O que é ser “bom professor”? Quem “merece” esta profissão? Quem pode ser chamado de educador?

O colega Paulo Cézar fez, polida e educadamente, uma grande ofensa a mim e a outros professores, no artigo “como enfrentar o problema dos alunos-problema?”, comentário número 4.

Ao menos eu vi assim. Tirem suas próprias conclusões:

“Olá colegas, saudações!
Já pensaram em mudar de profissão e não arruinar mais a vida de nenhuma dessas crianças que vc diz que são seus alunos
Não se justifica o salário ruím, as precárias condições fisícas da escola. Educar é mais que tudo isso.”

Caro colega Paulo,

Tiro certo, alvo errado.

Dizer que eu “arruino” mais a vida “dessas crianças” é sacanagem.

E dizer pra mim que “educar é mais que tudo isso” demonstra que você só deve ter visto este artigo meu, sem passear pelo site.

A primeira coisa que eu faço quando entro em uma escola – e isso equivale a todos os dias que eu entro -, sempre, é tentar mudar a escola, melhorá-la, fazê-la mas atrativa e interessante para que possa abarcar o maior número possível de alunos e que eles possam, de fato, não de mentirinha pra uma prova de múltipla escolha, aprender.

Tenho certeza de que a maioria de meus colegas de profissão pensa assim, apesar de alguns que, realmente, deviam mudar de profissão.

Naquele mesmo artigo acima eu digo: “A minha angústia é justamente querer fazer algo mas não ter condições”. Mas mesmo sem condições – ou com as poucas que me dão – estamos sempre tentando reinventar a escola.

Sempre que tenho oportunidade escrevo por aqui sobre minhas ações, tentativas, pesquisas e práticas – o que demonstra que não sou daqueles que reclamam mas não fazem nada.

Pode dar uma olhada nestes links:

A escola que funciona…

O conhecimento de sua região…

Produção de jogos…

Trabalho sobre o corpo humano

E também faço muito mais reflexões sobre a escola do que simplesmente aquele artigo sobre os alunos problema – que trata de uma realidade, não de um achismo. Teorias de quem não está em sala são uma coisa – na prática, estas teorias são outras, certo?.

Algumas reflexões sobre a escola que demonstram meu pensamento sobre ela podem ser encontrados em:

A educação é tão subjetiva quanto cada sujeito que se educa:

“Parece piada, mas todo início de ano e às vezes durante o ano em diversos momentos, ensino meus alunos como utilizar o livro didático! Olha que dou aulas para o 6o e 7o anos.

A primeira coisa que me perguntam quando lhes ofereço uma pesquisa ou um exercício é “em qual página?”. Eu digo: “tá no livro, procura!”.

Mas o fato é que eles não sabem! Não sabem nem mesmo como achar um determinado assunto no livro. Aí eu pego o livro e os apresento: “Turma tal, isto é um livro; livro, esta é a turma tal, muito prazer!”. Eles riem, mas é sério. Mostro a capa, quais informações ela tem; mostro a parte de dentro; digo que é dividido em unidades, que são divididas em capítulos, que são divididos em subtemas; por fim mostro-lhes o índice ou sumário, onde estão todos os assuntos do livro e as páginas onde podem encontrá-los.”

Esta educação nunca vai dar certo:

“A escola nunca vai dar certo com o corpo docente trabalhando apenas algumas horas em cada um dos vários lugares que trabalha!

(…) O professor – descobri a pólvora e a roda juntos! – têm que ser contratado, e pago, para ser de uma só escola! Para dar suas 40 horas semanais de trabalho em um só lugar. Mas não apenas para enclausurá-lo em sala de aula para repassar seus incríveis conhecimentos aos alunos, mas para dar aulas; para planejar de fato; para se encontrar e discutir com os colegas; para pesquisar no computador; para fazer grupos de estudos com alunos; para receber e cuidar individualmente ou em pequenos grupos dos alunos com mais dificuldades; para receber e conversar com os responsáveis com calma; para desenvolver projetos; para desenvolver oficinas diversas; para pesquisar, escrever, relatar e refletir sobre sua prática…

E por outro lado, óbvio, os alunos têm que passar mais tempo na escola. Começar às 7 horas da madrugada é uma tortura para qualquer um. E ser praticamente expulso ao meio-dia para ficar sabe-se lá onde sabe-se lá com quem, é uma piada.”

Evasão escolar: manter a criança na escola… mas qual escola?:

“Tento dar aulas para o 6o e 7o anos – antigas 5as e 6as séries. Posso dizer com certeza, que mais cerca de 90% dos meus alunos não sabem ler e escrever decentemente; não sabem ler e entender o que lêem; não conseguem escrever uma simples redação coerente, com início, meio e fim; não sabem nem mesmo buscar as informações. A primeira pergunta que fazem ao passar um exercício para eles é “professor, em qual página?” . E copiam tudo, sem mesmo saber o que escrevem. (…)

Escola que se preze deve manter educar o aluno pelo maior tempo possível – e não só “assistindo aulas”, mas desenvolvendo suas habilidades artísticas; retirando dúvidas individualmente com os professores; sendo orientado; fazendo esportes diversos; fazendo pesquisas; participando de rodas de leitura; acessando computadores; se alimentando e aprendendo com este ato; fazendo teatro; participando de grupos de interesse, tais como o Grêmio, aroda de leitura, o clube de Ciências, o grupo de meio ambiente; realizando seus trabalhos em grupo…”

O que é uma ‘boa’ escola?

“Portanto, a “boa” escola seria aquela que conseguiria fazer aprender aqueles que não aprenderiam apesar da escola, aqueles que não têm o que citamos que os bons têm: aquelas condições extra-escolares que fazem de um aluno, um bom aluno.

Esta sim, seria uma boa escola, que atenderia a todos, sem eliminação da massa e sobrevivência dos ”mais fortes e mais adaptados”. Uma escola para uma nova sociedade.

Fazer seres competitivos é fácil.

Difícil é fazer pra todos.”

