Ser professor é correr riscos?

 

Ser professor é correr riscos?

Quais os perigos que há em ser professor? É realmente perigoso?

Muito já me perguntei a respeito e, mesmo tentando afastar quaisquer pensamentos retrógrados reacionários preconceituosos que possa vir a ter – sim, todos nós os temos, o que diferencia é o que nós fazemos com eles! -,  não consigo afastar a idéia de que aqueles mesmos que a “sociedade” chama de “pivetes”, “ladrões”, “traficantes”, etc., nós somos obrigados a tê-los e chamá-los de “alunos”.

Pois é, gentes, pois é… são os mesmos. Os que tão lá dentro da escola são os mesmos que estão fora dela! Só que na escola colocam um professer com mais de um deles dentro de uma sala de aula e dizem: “se vira!”. Mesmo com 40 alunos(as).

Aí, quando o professor Josafá Santos diz que é perigoso ser professor em artigo amplamente divulgado (o mesmo artigo: veja, veja e veja), ou a Maria de Fátima diz a mesma coisa com outras palavras, dá a impressão de que só fica como professer aquele que não consegue outra coisa, né Semíramis?

Mas não é isso. É porque acreditamos que pode-se mudar as pessoas pela educação. Só acho que não estamos tendo condições, nestas condições, de fazê-lo.

Sabe “Daniel na cova dos leões”? Acho que é assim que nos sentimos quando somos jogados sem nenhum apoio dentro de uma sala de aula. Carniça aos abutres!

Pedir silêncio ou respeito não adianta. Gritar não pode, porque os aluninhos poderiam se ofender e levar pro “conselho tutelar” – sim, isto eles sabem fazer muito bem, aprenderam a lição. Chamar o responsável não pode ou não adianta. Chamar a atenção em sala também não, pois poderia “humilhar” a criança e eles iriam chamar o conselho tutelar.  Mandar advertência pra casa não pode. Cobrar a matéria pode, mas não adianta, pois eles não fazem e você não pode obrigar. Dar prova não adianta, pois se eles se recusarem a fazer, você não pode fazer nada. Aliás, não adianta de nada mesmo se fizerem, porque a prova só serve pra provar que algo está errado na educação – pois ele não acerta nada e não adianta nada. Mandar pra direção não adianta, pois ele volta 5 minutos depois, rindo. Tirar de sala não pode, porque não podemos “tirar o direito da criança de ‘estudar'”. Deixar de castigo não pode, porque humilha o coitadinho. Tentar conversar não dá, porque é careta, ele não te ouve, e você não tem tempo pra conversar com alguns alunos em separado, considerando que você tem uma turma que vai das 8h às 8:50 e outra das 8:50 às 9:40!

Pois é… às vezes a gente fica com as mãos e os pés atados, amarrados em uma cadeira, equilibrada na beira de uma escadaria. Não dá nem pra se mexer.

 

Sem dúvida que há turmas em que podemos trabalhar – como já mostrei aqui mesmo (veja e veja). Mas o que eu quero dizer é que a educação não pode viver de exceções.

Vejam isto:

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É a bolsa de uma professora. Foi customizada em sala de aula!

Vejam estas:

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É a porta chutada e arrebentada por dóceis aluninhos… os mesmos que, fora da escola, a “sociedade” chamaria de “vândalos”. Dentro da escola, mes amigues, chamam-se “alunos”. E estão dentro das salas de aula, diante de um professer que tem como únicas armas um quadro chechelento e um punhado de giz – quando tanto.

Vai mudar a cabeça deles (se houver) com isso, vai!

Tem mais, hein! Veja:

 

 

Pedrada 01

 

  Pedrada 02

Pedrada 03

Pedrada 04

pedrada 05

Pedrada 06

As fotos acima são de uma pedrada que a janela ao lado da qual eu estava dando aula recebeu. Passou entre mim e uma aluna, que estava sentada duas carteiras atrás. Passou pelo meio, por cima da carteira vazia.

É… de vez em quando temos alguém nos dando uma ajudinha…

Mas o pior de tudo isso, sabe o que é? É que se acontece algo a um aluno na escola, ou, pior, dentro de sala de aula, sabe de quem é a culpa? Sabe quem é o responsável? Sabe quem responde perante a inquisição? É a secretaria de educação que não envia às escolas profissionais em quantidade suficiente? Que deixa a escola sem inspetor de turno, sem coordenador pedagógico? É a prefeitura ou o estado que não oferece segurança no entorno e constrói as escolas com prédios, janelas, quadras mal planejadas?

Não, meus amigues… é nóis!

