A vanguarda do atraso: qualidade da educação baseada em avaliações e índices oficiais

Venho insistentemente defendendo e divulgando ideias que dizem respeito a certas premissas que, para mim, são falsas para se alcançar uma educação de qualidade.

Dentre elas, destaco:

  • Não se pode colocar toda o peso em cima do professor. O professor não é o único responsável pela educação, apesar de ser o mais importante, no sentido de estar na linha de frente.

Desta forma, a culpabilização do professor é danosa. Ao invés disso, o melhor a fazer é o atendimento às suas reais necessidades.

  • A educação é um processo contínuo e amplo, e sua avaliação não pode se dar através de índices numéricos (que comparam escolas, municípios ou países), que levam em considerações somente acertos em provas de Português e Matemática, ou quantitativo de reprovações ou evasão.

Ao invés disso, a avaliação das escolas deve ser contínua, presencial, levando em consideração o público-alvo, suas condições de vida, suas famílias, aspectos sociais, políticos, de violência do entorno, aspectos estruturais da escola, dentre muitas outras variáveis.

Vamos analisar essa questão das avaliações novamente.

Diane Ravitch é ex-secretária-adjunta de Educação dos EUA.

Ela vem a ser uma das principais defensoras da reforma educacional americana.

Essa reforma durou mais de 20 anos e foi baseada em metas, testes padronizados, responsabilização do professor pelo desempenho do aluno e fechamento de escolas mal avaliadas.

Os programas que ela ajudou a implementar nos EUA tinham como proposta usar práticas corporativas, baseadas em medição e mérito, para melhorar a educação.

Qualquer semelhança com as principais ações de nossos gloriosos gestores da educação, não será mera coincidência.

E qualquer resultado futuro semelhante, também não será mera coincidência.

Em entrevista ao Estadão, Diane afirma, entre outras verdades, que:

O sistema em vigor nos Estados Unidos está formando apenas alunos treinados para fazer uma avaliação;

A ênfase em responsabilização de professor é danosa para a educação;

Nota mais alta não é educação melhor;

Escolas estão sendo fechadas porque não atingiram a meta [barbaridade, não? Mas, o que vai acontecer por aqui se um determinado projeto imbecil de obrigar a colocar as notas do Ideb na testa dos professores for aprovado?]

Esse sistema levou a alguns tipos de trapaças, manobras para driblar o sistema e outros tipos de esforços duvidosos para alcançar um objetivo que jamais seria atingido;

No fim, essa mistura resultou numa lei ruim, porque pune escolas, diretores e professores que não atingem as pontuações mínimas.

Leia a entrevista de Diane Ravitch na íntegra, vale à pena.

E, por favor, indiquem para aqueles que acham que esse tipo de ações levam a uma melhor educação.

“Errar uma vez, é humano, errar duas é burrice”, já diz a sabedoria popular.

Por que não aprender com os erros dos outros?

Se o Brasil dos Absurdos é/está tão atrasado em tantos aspectos, dentre eles a educação, por que não aprender com os outros e tentar uma revolução verdadeira no ensino?

Repetindo:

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Vaticinador

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

7 thoughts on “A vanguarda do atraso: qualidade da educação baseada em avaliações e índices oficiais

  • 26/08/2011 em 22:17
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    Rapaz!Estou morrendo de curiosidade pra saber o que os “especialistas em Educação daqui que vêm defendendo a meritocracia na Escola Pública vão dizer.

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  • 27/08/2011 em 09:49
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    A avaliação não devia ser feita com os alunos, e sim uma prova para os professores. Se alunos, não consegue aprender o clássico, o básico, a responsabilidade está onde ? Nas carteiras, no multimídia ?????? ………Lógico, no educador, que não sabe se expressar e não tem domínio sobre os conteúdos, não tem didática. A avaliação devia ser para os professores, tirar os que não teem qualificação e facilitar a formação de professores melhores e consequentemente, salários bem mais atrativos para que pessoas mais capazes se interessem em dar aulas. Sou acadêmica, 3º ano de Pedagogia, 53 anos, empresária há mais de 30 anos.