Mas o fato é que mesmo com todas estas reflexões e com todas estas práticas, continuo tento aqueles que não consigo alcançar.

E achar que estes são culpa do professor, é muita ingenuidade, em alguns, e muita malícia, em outros.

A resposta que dei à secretária de educação do Rio de Janeiro quando ela disse que “quando um aluno é reprovado é sinal que o professor falhou”, já diz tudo: Carta Aberta…

Esta semana mesmo teve um caso interessante na escola. Tem um adolescente que lá frequenta que não quer estudar. Simples assim. Não quer.

Já tive muitos e muitos problemas com ele em sala no ano passado. Não pelo fato dele simplesmente não querer, mas pelo fato de, com suas atitudes, não deixar que outros queiram.

Conversei com a mãe dele ano passado. Ela me disse:

“Não sei mais o que fazer [essa frase é recorrente], ele não quer estudar. Não tem jeito. Eu queria colocá-lo pra trabalhar, mas não posso. Se eu tiro ele da escola eu vou presa. Eu queria colocar ele pra trabalhar meio período, mas não tem como. Ele não quer estudar e vem pra escola obrigado.”

Eu a aconselhei a colocá-lo num curso, no contra-turno. Ela não tem dinheiro.

Aconselhei-a a colocá-lo num esporte, para extravassar as energias, adquirir mais responsabilidades, blá blá blá… Mas onde mora não tem nada.

Este aluno está este ano novamente na escola. Novamente em minha sala. Novamente atrapalhando a aula pra quem quer estudar.

E esta semana estava de “intruso” em outra turma, atrapalhando a aula de uma professora que é deficiente visual e, por isso, não tinha percebido logo sua presença.

E somos nós que arruinamos a vida dele?

 

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira

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Prticipe do Movimento:

SE EU FOSSE SECRETÁRIO(A) DE EDUCAÇÃO, O QUE EU FARIA?

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

20 thoughts on “O que é ser “bom professor”? Quem “merece” esta profissão? Quem pode ser chamado de educador?

  • 28/03/2009 em 09:39
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    Quando vejo opiniões tão bonitas, esqueço que trabalho numa escola. Pois, só assim, consigo viajar na capacidade maravilhosa que temos de pensar e sonhar.
    Respeito todos os pontos de vista mas, não vejo desta forma. Os alunos estão cheios de problemas e me sensibilizo com isso, no entanto, não formamos psicólogos e além do mais muitos dos problemas porque passam os alunos se devem até a questões como falta de alimentação entre outros problemas mais sérios.
    Agora, quando colocam o professor como responsável, com a obrigação de solucionar estes problemas chega a ser desumano.
    Eu por exemplo, trabalho em dois cargos em duas escolas. São dois cargos com 24 horas semanais cada e 18 horas em sala de aula. Em cada escola leciono para 6 turmas, a média de alunos por turma é de 35 alunos, perfazendo um total de 420 alunos em média. Um cargo é na rede estadual de MG o outro na rede municipal, para o cargo de estado percebo líquido R$670,00 e da rede municipal R$783,00 num total de R$1453,00.
    E aí vem os pensadores que nunca entraram numa sala de aula pregar que o professor deve abraçar a causa a que se propôs como se ele não necessitasse de lazer, momentos com a família, como se não tivesse de se preocupar em morar, vestir, comer, educar filhos e outras coisas mais. Tem até um famoso educador que nunca entrou numa sala de aula e propôs a pedagogia do amor.
    Olha, amar o próximo é obrigação de todos, inclusive daqueles que jogam a culpa pelo males da escola, da educação em cima do professor.
    Todos os professores gostariam de poder contribuir para melhorar a vida de seus alunos, eu sinto prazer em saber que um aluno meu cresceu na vida. Contudo, todas as mudanças que ocorrem na educação vem de cima, o professor é apenas uma máquina que deve executar as teorias mirabolantes dos pedagogos que nunca entraram numa sala de aula.
    Temos de deixar de sermos hipócritas.

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  • 17/04/2009 em 02:36
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    Afinal de contas: o que é presença?

    http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=1887236&tid=13342734&start=1

    Percebe-se, por exemplo, em sala de aula, que alguns alunos estão ali de corpo, mas a mente está completamente distante.

    Podemos dizer que presença é estar fisicamente aqui e agora? Só fisicamente?

    E no espaço virtual, é possível estar presente?

    Repito: afinal de contas, o que é presença?
    A pergunta é exatamente essa: o que é presença?

    Pode-se contextualizar no sentido de “presença em educação”, “presença em aprendizagem”… ou mesmo: “presença em sala de aula”, qual é o significado real para um interesse educacional, por exemplo?

    Parece que você está muito preocupado com aquilo que se chama de “acessibilidade” que pode ser no sentido econômico (parece que é essa a sua questão) ou no sentido de uma deficiência física que impede – ou prejudica – o acesso.

    A “não-distância” tem sido conceituada (ou incluída) dentro do sentido de desterritorialização, inserido por Gilles Deleuze, e adotado por Lévy, Morin e Derrida, pelo menos.

    Mas… o que é presença? É esta a questão colocada aqui.

    Então “presença” seria o mesmo que “potencial de interatividade”?

    De qualquer forma você pode abrir outro tópico com relação a acessibilidade.

    Mas aqui neste tópico a questão é: o que é presença?

    Isso é importante ou não para a Educação?

    E para a aprendizagem?

    A presença é obrigatoriamente uma “presença física”? Se se é por que se fala “presença física”? Não é redundância?

    Que presença se cobra em sala de aula? Faz sentido essa cobrança?

    E no espaço virtual… existe presença?

    Essas são as questões deste tópico.

    Presença é atenção ( um recurso cognitivo, que podemos distribuir, mediante vontade, interesse e motivação)

    é um dos fatores que possibilitam o aprendizado, quanto mais atenção maior digamos concentração.