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
No risco

36 comentários em “Ser professor é correr riscos?”

  1. Pingback: Declev via Rec6

  2. Sem palavras…

    Falta comprometimento, não só do governo, mas do povo medíocre e ignorante que faz do Brasil este exemplo de má educação e violência.

    Parabéns pelo artigo!

  3. É meu camarada, vida difícil.
    Mas, se a escola (a educação formal) é um importante para mudar esse panorama, não é essa escola que vivemos hoje. Pois essa escola (de hoje)é ainda muito da escola do passado. Precisamos encontrar a escola do presente, para as pessoas de hoje, para a sociedade de hoje. O mundo hoje é rápido, dinâmico, e a escola hoje é lenta, em um padrão secular que mantém práticas que a tornam (des)interessante e sem sentido. Buscamos dentro da escola manter valores e códigos éticos que nossos alunos não conseguem encontrar exemplos na sociedade, pois quem faz as leis e quem é responsável por supervisionar seu cumprimento não os têm para si.
    Parece então que os únicos que devem agir dentro desses valores são os outros, que pregamos para que eles usem, mas nós não precisamos.
    Não acha que é por aí.

  4. francisco scalercio

    declev ta maravilhoso o artigo acho que voce deve mandar uma copia dele ao senhor pefreito’nosso patrao” e ao senho juiz de menor siro darlan , pra dar uma opiniao e alem disso ao ministerio publico , como nos fizemos no caso da bomba que a secretariA E A CRE estao respondendo por isso
    acho que voce devria mencionar tambem o episodio da bomba e da Cre em descontar os salarios do professores que foram la em comissao

  5. Adorei ! É isso mesmo ! Temos que mostrar que o “Rei está nu”! Temos que falar o que está realmente acontecendo. Parar de tratar aluno como coitadinhos e inválidos intelectuais e sentimentai. Não o são, nunca serão!

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  7. Eugenio Bastos

    Concordo com tudo que o colega colocou. O descaso com a educação começa nas esferas públicas e se complementa com a desestruturação da família.
    O Professor tem que fazer milagre para tentar trabalhar.
    As vezes me questiono, o que estou fazendo dentro da sala de aula, tentando ensinar um monte de aluno que não quer aprender.
    O pior de tudo, que estamos no terceiro milênio, onde o trabalho qualificado cresce na mesma proporção que a ruina na educação pública neste país.

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  12. Olá! Desculpe a intimidade mas já chego fazendo gracinha: De (c) lev você não tem nada hem, amigo? Graças à Deus!!!
    Entrou de sola no problema e finalmente encontro alguém que não poe a sujeira embaixo do tapete! muito animador.
    Muitos colegas gostaram do slogan “A Escola Pública não é uma Privada!” e acredito que só com a criação de uma entidade nos moldes da OAB ou ABI, a PROFISSÃO do professor não será tão esculaxada e poderá um dia talvez, voltar a ter o respeito que merece.
    PS: Desculpe a brincadeira com seu nome, também sofro com gente engraçadinha assim: me chamavam muito de Geni…

  13. Olá Jenny e demais colegas. Agradeço o debate sobre o assunto. Acho que temos que colocar o dedo na ferida e buscar soluções. Ficar reclamando não adianta. Irineu, acho que o caminho é este: a escola que temos hoje não atende ao público de hoje. Quanto à gracinha com meu nome, não tem problema. já me chamaram de muita coisa: declive, de leve…

  14. realmente o REi está nu,alguns como vc,tem coragem de falar. Mas o que a sociedade quer mesmo é que os super herois ,nós professores, resolvam as mazelas sociais, pois dentro da escola ,os menores devem ser “adestrados”,controlados e até mesmo darem vasão ao que eles não podem fazer em casa ou em lugares onde ainda existem leis. Talvez ,é triste dizer isto,devemos dar aulas para os que querem, e fingir que os outros “menores” também estejam aprendendo, não é isso que a sociedade quer? Depois que o governo,pais e sistema criem o soro antiofidico para cobras que os picarem.

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  16. Concordo com o Irineu.
    A situação está terrível, mas a escola não tem acompanhado as mudanças na sociedade, mantendo-se cristalizada em moldes antigos, o que não ajuda em nada, nem ao professor – que não sabe mais o que fazer para despertar o interesse dos alunos e ter o seu respeito -, nem aos alunos – que vêem os piores exemplos vindo de cima e acham que, cada vez mais, não é estudando que irão melhorar de vida.
    E durma-se com um barulho desses!