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    • 27/08/2011 em 14:30
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      Iracy, bem se vê que você não é professora, mas estuda pedagogia.

      Pois o que você fala é de uma falta de conhecimento assustador.

      Quer dizer que se um cara vai ao médico e o médico faz um diagnóstico, receita remédios, diz que tem que fazer dieta, fazer exercícios, etc; o cara não faz nada disso e morre, a culpa é do médico?

      Sim, porque o professor diz que o aluno tem que ler, que tem que fazer dever de casa, que tem que estudar, tem que prestar atenção na aula e ele não faz nada disso e não aprende… no seu entendimento é culpa do professor?

      Se você é “acadêmica” aproveite para ler um pouco.

      Verá em diversas pesquisas que a família influencia nos resultados da educação; que a violência que assola os lugares onde o poder público despreza influencia nos resultados da educação; que muitos outros fatores influenciam. O professor está em sala de aula, mas o aluno não é uma tábula rasa em que o professor coloca suas marcas de conhecimento.

      Leia (e entenda o que está escrito) outros artigos daqui do Diário, que sua mente pode se abrir.

      E, saiba, Iracy, que os professores fazem concursos para entrar. Não é uma questão de qualificação. Se fizer essa “prova” que você propõe, eles vão se dar bem, pois não é uma questão de qualificação, mas de estrutura de trabalho.

      Tenho medo de pessoas como você enveredando para a pedagogia.

      Faça um favor pra você mesma: continue como empresária, pois você não se dará bem na educação com este pensamento.

      Abraços,

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  • 27/08/2011 em 20:34
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    Declev, entendo muito pouco sobre educação. Mas tenho uma dúvida: o sistema educacional precisa ser avaliado de alguma forma, certo? Para saber onde direcionar os investimentos, quais são os melhores modelos e etc. Os quesitos de avaliação devem ser objetivos, permitindo comparar realidades diferentes e etc (até porque, lá na frente, independente de onde aquele aluno tiver vindo, ele vai ter que competir de igual pra igual com o resto, pra entrar na faculdade, pra conseguir emprego e etc). Como seria uma avaliação objetiva e razoavelmente simples para o sistema educacional? Deve ser simples, porque não adianta gerar 30 páginas por escola, com dados subjetivos, difíceis de analisar e comparar. Sempre acreditei nas provas padronizadas. Se elas não dão certo, o que podemos colocar no lugar?

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    • 27/08/2011 em 21:52
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      Oi Vinicius,

      Obrigado pelo seu comentário e suas dúvidas, que são bem pertinentes.

      Sei que os alunos terão que competir, mas essa competição nunca é justa. É só ver quem “se dá bem” e quem são os pedreiros, os garis, os camelôs… e os traficantezinhos que morrem ou são presos sem nenhum direito.

      E isso independe de um sistema “objetivo” de avaliação.

      Essas provas padronizadas são feitas para se avaliar “tudo e todos” de uma só vez, mas não são justas.

      Acho que uma boa avaliação das escolas passaria por visitas a elas, entrevistas, conversas com os professores, levantamento do perfil da comunidade, do perfil sócio-cultural dos alunos, conhecimento das famílias, comparação dos resultados deles e do que vêm alcançando, e por aí vai.

      Muitas vezes um aluno não consegue alcançar um determinado nível na matemática ou no português, mas por intervenção dos professores, da escola ou mesmo de um professor em especial, ele deixa de se matar, não sai da escola e não fica vagando pelas ruas, não entra no tráfico, não fica grávida, deixa de usar drogas…

      Isso não é visto nem como uma sobra, nessas avaliações.

      Isso quer dizer que aquele aluno nunca vai alcançar o rendimento dos alunos que moram no Alto Leblon, mas mudou muito – e salvou a vida – por intervenção da escola.

      As avaliações da educação têm que ser SUBJETIVAS – mesmo que a parte objetiva continue.

      Abraços,

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