    Os psicólogos cognitivos dividem a atenção em 4 tipos:

    Ativa
    Passiva
    seletiva

    Sentir o que em volta está. Sentir-se sentido. A presença sempre nos dá a sensação de ultrapassar o corpo.
    “Sufocante”, “Envolvente”, Atraente”, até mesmo “Insuportável”. São idéias que ilustram isso. Como se algo da personalidade pudesse não ser apenas sentido pelos cinco sentidos.
    Quanto a Internet, nada mais exato. É a identidade virtual que nos mostra que a presença vai além dos sentidos.
    Colocando os exoterismos de lado, associo a questão da presença na Internet com a palavra sinergia.
    É que acho que a presença é interdependente. Depende de um outro “percebendo”, “achando”.
    Indo um pouco além, porque não dizer que a presença vai além de nós mesmos. Tal qual cheiro, ela emana, até quem sabe, o ponto de grudar.
    Porém aí, ouso pensar, é preciso mais que palavras, imagens, e uma forma de se manifestar que a Internet oferece.
    Para isso, é preciso ouvido. Então, termino radicalmente dizendo que a presença no mundo virtual só atinge seu ápice quando envolta por som. Onde? Em ferramentas de vídeo conferência.

    Resposta
  • 02/02/2010 em 09:39
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    Caro Declev,
    Respondendo às suas questões: “O que é ser “bom professor”? Quem “merece” esta profissão? Quem pode ser chamado de educador?”, não vou nem me alongar, mas apenas dizer que, pelo que acompanho há muito tempo no seu site, VOCÊ é um dos exemplos do que é ser um educador e bom professor! E não me canso de parabenizá-lo por isso.
    Quanto ao colega Marcos, peço que reflita sobre algumas coisas que escreveu em seu comentário para não acabar sendo injusto com os pedagogos do mesmo jeito que muitos têm sido injustos com os professores. Sou pedagoga mas também já dei aula, conheço a realidade de sala de aula e lembro a todos que essa é a realidade da grande maioria dos pedagogos, que é professor e já deu ou continua dando aula e que não pode ser tratada como quem vem de fora, caindo de pára-quedas numa realidade que não conhece.
    Abraços a todos,
    Regina.

    Resposta
  • 02/02/2010 em 10:32
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    Cara Regina Milone,
    Em relação a seu comentário sobre meu posicionamento.
    Conheço poucas pedagogas que realmente estão empenhadas a contribuir. A maioria está compromissada em apenas cumprir as determinações das secretarias de Educação.
    Só para lembrar e vou tr uma posição ainda mais contundente em relação a maioria dos pedagogos.
    O cargo de supervisor foi criado no período da revolução industrial para fiscalizar a produção. No Brasil, foi no regime militar e a função do supervisor pedagógico era de fiscalizar os professores e verificar se nào estavam falando contra o regime ditadorial, sou era um “dedo-duro”.
    Com a democracia, o supervisor pedagógico perdeu sua função.
    Fico impressionado, fui presidente do sindicato dos professores e vistava 27 municípios, a maioria dos pedagogos das escolas são como cães-de-guarda.
    Costumo falar em sala de aula que o ser humano precisa as “viseiras” que o impede de olhar o outro como semelhante e, portanto, sujeito a erros e acertos como ele e a qualquer um. E, também, para podermos conhecer o que o outro pensa e aprendermos também.
    No entanto, nunca vi um pedagogo questionar uma decisão da secretaria, ouvir a opinião de um professor, simplesmente cumprem a determinação.
    Na escola precisamos de pensadores questionadores não de marionetes. Se fossem donos da verdade a educação no país seria a melhor dos mundos, por que cumprem tudo a risca.
    Respeito seu direito de se defender e não estou incluindo você nesta questão, mesmo porque não conheço seu trabalho. Minha posição é baseado no que percebia e muitas vezes ouvia relatos de outros profissionais de 123 escolas dos 27 municípios que visitava regularmente.

    Resposta
  • 02/02/2010 em 11:13
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    Caro Marcos,
    Do mesmo jeito que vc tem muitos casos pra contar, eu e muitos pedagogos também temos. E, aliás, também sou professora.
    Existem “vaquinhas de presépio” em todas as profissões, infelizmente. Não só entre pedagogos! Vc sabe que entre professores existem muitos também…
    Estou careca de saber como foram criadas as especialidades dentro do curso de Pedagogia na Ditadura Militar e é óbvio que os cursos de Pedagogia – pelo menos os bons cursos, como o que eu fiz em 1982, na UERJ – mostram e questionam tudo isso claramente há muitos e muitos anos. A função dos especialistas já mudou há décadas!!!!!!!!! Eu jamais seria parte de alguma tropa de choque que fica defendendo SMEs e diretoras de escola a qualquer preço! Nem eu nem muitos e muitos colegas pedagogos. Te garanto isso!
    Existem os que agem como vc falou? Infelizmente sim. Assim como existem muuuitos professores assim também e outros profissionais, de outras áreas, que nunca questionam nada, apenas obedecem, o que, aliás, também é fruto de uma Educação antiga, que ensinava basicamente a obedecer a tudo e não questionar nada, o que ainda acontece com a grande maioria das pessoas em nossa sociedade, infelizmente. É o que vejo e acompanho, tanto na minha vida profissional – sou pedagoga e psicóloga – quanto na pessoal.
    Existem muitos pedagogos e professores com bastante espírito crítico, como eu e vc, mas muitos e muitos ainda não têm (e repito que isso acontece não só na Educação).
    Essa rixa besta entre professores e pedagogos só interessa a quem quer enfraquecer mais ainda a Educação. Só interessa a quem quer fragmentar, tirar o foco das questões principais e dos verdadeiros responsáveis que são os políticos e as políticas públicas!
    Existem bons e maus profissionais em todas as áreas! Conscientes e alienados. Em todas!!!
    E gostaria de lembrar, caro colega, que pedagogos não são só supervisores pedagógicos/escolares. São orientadores educacionais, orientadores pedagógicos (função diferente da de supervisor), professores, pesquisadores, especialistas em Educação Especial (a que lida com a Educação de alunos com diferentes deficiências físicas e mentais), entre outras funções, atribuições e especialidades.
    Se vc foi anos do sindicato – é do Rio? – talvez conheça a Vera Nepomuceno, com quem trabalhei e que que sabe bem como sou.
    Sei que vc não estava me fazendo nenhuma crítica pessoal, mas quando se generaliza opiniões do tipo da que vc colocou, a tendência é se cometer grandes injustiças sim, colocando no mesmo saco o que jamais poderia ser colocado!
    Repíto: a profissão de pedagogo vai muito além da época do regime militar, é muito anteriuor e, se foi usada daquela forma horrorosa naquele momento e se isso deixou seqüelas, isso só confirma o quanto a Educação é utilizada como instrumento de manipulação e de manutenção do poder, não só no Brasil e não só naquela época e, claro, não só usando os pedagogos para isso!
    Precisamos nos unir e não guerrear!!! A grande maioria das pedagogas que ainda agem como vc falou foram professoras de 1º segmento (professoras primárias) antes de serem pedagogas e precisam é de consciência política, assim como a maioria dos professores que, infelizmente, só se unem quando é para discutir salários… (e repito: sou professora também! mas tenho muito espírito crítico).
    Acho esse tipo de troca de idéias, que estamos tendo aqui, bastante saudável e democrático. Concordando ou não um com o outro. Fico feliz por podermos trocar!
    Um abraço,
    Regina.