  17. Eu também queria saber, Declev…
    Mas acho que está dentro de nós, em primeiro lugar, e na nossa união como classe, o que é mais complicado já que há muito sectarismo, corporativismo e nos momentos de greve, por exemplo, quase que só se discute salários e, quando vêm algum aumento, todos voltam pra escola, reclamando das mesmas coisas e fazendo tudo igual.
    Eu adoraria ver uma greve acontecer e se manter por motivos pedagógicos e não só salariais!
    Acho que é preciso, também, unirmo-nos aos alunos e famílias de alunos porque, afinal, estamos todos no mesmo barco, isto é, num certo sentido, somos todos vítimas de um quadro maior, perverso, onde estamos inseridos. Por isso sempre digo que essa guerrinha entre alunos e professores só interessa a quem não quer grandes mudanças na Educação, pois enquanto estivermos assim, divididos e lutando contra o “inimigo errado”, os políticos e as políticas públicas continuarão terríveis, injustos e deitando e rolando em cima de nós!

  18. Olá! Vi seu relato aqui e quero manifestar o que penso a respeito disso, pois esse problema é reflexo de muitos outros que ocorrem no Brasil, fruto de um medo exarcebado do que eu chamo de limite. Desde o fim da ditadura militar, o povo tem medo de limite, daí ficam criando e invtenando “liberdades e garantias” ao “povo brasileiro”. Na verdade, o que estão criando é uma sociedade sem limites, que pode fazer o que quer, e ninguém pode impedir, pois a “lei” protege o direito das pessoas fazerem o que bem entendem (se contrariar um aluno, ele chama o conselho tutelar, e muitas outras coisas). O fato é que esse excesso de liberdade está gerando libertinagem, e o brasileiro não sabe lidar com a liberdade, pois acabam abusando da liberdade que possuem. Chega dessa palhaçada de direitos humanos, que só ajuda o mal-intencionado a praticar maus atos. Vc que é professor, sabe bem disso: Todo sistema (seja qual for) que não tem um limite, se autodestrói, e é o que os nossos “direitos” estão fazendo; destruindo nossa sociedade. Agradeço a oportunidade.

  19. Olá Vicente, concordo com você, mas em parte…

    Não podemos colocar tudo no mesmo saco e dizer que só tem fruta podre ou só tem fruta boa.

    Direitos humanos devem existir pra qualquer um – por isso são “humanos”.

    Mas o que tem que existir também são os limites aos quais você se refere. Sim, isso está faltando. E faltando também punições para quem passa destes limites. Mesmo se for uma criança.

    Mas é assim que se educa. Todo mundo sabe que uma criança “filhinho de papai”, que tem tudo, não tem limites, não tem castigos vai fazer merda! Vai queimar índio no ponto de ônibus, vai dar porrada em uma mulher qualquer pensando que é prostituta – e mesmo que fosse!

    Os limites são diferentes caso a caso; as punições são diferentes caso a caso; a aplicação das regras é diferente caso a caso.

    Mas deve-se ter. Com respeito aos Direitos.

  20. Caro Vicente,
    Limites sim, mas com respeito aos Direitos Humanos sempre!!!
    É preciso muito cuidado com esse discurso e esse tipo de crítica – como tenho ouvido contra o ECA também -, pois não é retrocedendo que vamos melhorar nada!
    Ouço, toda hora, opiniões do tipo: “precisamos voltar ao tempo dos militares no poder, pois com eles é que era bom”! Fico chocada com a falta de memória do brasileiro!!
    A luta pelos Direitos Humanos é fundamental e o ECA foi uma conquista da sociedade! Não são esses os “inimigos”, caramba!!
    Precisamos ter uma visão menos simplista e imediatista das coisas, para não acabarmos sendo totalmente injustos…

  21. Declev,
    Li seu comentário em outro blog e só queria dizer que PAZ, não só no trabalho, a maioria das pessoas querem, não é mesmo?!
    Acho que faltam mais informações para os professores, em seus cursos de formação, sobre a realidade que vão encontrar em sala de aula, não para que eles se acomodem a ela mas para que possam decidir, conscientemente, se vão ou não mexer nesse “vespeiro” que se tornou a escola (principalmente a pública) e tudo que a envolve hoje.
    E posso te dizer que, no meu trabalho com os alunos, vejo e ouço o quanto eles também querem paz.
    Quanto a correr riscos, isso não está acontecendo só nas escolas, o que mostra o quanto precisamos avaliar bem, de forma o menos simplista possível, as causas e possíveis soluções de toda a violência que reina hoje em nossa sociedade.
    Um beijo pra vc…

  22. Regina Milone, sempre com comentários valiosos…

    É verdade, é a maoiria dos alunos que quer paz, eu sei disso. O problema é que a escola toda, muitas vezes, fica refém dos outros – minoria.

