , é fundamental à interação escolar ! Permite que os alunos estejam mais tempo num ambiente de progresso social – o que , em si , é o objetivo de todos ! A Escola para a evolução da sociedade !
Neste ambiente de interação , escola-aluno , tem que ser dada atenção especial ao setor de apoio operacional ( manutenção , segurança , alimentação , logística e saúde ) para consolidar o projeto virtuoso .
Declev , como já lhe informei , não sou professor e venho aqui porque a solução , para melhorar o povo brasileiro , é a educação ( todos sabem disto , porém “eles” não querem ) . Sou engenheiro e , também , estou “trabalhando” num ambiente característico de assédio profisssional ! É incrível , até parece complô internacional para que nós , brasileiros , sejamos simples mão-de-obra barata para servirmos à transferência dos setores produtivos de organizações internacionais ! Até parece ficção !
Por isto estou na CNBVN e não saio !
Abraços à todos !
Somel Serip .
somelserip@gmail.com
Olá Declev,
Excelente texto. Simples, direto e, pasmem, revolucionário. Não aquela revolução de armas, quebra-quebra, mas aquela que se realiza de maneira rápida, silenciosa e longe da mídia. Em se concretizando os seus 4 pontos teríamos o ‘muda Brasil’ acontecendo, não amanhã, mas hoje, agora.
De minha pequena experiência em sala de aula tiro duas contribuições. Uma que esse impedimento de aula não vem só de turmas de adolescentes, mas já começa nas crianças pequenas de 7, 8, 9 anos. A outra é um causo. Uma amiga me pediu pra dar duas aulas no lugar dela. Escola particular, adolescentes, e muitos. Na primeira sucumbi, me venceram e aula ficou capenga. Na segunda uma maravilha, prestaram atenção, participaram e até se divertiram (comigo, não apenas entre eles). A diferença dos dois dias? No segundo dia minha aula era a primeira da manhã e um nó no trânsito atrasou 20 ou 25 % da turma.
Infelizmente não dá pra contar com imprevistos no trânsito sempre, por isso que suas 4 pistas são realmente o caminho pra tal revolução.
Forte abraço
Edu
Concordo totalmente com vc, Declev!
Esses 4 pontos são fundamentais! Sem eles, nada mais funciona decentemente. É impossível!
Por essas e outras é que estou a um milímetro de largar a minha matrícula de vez…
Estou exausta e entrando em depressão.
E a questão é mesmo política, acima de tudo.
Os alunos, as famílias e os verdadeiros educadores (professores e pedagogos) acabam sendo todos vítimas desse estado de coisas.
Estou sobrevivendo em escola pública por pura teimosia…
Desculpe o desabafo e parabéns pelo ótimo texto!
Um abraço
Pingback: Quando os fatos servem para mentir - o caso do horário integral | Diário do Professor
Declev, muito pertinente – certeiras! – suas quatro sugestões para uma verdadeira “revolução” na Educação. É preciso textos como esses teus pra dar uma sacudida e, talvez, provocar mudanças verdadeiras no cenário desolador que se apresenta.
É muita conversa fiada reinando…
Abraço de leitor fã,
Heraldo HB
Pingback: O ano acaba e a farsa continua | Diário do Professor
Não falou nenhum mentira, infelizmente é a mais pura realidade. E estes momentos de deixar o tempo passar tão cada vez mais comuns. Pior pro professor e pior pro aluno.
Olá, Declev!
Aumento a lista do “parabéns por esse texto”. Além de ser claro é muito concreto.
Diante desse quadro, só dá vontade de mudar de profissão mesmo, antes de adoecer. Não quero ser pessimista, mas não vejo próxima uma mudança nesse sentido que você aponta, infelizmente.
Parece que o Brasil só vai dar o devido valor aos seus professores quando não os tiver mais.
Abraço!
Gostei muito do texto e me senti consolada, dou aula em uma escola pública em uma cidade pequena no norte de Minas Gerais e aqui não é diferente. Esse país é uma vergonha mesmo, com tantos salários abusivos e com tanta corrupção, aqui no norte de Minas as escolas estão proibidas de servir merenda aos professores. Se o professor quiser merendar, que vá pro final da fila dos alunos e se por acaso sobrar, aí sim, professor merenda. O que meus caros colegas acham disso?
Oi Janete, Se eles não deixam merendar, têm que dar vale-refeição, não?