    Resposta
  • 02/02/2010 em 12:09
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    Li com muita atenção a sua colocação e, sem dúvida tens razão com a generalização. Também concordo que há muitos professores que não tem compromisso com a profissão. Concordo com o fato de que precisamos unirmos, pois, só assim teremos condições de lutarmos por uma educação que seja inclusiva num sentido global e que realmente seja transformadora.
    Quando me referi às supervisoras incluo também as orientadoras, nas escolas que trabalho exstem estas duas funções.
    Sou de Minas Gerais e vou relatar um caso que ocorreu comigo entre vários que conheço.
    Em 2002, trabalhei numa escola que atendia alunos que eram abandonados pelas famílias e moravam em internatos mantidos por uma instituição religiosa e na escola trabalhava uma orientadora que era coordenadora de um curso de pedagogia de uma universidade particular que tem unidades de ensino em várias cidades mineiras e até de outros estados.
    Uma turma do ensino fundamental era muito problemática entre outras que trabalhava. Os professores sempre reclamava da situação e não conseguia uma solução. Um dia me surgiu uma idéia de montar junto com os alunos, uma espécie de código de convivência. E todos os alunos participaram e montamos algumas regras simples podermos criar uma disciplina e as coisas caminharem.
    Era composto de dez regras e para cada regra tinha uma “punição” para quem descumprisse, inclusive eu.
    Uma das regras era: – Aquele que jogasse papel no outro ou na sala deveria pedir desculpas e apanhar o papel e jogar no lixo. Se repetisse, teria de varrer a sala um dia.
    As coisas começaram a funcionar muito bem e, durante um mês a turma teve uma melhora muito grande na disciplina.
    Como houve uma melhora procurei a orientadora e sugeri que ela se empenhasse em criar esse código de convivência também nas outras turmas poblemáticas onde eu não atuava. Quando expliquei prá ela como funcionava, a resposta que tive é que não podia aplicar a idéia e que ela iria nas salas para dizer aos alunos que eles não eram obrigados a seguir aquelas regras que confrontavam o ECA. Quero lembrar que eram regras simples que não humilhava ninguém. Mas, diante da circunstância disse a ela que eu deixaria de exigir o cumprimento das regras e ela não fosse na sala porque iria prejudicar ainda mais os alunos.
    Portanto, concordo com você que em todas as áreas existem pessoas oportunistas, mas vale lembrar que numa hierarquia a supervisora e uma orientadora está acima do professor pelo menos é o que se aplica em MG. A quem o professor recorre?
    quero lembrar a você que hoje em MG nem para reivindicar salário os professores se unem como insinuou porque não pode. A maioria dos professores mineiros estão vendendo dívidas, você sabe o que é isso? Ele tem uma dívida num banco, precisa de mais dinheiro mas o limite estourou, então vai numa financeira e pega dinehiro emprestado para pagar aquela dívida ao banco e poder pegar uma quantia maior. Eu tenho curso superior e meu piso salarial da rede estadual de educação de MG é de R$435,32 para uma carga horária semanal de 24 horas.
    A arma do digníssimo governador mineiro quando há ameaça de greve é cortar o ponto.
    Por isso, há anos que nào se tem greve em MG. Hoje, estou cursando outra faculdade, sou concursado para o estado e uma prefeitura, mas minha intenção é mudar de profissão diante desse quadro alarmante.
    E ainda tem o fato de o professor ser o culpado por todos os problemas da educação.