    Não é assim na “vida real”? Pode-se, por acaso, dizer que todos que moram em uma favela são bandidos? Claro que não! É uma pequena pequuena pequana minoria! Mas toda a favela vira refém deles…

    E sim, falta muita coisa aos professores. Acho que deixo claro – se não deixo, quero deixar – que não sou a favor de professor pelo simples fato de serem professores. Porque tem muitos que não são de fato comprometidos, que reclamam e não fazem, que falta informação mas nem tentam buscá-la e por aí vai.

    Mas sou a favor daqeuels que querem fazer: professores e alunos.

    O grande problema é que por conta da estrutura de escola que temos hoje, não podemos, não conseguimos.

    Por conta desta minoria, não podemos, não conseguimos.

    Por conta da falta de vontade política não podemos, não conseguimos.

    Não sei A solução, pois não existe… são muitas.

    Abraços.

  23. Também sou a favor dos que querem fazer, Declev, como você.
    Apenas acho que os alunos que aparentemente não querem nada, também são vítimas dessa falta de estrutura geral das famílias, das escolas, das políticas públicas… É complexo mesmo, né? E difícil. Mas acho que não podemos excluí-los, pois estaremos alimentando mais ainda a violência, em todos os níveis.
    Precisamos debater muito, aprender com as experiências que estão dando certo e continuar buscando e experimentando novas formas de lidar com essa realidade plural, pois ficarmos só com os alunos que se dedicam e querem estudar não seria a solução, na minha opinião. Continuo achando que a escola é direito de todos e precisamos encontrar formas de fazer isso efetivamente funcionar, na prática.
    Beijos…

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  27. O que mais desanima nessa profissão é a falta de interesse pela matéria. Os alunos só estão ali interessado no histórico escolar, terminar os estudos o quanto antes. O que importa é passar de ano e não aprender. O professor, para sobreviver no meio de tanto descaso, finge que está dando aula e o aluno finge que está estudando. Às vezes acho que é cultural, o povo brasileiro não gosta de estudar, não tem o hábito de ler e nem de se informar sobre a história do seu país. Então pra quê estudar tanto, se não há empenho nisso. Meu sonho é entrar na sala de aula e ouvir os alunos clamando por leitura, por pesquisa, por investigação.

    1. Rosangila,

      Não dá pra dizer que “o povo brasileiro não gosta…” . Em cada sala de aula temos desde aquele que quer e gosta e estuda até aquele que não quer, não gosta e não estuda. Às vezes mais de uns, às vezes mais do outro.

      E este clamor por leitura, pesquisa e investigação se conquista, se constroi, se faz gostar.

      Aí que está o que devemos fazer: despertar isso nos alunos. Não fazê-los achar que devem estudar para “passar de ano”.

      Mas, É DIFÍCIL!!!

      A primeira coisa que digo pros meus alunos o início do ano é “vocês vão passar de ano, já aprovei todo mundo” – “Agora vamos estudar só para aprender, sem nos preocuparmos com nota, com pontos, com provas”.

      Parece que dá certo, não com todos, claro, mas nos tira um peso enorme dos ombros.

      A avaliação continua, contínua. Mas acaba sendo mais prazeroso.

      Abraços.

  28. Realmente ser professor é correr risco sim, mas qual profissão não corre risco? nos dias atuais até uma empregada doméstica corre risco em seu ambiente de trabalho. Viver é correr risco! Agora depende de nós mesmo corrermos riscos por coisas que valem a pena, como é o caso de tentar salvar o país (através da educação).

    Conselho: procure usar um português mais adquado quando for escrever … principalmente quando for se referir “à nóis professores”…

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  30. É por essas e outras que sonho largar essa profissão. Não aguento ver pessoas sem “educação” dentro da escola, é até engraçado dizer isso. Alunos indisciplinados…. Nos PAVs (projeto acelerar pra vencer, é o que o governo caracteriza), mas pra mim é o Projeto de Atraso de Vida para os professores. Alunos indisciplinados, que não querem nada. Vemos pais que querem “enfiar” filhinhos, bebezinhos, bonitinhos dentro de salas. Levam até a polícia quando os bebezinhos são suspensos por nadinha, geralmente nada é agressão.

  31. “Ser professor é correr perigo?”

    É um ato suicida escolher essa profissão. Fora que não se pode falar de educação, num país onde nunca houve um projeto sério sobre o assunto.

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