    Resposta
  • 03/02/2010 em 09:42
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    Terrível, Marcos!
    É absolutamente INJUSTO e ABSURDO o piso salarial do professor na maior parte do nosso país!!!
    E os que têm curso superior, como vc, acabam indo pra outras áreas ou vão dar aula em universidades, após fazerem mestrado. Eu mesma estou indo nessa direção…
    Lamento a falta de compreensão da orientadora com quem trabalhou, no caso que relatou aqui, mas esse é apenas um exemplo, entre vários outros, alguns positivos e outros negativos, sobre o trabalho que tem sido feito pelos pedagogos nas escolas. Eu poderia contar muitos, bons e ruins, que presenciei e/ou participei, mas acho que não é por aí.
    Concordamos que precisamos nos unir, não é mesmo?!
    Diferenças sempre vão existir, profissionais bem e mal intencionados também, em todas as áreas.
    Eu sempre ouço muito os professores e procuro trabalhar em equipe com eles, o que já consegui muitas vezes. Infelizmente vários não estão abertos pra isso, até mesmo por causa dessa rixa que só tem nos afastado e enfraquecido mais ainda a união dos educadores que realmente estão comprometidos com a Educação.
    Vcs não tem um sindicato forte aí em MG no momento? É um NOJO esse papo de cortar o ponto do professor que fez greve e, com isso, segurá-lo à força nas escolas, cada dia mais insatisfeito. Os políticos sempre apelam pra isso, mas é aí que entra a luta dos sindicatos, né?! E é nessas horas que vemos como os professores ainda são alienados, em sua maioria, pois se encolhem diante desse tipo de ameaça, se mantendo nas mãos de políticos assim. E o que é pior, na minha opinião: prejudicam a própria saúde com isso e descontam nos alunos, mesmo que inconscientemente muitas vezes, o que também é uma covardia, já que os alunos da rede pública são mais vítimas ainda do que os professores dessa Educação e dessas políticas públicas.
    Enfim…
    A situação está um horror!
    Por isso gosto tanto desse site do Declev, pois ele sempre bota o dedo na ferida, não mascara nada e, dessa forma, também está lutando e muito por uma Educação melhor.
    Quanto ao que eu insinuei… rsrsrsrs. Não insinuei não. Afirmei mesmo. Infelizmente só conseguimos grande adesão dos professores em assembléias e ccoisas do tipo quando o assunto é salário e, fora isso, a maioria não quer nem saber de se unir pra realmente tentar melhorar a Educação que temos, como se o problema fosse só salarial, e é claro que esse é um dos problemas maiores e piores, mas não é o único!!!
    É muito bom conhecer outras realidades um pouco mais de perto, através de quem as vive diariamente. A internet é genial, né?! Vc é de MG, eu do Rio, outros de SP, etc., e, provavelmente, nunca nos encontraríamos e poderíamos trocar idéias se não fosse por aqui!
    Um abraço,
    Regina.

    Resposta
  • 03/02/2010 em 13:41
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    Regina,
    É bom trocarmos idéias sim. O sistema é muito complexo e as oligarquias atrasadas deste país ainda está muito infiltradas nas várias esferas de poder. Pessoalmente, tenho uma posição socialista, mas não sou radical, tenho comigo que os extremos acabam se encontrando. Hoje temos um presidente que tenta fazer algo para melhorar, mas infelizmente, os professores são omissos e não contribuem para uma conscientização política dos alunos e com isso um presidente acaba tendo que ceder em muitas coisas para conseguir fazer um pouco para a maioria da população. As vezes deixa a desejar pelo fato de sermos uma democracia.
    Voltando ao assunto, vou te ser sincero, durante o período que trabalho e fiquei no sindicato, todos os relatos que conheço são ruins. Por isso, não tenho como falar bem.
    Fui presidente de uma das 76 subsedes do sindicato. A nível estadual o “sindicalistas” tinham projetos pessoais e sempre deixaram os professores a ver navios. Faziam vários acordos políticos só, menos em benefício da classe. O sindicato está desacreditado e, é isso que os representantes querem.
    Às vezes saia do interior para participar de assembléias e via o quanto estavam desacreditados. Começaram a fazer assembléias em auditórios para dar a impressão de estar cheio, passavam de 200 pessoas. Infelizmente, é isso e sinceramente, não tenho esperanças que mude alguma coisa. A maioria dos brasileiros adoram o famoso jeitinho.
    E como uma andorinha sozinha não faz verão, precisamos colocar na cabeça que temos de fazer algo por nós mesmos, e deixar de pensar que temos responsabilidades pelos atitudes dos outros. Cada um é livre e deve assumir suas responsabilidades ao invés de jogar para o outro.
    Tenjo um blog:
    http://www.mdfnoticias.blogspot.com
    Caso queira entrar em contato comigo, entre no blog e deixe um comentário em algum dos textos com endereço eletrônico, os comentários não são publicados em que eu autorize. Portanto, pode deixar o comentário e o endereço que depois eu excluo o comentário.
    Abraços.
    Marcos.

    Resposta
  • 05/02/2010 em 22:30
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    Cara Regina

    Quero parabenizá-la por sua postura, você possui consciência crítica, por isso a sua prática pedagógica não entra em choque com os professores. Creio, sinceramente que o provoca este conflito, o que acaba dividindo a escola é a falta de consciência crítica de ambos os lados. Sou professora da rede estadual, e percebo que a carência de consciência crítica atinge, não só o corpo pedagógico, como também o corpo docente.
    Nós da área de humanas, somos frequentemente chamados de malucos e até de comunistas, porque questionamos, lutamos por uma sociedade mais justa.
    O que torna possível essa “guerra”, esse genocídio educacional é justamente, a falta de consciência crítica, engajamento político em busca de um mundo mais justo. Não basta lutarmos só por melhoria dos nossos sálarios, temos que nos unir em torno da educação, em defesa do alunos de baixa renda que precisam, pagam impostos e, por isso tem direito a uma educação de qualidade, que promova a elevação do seu status social.
    Os baixos sálarios, as condições precárias de trabalho e todos os outros problemas, são reflexos do histórico pouco caso para com os pobres. É vergonhoso, mas em pleno século XXI, o assistencialismo em relação aos pobres continua. Afinal, é melhor manter um curral eleitoral, à custa de cestas básicas do que dar autonomia, emprego aos mais pobres. Eles são tratados como incapazes, a reprovação automática é uma prova dessa prática. Será que o Santo Inácio, adotou esse esquema? Como diz um amigo meu, “o filho do pobre é tratado como cobaia”. A cada governo, temos uma nova estratégia, um novo programa, tudo muda pra continuar na mesma. Na mídia é um sucesso mas na vida real um desastre.
    Mais uma vez quero parabenizá-la e agradecer também ao Declev por esta oportunidade de trocas e reflexões.

    Resposta
  • 07/02/2010 em 12:24
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    Querido colegas,
    Como é bom trocar e como estamos carentes disso, não é mesmo!
    Obrigada, Graça, por suas palavras!
    Marcos, lamento demais o caminho que os sindicatos tomaram em seu estado e me solidarizo com seu desapontamento a respeito. Quando cursei Pedagogia na UERJ, fui do Centro Acadêmico (C.A.) e acompanhei de perto como essas atitudes e vícios de nossos políticos e de muitos sindicalistas começam. Era um tentando derrubar o outro nas reuniões de D.C.E., uns sorrindo pela frente e armando pelas costas, outros que estavam na faculdade há anos apenas com objetivos políticos (“estudantes profissionais”), muitos agindo a partir da antiga idéia de que “os fins justificam os meios”, achando que, se estavam do “lado certo” (em geral o lado do pensamento de esquerda mais radical é que é o considerado “certo” nas universidades públicas), então podiam e deviam fazer de TUDO para atingirem seus objetivos, sem jamais questionar o quanto podiam estar sendo profundamente incoerentes com a própria ideologia que defendiam.
    Enfim… O ser humano é complicado.
    Minha posição política, hoje, é como a sua, Marcos: socialista mas sem extremismos que, concordo com vc, realmente acabam se encontrando no final.
    E concordo com todas as suas colocações também, Graça. Fico indignada com o que vejo diariamente nas escolas públicas (idem na Saúde Pública), com o estado deplorável em que se encontra o nosso “povão”, totalmente manipulado e desassistido, cada dia mais, enquanto que, quem poderia ajudar a pelo menos ir conscientizando-os disso um pouco, ampliando sua visão de mundo, que seriam principalmente os educadores realmente, infelizmente estão longe de se comprometer nesse sentido e são, eles mesmos, em sua maioria, infelizmente, tremendamente alienados e individualistas…
    Eu já tentei algumas mudanças via projetos pedagógicos, já tive muita paciência, busquei parcerias para desenvolver trabalhos, fui otimista, procurei ouvir sempre a todos e ponderar a respeito, refletir, questionar, debater, assim como também já discuti muito, de forma desgastante, com professores, com outros pedagogos, com diretores de escola, com supervisores pedagógicos e fui mil vezes à Secretaria de Educação do município onde trabalho também, para questionar, denunciar, pedir ajuda, etc. Cheguei a falar com a própria secretária de Educação e seus sub-secretários (consegui uma reunião com eles), sempre procurando levar a visão crítica que tenho sobre tudo o que estava vendo e vivendo nas escolas e, também, procurando representar bem os colegas (professores e pedagogos) que estavam tão indignados como eu. Inclusive, ano passado, levei abaixo-assinado a favor de um diretor que havia sido removido da nossa escola pois não era “gente do político (vereador) que manda naquela área”, que, então, colocou mais um parente seu na Direção da escola (quase todos os funcionários não concursados da escola eram seus parentes; um nepotismo vergonhoso, considerado “normal” num lugar onde a política é e sempre foi tremendamente coronelista e arcaica). Fui muito bem atendida, procuraram me mostrar o quanto, eles mesmos, também ficavam de mãos atadas, muitas vezes, já que também ocupam cargos de confiança, se mostraram até bem solidários, mas como não me impressiono com isso, esperei para ver o que realmente seria feito e o que era, mais uma vez, um tremendo blá-blá-blá. O resultado vcs podem imaginar: fiquei com “má fama” na Secretaria de Educação, assim como na escola onde estava (não entre os professores, pois conquistei grandes amigos entre eles!) e cheguei a sofrer um tipo de perseguição velada, em que usaram contra mim faltas e atrasos de períodos em que estava doente, mal, sem condições de trabalho, de licença médica e/ou prestes a tirá-la. Depois de tudo isso, mudei de escola esse ano, pois não tinha mais clima pra continuar lá, até mesmo porque é um município onde os milicianos e matadores de todos os tipos são cultuados e proliferam nos cargos políticos.
    O fato é que, resumindo, acabei com a já famosa Síndrome de Burnout, totalmente estressada e exausta (melhorei um pouco nas férias, mas já estou sentindo tudo de novo), e estou a um passo de tirar uma licença sem vencimentos, para tentar outros caminhos antes de pedir de vez minha exoneração.
    Não quero desanimar ninguém com isso, cada um tem a sua história e o que estou vivendo agora é resultado de todo esse quadro da Política e da Educação somado a algumas questões pessoais também.
    Mas perder o espírito crítico, fingir que não estou vendo uma série de absurdos diariamente, ser corporativista e, por isso, minimizar horrores que vejo colegas (professores e pedagogos) fazerem, passar a olhar as coisas de forma simplista, como se não pertencessem a um contexto muito maior e mais complicado e, principalmente, sair culpando os “alunos indisciplinados” e suas famílias por todo esse estado de coisas, da qual têm PARCELA de responsabilidade apenas (na verdade, infelizmente, são as maiores vítimas de todo o quadro POLÍTICO que vivemos, ISSO NUNCA! O povo continua muito pobre e ignorante, sofrendo todo tipo de violência, física e psicológica, dentro e fora de casa, o que tenho acompanhado muito de perto, como Orientadora Educacional, me sentindo bastante impotente diante disso, na maioria das vezes. A “corda sempre arrebenta do lado mais fraco”, como diz o dito popular, mas eu me recuso a compactuar com isso!
    Então… No momento é isso.
    Deixar de viver e lutar pelo que acredito, não vou não. Mas, muito provavelmente, estarei fazendo isso em outras frentes de batalha, em outros espaços, onde eu possa estar mais feliz, pois, como disse o Marcos, temos que cuidar de nós mesmos, de nossa saúde, em primeiro lugar, até porque, no caso de estarmos entre adultos, cada um é responsável pelas próprias atitudes e por suas consequências, querendo encarar isso de frente ou não.
    Desculpem se me alonguei…
    Beijos a todos,
    Regina.

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  • 07/02/2010 em 14:04
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    Cara Regina,
    Gostaria de me desculpar, caso tenha falado de forma dura com você. Mas, o fato é que muitos escrevem coisas maravilhosas com o intuito de apenas passar como bonzinhos e melhores que os outros e, infelizmente, não tenho bola de cristal para advinhar.
    Porém, acho que não podemos tirar a culpa das pessoas menos favorecidas, precisamos de deixar de tratar as pessoas como coitadinhas porque não são. Vou dar um exemplo, na cidade de resido até algum tempo atrás a gente via muitas pessoas negociando pequenas coisas, como relógios … Gosto muito de observar as relações entre as pessoas, como elas vivem… E vi muitas vezes uma pessoa vender ou trocar um objeto com outra pessoa sabendo que o objeto não prestava e depois ainda saia contando vantagem de ter enganado o outro.
    É um exemplo meio bobo, mas mostra que o tamanho do golpe depende das condições em que se encontra.
    Tudo isso forma uma cadeia e um ciclo que se renova. Há uns 15 dias fui procurado por uma ajudante de serviços gerais aposentada que trabalhou da Secretaria de Educação do município. A sua neta ficou de recuperação e ela queria que desse algumas aulas particulares para tentar recuperar e passar na prova de recuperação. Eu moro perto de uma escola e trabalho em outra, esta aluna estuda na escola perto da minha casa.
    Fiquei impressionado com a proposta da avó, ela me perguntou se eu trabalhava na escola do bairro por que isso seria melhor pois poderia saber do professor o conteúdo da prova e facilitaria para a aluna. ultimamente, tenho evitado alguns confrontos então, simplesmente, disse prá ela procurar outra pessoa, porque meu tempo estaria curto e não poderia ajudar.
    Este exemplo, além de mostrar as mazelas de uma sociedade doente, mostra o descrédito, a falta de respeito com que o professor é tratado. Como se todos fossem iguais e se vendessem por qualquer coisa.
    Já sonhei muito e, é uma pena porque os sonhos é que movem o mundo. Hoje, prefiro viver com os pés no chão.
    Às vezes costumamos a colocar a culpa da corrupção nos políticos e tem sua parcela de culpa sim. No entanto, a sociedade é corrupta e acima dela e dos políticos temos um poder ainda mais corrupto que é o judiciário. Só um dado, nos últimos 40 anos o STF não condenou um político.
    Acho que não é necessário dizer mais nada.
    Abraços,
    Boa sorte e fé em você e em Deus.
    Marcos.

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  • 08/02/2010 em 00:10
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    Caro Marcos,
    Obrigada pela força!
    Concordo com grande parte do que colocou. Realmente o povão não é coitadinho e tratá-lo assim não ajuda. Assistencialismo é péssimo! Não me expressei bem. O que eu quis dizer é que, sem dúvida, os mais pobres tiveram muito menos chance na vida, tiveram uma educação de má qualidade, sofreram todo tipo de violência e, por isso, possuem muito menos conhecimento, auto-estima e recursos para compreender de forma mais consciente e crítica esse quadro todo e, por isso, continuam repetindo e passando adiante esse comportamento, que seus filhos e netos também repetem, num círculo vicioso quebrado por muito poucos. Continuam com estratégias de sobrevivência carregadas de “espertezas” do pior tipo, desonestidade, “jeitinho brasileiro”, etc. Esse é o exemplo que quem está por cima dá o tempo todo também, como vc exemplificou bem ao citar o judiciário. E aí fica mais difícil ainda mudar, né?!
    Mas, de qualquer forma, adultos têm que ser responsabilizados pelos seus atos sim. Já quando se trata de crianças e adolescentes é um pouco diferente, pois ainda estão naquela fase bem básica de formação de personalidade, estão em desenvolvimento, muito imaturos ainda e, por isso, tratá-los como mini-adultos só piora as coisas, e precisamos ser cuidadosos nas cobranças e na forma de fazê-las com eles, se quisermos fazer alguma diferença em suas vidas, o que quem é um educador idealista geralmente quer, né?! Dar limites, apontar erros e acertos, mostrar outras possibilidades, insistir e entender que, infelizmente, no mundo em que vivemos encontrar cada vez mais e mais adolescentes que aparentemente “não querem nada” e são agressivos e debochados não é tão “estranho” assim.
    Não estou dizendo pra passarmos a mão na cabeça, mas sim para não esquecermos que existem mil motivos fortíssimos pra eles serem/estarem assim e que, por isso, mais ainda precisamos ter paciência e persistência. Senão é melhor mudar de área, na minha opinião, pois descontar nosso estresse em crianças e adolescentes é tão injusto quanto tudo isso que estamos analisando e criticando aqui.
    Mas acho que acabei saindo um pouco do assunto, né?
    De qualquer forma, espero ter me expressado melhor agora…
    Beijão,
    Regina.

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  • 21/02/2010 em 16:53
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    Regina

    Espero que se restabeleça, a luta é dura e você é uma voz importante. Concordo com Marcos, quando ele diz que os pobres não são coitadinhos, não sou ingênua, mas creio que a mudança de mentalidade de um povo, depende da educação. Sei que não haveria corruptos se a sociedade não desse seu aval. As mudanças no terreno das mentalidades são de longa duração, a conduta atual das camadas mais pobres do nosso país, pouco difere da praticada durante a República Velha. A questão social continua sendo caso de polícia, a única diferença é que o número de miseráveis aumentou ,e vai continuar aumentando com a educação “pública” que está sendo ministrada. Diante dos fatos, parece uma utopia esperar uma mudança, entretanto todas as conquistas sociais, um dia foram utopias, foram necessários séculos e séculos e custou muita dor e sofrimento conquistá-las. Em que mundo estaríamos vivendo, se alguns visionários, “loucos” não iniciasse o processo? Só o fato de ser mulher, ter cursado uma instituição de ensino superior e poder estar aqui, discutindo estas questões, é uma prova que as mudanças são possíveis. Já fomos tidas como seres inferiores, incapazes e demoníacas. Ainda no início do século XX, Freud dizia que as mulheres não tinham capacidade para entrar em uma universidade … A mentalidade mudou e provamos que somos seres capazes. Assim sendo acredito que a mentalidade da população, também tem possíbilidades de mudança, e a educação é um instrumento para acelerar este processo.
    Naturalmente essa mudança é encarada como um ato subversivo, afinal não esta nos planos do sistema acabar com a alienação. Vamos ter que enfrentar raios e tempestades, vamos ficar abatidos e decepcionados, seremos abandonados, traidos e caluniados.
    Compreendo e vivo o seu drama Regina, mas não saberia viver abandonando a luta.
    Marcos, também entendo a sua decepção e espero que continue, de todos os profissionais envolvidos neste caos, nós da área de humanas, temos a nosso favor o conhecimento de como a estrutura do desenvolvimento humano funciona. Só o fato de você ter um blog, e foi através dele que tomei conhecimento do Diário do Professor, demonstra que o juramento que prestamos como historiadores, também te move para a frente de batalha. Vejo a sua decepção como uma crise “conjuntural” e não uma crise “estrutural”.
    Não desistam meus amigos, os seus gritos de dor, de revolta e de indignação são armas poderosas de mudança.
    Abraços

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  • 22/02/2010 em 02:14
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    Graça Aguiar,
    Gostaria de frisar que não professor da área de humanas. Sou Professor de Química no Ensino Médio e Ciências Naturais no Ensino Fundamental. A nossa sociedade é cheia de preconceitos e às vezes até subliminares.
    Por que só Professores da área de humanas são capazes de pensar?
    Voltando ao assunto. A sociedade está doente e, isso não vale apenas aos que estão no poder, mas todos nós. A educação é sem dúvida o meio pelo qual uma sociedade pode se libertar de suas mazelas.
    Contudo, isso não é suficiente. As mudanças do ser humano precisam ser de dentro prá fora. O exterior é apenas um indutor para a mudança, mas é preciso a participação efetiva das pessoas.
    Quando escrevo que precisamos deixar de tratar as pessoas menos favorecidas economicamente e socialemente como coitadinhas é porque entendo que todos somos responsáveis pelos nossoas atos. Independente da classe socil, por que uma pessoa não coloca a mão no fogo, por que ela sabe que vai se queimar. Todos nós por menos conhecimento que temos, conseguimos ter algumas noções do que é certo e errado.
    A grande questão que me deixou e me deixa indignado é achar que o professor é o responsável por tudo de bom e de mal que acontece com o aluno. Volto a lembrar, como professor, tenho contato com cerca de 150 minutos por semana com cada turma formada por muitos alunos. Reconheço plenamente que não devemos deixar de fazer a nossa parte na formação dos alunos, mas não podemos nos anular como ser humano. Nós nào somos onipotentes, somos como qualquer um, que precisa de lazer, de moradia, de uma melhor qualidade de vida .
    quem sabe, se passarmos a nos valorizar mais tenhamos mais respeito da sociedade? E passaremos a contribuir mais para as mudanças que volto a frisar, devem ocorrer de dentro prá fora?

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  • 25/02/2010 em 13:48
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    Caro Marcos

    Peço-lhes desculpas pelo fato do meu comentário ter passado uma conotação de preconceito. Não o tenho, não acho que só nós da área de humanas são capazes de pensar. Confundindo-o com um professor da área de humanas, pelo que também peço desculpas, tive apenas intenção de ser solidária à sua luta. Concordo com você que a educação não é apenas responsabilidade do professor, e é para derrubar este mito que trabalho. Não podemos ser responsabilizados pelas falhas do sistema como vem acontecendo. Sei que não somos onipotentes, e justamente, por ser como qualquer um, que precisa de uma melhor qualidade de vida que estou nesta luta. Quero um salário digno e condições de trabalho humanas e ser respeitada como um ser humano e também como profissional, ou seja, tudo que não está acontecendo no momento. Não posso ficar calada diante da campanha de difamação movida contra nós professores, somos os bodes expiatórios escolhidos pelo sistema. Acredito essa situação é reflexo da desvalorização da educação. A luta pela valorização da educação não significa um ato de piedade, e sim um ato de responsabilidade.

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  • 16/03/2010 em 00:26
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    Querida Graça,
    Me desculpe por respondê-la só agora, mas continuo com a saúde fragilizada e, infelizmente, enfrentando outro problema de saúde ainda mais sério na minha família.
    Estou tristíssima e exausta… E de licença médica no trabalho.
    Quero muito que TODOS tenham acesso a uma Educação de qualidade (Educação essa que não acontece, na imensa maioria das escolas públicas e em taaaaaantas escolas particulares também) e que TODOS os educadores tenham o mínimo de estímulo, recursos e estrutura para fazer essa Educação com “E” maiúsculo acontecer. Mas, talvez, a minha forma de ser educadora não seja mais em escolas… Não sei… No momento, estou apenas tentando cuidar da minha saúde e do meu familiar. não tenho forças pra mais nada agora…
    Obrigada, mais uma vez!
    Grande beijo,
    Regina.

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  • 16/08/2011 em 22:09
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    Eu penso que é uma piada a realidade que se vive hoje na educação, o professor sempre é o culpado de tudo, aliás culpado, incompetente, descompromissado e por aí vai. Os papéis se inverteram totalmente, os professores são desrespeitados por todos: pais, alunos, pedagogos, diretores, secretarias. Se o aluno tem enormes dificuldades de aprendizado, a culpa é do professor, se o aluno é indisciplinado, a culpa é do professor; a “culpa” só não é do professor quando o aluno é inteligente, educado, aí o mérito é dele, da família… Como dizia um amigo meu: “Assim é mole!”. E isso tudo se dá devido a mesquinharia e fraqueza humana que busca sempre sacrificar e idolatrar… Ambos são ridículos: os que sacrificam e os que idolatram…

    Resposta
  • 02/09/2011 em 21:21
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    este site e muito educativo

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  • 02/09/2011 em 21:23
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    muito bom, excelente, sensacional, gostei demais!

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